Adam Smith
Adam Smith foi batizado em 5 de junho de 1723 em Kirkcaldy, na época uma pequena mas florescente vila de pescadores próxima a Edimburgo, onde seu pai, Adam Smith, era fiscal da alfândega, e sua segunda mulher, Margarete Douglas, filha de um bem aquinhoado proprietário de terras. O único episódio de sua infância conhecido é que aos quatro anos foi raptado por ciganos e, devido à intensa busca que foi organizada, abandonado por eles e recolhido a salvo. Recebeu educação primária na própria vila em que nasceu.
Na idade de 14 anos, em 1737 (ano em que David Hume publica "Tratado da Natureza Humana"), Smith entrou para a Universidade de Glasgow, já um grande centro de pensamento iluminista. Foi profundamente influenciado pelo seu professor de filosofia moral, Francis Hutcheson.
Graduou-se em 1740, conseguiu uma bolsa para estudar em Oxford, para onde foi a cavalo e onde ficou no Balliot College. Encontrou em Oxford um ambiente atrasado, em contraste com a estimulante atmosfera de Glasgow. Ensino ruim e retrógrado a ponto de lhe tomarem o livro de David Hume "Tratado sobre a Natureza Humana". Hume negava o princípio de causa e efeito o que redundava em negar a Deus como causa última. Em Oxford Smith praticamente promoveu uma auto-educação em filosofia clássica e contemporânea.
Retornando à Escócia após seis anos, Smith ficou à procura de emprego. Devido às boas relações da família de sua mãe, juntamente com o apoio do filósofo e jurista Lord Henry Kames, abriu-se a oportunidade para uma ocupação provisória, que consistia em realizar uma série de conferências públicas, pagas, em Edimburgo, um novo sistema de educação em voga como parte do espírito de progresso que prevalecia na época.
Suas conferências, que cobriam ampla gama de assuntos desde retórica a história e economia, causaram profunda impressão em alguns dos grandes contemporâneos de Smith. Isto foi decisivo para sua própria carreira, porque resultou dessa admiração ser nomeado em 1751, na idade de 27 anos, professor de lógica na Universidade de Glasgow. Desse posto ele se transferiu no ano seguinte para o professorado melhor remunerado de filosofia moral, que na época compreendia os campos relacionados de teologia natural, ética, jurisprudência e economia política. Essa mesma cadeira havia sido pleiteada em 1744, por Hume, que havia publicado, em 1741, os Ensaios Morais e Políticos, mas lhe foi negada sob o pretexto de ser ele herege, e "notório infiel". Com a transferência de Smith para a filosofia moral, fez-se então uma tentativa para que Hume fosse indicado para a cadeira de lógica que Smith deixava vaga. Porém Hume (que depois se tornaria amigo íntimo de Smith) na não obteve a cátedra. O rumor de ateísmo prevaleceu novamente.
Membro da faculdade, Smith entrou em um período de intensa atividade. Além de lecionar pela manhã, ocupava-se de assuntos acadêmicos e administrativos na parte da tarde, tudo isto combinado com uma também intensa vida intelectual e à noite o estimulante convívio com a sociedade de Glasgow. Suas aulas eram em inglês, uma novidade introduzida pelo falecido professor da mesma disciplina, Francis Hutcheson. Foi eleito reitor em 1758. Ele considerou esse período o mais feliz e nobre de sua existência.
No seu circulo de amizades contavam-se, além da nobreza e altos funcionários do governo, também uma variedade de figuras das ciências, da filosofia e letras, como o químico Joseph Black, o engenheiro inventor da máquina a vapor James Watt, Robert Foulis, um grande editor, e David Hume, que Smith conheceu em Edimburgo quando voltou de Oxford, e que se tornou um amigo para o resto da vida .
Entre seus amigos tinha mercadores ocupados com o comércio colonial que se intensificara na Escócia a partir do ato de união com a Inglaterra em 1710. Nos entretenimentos sociais, discutiam economia e estes comerciantes o colocavam a par dos movimentos de mercado com aquelas informações detalhadas que Smith apresenta no livro "Riqueza das Nações".
Em 1759 publicou seu primeiro trabalho já referido, "A Teoria dos Sentimentos Morais", em que toma uma natureza humana imutável como base para as instituições sociais. Aquela é dominada pelas paixões e os instintos de auto-preservação e auto-interesse, porém controlada por uma capacidade de simpatia, - outro instinto -, e por uma presença interior que aprova ou desaprova as ações do indivíduo. Essa estrutura joga os homens uns contra os outros, mas lhes dá também a faculdade de criar instituições através das quais esse conflito é mitigado e transformado em bem social. Este primeiro trabalho já expressa o pensamento, que repetiria depois no "Riqueza das Nações", que "os homens voltados para seus próprios interesses são conduzidos por uma mão invisível...sem saber e sem pretender isto, realizam o interesse da sociedade".
O "A Teoria" tornou-se lido e conhecido, e em particular atraiu a atenção de Charles Townshend, um político importante a quem interessavam as questões canônicas, ele mesmo historicamente vinculado às medidas de taxação que provocaram a Revolução Americana. Townshend havia se casado recentemente e estava buscava um tutor para seu enteado e tutelado, o jovem duque de Buccleuch. A empenhada recomendação de Hume e sua própria admiração pelo "A Teoria dos Sentimentos Morais", levaram-no a propor a função a Smith com a oferta de um salário acima do que Smith ganhava na universidade.
Smith renunciou à sua cadeira em 1763 e partiu para a França no ano seguinte como o tutor do jovem duque de Buccleuch. Eles ficam principalmente em Toulouse, cidade comercialmente importante na época, encontro de rotas do sul e do norte, ponto de embarque para a via fluvial do rio Garona quando descer o rio para Bordeaux era mais rápido e confortável que o caminho por terra, como parte do trajeto entre a Itália e a Inglaterra. Em Toulouse permaneceram mestre e discípulo por 18 meses, e nesse período Smith iniciou os manuscritos do "Riqueza das Nações".
De Toulouse foram para Genebra, onde Smith encontrou-se com Voltaire, - por quem ele tinha o mais profundo respeito -, e de lá seguiram para Paris, onde Hume, então secretário da embaixada britânica, apresentou Smith aos grandes salões literários do Iluminismo francês. Lá ele encontrou um grupo de reformadores sociais e teóricos da economia, encabeçados por François Quesnay. Muito impressionado pelas idéias de Quesnay iria dedicar a ele "Riqueza das Nações, não tivesse o economista francês falecido antes da publicação. A permanência em Paris foi, porém, abreviada por um acontecimento chocante. O irmão mais jovem do duque de Buccleuch, que se juntara a eles em Toulouse, foi assassinado na rua. Smith e seu pupilo imediatamente retornaram para Londres.
Smith trabalhou em Londres até a primavera de 1767 com Lord Townshend, um período durante o qual ele foi eleito membro da Royal Society e ampliou ainda mais seu círculo intelectual incluindo Edmund Burke, Samuel Johnson, Edward Gibbon, e provavelmente também Benjamim Franklin. Ao final desse ano ele voltou para Kirkcaldy, onde os seis anos seguinte foram gastos ditando e revisando o "Riqueza das Nações", seguidos por outra estada de três anos em Londres, onde o livro foi finalmente concluído, e publicado, em 1776. Apesar de não ter sido um sucesso popular imediato, o "Riqueza das Nações" foi recebido com admiração pelo largo circulo de amigos e admiradores de Smith. O ano seguinte ao de sua publicação ele foi indicado comissário ambos da alfândega e do imposto do sal para a Escócia, postos que lhe trouxeram um bom rendimento anual. Ele então agradeceu ao duque Buccleuch dizendo que ele não mais necessitava sua pensão, ao que o duque respondeu que seu senso de honra nunca lhe permitira deixar de paga-la. Smith estava portanto inteiramente bem nos anos finais de sua vida, que foi passada principalmente em Edimburgo com viagens ocasionais a Londres ou Glasgow, onde foi designado reitor da universidade. Residia então em Canongate, - a porta dos cônegos -, nome que recebeu o lugar porque era o caminho usual dos cônegos de um antigo mosteiro, depois abadia Agostiniana, entre o mosteiro e a cidade. Por séculos, apesar de adjacente à capital, Conongate foi independente de Edimburgo. Era considerado um lugar ideal para se viver: fora dos muros da cidade, havia mais espaço e contacto com a natureza, casas com amplos jardins e pomares. A proximidade com o palácio da corte escocesa em Holyrood havia naturalmente atraído a nobreza para o local. Escoceses notáveis foram enterrados na Canongate Kirk, a igreja da paróquia local.
No início de 1776, no retorno de uma de suas viagens a Londres, Smith cruzou no caminho com o amigo Hume que ia à capital, adoentado e esperando que aquela viagem pudesse lhe fazer bem. Por morte de Hume, Adam Smith foi seu executor literário, e adicionou ao "Vida", escrito por ele, uma carta expressando seu julgamento do amigo como "aproximando tão de perto a ideia de um homem perfeitamente lúcido e virtuoso quanto a fraqueza da natureza humana permitirá".
Os anos passaram quietamente, com várias revisões de ambos seus dois principais livros. Em julho 17, 1790, na idade de 67 anos, cheio de honras e reconhecimento, Smith morreu; ele foi enterrado no pátio da igreja em Canongate, com um monumento simples dizendo que Adam Smith, autor do "Riqueza das Nações", estava enterrado ali.
Assim como Hume, Smith nunca casou, e quase nada se sabe do seu lado pessoal. Infelizmente seu arquivo pessoal foi destruído, e somente um retrato seu existe, um medalhão de seu perfil de sobrancelhas grossas olhos, nariz aquilino e um lábio inferior saliente. Segundo vários testemunhos, ele era também um homem de muitas peculiaridades que incluíam a um vacilante modo de falar (até que aquecia para seu assunto), um modo de andar descrito como "vermicular" e acima de tudo uma extraordinária e mesmo cômica mente distraída. Por outro lado, muitos contemporâneos mencionaram de um sorriso de "inexprimível bondade", seu tato político e seu expediente em conduzir os negócios as vezes difíceis da universidade de Glasgow. Atraiu estudantes de nações tão distantes quando a Rússia; seus últimos anos foram coroados não somente com expressões de admiração de muitos pensadores europeus mas por uma crescente reconhecimento nos círculos governamentais democráticos da importância de suas teses para a condução de uma política econômica prática.
2006-12-16 00:54:29
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answer #5
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answered by Marcelo Pinto 4
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