TESTAMENTO DE UM DOADOR
Não chamem meu falecimento de leito da morte, mas de leito da vida.
Dêem meus olhos ao homem que jamais viu o raiar do sol, o rosto de uma criança ou o amor nos olhos de uma mulher.
Dêem o meu coração a uma pessoa cujo coração apenas experimentou dias infindáveis e dor.
Dêem o meu sangue ao jovem que foi retirado dos destroços de seu carro, para que ele possa viver para ver os seus netos brincarem.
Dêem os meus rins às pessoas que precisam de uma máquina para viver de semana em semana.
Retirem os meus ossos, cada músculo, cada fibra e nervo do meu corpo e encontrem um meio para fazer uma criança inválida caminhar.
Explorem cada canto do meu cérebro.
Retirem as minhas células, se necessário, e deixem-nas crescer para que, um dia, um menino mudo possa ouvir e gritar em um momento de felicidade ou uma menina surda possa ouvir o barulho da chuva de encontro à sua janela.
Usem o que restar de mim como adubo para ajudar plantas e flores brotarem.
Não preciso de prece, missa nem culto, pois já estarei no nirvana perturbando jaové, alá, khrisna, buda, deus pai, filho e espírito santo e seus anjos, santos e santas, lúcifer e seus diabos, se existirem. Se não existirem, vou estar melhor ainda.
Se desejarem se lembrar de mim, façam isso com ação ou palavra amiga a alguém que precise de vocês.
Se fizerem tudo o que pedi, estarei vivo para sempre.
2007-02-09
00:36:59
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perguntado por
zeca do trombone
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Artes e Humanidades
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