Vou expor minha opinião. Porém, não existe opinião neutra, e a minha é declaradamente marxista; então, sugiro que você a confronte com outras opiniões, se possível opostas à minha, ok?
O que se chama de "segunda guerra", na verdade, é a mesma guerra que a de 1914, após 25 anos de trégua. Vou precisar voltar bastante no tempo, pra daí chegar aos anos 1930 e 1940. Prepare um saco de paciência, é muuuuuita coisa.
Séculos XVIII e XIX. Alemanha e Itália foram países de unificação tardia, fragmentados em diversos principados/repúblicas/monarquias. Enquanto isso, os outros países europeus já tinham colônias e mais colônias. Até os EUA, ex-colônia inglesa, já tavam na corrida, e aumentaram seu território na América do Norte, e mais umas colônias pela Am. Central e em arquipélagos.
ENQUANTO ISSO, CADÊ OS ALEMÃES E ITALIANOS? Tavam espremidos entre impérios, como o austro-húngaro e o russo. 99% das terras fora da Europa já tinha algum europeu metendo o bedelho.
Com o Japão, o caso foi diferente. Ele se manteve feudal e isolado do resto do mundo por muito tempo. Os EUA forçaram a abertura dos postos japoneses às suas mercadorias, em 1800 e bolinha. Não era mais possível manter o isolacionismo.
Alemanha e Itália finalmente se unificaram. Ambas e o Japão cresceram internamente, se industrializaram, e o próprio crescimento as sufocou. O capitalismo é um sistema econômico que PRECISA de crescimento, tanto em mão-de-obra quanto em mercado consumidor, ou desaba. Só que os três já tinham crescido "o que dava" internamente, e não haviam mais terras a explorar que já não fossem colônia de alguém. O que fazer?
Agora, vamos à 1ª parte da Grande Guerra. A Áustria-Hungria (AH) dividida entre povos povos de idiomas e etnias diferentes. O território atualmente corresponde ao que seria a Áustria, a Hungria, a Croácia, e partes da Bósnia e da Romênia - cada região com seu povo, e todos eles sob a mesma coroa. Existiam pactos de proteção mútua entre a AH, Itália e Alemanha, de um lado, e entre a Inglaterra, Rússia e França. (Além de meia dúzia de países desimportantes de cada lado).
Agora, imagine o barril de pólvora. Nacionalismo, mas povos divididos em diversos países; pactos e mais pactos; neocolonialismo quando você não tinha mais colônia "livres". E aparece um idiota, o príncipe da Áustria, que resolve passear em carro aberto dando tchauzinho na Sérvia, que nunca foi com a cara da Áustria e reivindicava a parte do império AH habitada por sérvios. A propósito, a Sérvia era aliada de Rússia, Inglaterra e cia.
Não preciso dizer o que aconteceu com o coitado do príncipe. Levou bala por tudo quanto é lado. Foi o estopim.
AH declarou guerra à Sérvia.
A Sérvia chorou pra Inglaterra. Inglaterra declarou guerra à AH.
A Alemanha declara guerra à Sérvia e à Inglaterra.
E etc., cada um entrava na guerra pra apoiar outro.
De um lado, as potências tradicionais; de outro, países berrando por crescimento. Os EUA entraram na guerra depois que os alemães explodiram um navio que deveria ter comida com destino à Inglaterra. Detalhe: os alemães queriam PILHAR o navio, não EXPLODÍ-LO. Ele só explodiu porque não tinha comida, como os EUA diziam... tinha PÓLVORA.
[Em off: a melhor atuação foi a brasileira. Nossos incríveis submarinos conseguiram destruir um CARDUME inteiro de toninhas. E só. Até hoje, esse fiasco é conhecido como "A Batalha das Toninhas".]
Ok, a guerra passa, a AH é dividida entre a parte germana (Áustria), a parte eslava (Hungria), mais uns pedaços pra lá e pra cá, a Alemanha perde metade da Polônia (a outra metade tava com a Rússia), o Império Otomano (aliado da AH) é fragmentado entre a Turquia atual e algumas colônias de presente pros vencedores na Peníns. Arábica, e todos esses países sofrem sanções econômicas pesadíssimas, com pagamento de tributos.
[Em off, 2: quando o Osama bin Laden cita a tal humilhação há oitenta anos que os mulçumanos sofreram, é exatamente da retalhação do Império Otomano, que virou parquinho de diversões europeu. Ele se esquece que os otomanos eram tão podres quanto seus aliados e inimigos.]
Trinta anos se passam, e aí vem a tão falada guerra de 1939-45. Pobreza, decadência, volta do nacionalismo, tributos. Começam a surgir partidos de ideologia nacionalista demagoga, numa época em que tudo o que o povo queria era um bom orador que os convencesse que tudo ficaria bem, e que são o melhor povo do mundo, por mais imbecil que esse orador fosse. Surge um Hitler e um Mussolini; se estes dois não tivessem nascido, outros teriam surgido no lugar. Mais um barril de pólvora tava armado.
A Itália precisa de colônias. O Japão precisa de colônias. Alemanha e Áustria, além de colônias, pretendem reaver seus antigos territórios. Sem contar a presença de uma burguesia nesses dois países, ESSENCIALMENTE de judeus (tanto que, em alemão, as palavras para "judaísmo" e "lidar com dinheiro" eram a mesma. Marx, um judeu alemão, aproveitou esse jogo de palavras várias vezes em seus livros).
A unificação Alemanha-Áustria foi relativamente pacífica, pois os dois povos se consideravam como um só (lembra da unificação tardia da Alemanha?). O mesmo não se podia dizer da anexação da Polônia, da invasão da França, de Pearl Harbor.
Tendo as circunstâncias anteriores, você pode prever razoavelmente bem o que aconteceu. Além do mais, a segunda parte da guerra é mais atual, conta com gente ainda viva para contar a história. As alianças continuaram mais ou menos as mesmas, Hitler se matou, os países europeus que nunca foram ditaduras nos moldes da Rev. Francesa se tornaram (Portugal, Espanha, a nova Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, etc.). E, se você for um pouquinho além na análise, acaba percebendo que o mundo seria dividido. Não mais em vários grandes impérios, mas em dois megablocos, o de capitalismo de estado (confundido com comunismo - URSS) e o capitalismo ocidental (EUA)
FIM. Ufa!
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Foram mortes e mais mortes. Judeus, EUA, Inglaterra, França, os que de certa forma ganharam a guerra (numa guerra, ninguém ganha) foram taxados de bonzinhos e sofredores. Repudio o que a Alemanha fez com os judeus; porém, repudio também o que os EUA fizeram com os japoneses. Genocídios.
Não houve inocente na Grande Guerra; e sim, quem mandava e quem queria mandar. O mundo tinha se tornado pequeno demais.
Sob uma ótica marxista, o capitalismo atingiu seu ápice no século XIX, que foi quando o mundo inteiro foi tomado por ele. Quase todo mundo era colônia (política e/ou econômica), ou era colonizador. A guerra trouxe fôlego a ele; morre gente, nasce gente, as colônias se tornam estáveis na mão de alguém. Com o capitalismo, não é possível tempos de paz.
Imagino eu que a segunda metade da grande guerra seja vista, pelos historiadores futuros, não como uma nova era, mas os sinais de decadência da antiga. Talvez a nossa época seja chamada de Alta Idade Industrial, assim como a Alta Idade Média (os piores anos da Idade Média). Mas só estou especulando.
Ei, espero ter ajudado. E que alguém leia essa reposta gigante. Abraços.
2007-02-02 16:56:30
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answer #6
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answered by Eremita 6
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