Está claro como água que a menina foi morta por uma única razão: inveja.
Por ser uma garota bonita, causava inveja por parte das demais meninas da escola, uma em particular, que era candidata a rainha da primavera mas era preterida, uma vez que a vítima também era amável e simpática.
O fato de ser inteligente incomoda muita gente, mas nesse caso incomodou um garoto em particular, também pianista mas que sabia que, em um concurso que se realizaria dentro de 36 horas (um dia e meio) ele não teria chance alguma contra a vítima.
Mas, como duas pessoas que nutriam uma inveja quase animalesca por nossa vítima poderiam se aliar e realizar um ato tão brutal?
A vítima foi convidada pela sua rival feminina para tomar um chá no dia que antecedeu o concurso de piano, sob o pretexto de conversarem sobre os garotos e como a futura vítima reagiria caso realmente ganhasse o concurso.
Enquanto isso, o antagonista masculino preparava a emboscada: uma sala escura, com cordas do mesmo piano previamente retiradas e dispostas de forma a poderem amarrar a vítima. No chão da sala, cacos de vidro e de porcelana rodeavam o local onde, dentro de instantes, nossa vítima seria amarrada e amordaçada.
Quando a protagonista chegou para fazer seu último treino no velho piano, notou que algumas teclas não estavam produzindo som algum, como Dó, Sol e Si. O mais engraçado era que eram todas as teclas de Dó, Sol e Si!
Estranhando o fato, pois não havia como ensaiar seu recital sem tais notas, e não tendo como corrigir tal fato, Nossa vítima saiu da sala do piano e foi em direção ao encontro para o chá.
Ao entrar na sala combinada, muito escura por sinal, foi buscar um interruptor, ao mesmo tempo que chamava:
-Solange? Você está aí? Sol?
Quando Silvia finalmente conseguiu achar o interruptor, a porta por onde havia entrado fechou-se abruptamente. Imediatamente Silvia ligou um dos interruptores, uma luz se acendeu e pode ver que apenas a luz do centro da sala havia acendido, focando diretamente para Solange, que estava de braços cruzados e muda.
Assustada, Silvia ligou o segundo interruptor. No fundo da sala surgiu a figura de Douglas, seu colega das aulas de piano de terças de manhã.
-Assim vocês me assustam! disse Silvia, mãos perto do peito.
- Vocês vive nos assustando, Silvia, nada melhor que retribuirmos o susto, respondeu Solange, com a voz carregada de ódio misturada com satisfação.
- Hoje nós decidimos te dar um susto que vai ficar marcado na sua vida para sempre, Sil....
-Como assim? Não estou entendendo nada! Vocês estão de brincadeira!
- Nunca brincamos com você, responderam os outros dois, com uma sincronia quase perfeita.
Silvia, pressentindo que as coisas ali naquela sala não estavam se encaminhando para um final feliz, correu imediatamente para a porta por onde havia entrado, mas estava trancada.
- Se você quiser sair daqui terá que pegar isso aqui - respondeu Douglas, balançando a chave que trancava a porta.
- Olha, isso já está passando dos limites, Douglas, Sol! Não quero saber mais de brincadeiras! Acabou, viu?
- Claro que vimos, disse Solange, como quem esclarece uma dúvida - Mas nós não estamos brincando, "Sil" querida...
E sem pronunciar mais nenhuma palavra, Douglas e Solange amarraram Silvia com as cordas do piano.
Com as cordas mais grossas, eles amarraram as mãos e os pés de Silvia, de modo que ela não pudesse se mexer.
As cordas de espessura mediana circundavam a região abdominal e virilha, enquanto que as cordas mais finas foram colocadas ao redor de seu pescoço e serviram como uma espécie de mordaça, junto com o pano da saia de Silvia, para que esta não pudesse gritar.
Os dois amarraram Silvia de modo que sobraram pedaços de corda com os quais amarraram Silvia a um sistema de rodas que, aos poucos, ia apertando mais e mais contra o corpo da vítima.
Douglas e Solange esparalham os cacos de vidro e porcelana por toda a sala e deixaram uma cópia da chave em frente a porta.
- Se você conseguir chegar aqui, pode sair, disse Solange, com um sorriso de satisfação nos lábios.
Desligando a luz e fechando a porta, Douglas e Solange sairam da sala, deixando Silvia amarrada às cordas e rodeada de vidros e porcelana.
A sala ficava no mesmo corredor da sala do piano e por comodidade já vivia trancada. Sem janelas, a sala servia antigamente como um pequeno almoxarifado.
Silvia começou a se debater, tentando, em vão gritar. Mas, ao tentar se debater, as cordas roçavam em sua pele, machucando-a e cordando. Sua boca também machucava-se, ao passo que gritava sem parar.
No dia seguinte, dia do recital da primavera, todas as pessoas estranharam que Silvia não havia comparecido e Douglas pode ganhar o prêmio, ao passo que, no final, Solange foi coroada rainha da Primavera, uma vez que a verdadeira vencedora, Silvia, não apareceu para receber a coroa. Esta chegou ao lado de Douglas e comentou:
- Conseguimos, Dô...
- É mesmo..., vamos deixá-la lá até que não sobre mais nada...
Estranhando o fato de sua melhor aluna não ter ido ao recital de piano, D. Mirtes, professora de piano, pediu ao diretor da escola que fossem procurar por Silvia.
- Deixemos para amanhã, respondeu o diretor. Já está tarde e amanhã ela aparecerá para a aula como de costume.
Mas o diretor estava enganado. Muito longe de poder ir à aula no dia seguinte, Silvia a muito custo conseguiu se livrar do esquema de rodas que a apertava e se libertou das cordas. Quase perdendo os sentidos, ela caminhou pela sala e esqueceu dos cacos que haviam no chão. Ao pisar no primeiro, com a dor, urrou de dor e foi ao chão, deixando cair o corpo sobre os demais pedaços de vidro e porcelana.
Pele cortada pelas cordas do piano e pelos cacos no chão, o sangue de Silvia se esvaía do corpo e sua alma insistia em deixar o corpo, mas ela ainda teve forças para se arrastar até a porta que dava para a sala do piano.
Avistou seu querido piano, seu companheiro de aprendizagem, seu confidente. Foi ali que, anos atrás, ao se esconder de uma brincadeira, ela o descobriu e se apaixonou. Passou a estudar música e ia tocar nele quase todos os dias, sempre à noitinha.
Mas o amor que sentia por ele despertou a inveja de outras pessoas que agora insistiam em lhe tirar a vida. Num último esforço, Silvia saiu da sala e se atirou sobre o piano, desfalecendo abraçada por cima do instrumento musical. Como que por instinto, o sangue de Silvia terminou por escorrer de seu corpo e foi se depositar pelo piano, cobrindo sua tampa, teclas e pés. Silvia não entendia porque tinha que ser assim, mas foi ali que se entregou de corpo e alma ao seu piano.
Na manhã seguinte, como Silvia não tivesse aparecido para a aula, o diretor ordenou buscas por todas as salas, até que D. Mirtes achou melhor dar uma olhada na sala do piano.
Qual não foi a surpresa de todos ao entrarem na sala e encontrarem o corpo ensangüentado jogado em cima do piano, com sinais de cortes e ferimentos de vidro. Não demorou muito para encontrarem a sala onde Silvia havia permanecido por quase dois dias.
Enquanto isso, Douglas e Solange ligaram para seus respectivos pais e, alegando insatisfação com a escola, pediram a eles que os transferissem de instituição. Por serem bons alunos e sem reclamações por parte dos demais, puderam ser transferidos sem maiores questionamentos.
Muitos hoje em dia juram ouvir o piano tocando perfeitamente, ainda com mais freqüência na época da festa da primavera, mas sempre com uma melodia triste, baseada em três acordes principais: Dó, Sol e Si.
2007-03-04 03:03:50
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answer #1
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answered by Anonymous
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