Educação a distância e o universo do trabalho
Autor: Daniela Melaré Vieira Barros
Páginas: 192
Preço: R$ 28,40
ISSN: 0102-8227
A educação a distância é uma modalidade de ensino que sempre existiu, e a sua prática tem sido dinamizada e viabilizada por alguns fatores característicos da realidade contemporânea. A oferta de tecnologias rápidas e seguras garante a sua eficácia, cobrindo demandas que a educação formal não consegue atender. Tal processo também atende às necessidades de atualização dos conhecimentos e à dinâmica do mercado de trabalho, que exige rápidas intervenções.
Educação a distância e o universo do trabalho reflete sobre conceitos, experiências, objetivos e as novas tendências desta modalidade educacional, assim como questões políticas e econômicas que norteiam sua prática.
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A educação a distância no contexto iberoamericano
domingo, 19 de outubro de 2003
A educação a distância na região vem experimentado um crescimento sem precedentes no último decênio; no entanto, esta explosão acontece em detrimento da qualidade da oferta educativa e, de alguma maneira, tem gerado a desvalorização, no mercado de trabalho, das credenciais outorgadas. Este é o desafio que os educadores e as organizações educativas governamentais e não governamentais latinoamericanas devem enfrentar para estar a altura das necessidades de aprendizagem que a vertiginosa sociedade da informação reclama.
Vivemos na sociedade da aprendizagem. A cultura atual nos demanda uma formação permanente e uma reciclagem profissional que alcança quase todos os âmbitos produtivos, como conseqüência, em boa medida, de um mercado de trabalho complexo, mutável, flexível e inclusive imprevisível, junto a um acelerado ritmo de mudança tecnológica que nos obriga a estar aprendendo sempre coisas novas.
No entanto, esta cultura de aprendizagem avança além dos espaços educativos formais, como expõe Pozo (1996): ?não só ao largo de toda a nossa vida, senão durante a extensão de cada dia?. Assim, nossas necessidades de aprendizagem não só estão relacionadas ao âmbito profissional, senão que nos dedicamos a adquirir conhecimentos culturalmente relevantes para nossa inserção social, como são os estudos de idiomas ou informática.
Além disso, nossa interação cotidiana com a tecnologia nos obriga a adquirir novos conhecimentos: aprender a manejar automóveis, caixas eletrônicos, máquinas expedidoras de passagens, máquinas automáticas de bebidas, televisores, videocassetes, equipamentos de áudio etc. Assim mesmo, existem outras necessidades de aprendizagem ligadas ao ócio.
Quando acabamos de aprender todo o anterior, aprendemos a nadar, a esquiar, a tecer, a pintar, a dançar, a cantar, a jogar cartas, xadrez, a tocar algum instrumento etc.
Sem lugar a dúvidas, vivemos em uma sociedade de aprendizagem. Esta demanda de aprendizagens contínuas e massivas é uma das características que definem a sociedade atual. Mas não se trata apenas de aprender muitas coisas, senão de aprender coisas diferentes e em um tempo escasso, dado o grande volume de informação que devemos processar e a velocidade de mudança, que nos leva a um aperfeiçoamento constante ao largo de toda a vida.
Por isso a UNESCO, desde o início da década de 70, tem investido na necessidade de colocar em prática o conceito de educação permanente, a fim de gerar sistemas que possam responder às necessidade permanentes de aprendizagem que a sociedade atual exige de seus cidadãos.
Além disso, vivemos em um contexto de graves problemas ambientais, identificados a partir da degradação da natureza e da qualidade de vida da população mundial. Uma crise da humanidade que nos demanda a construção de novos imaginários, esquemas valorativos e estilos de pensamento. Como expõe Morin (1998), a complexidade da realidade nos exige superar o paradigma da disjunção, redução e unidimensionalização, na busca de um saber complexo, que nos permita distinguir sem desarticular, associar sem identificar ou reduzir, através da formação de grupos que possam praticar a interdisciplinaridade e o diálogo de saberes.
Em suma, não é casual que a necessidade de ?aprender a aprender? seja outra das características que definem a nossa cultura de aprendizagem, dado que temos que aprender temas variados e complexos e aplicá-los a diversos contextos mutáveis que se mantém em evolução permanente. Por isso, em virtude da diversidade de necessidades de aprendizagem, é inadequado continuar com a idéia simplificadora de que uma única educação, teoria ou modelo de aprendizagem, possa dar conta desse desafio.
A fim de dar conta destes desafios, de forma coerente com os novos instrumentos educacionais que surgem da revolução tecnológica (telefone, rádio, televisão, cabo, vídeo, teleconferências, correio eletrônico, páginas web); com o tempo escasso de que dispõem as pessoas para mover-se para as grandes cidades e dentro delas; com a escassez de recursos econômicos, em um continente sitiado pelas dívidas externas; e com a impossibilidade de contar com os especialistas necessários, em cada país, para estruturar cursos e programas de alta qualidade; surge uma revalorização do rol das modalidades de educação semipresencial e a distância. Estas, passam a ter um papel determinante no processo de formação de cidadãos, que hoje possuem uma dupla cidadania: a específica de seus países e uma cidadania mais ampla, em construção, que implica ser cidadãos da região e do mundo.
A educação a distância, como define a UNESCO, nos permite vislumbrar uma redemocratização da informação e do conhecimento, prioridade absoluta das Nações Unidas, garantindo o acesso à educação permanente para todos.
No entanto, os programas de educação a distância sofrem, ?em alguns países, de uma escassa credibilidade e igualdade de reconhecimento e valorização dos títulos obtidos?, tal como enuncia a UNESCO, ?historicamente falando, a maioria dos países têm tido experiências com programas e instituições de baixa qualidade, o que implica em uma pobre reputação desta forma de estudo?.
Na região, a educação a distância se viu submetida a numerosos questionamentos, derivados por um lado, das tristes experiências que numerosas pessoas tiveram nestes últimos anos, por haver caído presas de comerciantes inescrupulosos que, abusando da sua necessidade de aprender, os enganaram, oferecendo, por exemplo, títulos inexistentes.
Por outro lado, estes programas têm sido questionados pela crença dos planejadores de que um programa de educação a distância se faz com um bom módulo escrito acompanhado de exercícios; quando na realidade um bom programa de educação a distância requer muito mais que isto, exige tomar em conta outros meios e linguagens que formam parte da cultura mediática em que vivemos, como os meios audiovisuais, a rádio, a Internet, e todas as suas variações. Os programas não vêm sabendo explorar e utilizar ao máximo o potencial que apresentam as novas tecnologias e canais de comunicação disponíveis, e muitas vezes pecam por não reconhecer que a educação a distância não pode tentar traduzir com novas tecnologias os tradicionais paradigmas pedagógicos, mas requer um trabalho interdisciplinar, entre educadores, comunicadores e especialistas em informática, entre outros, com o objetivo de produzir novas aproximações didáticas que permitam abordar a complexidade do processo de ensino-aprendizagem.
Outra das dificuldades encontradas, e na qual também se fundamenta a evasão desta modalidade educativa, se refere aos cursos organizados por prestigiosas instituições internacionais, que oferecem pacotes educativos globais com uma grave dificuldade de descontextualização de seus conteúdos e metodologias. Ou seja, pela escassa atenção prestada às características concretas que apresentam os sujeitos de aprendizagem, produzindo uma massificação conceitual que não responde às necessidades dos alunos, formando profissionais que logo não possuem os conhecimentos necessários para reinsertar-se no mercado de trabalho de seus países de origem.
Esta situação reclama uma adequação de materiais educativos em cada um dos países, regiões ou localidades em que serão aplicados. Não só no que diz respeito aos conteúdos, mas sobretudo aos exercícios e práticas que o aluno deverá levar a cabo.
Outro dos problemas mais comuns dos programas de educação a distância é a escassa comunicação que tem existido entre alunos, e entre alunos e professores, o que gera isolamento, empobrecimento do tratamento da informação, limitação no potencial de transferência dos conhecimentos a outras realidades ou problemas e uma escassa atenção à motivação que deve ser gerada para que os alunos abordem saberes complexos, que exijam um nível de dificuldade mais alto, e requeiram maior suporte por parte dos professores e monitores.
A Fundação Universitária Ibero-americana (FUNIBER), surge como uma resposta à complexidade dos processos de formação de recursos humanos e pretende, por intermédio de um desenvolvimento conjunto entre universidades espanholas e latino americanas, criar um espaço de produção e difusão de conhecimentos atualizados, fazendo uso de todo o potencial das novas tecnologias.
A Fundação, está explorando há mais de três anos, novas alternativas que permitam utilizar ao máximo o potencial que a educação a distância nos oferece, acompanhando o avanço científico-tecnológico, o que junto a uma avaliação permanente permite estruturar uma oferta educativa de alta qualidade.
Este processo se desenvolve com o aporte da cátedra UNESCO-UNITWIN de Tecnologia da Informação, e das universidades de Las Palmas de Gran Canaria, Politécnica de Cataluña, Universidad del país Vasco, Universidad de Granada, Universidad de Vigo, Universidad de Santiago de Chile, Universidad Nacional de Colombia, Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas, Universidad de Piura (Perú), Universidad Científica del Sur (Perú), Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil), Universidad Tecnológica Nacional (Argentina), Universidad de San Francisco (Quito), Universidad Tecnológica de Panamá, Universidad de Aguas Calientes (México); e uma equipe interdisciplinar de especialistas iberoamericanos.
Uma oferta educativa que se constitui a partir de um diagnóstico das necessidades da população alvo, e das características culturais da mesma, elemento central para o planejamento dos processos educativos, materiais e técnicas a utilizar.
Que se caracteriza pela elaboração de materiais diversos e adaptados a cada uma das realidades em que se desenvolvem as atividades educativas, não só no que diz respeito à elaboração de conteúdos conceituais, senão também às experiências de aprendizagem e às atividades de cada um dos módulos que compõem o programa.
Estas adaptações são elaboradas pelas equipes de cada uma das universidades participantes, e supervisionadas pelos conselhos acadêmicos de cada universidade e da Fundação.
Que se baseia em uma sólida estrutura comunicacional, constituída a partir um portal de educação a distância, através do qual se estabelece o contato entre docentes, entre docentes e alunos, e entre alunos que cursam as mesmas disciplinas em todos os países participantes.
Um portal através do qual se levam a cabo conferências virtuais de especialistas destacados de cada universidade membro; através do qual se realiza o monitoramento constante dos alunos, a partir da avaliação dos exercícios e atividades especiais que os monitores e o diretor acadêmico dos programas vão desenvolvendo ao largo do curso; uma plataforma que também nos permite realizar uma supervisão da tarefa desenvolvida pelos monitores e coordenadores acadêmicos, permitindo sua avaliação de desempenho, a fim de evitar possíveis desajustes do planejamento; um espaço onde os diversos alunos vão carregando informação de cada país, fortalecendo a base de informação iberoamericana, em cada um dos temas que se aborda.
Uma estrutura comunicacional que considera que toda estratégia desenvolvida para melhorar a comunicação entre os alunos e os docentes é pouca, por isso se valoriza uma conexão mais próxima e pessoal através de telefone, por meio da disposição permanente de monitores, em horários rotativos, permitindo o acesso de qualquer pessoa que sinta a necessidade de apoio; uma equipe monitorada por um diretor acadêmico que se encarrega de resolver os problemas conceituais, respondendo para todo o conjunto de alunos participantes, a fim de enriquecer o processo de aprendizagem do grupo.
Um oferta educativa que permite tirar o estudante do isolamento, compartir com o resto de seus companheiros e recorrer a consultas de docentes de outros países; não só tendo em conta a possibilidade de diálogo de saberes e experiências, que enriquecem a construção pessoal do conhecimento e o dotam de um poder adicional de transferência a diversas situações da vida, nesta comunicação bidirecional que é a educação; mas sobretudo construindo pontes para a contenção afetiva dos alunos frente ao novo conhecimento, em pleno processo de equilibração conceitual.
Que permite construir aulas globais, recorrendo aos especialistas dos diferentes países da região e do mundo, na formação de um corpo de professores altamente especializados em cada uma de suas áreas de conhecimento.
Que potencializa a participação de empresas e de outras entidades, para conseguir uma incidência máxima nos processos de transformação e melhorias tecnológicas e sociais, colaborando na criação, estabelecimento e gestão de novas iniciativas que, em geral, possam contribuir para alcançar os objetivos gerais para o desenvolvimento da ciência e da sociedade, além da formação de agentes sociais transformadores.
Em síntese, uma oferta educativa que fomenta a promoção de atividades ligadas à formação permanente, à extensão tecnológica e à realização de projetos de cooperação internacional, para melhorar o potencial das universidades iberoamericanas e dos setores econômicos e sociais na resolução de suas necessidades de aprendizagem.
Muito temos avançado no conhecimentos dos processo envolvidos na educação semi-presencial e a distância de adultos, no entanto, ainda não pudemos superar a carência que temos na sistematização do conhecimento de nossas práticas, aparentemente pouca coisa para a teoria educativa, mas certamente elemento central na determinação do êxito ou fracasso de nossos processos educativos.
Temos que deixar de nos ver como competidores e começar uma verdadeira rede que não se encerre nos confins de uma instituição, localidade ou país, que se abra à região, compartilhando e construindo, em conjunto, sistemas educativos a distância de alta qualidade. Neste sentido, devemos assumir também a responsabilidade que nos compete no processo de mercantilização educativa em curso, devemos começar a pensar na elaboração de uma organização regional que possa certificar a qualidade educativa de nossos programas.
Este é o desafio que temos que enfrentar para preservar não só um mercado educativo próprio, mas uma formação adequada às necessidades culturais, socias, políticas e econômicas da população latinoamericana.
»» Autor: Naná Mininni-Medina, Daniel Luzzi e Andrea Luswarghi
2007-02-11 06:13:59
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answer #1
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answered by cemporcentoelda 3
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