21. Freiras fugitivas em Wittemberg: piedade e sofrimento?
As freiras fugitivas de Nimbschen aparecem em Wittemberg e pedem abrigo ao Dr. Lutero, como se apenas sua fama as houvesse levado até lá.
Porém, Lutero participou diretamente de sua fuga, através de escritos e com ajuda física mesmo; ele escrevera em 1523 dois panfletos pregando a fuga dos conventos para as freiras: Razão e resposta, porque as virgens devem deixar os Conventos com a sanção Divina e Estória sobre como Deus ajudou uma freira.
Conta-nos Grisar: “A ocasião para a publicação do último foi dada por doze freiras Cistercienses, que fugiram de seu convento em Nimbschen (...) com a ajuda do Conselheiro da Cidade, Leonard Koppe de Torgau. Nove dessas freiras fugitivas vieram para Wittemberg. Entre elas estava Catarina de Bora, e uma irmã de Johann Staupitz. (...) É interessante notar a confissão de Lutero de que ele próprio, com a ajuda de Koppe, planejou a fuga das doze freiras, as quais haviam sido iluminadas por seus escritos.” (Grisar: 233-234)
Melanchthon vai reclamar em carta a Camerário que as freiras fugitivas armavam laços para pegar Lutero; que o enlaçavam “com todo tipo de estratégia”. Por receio ou pudor, Melanchthon camuflou os trechos mais picantes dessa carta, escrevendo-os em grego. Não satisfeito, Camerário irá simplesmente excluir esses trechos comprometedores quando publicar a carta! (Grisar: 272)
De acordo com Melanchthon, “Lutero entrou em muito próximos e freqüentes contatos com as freiras fugitivas que vieram a Wittemberg. Deve ser lembrado que algumas delas encontraram alojamento com diferentes famílias na cidade, enquanto outras encontraram refúgio temporário no mosteiro de Lutero” (Grisar: 292)
Convém esclarecer que nessa época (1523) o mosteiro agostiniano de Wittemberg havia virtualmente acabado: os monges que não haviam aderido a Lutero foram expulsos para outras cidades, e o mosteiro ficou vazio. Então, o eleitor Frederick teve a brilhante idéia de transformar o mosteiro em abrigo, em moradia para Lutero. O monge não se fez de rogado e, com alguns discípulos, posteriormente recebeu em seu mosteiro as freiras fugitivas, as mesmas que lhe armavam laços de todos os tipos...
Se nos escritos Lutero era pouco comedido, nas conversas pessoais ultrapassava todos os limites (é isso que tornará particularmente interessante suas Conversas à mesa, que mostram o rebelde sem nenhum freio).
Em carta a Spalatin, na Páscoa de 1525, Lutero dizia que era um “famoso amante” (sic!), e que lhe daria um exemplo: “era realmente impressionante que ele não havia se tornado uma mulher (sic!) há tempos, pois havia escrito tanto sobre casamento e se imiscuído tanto com as mulheres (misceor feminis).” Que tivera três esposas ao mesmo tempo (sic), e que duas delas já o haviam deixado por outros. Continua Grisar: “As três esposas parecem ser as três mulheres que relatos comuns designavam como prováveis para casar com Lutero.” (Grisar: 292)
Tantos contatos com mulheres podem não ter efeminado Lutero, mas podem ter lhe causado outros problemas. Por meio de um relatório médico de 1523, revelado pelo protestante Theodore Kolde, sabemos que Lutero foi acometido de Malum Franciae exatamente na época em que acolheu as pobres freiras fugitivas em sua humilde residência, o mosteiro de Wittemberg. E essa doença, conhecida por todos então, era a sífilis. (Grisar: 290)
Talvez a vida dissoluta do monge rebelde o tenha levado a considerar uma união mais estável, quiçá até um casamento...
2007-02-11
05:44:43
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perguntado por
Anonymous
em
Artes e Humanidades
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