A televisão, com uma força comunicadora potencializada no mundo atual, sabe, mais do que o próprio público que a assiste, de seu poder educativo, ou seja, de seu poder de “modelar comportamentos”, de “instrumentalizar ações”, de tornar hábito o que antes sequer era pensado como possibilidade comportamental. Não é a toa que ela integra o que se chama o Quarto Poder do mundo contemporâneo, organizando seu tempo por conteúdos e metodologias que lhe dão sustentação comercial.
Como em toda situação produzida pelos homens, ela apresenta ações positivas e negativas, programas culturalmente relevantes e programas deprimentes, se levarmos em conta que ela não pode agir para além das possibilidades de grandeza ou de mediocridade dos seres humanos. Essa possibilidade de expressar tanto o “bem” quanto o “mal”, no entanto, não a torna inocente, quando, desconsiderando sua grande influência, cria situações, ou dá voz a personagens, fora dos limites éticos. Possibilidade essa que vem se tornando cada vez mais freqüente na TV Globo, pois essas “falhas nossas”, com desculpas a posteriori, nada mais são do que táticas de marketing que garantem o Ibope. Ou, como diria um velho refrão requentado: falem mal, mas falem de mim!
Em sua capacidade de entrar em todas as casas, independentemente da classe social, e mobilizar a todos, independentemente da faixa etária e do sexo, a TV moderna alargou a opção de lazer através da novela que, atualmente, é acompanhada por um número significativo de pessoas em função, inclusive, da sua alta qualidade técnica.
Como não poderia deixar de acontecer, principalmente nessa área, os comportamentos típicos da pós-modernidade são incentivados sem nenhum pudor. A crença de que o número de espectadores aumenta à medida que ela transita pelos costumes que emergem na contemporaneidade é um referencial que a autoriza a continuar promovendo-se, nesses termos, sem nenhum entrave. Apesar de se divulgar como uma emissora interessada na responsabilidade social, nos direitos humanos, na cidadania e na educação, no entanto, suas contradições nessa área são cada vez maiores.
Os roteiros das novelas que ela vem produzindo atestam bandeiras que, pela falta de profundidade na forma como são trabalhadas, não só distorcem princípios como mantêm os limites do senso comum ou da “emocionalidade” sem compromisso. Na emergência de novos parâmetros, a realidade complexa, ampla e diversificada, no Brasil e no mundo, vem sendo diminuída em sua riqueza por ser traduzida na forma de ser e de conhecer dos cariocas que transitam pelas praias do Leblon, de Copacabana e de Ipanema.
Quando, na Espanha, foi lançado um programa SOS Professor, para diminuir a violência que os docentes estão sofrendo por parte de pais e de alunos; quando os Estados Unidos já teriam colocado, em muitas escolas, detector de metais para apreender as armas dos discentes usadas, inclusive, contra colegas; quando psicólogos vêm a público debater a agressividade como situação impedidora de aprendizagens reais, a Globo coloca a antiga NAMORADINHA DO BRASIL, a antiga MALU MULHER, Regina Duarte, a personagem principal de Páginas da Vida, a eterna representante oficial do “politicamente correto”, ameaçando um professor. Com base em um tripé que se sustenta pela grosseria, pela indelicadeza, pela falta de polidez, sem nenhum respeito pelo outro, Regina Duarte, no papel de uma “mãe perfeita”, com total falta de cortesia, de urbanidade, invade uma sala de aula para dizer como sua filha deveria ser tratada, com frases irônicas e prepotência digna de qualquer dono de um saber sem título.
Ignorando o que vem se tornando a escola hoje, na qual o professor, como diz Tânia Zagury (2006) já passou a ser refém, a TV Globo assina em baixo do princípio da pós-modernidade que, defendido por Juremir Machado da Silva (2005, p. X), na apresentação do livro A era do Vazio, consiste em liberar-se do “excesso de sacrifícios”, mantendo apenas os “mínimos para manter a coesão social”!
2007-02-28 07:41:57
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answer #2
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answered by Anonymous
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