Rir continua sendo o melhor remédio
Rir é bom e todo mundo sabe. Mas, mais que isso, rir faz bem para a saúde - física e mental. Isso porque, além de ativar diversas partes do organismo, rir é um ato social.
E este tipo de manifestação é tão natural e corriqueira que raramente alguém questiona os motivos de uma gargalhada ou suas conseqüências.
Fato é que, para rir, o ser humano gasta energia e faz o cérebro e, conseqüentemente, o corpo trabalharem muito. Para dizer pouco, uma boa risada só é possível graças a ação de circuitos neurais, sistemas sensorial, motor e límbico, cerebelo, hipocampo e lobo frontal, dependendo dos estímulos.
De acordo com um vasto estudo desenvolvido pela biomédica Silvia Helena Cardoso, do Núcleo de Informática Biomédica (NIB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o ser humano tem duas maneiras básicas de desencadear o riso: uma por motivos sociais (quando está em convívio com outros da mesma espécie); e outra, por razões cognitivas (a capacidade de compreensão de piadas, filmes etc. e a capacidade de lembrar de fatos).
A área do cérebro responsável por sensações como a felicidade é o sistema límbico (região intermediária, que responde pelas emoções em geral). Mas é no neocórtex, morada de sensações cognitivas como a memória, a visão, a audição e a percepção, que fica o humor do ser humano.
História
Desde recém-nascido, o homem tem a capacidade de rir. "Entretanto, esta é a expressão motora do riso" , explica Sílvia. "Mesmo um cego congênito, que nunca viu ninguém rir, tem a mesma expressão do riso, pois o mecanismo já vem pronto. E o que vai fazer as pessoas rirem por motivos e de maneiras diferentes será o ambiente" , completa.
Segundo a pesquisadora, acredita se que a verdadeira origem do riso sejam as brincadeiras dos primatas, como as "brigas amigáveis" .
Apesar de terem o córtex bem menos desenvolvido que o do ser humano, os animais também possuem a capacidade social e motora de rir. "Eles não têm a característica cognitiva, que também pode não existir em um ser humano com lesões no córtex" , afirma Sílvia. "Mas também riem e até têm vocalizações iguais ao do riso humano."
Estímulos
O riso é contagiante. Quando uma pessoa ri, normalmente desencadeia a mesma expressão em outras de seu grupo. E isso ocorre porque o cérebro desenvolveu, ao longo da evolução humana, um mecanismo pré-programado de detecção. "O neurocientista Robert Provine sugere, em seus estudos, que temos um dispositivo cerebral detector do riso, uma rede neural que percebe quando uma outra pessoa está rindo e diz que você deve rir junto" , diz Sílvia.
As cócegas provocam o mesmo tipo de riso, pois também dependem da relação social, ou seja, da interação do homem com outro de sua espécie e do cérebro com o ambiente. "Precisamos de um estímulo externo para sentir cócegas. E esse estímulo precisa ser físico" , afirma a neurocientista.
Ao sentir o toque, o ser humano manda essa informação ao cerebelo. E ele é quem vai predizer as conseqüências do movimento. O sistema sensorial interpreta a ação e avisa o sistema motor que é hora de mexer a barriga, contrair os músculos e rir à vontade.
"Quando você faz cócegas em você mesmo, o cerebelo tem a capacidade refinadíssima de entender de onde está vindo este estímulo sensorial e dar a resposta da indiferença assim como daria a resposta do riso a um estímulo externo."
Anatomia
Rir faz bem não só para a mente e para a alma. Rir faz bem para o organismo.
As contrações dos músculos da parede torácica, abdome e diafragma fazem aumentar o fluxo sangüíneo dos órgãos internos e isso pode causar uma sensação agradável durante o ato de rir. "É uma reação típica mexermos a barriga enquanto rimos. Alguns estudos sugerem que esse movimento é como uma massagem nos órgãos internos e, por isso, um dos lados beneficiados pelo riso é o fisiológico" , diz Sílvia.
Outro motivo de o riso propiciar uma sensação de bem-estar e conforto é o fato de o sistema cardiovascular ser ativado enquanto rimos. "Ocorre o aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial. Posteriormente, a vasodilatação das artérias causa uma queda da pressão, que é benéfica principalmente para pessoas hipertensas."
Apesar de contrairmos alguns músculos, a tensão muscular geral diminui enquanto rimos. Em alguns casos, essa diminuição é tão significativa que pode fazer a pessoa perder o controle sobre os membros e "ficar mole de tanto rir" . "Há casos de quem precise sentar ou até mesmo caia no chão de tanto rir. Isso é reflexo desse relaxamento e perda de controle" , afirma a pesquisadora.
O riso é acompanhado de um considerável aumento da entrada de oxigênio e saída de dióxido de carbono. Por isso, é ideal que as vias aéreas estejam desobstruídas. Como o cérebro já é programado para isso, é comum as pessoas jogarem a cabeça para trás quando riem. Inconscientemente, elas estão trabalhando para liberar as vias respiratórias.
Essas e outras reações inerentes ao ato de rir têm explicações científicas, biomédicas.
Por que muitos ficam vermelhos quando riem? Segundo Sílvia e uma vasta literatura, o ato de rir provoca o aumento da vasodilatação. "A jugular fica parcialmente bloqueada por uma forte contração dos músculos do pescoço e isso impede o retorno venoso. As artérias da face se dilatam, propiciando então uma abertura maior para o fluxo sangüíneo, o que é bom para o organismo" , explica a biomédica.
Segundo ela, alguns estudos mostram que o riso reflete até mesmo no melhor funcionamento do sistema imunológico, aumentando a produção de células que trabalham contra infecções e fazendo crescer a produção de endorfinas. "Não é o que dizem? Que rir é o melhor remédio? Pois é, realmente."
Extremos
O riso é capaz de fazer as pessoas chegarem a alguns extremos. Muita gente já "quase fez xixi na calça de tanto rir" , certo? Ou fez. E esse é um extremo, diz Sílvia.
Isso ocorre porque, com o riso excessivo, o cérebro pode perder o controle do esfíncter urinário, uma espécie de válvula do corpo humano que segura a urina. "É como no caso da perda de controle do tonos muscular, que faz a pessoa cair no chão: aqui, o cérebro não consegue dominar o esfíncter. E aí a pessoa faz xixi na calça mesmo."
Outro extremo é o que se convencionou chamar de "ataque de riso" . É preciso explicar, porém, que os estudiosos do assunto usam esse termo somente para casos patológicos.
Ou seja, as gargalhadas - por mais que possam durar - não configuram um "ataque" , pois precisaram de um estímulo social ou cognitivo para existirem. Elas são um tipo de riso comum, só que mais longo, esclarece Sílvia. São provocadas por estímulos, ainda que só uma pessoa de um mesmo grupo os perceba.
Já o "ataque de riso" ocorre quando há danos nos circuitos neurais, responsáveis pela expressão motora do riso. "Nesses casos, a pessoa não ri por causa de um estímulo, mas sim porque não tem controle neural e motor sobre o riso."
2006-12-29 12:37:59
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answer #7
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answered by Melância 3
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