Psicologia do trabalho é uma ramificação da Psicologia que abrange as áreas de Psicologia Organizacional, Psicologia do Trabalho e das Empresas e Gestão de Recursos Humanos.
A Psicologia do Trabalho tem trilhado um longo caminho em busca da definição de seu objetode estudo. Ela nasceu da necessidade de atender as demandas dos administradores de empresas quebuscavam estabelecer um controle sobre o comportamento humano no trabalho. Desde os primeirosestudos voltados à fadiga dos trabalhadores até o seu auge com a aplicação dos testes psicológicos emseleção de pessoal essa preocupação permeava os trabalhos dos psicólogos. No entanto, podemos notar que atualmente a Psicologia do Trabalho tem apresentado em seu processode desenvolvimento duas perspectivas: uma voltada às questões da Administração de RecursosHumanos e a outra, pela leitura da Psicologia Social e da Saúde Coletiva. (SATO, 2001, p.93) Na primeira perspectiva, a Psicologia, que teve como porta de entrada as demandas da Administração e da Engenharia, continua utilizando-se do seu referencial teórico para atender asnecessidades da produção. A participação da Psicologia restringia-se a manutenção da força de trabalho, por meio dos trabalhos de seleção de pessoal, treinamento, avaliação de desempenho entreoutros. Essa é uma das perspectivas da Psicologia, que é reconhecida e legitimada, devido a suaaplicabilidade no mercado de trabalho.A outra perspectiva refere-se à abordagem fundamentada na Psicologia Social e na SaúdeColetiva. Em relação a Psicologia Social, onde a partir dos conceitos de identidade, interação social,percepção, cognição e subjetividade, entre trabalhadores de segmentos populares, busca-se refletir osmomentos de produção e da reprodução do trabalho. (SATO, 2001, p.93) E ligada a essa possibilidadeestá a Saúde Coletiva que tem como objeto de estudo a saúde do trabalhador e o direito à cidadania. É exatamente nessa última possibilidade, a da Saúde Coletiva, que estamos desenvolvendonossos trabalhos, tendo como referencial teórico a Psicanálise. A opção em trabalhar com a Psicanálise se deu em função dos dados que emergiam no contato com as pessoas que trabalham em empresas eque necessitavam de um espaço para dar significado ao sofrimento. Quanto mais o contato avançavamais as questões do mundo interno dos trabalhadores emergiam diante da impotência de tantassituações adversas que enfrentavam no cotidiano. Oferecer escuta para essas questões, concomitantemente à apreensão dos seus significados e a sua associação com o mundo do trabalho, pareceu-nos um caminho para direcionar nosso trabalho. No entanto, esse caminho também apresenta algumas dificuldades, mas sempre possíveis de seremvencidas.A ciência opera uma passagem do sensível para o inteligível, do visívelpara o invisível, do que pode ser apreendido pela experiência imediatados sentidos para aquilo que pode ser comprovado pelo raciocínio∗Professor Assistente Doutor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Psicologia da Unesp – Assis.
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Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e ArteMaringá-UEM 06/10/2004 à 08/10/2004 abstrato, que parte de premissas certas e chega a conclusões necessárias. (Mezan, 2000, p.68) A trajetória da Psicanálise assumiu um caráter que tende a considerar a pesquisa com uma forte tendência a remeter-se à análise individual, quatro vezes por semana, num divã, o que denomina-se desetting terapêutico. No entanto, Freud foi, além disso, tal como revela Silva (1993, p.20):Esse método ele empregou muito à vontade fora do setting, e mesmo quando estava em jogo não uma pessoa, mas um produto humano. Assim ele analisou quadros, esculturas, livros, mitos, peças teatrais,instituições, etc. Assim ele analisou, inclusive, seus próprios sonhos,lapsos e dados biográficos. Hoje, mais realistas do que o rei, tende-se a restringir o campo de pesquisa, nascido a ambição de abarcar toda aexperiência humana, às quatro paredes de um consultório.Assim, uma outra justificativa quanto à escolha do referencial teórico refere-se a possibilidade de trabalhar com a Psicanálise na categoria extramuros, tal como mostra Mezan (2002, p.428): ... na categoria extramuros cabem diversos tipos de trabalho, todos elestendo em comum a característica que apontei atrás; a da elucidação do problema escolhido não visa diretamente uma intervenção terapêutica.Variam os métodos de colher os dados – entrevistas, pesquisas em textos,descrição de um fato social ou cultural – mas a partir de um certo ponto a tarefa do autor é idêntica em todos os casos: construir com base em uma análise do material que ainda não é psicanalítica, mas formal, uma questão psicanalítica. Aqui começa a delinear uma possibilidade de trabalho, ou por meio da pesquisa ou de intervenções, oferecendo escuta aos membros de uma empresa que vivenciam situações de sofrimento em contextos pessoais e de trabalho, considerando a busca por melhores condições de vida. Entendendo que o sofrimento pode manifestar-se em qualquer espaço, considerando a situação em que se encontra o indivíduo.Ao renunciar ao interrogatório sistemático, deixando o discurso dopaciente percorrer todos os meandros associativos, o psicanalista abandona a posição daquele que sabe para assumir a daquele que escuta, coisa absolutamente diferente. O pressuposto deste gesto aparentementeparadoxal – já que o paciente sabe o porquê de seus sofrimentos, etambém a maneira de livrá-lo deles – é que o paciente, embora ignore omotivo de sua dor psíquica, nem por isto deixa de conhecê-lo: é um saber sem saber, ou melhor, um saber excluído da consciência. (Mezan, 2000,p.72) É essa escuta que nos interessa, ouvir a voz que expressa o sofrimento, da maneira como é possível de ser trazida para o consciente, independente do local onde esse sentimento possa aparecer.
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Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e ArteMaringá-UEM 06/10/2004 à 08/10/2004 No entanto, todos os cuidados devem ser tomados para que essa voz possa aparecer, por meio de uma relação de confiança e de compreensão dos objetivos do trabalho. Considerando que:O objeto da psicanálise é o inconsciente, é a gama de significadosemocionais possíveis que se organizam segundo um fio condutor que batizamos de desejo, com tendência a se manifestar à consciência e daí ao ambiente. (Silva, 1993, p.20) A escuta é a possibilidade do encontro do pesquisador ou psicólogo do trabalho com esse grupo de trabalhadores. Escutar sem ter elaborado um conhecimento prévio, sem ter uma resposta prévia. Aação se restringe em ouvir e facilitar o processo de falar sobre o seu passado, a situação atual eperspectivas futuras, por meio da atenção flutuante – obtenção do material sem crítica ou intençãoanterior por parte do psicólogo. É possibilitar então um diálogo, uma troca, um crescimento na relação que se estabelece. Temos, então, apesar de tudo, um novo conhecimento emergindo. A primeira providência é percebê-lo, o que não é fácil, geralmenterequerendo um misto de sensibilidade e de conhecimentos prévios. Émister, a seguir, circunscrever a novidade, caracterizá-la, nomeá-la. Ouseja, criar uma representação que não só possa se referir ao “fato” assim identificado, mas também permitir sua comparação com eventos ainda não ocorridos. Precisa também se articular com o corpo teórico dadisciplina em que se desenvolveu – no caso, a psicanálise. (Silva, 1993,p.23) Seguindo essas indicações metodológicas é possível desenvolver um trabalho para compreendera questão do sofrimento que emerge nos relatos das situações de trabalho. Mezan complementa aindaquando aponta a função de um psicanalista no trabalho de uma equipe multidisciplinar: A função do psicanalista numa equipe multidisciplinar que opera emâmbito institucional pode não ser idêntica à sua atividade no consultório,mas guarda com esta relações bastante estreitas: é no fundo a mesma escuta, o mesmo contato direto com o sofrimento psíquico, materializado em pessoas de carne e osso com seus sintomas, defesas, fantasias etransferências. (Mezan, 2002, p.419)Desta forma podemos tomar como objetivo do trabalho, tendo como referência a Psicanálise, compreender as vicissitudes que envolvem a relação homem e o contexto que o constrói e o envolve, mais precisamente no mundo do trabalho. Tal como afirma Pellegrino (1987, p.201): O trabalho é o elemento mediador fundamental, por cujo intermédio, nosinserimos no circuito e intercâmbio social, e nos tornamos adultos – de fato e de direito – sócios plenos da sociedade humana.
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Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e ArteMaringá-UEM 06/10/2004 à 08/10/2004 O trabalho representa a possibilidade de ser aceito e de ser incluído na sociedade humana, pois ele funciona como elemento mediador desse processo. A criança deve receber todos os instrumentosnecessários para constituir-se como sujeito humano, preparando-se para identificar-se e inserir-se na sociedade a qual pertence. Assim, o trabalho é a forma pela qual o sujeito confirma a sua renúncia pulsional, por meio daaceitação do princípio da realidade. E a sociedade precisa respeitar e preservar o trabalhador, parapoder também, ser respeitada e preservada. Caso contrário, pode ocorrer uma cisão no processoidentificatório, provocando comprometimentos no âmbito da saúde.A troca tem uma função primordial no processo de constituição do sujeito, pois, ao oferecer, por meio do trabalho, a competência e a renúncia pulsional, o indivíduo espera receber o mínimonecessário para a preservação dos aspectos físicos e psíquicos. Caso essa troca não se efetive de formasatisfatória, pode ocorrer uma ruptura ao nível inconsciente, com o Pacto Edípico. Isso significa umadestruição do mundo interno. Apresentamos alguns elementos para reflexão que possam contribuir para a construção doobjeto da Psicologia do Trabalho, tendo como referência a Psicanálise, ampliando as possibilidades de ação do profissional da área. Referências:MEZAN, R. Freud – a conquista do paraíso. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. _________. Interfaces da Psicanálise. São Paulo: Cia das Letras, 2002. PELLEGRINO, H. Pacto Edípico e Pacto Social. In: PY, L. A . e outros. Grupo sobre Grupos. Rio deJaneiro: Rocco, 1987. SATO, L. A construção do objeto da Psicologia do Trabalho a partir da leitura da Psicologia Social eda Saúde Coletiva. In: Programa e Caderno de Resumos do VIII Colóquio Internacional de SociologiaClínica e Psicossociologia. Belo Horizonte, UFMG, 07/2001. SILVA, M. E. L. Pensar em Psicanálise. In: SILVA, M. E. L. (coord.) Investigação e Psicanálise. Campinas: Papirus, 1993.
2007-02-11 01:17:02
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