A lembrança começa a partir de uma ocorrência estranha, vivida numa madrugada em que trabalhava sozinho no apartamento onde hoje resido, em meados de setembro de 1997, sentado diante do computador (nem sei se posso classificar assim um velhinho da geração 80486, sem recursos, que montei com ajuda do meu filho, a partir de um 80386, ainda pior), quando escrevia um artigo intitulado “O Valor Social do Trabalho”, sustentando mudanças nas relações Capital x Trabalho, que tencionava ver publicado no jornal de conhecido Sindicato. Discorrer sobre forças interdependentes e ao mesmo tempo antagônicas, não é tarefa fácil, pois envolve a responsabilidade de opinião, que influencia terceiros, mormente de quem teve a tarefa de conciliar relações trabalhistas ao longo de muito tempo. O computador estava “desabilitado”, para quaisquer tipos de som (com exceção do “speaker”) e, sem ter no disco rígido, naquele momento, nenhum arquivo de som, por volta das 3:30 horas da madrugada, concentrado na busca da adequação de um trecho polêmico, enquanto digitava o que me pareceu ideal, fiquei perplexo ao ouvir vozes na caixa de som, mas quando pausava a digitação, as vozes cessavam. Repeti algumas vezes e, a princípio, pensei tratar-se de alguma “pegadinha” deixada pelo meu filho, que passou comigo o fim-de-semana (tal como eu, e diferente da irmã que cursou Faculdade na área de Informática, meu filho Alexandre não entendia nada do assunto, e até então, pouco sabia de computação, mas acabou apaixonado, tão logo começou a desvendar “truques”, partindo de joguinhos de “videogame”, até tornar-se consumado “micreiro”, e muito hábil em suas constantes experiências em sistemas operacionais, como MS-DOS). Ao retomar a digitação, as vozes voltavam, e conclui que estava ocorrendo algum fenômeno paranormal, pois ao digitar uma tecla para prestar mais atenção às vozes, confirmei não ser uma, mas duas possíveis “entidades” chamando-me pelo nome, proferindo grosseiros insultos com palavras de baixo calão, como num esforço para me assustar. Ora, já passei por diversas situações de perigo na vida, as quais não me faltaram destemor para enfrentá-las, mas ante algo que não via, ante tão insólito mistério, senti um arrepio e, intuitivamente, elevei o pensamento clamando a presença de meu “Anjo de Guarda”. Sentindo-me fortalecido, o temor cedeu à curiosidade: sentado, aproximei o ouvido da caixa de som e, sem olhar para o teclado, pressionei as teclas, com cinco toques seguidos. As vozes se repetiram, só que desta vez, mais agressivas. Ora, fosse lá o que fosse, não sou nenhum canalha para permitir deixar-me agredir daquela maneira e, encorajado pelo meu “anjo” (ou pelo meu caráter), levantei-me e apaguei a luz e, num desafio de viva voz disse: “Não tenho medo de vocês. Sou preparado em espírito e, diferente de vocês, ainda tenho corpo e mesmo com a luz apagada, estou em luz, como agora me sinto. Não tenho medo de falsas sensações provocadas em meu corpo, partindo de criaturas atrasadas ou obsessoras como vocês. Vão embora e procurem a luz, porque vocês estão em trevas, e talvez por isso, estão abordando a pessoa errada”. O ato de coragem deu lugar à sensação de calma e, sentindo-me em paz e espiritualmente bem equipado, saí para inspecionar cada cômodo do apartamento, canto a canto, como que para expulsar os indesejáveis invasores, mas nada encontrei. Ainda arrepiado, mas bem acompanhado, voltei ao quarto do computador e acendi a luz, e ao olhar para o monitor, vi que havia digitado algo que, sem perceber, lembrava um nome próprio: E L I E L. Continuei o trabalho, sem incidentes, e pensei quão ridículo poderia parecer, se comentasse com os outros a experiência que acabara de ter. Como vinha fazendo há algum tempo, fui dormir ao clarear do dia e quando acordei na parte da tarde, liguei para meu filho inquirindo-o sobre alguma brincadeira deixada no computador, recebendo sua negação. Naquele dia não só comentei com meu filho como com outras pessoas de confiança o acontecido, em busca de alguma explicação. Pensei muito naquilo, e sem atingir uma conclusão lógica, acabei atribuindo o fato a causas sobrenaturais mal-dirigidas, oriundas do próprio apartamento. Na verdade, meses após ter mudado, reclamei com a proprietária (em tom de pilhéria) sobre misteriosas sombras, como vultos de pessoas, que eventualmente passeavam pelos cantos da sala, dizendo que achava justo que procurasse os indesejáveis “moradores” com os quais deveria “dividir o aluguel”. Também lembrei que a “piada”, além de se basear num fato real, foi uma forma de justificar a razão pela qual se desfez de apetrechos “espíritas” encontrados no apartamento, tais como: cordas trançadas, quadros, “pontos” de macumba, encerrados em garrafas, etc. (até uma “espada” escondida atrás de um armário), associando às estranhas “aparições”. Tendo a proprietária alegado desconhecimento, não tornei a incomodá-la e tampouco me importei muito, até que uma vizinha me revelou que ali não só eram realizados “trabalhos espíritas”, como meu espanto ante o mistério de seguidos óbitos dos membros da família que ali moravam, todos falecendo “em cascata”. Até confesso que, só e “solteiro”, pensamentos mundanos relacionados ao apartamento passaram eventualmente por minha cabeça, mas após ouvir aquelas vozes no computador, resolvi consagrar o local a Deus, sob a proteção do guardião celeste Eliel, que me socorrera naquele momento. Hoje, após comprar o apartamento em questão, transformei-o à minha moda, a ponto de considerar como o meu santuário. Getúlio (Rio, Natal/2006)
2006-12-29 13:05:00
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answer #1
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answered by Origem9Ω 6
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