Grande Içami Tiba
Neste livro o autor trata de importantes assuntos como: Caminhos para uma nova educação, diferentes relacionamentos familiares, incluindo um capítulo no qual Tiba selecionou algumas perguntas que foram encaminhadas para ele por pais e mães aflitos ou preocupados em educar melhor seus filhos. Este livro tem o objetivo de devolver para a família a responsabilidade de educar os filhos, hoje atribuída à escola, dada a nova dinâmica familiar e profissional da sociedade ocidental. O autor se propõe a ajudar os pais nessa empreitada reforçando a importância de valores e atitudes como limites e diálogo.
1º Capítulo
Mãe & pai: duas faces da mesma moeda
Por que não "pais" no lugar de "mãe & pai"?
Para destacar a importância da figura materna na família. Não é justo nos referirmos ao casal como "pais", porque a mãe então desaparece. Quando a escola convoca os pais, quem mais atende são as mães, e quando mães são chamadas nenhum pai comparece à reunião...
O pai é sempre mencionado e reverenciado. Merece os louros da família. Mas, na maioria das vezes, os filhos ainda são responsabilidade da mulher, mesmo que ela trabalhe fora e que sua participação no orçamento familiar seja maior que a masculina. Ainda sobrevive a cultura de que a última palavra é a do pai. É ele quem manda.
A mulher saiu para o mercado de trabalho sem deixar, contudo, de ser mãe. E nem por isso os homens tornaram-se mais pais. Só recentemente alguns começaram a participar mais da educação dos filhos. Pude notar que a presença de de pais em minhas palestras aumentou de 5% para 15% nos últimos cinco anos. Figuras femininas compõem o restante, principalmente mães. A presença masculina é bem maior quando os filhos são pequeninos ou estão às vésperas do vestibular. Entre essas duas etapas, a presença masculina é quase nula.
A maioria dos livros de educação frisa demais a importância da figura materna na educação, e esse talvez seja um dos componentes que perpetuam a indevida sobrecarga da mulher e aliviam a da figura masculina. Pois eu dirijo este livro a mães e pais.
Já que usar apenas o termo "pais" está fora de questão, poderíamos chamar o casal de "mães"? Também não. Mães significa duas ou mais mulheres com filhos. E talvez passe aos homens uma visão pejorativa de que este livro é "coisa de mulher".
Numa reunião de pais de alunos, o pai comparece muito menos que a mãe e numa reunião de mães o pai nem chega perto!
As palavras denunciam esse mecanismo masculino/feminino na educação dos filhos. Chego a essa conclusão ao observar o interesse por meus livros. Quando o título traz a idéia generalizada de família - Seja feliz, meu filho ou Disciplina: o limite na medida certa -, a mãe sente um impulso irresistível de comprar. O Abaixo a irritação, ela quer levar para dar ao marido. Já os homens preferem O executivo & Sua família.
Então, "pais" deveria significar dois ou mais homens que têm filhos. Mas não é o que ocorre no português e também no espanhol, no qual se usa "padres" para designar o casal padre/madre.
Outras línguas têm um termo exclusivo para se referir a casais com filhos. O inglês diz "parents" para o casal father/mother. O japonês chama de "rioshim" o casal otosan/okasan.
Não quero corrigir nosso vernáculo, mas considero inapropriado unir dois seres tão diferentes como pai e mãe sob o nome de um deles, seja "pais" ou "mães". Continuo ressaltando que a palavra "pai" ainda precede "mãe". Nenhum dos dois está totalmente certo ou errado. Tampouco um é melhor que outro. São apenas diferentes.
E essas diferenças estendem as possibilidades educativas, trazendo retornos relacionais mais ricos. Quanto maiores elas forem, tanto mais distintos serão os comportamentos dos filhos em relação ao pai e à mãe para uma mesma situação.
São diferenças que se complementam, pois, sem um pai, a mulher não pode ser mãe. O homem, sem uma mulher, não conseguirá ser pai. A criança é fruto da associação do homem com a mulher. Ou da mulher com o homem? Não se trata nem de discutir quem é o mais importante, já que os dois são essencialmente necessários para se ter um filho.
A herança genética está nos cromossomos. Mas desde o nascimento a criança absorve o modo de viver, o "como somos", da família. Assim, ela aprende naturalmente com as pessoas que a cercam, sem se interessar pelo vernáculo. E no futuro transmitirá tal aprendizado a seus filhos, perpetuando comportamentos através das gerações.
Flashes capturados do cotidiano das famílias mostram que o mundo mudou, mas nem tanto assim.
Vôo das 6 horas da manhã para São Paulo. Eu voltava de uma palestra, quando comecei a observar um garotinho de 3 anos do outro lado do corredor. A mãe estava próxima dele e carregava uma criança de colo.
O menino mexia nos botões acima da sua cabeça, punha os pés no banco, não parava quieto. De repente, ele me descobriu e ficou olhando para mim. Comecei a fazer mímicas com a sobrancelha. Mexia ora a direita, ora a esquerda.
Tentando me imitar, ele passou a fazer caretas. Ao perceber que seu filho me olhava, a mãe o puxou e o fez sentar. Era como se dissesse claramente: "Não dê bola para estranhos". Segundos depois, o garoto já estava de pé no banco outra vez, mexendo de novo em todos os botões.
Um homem de terno e gravata que estava sentado no banco de trás, estudando relatórios, disse então em voz forte, que mais parecia um grunhido: "Fica quieto, menino, senão o bicho vem te comer". Até eu, do outro lado do corredor, tomei um susto.
Em seguida, escutei a mãe do menino dizendo: "Fica quieto, menino, você viu o que seu pai falou".
Eu também fiquei quieto e comecei a imaginar que na realidade o bicho era o próprio pai.
Fiquei pensando naquela família. Por que estava num avião tão cedo? Esse é um horário em geral preferido pelos executivos, para que o dia renda mais. A maioria dos passageiros viajava sozinha. A mãe era a única mulher a bordo, fora as comissárias. Estava claro que o horário havia sido determinado pelo homem, que deve ter sido gentil ao decidir trazer a família consigo. Quem cuidava das crianças era a mulher. Coisas da vida moderna!
Seria muito melhor para a mulher ter ficado em casa com as crianças. Mas ela acompanhou o marido. Os homens vão onde existe a possibilidade de ganho. E, se têm uma família, levam a mulher e os filhos para o local onde trabalham. Era um homem jovem, aparentemente trabalhando bastante e em processo de ascensão profissional, com filhos pequenos numa fase em que precisam de muita atenção. Mas o trabalho justificava a ausência dele. Talvez trabalhasse tanto por querer dar uma condição de vida melhor para a família.
A mãe, também jovem, poderia ter uma formação universitária, ser independente, também trabalhar fora, mas ela estava ali inteiramente dedicada à família, atendendo a criança de colo e o garotinho. Cuidando para que não conversassem com estranhos. E ainda se colocando na extensão da ordem do pai.
Final de festa junina. Enquanto eu comia um churrasquinho, fiquei observando uma mulher com três crianças, uma no colo, um menino maiorzinho, de uns 6 anos, encostado nela e um parecendo ter 13 anos, inquieto, chutando o chão. Ela carregava uma sacolinha. Os quatro estavam parados, esperando alguém. Mudei de campo visual. E o que observei?
Um homem bem-apessoado conversava com outro. Tinha um bigode muito bem-cuidado, virado para cima, e fumava um cigarro com elegância. Seu sapato de couro brilhava tanto naquele final de festa junina que me chamou a atenção. Não me ocorreu juntar as duas cenas: o homem estava a uma distância de cinco metros da mulher e das crianças.
O outro homem se despediu. Sozinho, o do bigode deu uma última tragada, jogou o cigarro no chão e elegantemente pisou nele para apagá-lo. Mas percebeu que o movimento havia lançado uma poeirinha sobre o sapato. Imediatamente limpou o calçado esfregando o pé na calça, na altura da barriga da perna. Olhou mais uma vez para o sapato e mostrou satisfação ao vê-lo reluzente.
Virou-se para a mulher a cinco metros dele e disse em voz alta: "Vamos!". E já foi andando em direção à saída.
Para surpresa geral, a mulher seguiu atrás dele, carregando a sacolinha e a criança no colo, o menino pendurado na saia e o púbere mal-humorado caminhando a seu lado. Nem o garoto mais velho foi com o pai.
Fico conjeturando, maquinando, filosofando sobre esses acontecimentos flagrados no dia-a-dia das famílias. E convido você a fazer o mesmo. Observe as pessoas nas festas, praças de alimentação de shopping centers, parques, igrejas. Avalie como pais, mães e filhos se comportam. E use essas informações para analisar sua própria família.
No exemplo acima: será que pai e mãe tiveram o mesmo divertimento?
Mãe muito diferente de pai
Existem diferenças enormes e fundamentais entre ser mãe e ser pai, muito maiores do que simplesmente ser mulher e ser homem.
A maioria dos comportamentos sociais que distinguem o homem da mulher não foram inventados. Eles têm bases biopsicossocioantropológicas distintas dentro de uma mesma espécie. O ser humano socializou, educou e sofisticou seus instintos animais de sobrevivência e perpetuação da espécie.
Assim como os demais mamíferos, o humano masculino é fisicamente mais forte, porém menos elástico do que o feminino. Quem engravida é o feminino, com essencial ajuda masculina. Contudo, somente o feminino amamenta os filhotes. Essas e outras distinções decorrem de diferenças anatômicas, sobretudo da maior ou menor presença e ação de hormônios sexuais: estrogênio e progesterona nas mulheres, testosterona nos homens.
O masculino pode ser alterado pelo hormônio feminino, e vice-versa, sem jamais chegar à transformação anatômica total.
Da mesma forma, um pai ou mãe nunca se transforma biologicamente no progenitor do sexo oposto.
Em circunstâncias especiais, podem até exercer funções relacionais ou sociais semelhantes. Mas ainda assim serão diferentes entre si.
Logo, por mais eficiente que um dos pais seja, ele não pode suprir completamente a ausência do outro.
A seguir, apresento algumas das diferenças comportamentais masculino-femininas:
- A mulher fala o que pensa ou vai pensando enquanto fala. Seguramente, ela consegue pensar, escutar e falar ao mesmo tempo. O homem, por sua vez, não fala enquanto pensa ou geralmente só fala depois que pensou. Uma ação de cada vez. Portanto, pensar, falar e escutar ao mesmo tempo para o homem? Nem pensar...
- Ao jantar em um restaurante, a mulher repara nos talheres, na toalha de mesa, nos enfeites, nas unhas do garçom, no ambiente, nas pessoas, nas roupas e jóias "daquela mulher", na decoração, na estética e no sabor da comida, sempre preocupada com o teor calórico da sobremesa. O homem repara no barulho, na demora para servir, no tamanho das porções, na educação do garçom e, fatalmente, no preço pago.
- Numa refeição em casa, se o filho não quer comer, "que não coma", pensa o pai. A mãe logo se dispõe a encher o estômago dele de qualquer jeito: "Você quer que eu prepare aquele sanduíche que você adora?".
- Quando o filho apanha de um colega, o pai se irrita e briga com ele, quando não chega a agredi-lo, para que aprenda a se defender na rua. A mãe também fica furiosa e quer dar uns tapas... mas em quem agrediu seu filhinho. - Enfim, na família, o pai tem dois filhos, enquanto a mãe tem três: o filho "temporão" é o marido!
2007-01-19 15:30:08
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answer #1
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answered by Anonymous
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