A vida de Camões não é uma simples indicação de dados biographicos; ella está ligada a todos os accidentes historicos da nacionalidade portugueza. Nasceu no mesmo anno em que morria Vasco da Gama, em 1524, como se os grandes feitos realisados precisassem de ser completados pela eternidade da gloria. Foram seus paes Simão Vaz de Camões, segundo neto do trovador galleziano Vasco Pires de Camões, e D. Anna de Sá e Macedo, da familia dos Gamas do Algarve. Na vida do Poeta sentem-se estas duas influencias ethnicas: no caracter passivo e ao mesmo tempo inquieto, como se nota no subjectivismo dos seus cantos lyricos, e nas tempestades constantes da sua vida que o tornaram tambem personagem da sua epopêa.
Nascido no primeiro quartel do seculo XVI, na fecunda epoca da Renascença, Camões acompanha essa actividade dos espiritos como humanista conhecedor das litteraturas da antiguidade, das sciencias que se restabeleciam, e da jurisprudencia que se vigorisava pelo regimen parlamentar. A educação de Camões fez-se em Coimbra, parte no mosteiro de Santa Cruz, para onde convergiam todos os filhos da aristrocacia portugueza, e na Universidade de Coimbra depois da reforma de 1537. A epoca da sua formatura fixa-se até 1542, data eloquente que nos mostra como escapou á esterilisadora acção dos jesuitas em Portugal, onde em 1555 se apoderaram do ensino publico, offuscando a fecundidade creadora dos Quinhentistas, matando nas consciencias das novas gerações o sentimento nacional, a ponto de se achar totalmente extincto em 1580, quando a nação recebeu o invasor Philippe II em arcos triumphaes.
Depois de 1542, Camões veiu frequentar a côrte de D. João III, na qual o beaterio extinguira o explendor dos serões do paço, em que a aristocracia portugueza revelara uma extraordinaria cultura; apenas em volta da Infanta D. Maria se formara a titulo de distrahil-a, uma pequena côrte de senhoras, como as Sigêas, Angela Vaz, Paula Vicente, D. Leonor de Noronha, D. Francisca de Portugal. Foi n¹este cenaculo que Camões teve os seus triumphos, tomando amores com D. Catherina de Athayde, filha do camareiro-mór do Infante D. Duarte, D. Antonio de Lima. O odio do poeta aulico Caminha, provocou em volta de Camões intrigas de que o beaterio da rainha se valeu, dando em resultado ser Camões desterrado da côrte, e andar errante pelo Ribatejo até se resolver a ir militar em Africa, nas guarnições de Ceuta, depois de 1546. Em uma embuscada dos arabes, perdeu o olho direito.
Em Africa começou a ver a decadencia do dominio portuguez, e ali sentiu a necessidade de eternisalo; quiz lançar-se em maiores emprezas, indo batalhar no oriente, inscrevendo-se para acompanhar em 1550 o novo viso-rei D. Afonso de Noronha. Por circumstancias extraordinarias não seguiu na armada, mas já em Lisboa não pode esquivar-se á fatalidade dos acontecimentos; tendo em 1552 ferido o moço dos arreios de D. João III, Gonçalo Borges, foi preso no tronco da Cidade até 7 de Março de 1553, d¹onde saiu a custo, para embarcar para a India como «homem de guerra» em 24 de Maio d¹esse anno na náo Sam Bento. Foi durante a solidão do carcere que teve conhecimento da primeira Decada de Barros, que evidentemente lhe prestou os primeiros elementos historicos dos Lusiadas.
A viagem da India foi tempestuosissima, chegando de toda a armada apenas a náo Sam Bento a Goa; entrou logo em campanha contra o Chembé, occupando-se em 1554 no doentio cruzeiro no estreito do mar roxo, coincidindo o seu regresso a Goa com as festas da investidura do governo de Francisco Barreto, para as quaes escreveu directamente o seu Auto do Filodemo, satyrizando depois a sociedade que Barreto pretendia reformar, com a sua composição dos Disparates da India. Barreto, querendo organizar a administração da feitoria de Macáo, nomeou o poeta Provedor-mór dos Defuntos e Ausentes d¹essa apartada colonia, cargo que reclamava uma coragem decidida e ao mesmo tempo certa cultura juridica. Camões partiu para Macáo em 1556, d¹onde regressou ao fim de dois annos debaixo de prisão, «mexericado de amigos,» como elle o declarara a Manoel Corrêa. Durante os dois annos de Macáo occupou-se a escrever o poema dos Luziadas na gruta que hoje é um monumento, trazendo comsigo seis cantos, que salvou no naufragio soffrido nas costas de Cambodja. Um mais terrivel golpe o esperava em Goa, onde recebeu a noticia da morte de D. Catherina de Athayde, «muito moça no paço»; esteve em prisão até que o mandou soltar o viso-rei D. Constantino de Bragança, passando em Goa o inverno de 1559.
O conde de Redondo em 1561 empregou-o no seu despacho, usando por este tempo o poeta a sua influencia em favor do venerando e sabio Garcia d¹Orta; o viso-rei D. Antonio de Noronha nomeou-o capitão na sobrevivencia da Feitoria de Chaul, de que não chegou a tomar posse. De 1564 a 1567 é totalmente ignorada a sua vida, suppondo-se plausivelmente que n¹este periodo viajara no archipelago das Molucas. O seu poema estava prompto, e um só desejo o affligia, regressar a Portugal, á ditosa patria sua amada. Acompanhou, n¹este intuito, Pedro Barreto para Moçambique, onde foi encontrado em 1569 por Diogo do Couto «tão pobre, que comia de amigos»; Couto e outros amigos se cotisaram entre si para trazerem para Portugal na náo Santa Clara «este principe dos poetas do seu tempo», como os proprios comtemporaneos lhe chamavam. A chegada a Lisboa foi a 7 de abril de 1570; Lisboa tinha sido desvastada pela «peste grande» de 1569, mas o poeta ainda logrou encontrar sua mãe viva «muito velha, e muito pobre», como diz um documento official; em 23 de septembro de 1571, obteve Camões licença para a publicação dos «Luziadas» que só appareceram á luz por julho de 1572. Foi então que se lhe deu uma tença de 15 mil réis pela «habilidade e sofficiencia das cousas da India.»
O poema provocou contra Camões terriveis malevolencias da parte de outros poetas, como Caminha, Bernardes, Corte Real e Sá de Menezes. Na expedição de Africa de 1578, Bernardes foi preferido a Camões para cantor da empreza de Dom Sebastião. Depois da derrota de Alcacer, de 4 de Agosto, Camões viu o futuro da nacionalidade portugueza entregue á traição do Cardeal D. Henrique, e em volta do poeta agruparam-se os partidarios da independencia. Adoeceu então n¹esse periodo conhecido na historia pelo nome do «tempo das alterações», morrendo em 10 de junho de 1580, ao saber que os exercitos de Philippe II estavam em Badajoz para virem sobre Portugal. «Ao menos morro com a patria,» escreveu Camões ao seu amigo D. Francisco de Almeida, que procurava resistir á invasão castelhana; foi sepultado obscuramente na egreja de Santa Anna, da pobre irmandade dos sapateiros.
O livro dos «Luziadas» tornou-se para os portuguezes o deposito dos germens da sua liberdade, e para Portugal ficou o eterno pregão da historia, o monumento imperecivel do seu passado. Tres gerações passaram, para que a intelligencia portugueza comprehendesse a synthese profunda contida no nome e na obra de Camões ‹ tal é o sentido do jubileo nacional do Centenario de 1880.
2007-02-13 13:50:46
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Luís de Camões - Era de origem fidalga, filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá de Macedo.
De sua infância, quase tudo se ignora; sabe-se, sem segurança, que adquiriu sua rica erudição no Colégio Santa Cruz, dirigido pelos padres de Santo Agostinho, em Coimbra.
Além disso, hauriu conhecimentos profundos lendo Homero, Virgílio, Horácio, Ovídio e Petrarca.
Lisboa, Coimbra, Santarém e Alenquer disputam a honra de ser sua terra natal.
Mas, de acordo com as investigações mais dignas de crédito, parece ser Lisboa seu verdadeiro berço.
Além de "Os Lusíadas", em que se acham relatadas, com "engenho e arte",
as incomensuráveis dificuldades que os portugueses arrostaram, intrépida e heroicamente,
Camões escreveu centenas de outros poemas, destacando-se os seus sonetos,
arrolados, muitos deles, entre os melhores da língua, em que mostra o seu lado romântico e fala de amor.
Diz a Delta Larousse: "Descendente de família de prosápia, mas decaída,
talvez tenha feito o curso de artes no colégio do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra,
dirigido pelos cônegos regrantes de Santo Agostinho,
onde adquiriu os conhecimentos humanísticos patentes em toda a obra.
Por volta de 1542, Camões se teria transferido para Lisboa, freqüentando círculos palacianos e,
porventura, o próprio paço" (a corte de D. João III).
Wilhelm Storck (1829-1905), escritor alemão, foi, de acordo com a 7ª edição, sem data,
do livro "A chave dos Lusíadas" (Livraria Figueirinhas - Porto, com prefácio,
paráfrase e notas de José Agostinho), "o mais seguro guia no estudo da vida de Camões".
Pois bem, Storck afirma que "Camões freqüentou a Universidade de Coimbra,
segundo a opinião mais corrente, voltando, porém, de súbito, a Lisboa, no ano de 1545".
E acredita que "esse repentino regresso seria devido a desavenças com seu tio D. Bento,
frade do convento de Santa Cruz, e que lhe enrostava certos amorosos devaneios".
Esclarece, ainda, que "na corte foi-lhe adversa a fortuna.
Muito brigão e galanteador, muito invejado e guerreado por medíocres..."
Camões se apaixonou pela dama do paço D. Caterina de Ataíde,
que imortalizou sob o anagrama de "Natércia", a musa lendária do poeta.
Caterina era filha do mordomo-mor do infante D. Duarte -D. Antônio de Lima -,
que, naturalmente, se opunha ao romance.
A castelhana D. Maria Bocanegra, mãe de Caterina, também era contrária.
Ao mesmo tempo, cresceram as hostilidades dos inimigos do poeta,
que passou a ser o centro de um pretenso escândalo.
Diante desse quadro, o monarca exilou-o para o Ribatejo, em 1547.
Tinha 23 anos e, inquieto, rogou a D. João III que o transferisse para o presídio de Ceuta
(cidade da costa marroquina, que pertenceu a Portugal, de 1415 a 1580,
quando passou para o domínio espanhol).
O monarca o atendeu, e ele partiu para Ceuta, em 1549.
Lá, como efetivamente desejava, Camões procurou na sorte das armas
o esquecimento de si próprio e de suas infelicidades.
Conta-nos, porém, José Agostinho:
"Mas Ceuta não lhe agradou muito mais do que o Ribatejo.
Faltavam as sonhadas grandes pelejas, havia apenas escaramuças mesquinhas.
A monotonia da vida e as saudades de Natércia dilaceravam-no, tanto que tentou suicidar-se".
Num ataque de mouros, bateu-se bravamente contra eles, perdendo o olho direito.
A fama de sua valentia deu-lhe a esperança de comover os pais de Natércia.
Voltou a Lisboa em 1551. Em uma desordem, feriu, a espada, Gonçalo Borges, moço das cavalariças do rei.
Por esse motivo, foi condenado a um ano de prisão e recolhido aos calabouços do Tronco,
onde escreveu o primeiro canto de "Os Lusíadas".
Lia as "Décadas", de João de Barros, quando arquitetou sua obra.
Passados nove meses, pediu o indulto, que lhe foi concedido pela corte, sob a condição de ir,
imediatamente, servir na índia.
Agradecido, partiu, chegando a Goa em setembro de 1553.
Saudoso da pátria e de Natércia, aceitou o destino que lhe coube, de escrever e pelejar sempre.
Distinguiu-se em várias batalhas, entre as quais as da expedição ao Chembe.
Cumpriu missões guerreiras no estreito de Bab el Mandab, nas proximidades de Aden; e depois, em 1556
(mesmo ano em que Caterina teria morrido),
foi designado para o cargo de "Provedor-mor de defuntos e ausentes", em Macau, onde permaneceu até 1558.
Na verdade, o exercício de tal função, naquela distância, não era senão o disfarce de mais um degredo.
E isto foi muito bom.., pelo menos para a literatura(!).
Vamos ler o que, a respeito, nos revela o "Dicionário Popular": "Dois anos, aproximadamente,
demorara Camões na China, e foi durante esse tempo que, segundo a fama,
meditara e compusera na gruta de Macau a maior parte do seu poema" (do segundo ao sexto canto).
"Foi aí, nessa "solidão querida", como diz Garret
("ó gruta de Macau, solidão querida") que a saudade da pátria com-pletou, para assim dizer,
todas as aptidões poéticas de Camões".
Por motivos ignorados, teve de voltar, preso, a Goa.
A nau em que viajava (de Macau para Goa) naufragou no mar da China
(costa de Cambodja), junto à foz do rio Mekong.
O poeta, porém, conseguiu salvar-se a nado, segurando em uma das mãos o manuscrito
de seu já quase terminado poema,
"o canto, que molhado
vem do naufrágio triste e miserando
dos procelosos baixos escapado".
Viveu algum tempo em Cambodja e só em 1560 chegou a Goa.
Lá, sofreu, como sempre, acusações caluniosas, sendo novamente preso.
Conseguiu justificar-se, foi posto em liberdade e, não obstante, continuou a ser perseguido.
Mas, se tinha inimigos, também tinha amigos e admiradores.
E um deles, o capitão de Moçambique, Pedro Barreto, trouxe-o, em 1567, para a sua capitania.
Camões, então, já havia terminado o poema, e em Moçambique deu-lhe forma definitiva.
A consecução de seu ideal maior custou-lhe mais de vinte anos de trabalho sofrido,
porém completo e fruto de um gênio poético dificilmente superável, onde quer que seja.
Afinal, pôde retornar a Lisboa, à custa de alguns amigos.
Em 1570, cansado, humilhado, desiludido, em estado de miserabilidade, voltou a pisar o solo idolatrado.
E logo após, em 1572, graças a alguns amigos e, principalmente, a D. Manuel de Portugal,
o grande vate viu publicada a sua obra-prima, que serviria para, com esse infindável colar de maravilhas,
compensar as desventuras da terra subjugada.
A primeira edição de "Os Lusíadas" saiu da oficina do impressor Antônio Gonçalves.
Com a publicação do poema, D. Sebastiáo concedeu ao poeta uma tença anual de 15.000 réis,
que nem sequer chegava para seu sustento.
Embora "Cavaleiro Fidalgo da Casa Real", morreu pobre e abandonado.
Mercê da magnitude da epopéia camoniana, a história portuguesa não ficou truncada,
de 1580 a 1640, período doloroso da dominação espanhola.
É tão soberbo esse poema, que nem a humildade da língua lusa impediu que ele fosse elevado
às culminâncias da literatura universal, traduzido para várias línguas.
É "o evangelho cívico da pátria portuguesa" e uma das cinco grandes epopéias de todos os tempos.
Uma epopéia como igual não possui a própria França, "a mãe intelectual dos povos".
Foi escrito em dez cantos e 1.102 estrofes em oitavas-rimas (ABABABCC),
versos decassilabos heróicos.
O tema principal é a descoberta do caminho das Índias via Ocidente,
conseguida pelo navegador Vasco da Gama.
Encerra, porém, retrospectos de episódios dramáticos da vida de Portugal,
ocorridos desde a viagem descobridora até a época em que viveu o poeta.
A DeIta Larousse registra: "Poema da cristandade conquistadora
e dos novos horizontes ecumênicos do Ocidente,
põe no centro da ação os lusíadas, os portugueses, descendentes de LUSO,
companheiro de Baco e que foi o fundador mítico da Lusitânia.
Pela projeção que teve e tem na língua literária portuguesa, é o seu monumento maior".
Diz o Lello Universal: "É o primeiro poema regular na literatura do Renascimento;
tem ecos de Homero e de Virgilio, mas observa unidade e equilíbrio entre os seus elementos.
Profundamente cristão, está cheio de eruditas recordações do paganismo.
Atinge o sublime nos episódios de Inês de Castro, do Adamastor. . ." (. . .)
"Termina profetizando altos destinos aos Portugueses. Um grande sopro patriótico anima o poema". (. . . .)
"O poema de Camões espelha a alma portuguesa com a sua feição sonhadora e amorosa,
o seu entusiasmo, o seu espírito de aventura, o seu belicoso ardor. Camões criou um estilo seu,
enriquecendo a língua do seu tempo com formas elegantes e originais,
que ainda hoje são admiradas e estudadas".
Reafirmando as palavras do Lello, lembramos que Camões, quando criava lendas,
como a do Adamastor, seu entusiasmo poético refervia e se agitava na luz sinistra
dos relâmpagos e no rugir medonho dos trovões.
Schlegel disse que "Camões vale por si só uma literatura inteira".
Humbolt chamou-lhe "o Homero das línguas vivas".
Aliás, Camões foi poeta tão eminentemente nacional para Portugal, como Homero o foi para a Grécia.
Pimentel Maldonado, falando nas cortes de 1821,
disse que "a Luis de Camões devemos a língua que falamos, e com ela a independência".
Boa tarde!!!!
2007-02-13 13:48:56
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answer #3
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answered by =^.^=Nany=^.^= 3
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