O outro
Que palestra linda e inspiradora do Jorge Cunha Lima na tv Cultura!
Não se vê isso todo dia.
O outro. A ignorância que temos do outro. O outro da família, o outro número, o outro espetacular maior que a vida, o outro do poder, o outro pé rapado, pé no saco, o outro que eu desejo. O outro como alegria estética, moral, intelectual. O outro imaginado, aquele outro para quem posso ter a chance de doar. Quem é o outro?
O outro que eu não sei quem é, o outro me escapa. Será possível, Cunha pergunta, um mundo que inventemos com base na solidariedade? Por que isso é difícil? Escapamos da banalidade de que se reveste essa palavra?
Solidariedade vem daquilo que é sólido, não é exclusivamente as campanhas do Criança Esperança. Por que é tão fácil se aferrar aos próprios interesses e excluir o outro ou fazer dele um objeto, como se faz com as coisas? Cunha fala do narcisismo como um veneno que está aí. A aposta alta e pesada na individualidade como caminho e o consequente reconhecimento de diferenças que se tornam inconciliáveis, é então o perigo que leva direto ao egocentrismo. Mas isso não está na moda? Se assim for, então não temos nada sólido sob nossos pés que possa nos unir e essa é uma vida triste de medo.
Palavras, palavras. Apegos. Agora mesmo me vejo grudado com essas idéias. A gente se gruda com as coisas, não é assim? Como aprender a largar mão? Demora para perceber a imensa quantidade de sofrimento que se cria justamente tentando evitar o sofrimento, desejando não reconhecer a existência do outro que parece sempre atrapalhar os meus desejos, e a existência desse mundo compartilhado, o que Buda começou a ensinar há 2500 anos.
Mais do que conceitos, é necessária a prática. Sem prática, largamos mão de reconhecer o outro na próxima esquina, o outro para o qual eu mesmo sou um outro, excluo e sou excluído da vida em sua base, não só do pib do país.
Podemos sair do lugar-comum? Podemos evitar os chavões e palavras feitas e alcançar uma compreensão que inclua o outro real, o que passa por mim e não o outro coletivo e abstrato que também conhecemos, às vezes com o nome de Brasil, às vezes com o nome de estatística?
Podemos sair do caminho floreado dos bons mocismos e atentar para a concreta dificuldade dessa empreitada?
Conforto demais talvez, o que estamos fazendo? Nós podemos praticar muitas coisas. Se quisermos ficar com o corpo bombado, vamos para a academia e levantamos peso. E como se pratica generosidade e bondade? Será que meus bíceps já estão bons o bastante? Voce passa a vida inteira fazendo algumas coisas e evitando outras, esta é a prática, não é teoria nem estatística, diz-que-diz, mas o que acontece agora enquanto escrevo e ouço esses pequenos sons na madrugada, sem muito alarde, tudo meio igual, sem trombetas. Esse é o clique, igual, uma coisa só, o outro e eu, como sempre foi.
Passa, outro instante, outro.
Espero ter ajudado.
boa noite.
2007-01-02 13:42:35
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answer #1
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answered by ♫♫ A Eremita ♫♫ 7
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Olha, me interessou.
Pena o cara que ascreveu aí em baixo não deu os detalhes de como acessar.
Obrigado.
2007-01-02 22:16:36
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answer #2
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answered by Francisco U 4
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