A Condição Social da Gente Brasileira
As relações simbióticas entre o Estado/governo e partes privilegiadas da sociedade, a denominada “elite” oligárquica e financeira, em detrimento das classes subalternas, sempre foi predominante nos estudos sócio-antropológicos, econômicos e políticos centrados na problemática da integração nacional.
Particularmente no pós-guerra, a economia substitutiva de importação chegou a oferecer brechas para a mobilidade social ascendente e incremento do emprego sob a proteção da legislação trabalhista. As duas últimas décadas de regressividade distributiva, com forte componente de exclusão da força-de-trabalho, geraram grandes tensões e rupturas na estrutura social.
O capitalismo hegemônico mundializado aprofundou na periferia as contradições entre o Estado privatizado e a gente brasileira, entendida como parcela majoritária da população, em termos de marginalização e qualidade de vida. As políticas de “ajuste fiscal” recomendadas e monitoradas pelo FMI alteraram radicalmente a política de emprego e salários do setor público. A desregulamentação contratual trabalhista e as demissões em massa, como falsa solução para a crise estrutural da economia, aumentaram exponencialmente o desemprego, subemprego e o trabalho informal. Na área rural, a crise deslocou para os centros urbanos grandes contingentes humanos, jogados na mais extrema penúria. Configurou-se dessa forma imensa fratura na estrutura social e territorial. O dossiê da crise social no Brasil denuncia que no final de 2001 o número de pessoas na linha da pobreza era aproximadamente de 70 milhões, correspondendo a cerca de 41 % da população atual (169 milhões), sem contar as disparidades inter-regionais e urbano-rurais e a violenta explosão da urbanização “sociopática” incontrolável. É consensual a dificuldade de comprovação de renda quando grande parte da força-de-trabalho encontra-se na informalidade. No jogo das estatísticas predomina sempre o critério político pró ou contra, ainda que o desemprego e a miséria possam ser vistos a olho nu.
As disparidades de renda aproximam o Brasil das regiões mais pobres e injustas do globo. Dados da Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE de 1999 revelavam que a renda dos 10% mais ricos da população é 30 vezes maior que a renda dos 40% mais pobres, e que os 10% mais ricos se apropriam de 50% do total da renda nacional. Nos últimos três anos a percentagem variou no sentido de maior concentração da renda.
No quadro presente, a nação apresenta-se partida e desintegrada com a desconstrução econômica, social e institucional dos últimos governos. Subsiste íntima correlação entre o aumento dos níveis de pobreza crítica e a concentração de renda das “elites” cosmopolitas, do sistema financeiro e de grandes empresas, geralmente internacionais, aquinhoadas com a desnacionalização, fusões e empréstimos e financiamentos públicos. Essa correlação acompanha o crescimento da disparidade entre os países do mundo euro-estadunidense e os da periferia pauperizada e faminta.
A despeito de ter alcançado grau relativo de desenvolvimento industrial, o Brasil não discrepa como um todo do resto da América Latina em termos de problemas fundamentais irresolvidos, como o da terra, da dependência ao FMI e Estados Unidos, da miséria das suas populações e da exclusão social. Consoante a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) viviam no continente, no final da década de 90 do século passado, 210 milhões de pobres, cifra equivalente a 43,8% da população total. Desse total de pobres, 18,5 % (89 milhões de pessoas) viviam em condição de pobreza extrema ou indigência. Documento do Banco Interamericano de Desenvolvimento datado de 2001 prevê que a América Latina levará um século para atingir o mesmo nível de renda dos países da economia central. Essa longa paciência escapa à história das lutas sociais e nacionais. A persistirem as tendência recentes desde a abertura indiscriminada do mercado, toda a América Latina, que se situa entre as regiões mais pobres do globo, a exemplo da Argentina e outros países poderá ingressar num ciclo cruento de convulsões sociais. Já no início dos anos 60, Josué de Castro, autor da “Geografia da Fome”, declarava: “Eu que recebi um prêmio internacional da paz, penso que, não há outra solução que a violência para a América Latina”. A economia globalizada de mercado agravou a condição de miséria de aproximadamente sete bilhões de pessoas no mundo, gerando condições excepcionais para os movimentos irredentistas.
Nos últimos anos, contrariando os prognósticos oficiais, a renda per capita real no Brasil experimentou sensível queda, acompanhada do aumento do desemprego que, somente na Grande São Paulo, superou os 20% da população economicamente ativa, segundo cálculos independentes confiáveis. Foi o mundo do trabalho que pagou o maior preço com a adoção do neoliberalismo. Dos cerca de 76,5 milhões de pessoas que conformam a População Economicamente Ativa do País, somente 44,9% possuíam, em 2001, carteira de trabalho assinada, 27% trabalhavam sem carteira e 23% exerciam atividade informal. A flexibilização praticamente retirou a estabilidade no emprego. Os contratos hoje, quando existem, são feitos por seis meses, gerando a insegurança do empregado.
2007-01-09 09:05:11
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answer #1
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answered by luan 4
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