Para que emprego formal?
“O Bolsa Família beneficia aproximadamente 11 milhões de famílias.”
Informação da Secretaria Nacional de Renda da Cidadania
O assunto já fora levantado por esta coluna por ser inusitado e bem brasileiro: o emprego formal, com carteira assinada, está sendo rejeitado por beneficiários do Bolsa Família.
O governo Lula conseguiu algo que não se imaginava para o Brasil, com a expansão do Bolsa Família. Trabalhadores rurais e safristas não querem mais ter carteira de trabalho assinada porque perdem o benefício.
Antes, os trabalhadores acostumados ao serviço eventual – nas colheitas e na construção civil – estavam sempre atentos às ofertas que apareciam. Agora, o Bolsa Família afastou-os desse mercado de trabalho porque aprenderam a não trocar mais o certo pelo duvidoso.
No “duvidoso”, como servente de obras, Francisco Oliveira, 34 anos, ganhava, em média, 60 reais por semana, no Ceará. Francisco não quer mais saber de ganhar esse salário (indigno, diga-se de passagem), com medo de perder os 95 reais que recebe todos os meses do governo federal.
Como se sabe, o Bolsa Família é concedido a famílias que têm uma renda mensal per capita inferior a 120 reais. Seu Francisco se contenta com os 95 reais e completa as necessidades básicas de sua família (mulher e seis filhos) como catador de lixo reciclável, que lhe dá 10 reais por dia.
Em todo o país, os empregadores que se valiam de uma mão-de-obra eventual estão sentindo o efeito da escassez de trabalhadores, que antes estavam em grande disponibilidade.
A obrigação do empregador em assinar a carteira profissional do contratado é uma exigência do governo, mas ninguém mais quer “correr o risco” de perder o Bolsa Família com o emprego oferecido porque o trabalhador deixa de ser desempregado nas estatísticas oficiais.
2006-12-13
23:23:53
·
11 respostas
·
perguntado por
Anonymous
em
Governo e Política
➔ Outras - Governo e Política
Antonio Joaquim, presidente da cooperativa de cafeicultores do Espírito Santo, disse que “por causa desse programa social, a situação ficou complicada e está cada dia mais difícil ter mão-de-obra”.
Aqui no RS, em Camaquã, um trabalhador rural disse que só aceitava trabalhar numa lavoura sem contrato assinado – o que é ilegal e compromete o empregador – porque não queria “sujar sua carteira profissional”.
“Sujar” a carteira profissional! Antes, um trabalhador desempregado sentia sua auto-estima humilhada ao estar sem uma atividade que lhe desse a dignidade necessária e o respeito junto à sua família, mesmo que estivesse ganhando um salário baixo e, às vezes, indigno.
2006-12-13
23:25:01 ·
update #1
Com o Bolsa Família, troca-se o trabalho e o desempenho de um cidadão para progredir no seu emprego, mesmo que eventual, por uma esmola oficial. O governo, por seu turno, diz que está combatendo o trabalho indigno.
A secretária nacional de Renda da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Rosani Cunha, acredita que os trabalhadores só recusam as ofertas de empregos pouco atrativos. Um trabalho de 300 reais mensais não tiraria uma pessoa do Bolsa Família, disse a senhora Rosani Cunha.
2006-12-13
23:25:58 ·
update #2
Ela garante que o trabalho formal, com carteira assinada, continua. “As pesquisas qualitativas mostram que o sonho das pessoas é conseguir emprego”, revela a secretária nacional. O governo federal tem outros programas para que os beneficiários do Bolsa Família melhorem de vida.
Pode ser essa a intenção do governo, mas a realidade está sendo bem diferente. Quem sabe a secretária Rosani Cunha dá uma chegada em Camaquã para confirmar (ou não) que carteira assinada fica “suja” para quem ganha o Bolsa Família?
2006-12-13
23:26:35 ·
update #3