Olá, sou militar e posso lhe ajudar a entender o que se passou. Vamos lá, tente ler desde o início:
1) ditadura é o governo sem representação popular, ou seja, sem o Congresso ou o Parlamento (Congresso no caso do Brasil). Durante o período militar da história recente do país o Congresso foi fechado 2 ou 3 vezes, a última delas em 1977 pelo ex-Presidente Geisel. Com o Congresso fechado, vc pode dizer que tem uma ditadura, sim, ainda que o governante seja amado e querido por todos, como foi no caso do Fujimori, no Peru (governou muito tempo com o Congresso fechado, embora fosse um líder popular). Hugo Chavéz já fez isso na Venezuela, também. Se o Presidente LULA, embora eleito com 58 milhões de votos, resolvesse fechar o Congresso por achar que "tem muita roubalheira", teríamos uma ditadura enquanto estivesse fechado. Portanto, no período militar tivemos "ditadura" somente nos 2 ou 3 períodos de fechamento do Congresso. Não importa se o Presidente não era eleito diretamente pelo voto popular (nos EUA ele também não é, até hoje). Não importa se os presidentes daquela época eram militares da reserva, não importa nada disso. A ditadura vc só tem com o Congresso fechado, e isso é definição acadêmica da matéria de Direito Constitucional.
2) Com a Revolução de 64, foi deposto o Presidente João Goulart, conhecido por "Jango". Pesavam contra ele acusações variadas, desde corrupção ativa e passiva até pacto com o Movimento Comunista Internacional (MCI). Pode até ser que, hoje, a gente considere isso besteira, mas, à época, o MCI era o que hoje é a "Al Qaeda", do Osama Bin Laden. Vale lembrar que o mundo vivia a Guerra Fria, os EUA estavam no Vietnã e tudo era dividido em 2: EUA e URSS. Nós, por proximidade territorial e influência pós - 2ª Guerra Mundial nos aproximamos dos EUA, que eram uma democracia e onde ao menos não se matava os que pensavam diferente, como fazia a KGB dos soviéticos.
3) Por não concordar com o governo que se instalou no país após 64, em 1968 a esquerda resolveu lançar um movimento armado para derrubar o regime. Esse movimento, filiado ao MCI que falei antes, adotou os seguintes nomes: Ação Libertadora Nacional (ALN), Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), Resistência Armada Nacionalista (RAN), Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR - do Cap lamarca), Partido Operário Comunista (POC), Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT), Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e COLINA (Comando de Libertação Nacional), dentre outros.
Eram terroristas, mesmo, não tinha nada dessa história romanceada e bacana que a Rede Globo insiste em retratar na série "Anos Rebeldes", não. Era gente que matava mesmo, que atirava em quartel, que punha bomba em supermercado, em cinema, em aeroporto, igual faziam os terroristas do IRA na Inglaterra e do ETA na Espanha. Claro que o governo mandou as Forças Armadas resolverem o problema, e elas resolveram, embora com um desgaste político muito grande, que dura até hoje.
Houve tortura? Certamente. As Forças Armadas assumiram a coordenação das polícias civil, militar e Federal, e essa prática perniciosa da tortura saiu das delegacias e ingressou nos quartéis. Em certos quartéis, diga-se a verdade, não em todos. A maioria dos militares nunca participou dessas operações (eu também não, pois só ingressei no Exército em 1981). Nos chamados DOI -CODI, que eram justamente as seções onde se coordenavam os trabalhos das Forças Armadas e das polícias, precisavam de informações em tempo rápido para poderem anular as "células" e os "aparelhos" terroristas nas cidades e no campo. É uma pena terem permitido tal prática, moralmente condenável e NUNCA ensinada nas escolas militares (cursei 2 das principais que existem no Brasil). E é uma pena que ocorra, até hoje, nas delegacias de polícia e penitenciárias deste país. Mas aconteceu, sim, respondendo à sua pergunta. Ao todo morreram cerca de 350 guerrilheiros, terroristas e simpatizantes, em combate, nos quartéis ou desaparecidos. Lamento por eles e suas famílias, mas lamento, também, pelos 10 mil mortos por Fidel em Cuba, pelo 1 milhão de mortes causadas pelo comunista Pol-Pot, no Cambodja (após a saída dos EUA do Vitenã), os 10 milhões de compatriotas mortos por Stalin e a NKVD (mais tarde KGB) e os 60 milhões pela "Revolução Cultural Chinesa", de Mao Tsé Tung. Leia o "Livro dos Recordes", onde está bem explicado quais foram os grandes massacres do mundo.
Um abraço e obrigado pela oportunidade.
Eugênio Moretzsohn
Florianópolis
SC
2007-01-06 05:52:03
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answer #3
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answered by Mtz 2
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