Espero que goste. Abraços.
A gamela e o vovô.
Era uma vez um velho, muito velho, quase cego e surdo, com os joelhos tremendo.
Quando se sentava à mesa para comer, mal conseguia segurar a colher, derramava a sopa na toalha e quando , afinal, acertava a boca, deixava sempre cair um bocado pelos cantos.
O filho e a nora dele achavam que era uma porcaria e ficavam com nojo. Finalmente, acabaram fazendo o velho se sentar num canto atrás do fogão. Levaram comida para ele numa tigela de barro e, o que é pior, nem lhe davam o bastante para comer. O velho olhava para a mesa com os olhos compridos, muitas vezes cheios de lágrimas. Um dia, suas mãos tremeram tanto que ele deixou a tigela cair no chão e ela se quebrou. A mulher ralhou com ele, que não disse nada, só suspirou.
Depois ela comprou uma gamela de madeira bem baratinha e era ali que ele tinha de comer.
Certa vez, quando estavam todos sentados na cozinha, o neto do velho, que era um menino de quatro anos, estava brincando com uns pedaços de pau. – O que é que você está fazendo ? perguntou o pai. Estou fazendo um cocho, para papai e para mamãe poderem comer quando eu crescer – respondeu o menino.
O marido e a mulher se olharam durante algun tempo e caíram no choro. Depois disso , trouxeram o avô de volta para a mesa. Desde então passaram a comer todos juntos e, mesmo quando o velho derramava alguma coisa , ninguém dizia mais nada e , sempre, lembravam
2-A MENINA E O PÁSSARO
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Se a porta da gaiola estiver aberta, os pássaros comuns vão embora, para nunca mais voltar...
Mas o pássaro da menina, voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.
Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
"Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que
cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que eu vi, como
presente para você..."
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez ele voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
"Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.
Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes."
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre a hora da partida. Chorava a menina e chorava o pássaro.
E a menina pediu ao pássaro que não mais partisse.
Eu vou lhe contar um segredo, disse-lhe o pássaro: as plantas precisam da terra, os peixes precisam dos rios, nós precisamos do ar...
E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza,na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas.
Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre.
Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz".
Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola e ficou à espera. Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar.
Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.
Ah! Menina... o que você fez? Quebrou-se o encanto.
Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...
Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente.
Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas se transformaram num cinza triste. E veio o silêncio.
Também a menina entristeceu.
Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou e abriu a porta da gaiola.
Pode ir, pássaro, volte quando quiser...".
"Obrigado, menina. Eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente."
E o pássaro partiu. Voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia...
Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo.... E colocava flores nos vasos à espera do seu amigo...
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque, em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar, ele haveria de voltar. À noite, a menina ia para a cama com saudades, mas também com a esperança do reencontro renovada. Ah! Mundo maravilhoso que guarda, em algum lugar secreto do Universo, em plena liberdade, o pássaro encantado que se ama... E
que um dia, com certeza, vai voltar...
3-A Panela.
A velha empregada de minha família era uma senhora negra. Chico, o neto dela - como é costume acontecer quando não temos irmãos - , era o meu companheiro constante de brincadeiras e diversão. Em tudo quanto fazíamos, a parte de Chico era sempre a mais pesada, secundária e passiva. Ele tinha que , sempre, doar-dar, e, nunca, receber . Um dia corri para casa, à saída da escola porque Chico e eu tínhamos projetado construir uma vala que fosse do poço à lavanderia . Sem darmos por isso, cada um de nós assumiu logo o seu papel – como de costume. Chico era o “ Condenado “ a trabalhos forçados, suando e repetindo esforços. E eu o implacável guarda, com uma vara na mão ! A maneira como eu estava maltratando aquele menino negro era quase digna de um adulto imbuído de preconceitos de cor. Foi quando a nossa preta velha chamou-nos : - Crianças, venham pôr a minha panela no fogão! Corremos para a cozinha. A panela estava no chão e nós a agarramos com ambas as mãos . Mas um grito e a largamos, perplexos de que ela nos tivesse mandado pegar em uma coisa que – era evidente que sabia – estava extremamente quente e iria nos queimar. Em seguida, em graves e brandas palavras, tão nítidas e simples que até hoje as posso escutar, partindo do fundo do tempo, ela disse-nos assim : - Ora! Ora! Vocês dois se queimaram. Que coisa mais engraçada ! A cor da pele de vocês é tão diferente , mas a dor que estão sentindo é igualzinha para ambos, não é verdade ? Concordamos que sim. E nunca mais pude me esquecer desse episódio (fato) que sem dúvida alguma fez de mim uma pessoa diferente e melhor, é claro.
2007-01-15 13:33:45
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answer #1
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answered by Ambiental 5
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