O tempo está se esgotando. A Segunda Guerra Mundial acabou há 59 anos, mas, nos cálculos dos caçadores de nazistas, apenas cerca de 20% dos responsáveis por crimes contra judeus perpetrados em campos de concentração e extermínio tiveram de responder por seus atos. Faltam poucos anos para fazer justiça contra os responsáveis pelo Holocausto. Preocupadas com a possibilidade de vários nazistas morrerem em liberdade, duas organizações judaicas resolveram lançar um polêmico projeto. A Operação Última Chance oferece US$ 10 mil por informações relevantes que levem à prisão de algum nazista. Na TV, nas revistas e nos jornais, anúncios incentivam as pessoas a delatar os crimes que conhecem.
O processo judicial contra nazistas tem uma venerável tradição iniciada pouco depois da guerra no Tribunal de Nuremberg, a primeira corte internacional a julgar crimes de guerra. Ao condenar a cúpula nazista que foi possível capturar, o tribunal lançou as bases para a definição do que veio a ser conhecido como crime contra a humanidade, algo tão grave que poderia ser julgado por qualquer país, independentemente de onde o crime tenha ocorrido ou da nacionalidade do criminoso.
O responsável pelo atual projeto é Ephraim Zuroff, ex-agente do FBI. Na polícia federal americana, Zuroff era responsável pela investigação de criminosos de guerra. Hoje, é o chefe dos caçadores de nazistas e diretor do Instituto Simon Wiesenthal, uma das principais organizações judaicas de combate ao anti-semitismo, em Israel. ''Se não fizermos alguma coisa imaginativa'', justifica Zuroff, ''muitos criminosos jamais serão julgados''. A idéia partiu da fundação Targum Shlishi, uma organização fundada e dirigida por Aryeh Rubin, empresário de Miami.
Entre as razões que o Centro Wiesenthal arrola para justificar o programa estão ''a falta de vontade política para processar colaboradores nazistas em sociedades ex-comunistas'' e o mesmo problema em relação a ''imigrantes nazistas em seus países de refúgio''. O programa teve início no ano passado em países do primeiro tipo: as ex-repúblicas soviéticas da Lituânia, Letônia e Estônia. Prosseguiu para a Romênia e a Áustria. Em julho, chegou à Hungria e à Croácia e, neste mês, começa na Argentina.
Para o Centro Wiesenthal, a Argentina se encaixa claramente na segunda categoria de países. Pouco depois da guerra, o então presidente argentino, Juan Domingo Perón, abriu as portas do país para vários fugitivos nazistas. Foi em Buenos Aires que Israel executou uma das mais ousadas e polêmicas ações de caça a nazistas. Em 1960, Adolph Eichmann foi seqüestrado na cidade por agentes israelenses e levado sem autorização do governo ou da Justiça argentina para Jerusalém. Lá foi julgado, condenado à morte e executado em 1962.
A Operação Última Chance não prevê nada de tão radical, mas causou desagrado em alguns países em que já foi lançada. Na Polônia, por exemplo. Em junho deste ano foi inaugurada no país a linha telefônica da operação. Através dela, qualquer pessoa pode denunciar crimes nazistas que tenha presenciado ou de que tenha conhecimento. Várias autoridades reclamaram da iniciativa. O descontentamento se deve basicamente ao fato de uma organização internacional estar se arrogando o direito de, de certa forma, investigar crimes no país. Até mesmo o historiador e ativista político Bronislaw Geremek, que também é judeu, criticou a iniciativa. O ex-membro do Solidariedade se opõe ao pagamento de recompensa.
No jornal Gazeta Wyborcza, principal diário polonês, Zuroff publicou um artigo em que defendeu o programa e foi mais longe. ''Ao mesmo tempo em que podem se orgulhar das atividades da Zegota, organização fundada para resgatar judeus dos nazistas, a triste verdade é que muitos poloneses participaram no assassinato de seus vizinhos judeus, e essa verdade precisa ser confrontada honestamente'', escreveu Zuroff.
Na Hungria, a operação desencadeou uma crise. Até o diretor da Operação Última Chance no país foi afastado depois que o procurador da República encarregado da proteção aos dados sobre cidadãos declarou que a idéia de uma organização estrangeira coletar denúncias sobre húngaros era simplesmente ilegal. Zuroff garante que nomeará alguém com melhor relacionamento com o governo e a operação continuará na Hungria. Não será uma boa idéia, pensa Laszlo Karsai, maior especialista húngaro em Holocausto. Para ele, uma única pessoa que seja investigada graças à operação e libertada por falta de provas será suficiente para a extrema direita da Hungria fazer a festa. ''A campanha pode aumentar o anti-semitismo'', diz.
Mas não é só desagrado que a idéia tem gerado. O presidente da Croácia, Stipe Mesic, apoiou o lançamento da operação em seu país, em junho passado, e se comprometeu pessoalmente a ajudar o projeto. ''A simples existência de um programa como esse significa que os criminosos nazistas não vão dormir sossegados, e é exatamente assim que deve ser'', disse.
O fato é que a Operação Última Chance tem dado resultados. Até agora, o Centro Wiesenthal recebeu 296 denúncias. Dessas, 72 resultaram em denúncias por parte do centro às autoridades nacionais e 15 investigações oficiais por assassinato foram abertas contra 40 suspeitos. Não é fácil fazer justiça tanto tempo depois. Uma das maiores vitórias contra perpetradores do Holocausto parecia ter sido obtida em 1988 com a condenação de John Demjanjuk, imigrante ucraniano que foi extraditado dos Estados Unidos para Israel. Demjanjuk era acusado de ser Ivan, o Terrível, guarda do campo de Treblinka, na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. Condenado à morte, Demjanjuk apelou. Sua condenação foi revogada em 1993 pela Corte Suprema de Israel, que considerou não ter sido provado se ele era realmente Ivan. De volta aos EUA, o ucraniano processou o governo de Israel, mas, em 2002, perdeu novamente a cidadania americana e pode voltar a ser julgado. A Justiça americana entendeu que, ainda que ele não tenha sido Ivan, está provado que ele foi guarda em campos de concentração. Aos 81 anos, Demjanjuk luta contra a nova decisão. Para Zuroff, a questão é simples: ''O tempo não torna ninguém inocente''.
2007-01-11 08:52:43
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answer #3
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answered by kadufarah 3
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de Janeiro de 2005, na data da comemoração dos 60 anos da libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, situado na Polônia, a Communidade judaica apresenta-nos :
Aristides de Sousa Mendes - Um Justo entre as Nações
"Na Polônia já estou acostumado ao anti-semitismo e não me espanta que, no outro lado, na Alemanha, Hitler tome o poder. Pelas ruas de Berlim judeus são perseguidos, espancados e mortos - é que nos escrevem, é que nos dizem, é o que lemos, oi gewalt. O meu nome é Chaim Kruger e sou rabino numa klein statle, num pequeno povoado. "A guerra é inevitável", prevejo, "e em breve os nazis estarão aqui".
Não é fácil mas, com economias feitas penosamente, com a minha mulher e as nossas seis crianças, em 1938 conseguimos escapar de Varsóvia para Bruxelas."
"Em 1939 os alemães invadem a Polónia e, logo a seguir, os Países Baixos. Com a minha família, outra vez estamos em fuga. Chegamos a Paris, mas logo rumamos para sudoeste, porque os alemães já estão invadindo a França. Milhares, dezenas de milhares de refugiados, judeus e outras minorias, sao vistos no caminho; são anti-nazis franceses e belgas e holandeses e checos e alemães, também algumas famílias ciganas. Uma, ou duas vezes por dia, caças alemães mergulham em voo picado sobre as estradas e metralham os caminhantes. Há dezenas de mortos nas estradas, todos eles ensanguentados.Ainda ouço os gritos, choros, lamentações, oi wais mir. Quis D'us que eu, e os meus, tenhamos escapado sempre ilesos, graças a D'us, dank main Got."
"Para fugir à hecatombe, agora a nossa esperança é chegar à fronteira, atravessar a Espanha, entrar em Portugal e dali embarcar para América, onde parentes nossos esperam por nós."
"Chegamos a Bordéus em Maio de 1940 e a cidade está repleta de fugitivos. Procuro o Consulado espanhol para obter o visto no passaporte da minha família, mas um funcionário diz-me que sem antes obter o visto português não conseguirei o espanhol. Saio meio atordoado com a informação, não entendo o que se passa."
"Aqui fora um francês, também ele refugiado e, ao que suponho, comunista, explica-me:
- "Rabi, Franco foi ajudado pelos nazis durante a guerra civil espanhola. É por isso que não quer no seu território fugitivos do nazismo. Só os deixa passar se forem rumo a Portugal. Salazar, o primeiro-ministro português, está "entalado". Portugal tem uma aliança antiquíssima com a Inglaterra e um pacto recente com a Espanha. Se hoje pender para os Aliados, será invadido pelos alemães através de Espanha. Se pender para os alemães, a Inglaterra desembarcará tropas em Portugal. É claro que a simpatia do fascista Salazar vai para Hitler. Mas tem que fingir uma estrita neutralidade para evitar a intervenção quer do Eixo, quer dos Aliados. Por isso estou crendo que Salazar vai "lavar as mãos" e impedir a entrada de refugiados em Portugal... Aliás o Dr. Mendes já me disse que tem enviado centenas de telegramas para Lisboa, pedindo autorização para dar vistos e até agora não obteve qualquer resposta.
"- Quem é o Dr. Mendes?"
- É o Cônsul de Portugal em Bordéus, Dr. Aristides de Sousa Mendes.
"Mendes, Mendes... O nome bate-me nos ouvidos, reconheço-o, é marrano, é judeu. Tenho que falar com o Dr. Mendes."
"Dirijo-me ao Consulado de Portugal. O jardim e as ruas vizinhas estão repletas de refugiados, todos a aguardar vistos para seguirem viagem, são milhares em desespero. Identifico-me, peço para falar com o Dr. Mendes. Três horas depois sou recebido."
"É um cavalheiro muito distinto, porém com feições angustiadas. Deve estar vivendo uma grande tragédia, bem posso imaginar qual seja ela. Apresento-lhe a minha mulher e os meus filhos, conto-lhe do nosso êxodo de Varsóvia até Bordéus. Entende o meu sofrimento porque também ele tem muitos filhos, acho que doze. Convida-nos a pousar em sua casa para darmos algum descanso às crianças."
"Aceito, agradeço e pergunto-lhe se também ele é judeu. Sorrindo, esclarece: - Rabi, não se iluda com o meu sobrenome Mendes. Até onde eu posso rastrear, a minha família, há pelo menos cinco gerações, é de católicos fervorosos. Se, por acaso, tivemos um ancestral judeu, não é nada que nos desmereça, mas disso não temos conhecimento.
"Errei o alvo, main mazle, má sorte a minha,... Não sei como continuar a conversa. Engasgo-me.
Depois ouso perguntar- lhe quando podemos contar com os vistos para seguir viagem para Portugal. Acabrunhado, diz-me que nada pode garantir, ainda não tem a necessária autorização do seu Governo."
"- Então, Dr. Mendes, vamos ficar aqui em Bordéus à espera da matança?"
"Levanta-se. Amargurado, segura-me o braço."
- Rabi, tenha fé, nem tudo está perdido, confie na Divina Providência.' "Conduz-nos a sua casa, que fica no Quai Louis XVIII, por trás do Consulado. Apresenta-nos à sua esposa, D. Angelina, e a três dos seus filhos mais velhos. Indica os aposentos que nos destina. Deseja-nos um bom descanso. Apesar de gentio, apesar de goi, este Dr. Mendes is a Mensche, é realmente um Homem."
VISTOS PARA A VIDA
"É um espanto, este Dr. Mendes. Na manhã do dia 17 de Junho de 1940 avisa-me:- Rabi, sossegue, vou passar vistos a toda gente.
"Nos dias 17, 18 e 19, ele e dois dos seus filhos mais velhos trabalham sem parar, nem sequer para almoçar ou jantar, exaustão. Passam milhares e milhares de vistos, os refugiados já organizados em filas. Os passaportes são coletivos, familiares. No meu constam oito nomes, o meu, o da minha mulher e os dos meus filhos. Assim acontecendo com quase todos, calculo que o Dr. Mendes, nesses três dias, tenha passado uns 30 mil vistos, dos quais 10 mil a judeus, pelo menos."
"Não se dá por contente. Obedecendo às instruções que recebera de Lisboa, o Cônsul de Portugal em Bayonne recusa-se a passar vistos aos refugiados de guerra. Porém o Dr. Mendes é seu superior. Desloca-se a Bayonne, que fica junto da fronteira franco-espanhola, e é ele mesmo quem, mais uma vez, passa milhares de vistos."
"O mesmo acontece com o Consulado de Portugal em Hendaye. Também aí o Dr. Mendes passa milhares de vistos."
"No dia 24 de Junho o Dr. Mendes mostra-me e traduz-me um telegrama que acabara de receber. É chamado imediatamente a Lisboa e acusado por Salazar, o Primeiro-ministro português, de "concessão abusiva de vistos em passaportes de estrangeiros". Depois de 32 anos de serviço, o Dr. Mendes vai ser demitido sem receber qualquer pensão ou indenização, e 12 filhos tem ele para criar. Já teve 14, mas morreram 2, o segundo e o último, se não me engano. Cuidar de 12 filhos é pesado! Eu que o diga, que só tenho seis e bem sei como custa criá-los. Compadeço-me, voz embargada, ihre mazle, má sorte a sua. Mas é ele quem atalha, quem me anima:
" Rabi, se tantos judeus sofrem por causa de um demônio não-judeu, também um cristão pode sofrer com o sofrimento de tantos judeus...'
"A grosse Mensche, um grande Homem!"
Salazar condena Sousa Mendes a um ano de inatividade e depois aposenta-o sem qualquer vencimento.
1945: Termina a II Guerra Mundial com a vitória dos Aliados (França, Grã-Bretanha, Estados Unidos da América, União Soviética, etc.).
Aristides de Sousa Mendes dirige carta à Assembleia Nacional, reclamando (em vão) contra o castigo que lhe fora imposto pelo Governo.
Schmil Goldberg:
SALAZAR NÃO PERDOA "O meu nome é Schmil Goldberg. Mas, se quiserem, podem tratar-me por Samuel. Sou judeu e americano. Em 1941 estou em Portugal para dar assistência a refugiados de guerra, trabalho voluntário. Na Cozinha organizada pela Comunidade Israelita de Lisboa tenho a oportunidade de conhecer o Dr. Aristides de Sousa Mendes. Foi ele o diplomata, o Cônsul que, na França, passou milhares e milhares de vistos a judeus fugidos do nazismo. Uns já partiram para a América, outros ainda estão em Portugal."
"Também prestamos auxílio ao Dr. Sousa Mendes, pois ele e a família estão muito carentes. Foi demitido, não recebe qualquer pensão do Governo e, apesar de licenciado em Direito, está proibido de exercer a advocacia e os seus filhos foram impedidos de frequentar a Universidade. O seu irmão, que era embaixador, também foi demitido. Vê-se que Salazar jamais perdoará o gesto humanitário do Dr. Sousa Mendes."
"Num povoado do Distrito de Viseu, o ex-Cônsul possui um palácio onde chegou a abrigar muitas famílias de refugiados, às quais, na França, passara vistos para entrada em Portugal. Mas, para atender às necessidades da sua numerosa família, foi obrigado a hipotecar todo os móveis. O Dr. Sousa Mendes já não dispõe de meios financeiros para sobreviver, está condenado à miséria. Temos o dever de auxiliá-lo e auxiliamos. Até lhe proporcionamos condições para que alguns dos seus filhos emigrem para os Estados Unidos e Canadá. Os que lá se estabelecerem mandarão cartas de chamada para os outros, estou certo disso." Em 1948 o Cônsul fica viúvo.
Pede deferimento (a) - Aristides de Sousa Mendes »
Não recebo qualquer resposta.
Estou pois definitivamente condenado à miséria e à desonra."
Em 1954, assistido apenas por uma sobrinha, Aristides de Sousa Mendes morre «pobre e desonrado», no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa.
HOSPITAL DA ORDEM TERCEIRA (sobrinha de Sousa Mendes lembra-se...)
Lisboa, 3 de Abril de 1954. Estou no Hospital da Ordem Terceira, na Rua Serpa *****. Abro a mala, retiro o lenço, enxugo os olhos.
O meu tio, Dr. Aristides de Sousa Mendes, acaba de falecer, trombose cerebral agravada por pneumonia. A sua esposa, a minha tia Angelina, morreu em 1948 com uma hemorragia cerebral e ficou vários meses em coma, coitada. Todos os seus filhos, meus primos, vivem hoje nos Estados Unidos e no Canadá. Conseguiram escapar a tempo deste purgatório... Sou eu a única familiar presente. O meu tio era um homem bom, sempre a pensar no bem dos outros. É por isso que morre pobre e desonrado".
MEMÓRIA
Em 1967, em Nova Iorque, a Yad Vashem, organização israelita para a recordação dos mártires e heróis do Holocausto, homenageia Aristides de Sousa Mendes com a sua mais alta distinção: uma medalha comemorativa com a inscrição do Talmude «Quem salva uma vida humana é como se salvasse um mundo inteiro».
A Censura salazarista impede que a imprensa portuguesa noticie o acontecimento.
Encorajada com a homenagem de Israel, Joana Sousa Mendes, filha de Aristides, em 1969 escreve ao Presidente Português, Américo Tomás, pedindo a reabilitação da memória do seu pai. Não obtém qualquer resposta.
Em Portugal, o "caso" Sousa Mendes só vem a público em 1976 com um artigo de António Colaço no Diário Popular. Tema retomado em 1979 por António de Olhona Midia ( Brésil ) 24 de Janeiro de 2005. Na data da comemoração dos 60 anos da libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, situado na Polônia. ...
Sera que te ajudei
2007-01-09 10:59:02
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answer #6
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answered by Noiva do Kurt Cobain 1
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