Espero que goste do que eu encontrei:
ADMIRÁVEL GADO NOVO
Jenyberto Pizzotti
A Ideologia no Senso Comum e os Mecanismos de
Alienação dos Meios de Comunicação de Massa
O grande filósofo brasileiro Zé Ramalho, em uma de suas geniais criações, talvez inspirado nos guerreiros Tupinambás, nossos heróis que comiam os invasores, num rompante antropofágico, consome Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo - 1931) e nos arrota “Admirável Gado Novo”. Genial.
“Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer
Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz
Lá fora faz um tempo confortável, a vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada a única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada e passam a contar o que sobrou
Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz
O povo foge da ignorância apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos, contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível, não voam nem se pode flutuar”
“E, vida de gado, povo marcado, povo feliz !”
Na passagem do senso comum ao bom senso deve existir a garantia do desenvolvimento da habilidade crítica e da autoconsciência para que possamos exercer a cidadania de forma livre e digna. De outro lado, sabemos que as ideologias influenciam os jogos do poder e garantem privilégios.
O Senso Comum é a avaliação ou julgamento de idéias, ou situações com base em formulações, na maioria das vezes, relativamente simples, resultantes de experiências diretas de pessoas comuns. O Senso Comum, pelo seu empirismo e preconceitos em que se baseia, se opõe muitas vezes a visão científica ou teórica mais lúcida e profunda de um problema. A aplicação perfeita da razão para julgar ou raciocinar com ponderação e com base na experimentação, o equilíbrio atingido com esse procedimento, denominou-se bom senso.
Acredito porém, que o ser humano é caracterizado por limitações e a realidade que pretende conhecer e dominar é multi-facetada e complexa. Na realidade estamos e vivemos dentro da Matrix.
Senso Comum, Bom Senso, Verdade. O quê é pois, a Verdade ? Será o encontro do ser com o desvelamento, com o desocultamento, com a manifestação do objeto ? O “ser” das coisas, manifestando-se, tornando-se translúcido, compreensível à inteligência e à compreensão ? Podemos considerar o Virtual a melhor expressão do Real ?
O objeto nunca se manifesta totalmente, o ser não entra em contato direto com o objeto, mas sim com o que ele representa, com sua representação e com as impressões que lhe causa. Assim, penso eu, o desvelar, o descobrir o objeto supõe a capacidade do ser de perceber as mensagens do objeto.
O ser humano, induzido pelas aparências, as vezes emite juízos precipitados que não correspondem aos fatos e à realidade. Temos, desta forma, o erro.
A verdade só resulta quando houver evidência. Daquilo que se manifestar do ser pode-se dizer uma verdade. A evidência é o critério da verdade.
A certeza, então, podemos dizer, consiste na adesão a uma verdade, sem receio de engano. A dúvida é o equilíbrio entre a afirmação e a negação.
Parece-me que na leitura, na interpretação que fazemos diariamente sobre os fatos e acontecimentos político-sociais que chegam até nós, de forma massiva, através dos meios de comunicação de massa, não há espaço para a reflexão, dúvida, indignação e não aceitação do que nos é imposto, imposto à nós, Admirável Gado Novo.
Notícias e opiniões são transmitidas as massas e assumem características de certezas matemáticas. Na maioria das vezes, a interpretação de alguns fatos é acolhida como verdade absoluta. Nem mesmo, a denominada “dúvida expontânea”, equilíbrio entre a afirmação e a negação, se manifesta, pois não temos tempo suficiente para o raciocínio e a reflexão, para realizar os exames dos prós e contras.
Assim, na análise de alguns tópicos e idéias extraídas das notícias divulgadas, e até mesmo fabricadas, pelos meios de comunicação de massas, adoto a denominada “dúvida metódica”, que consiste na suspensão fictícia ou real, sempre provisória, da aceitação a uma asserção tida até então como certa, para poder lhe controlar o valor.
As teorias sociológicas e a Filosofia sempre se preocuparam em explicar como as ações individuais podem ser pensadas em relação a outras ações de indivíduos e de grupos.
Ideologias transformam-se, as vezes, em senso comum de indivíduos e grupos, que também se servem dos mecanismos de alienação dos meios de comunicação de massas. Os meios, a mídia, por sua vez, muitas vezes, movidos por jogos de poder e para garantir a manutenção de privilégios, acabam abrindo mão do bom senso, ou melhor dizendo, do senso crítico, da liberdade e até mesmo da consciência.
Segundo Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês, a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Sendo assim, a sociedade era, para esse autor, um conjunto de normas de ação, pensamentos e sentimentos, construídas exteriormente, isto é, fora das consciências individuais, regras de conduta que existem e devem ser aceitas por todos.
Para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) a sociedade deve ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. As ações realizadas por indivíduos são, evidentemente, baseadas em ações de outros indivíduos. Assim, o Estado, o mercado, as religiões existem porque diversos indivíduos orientam suas ações no mesmo sentido.
Karl Marx (1818-1883), pensador alemão, considerava que a relação indivíduo-sociedade estaria de forma intrínseca ligada às condições materiais da sociedade, determinando, historicamente, de acordo com a classe a que pertencem os indivíduos, sua atuação e destino social.
Pessoalmente, ressaltando a genialidade de Marx, acredito que esse filósofo realizou uma análise magistral, porém, parcial e simplista, dividindo a sociedade em capitalistas e proletários. Obviamente, e com uma visão unilateral e burguesa, Marx concentrou-se na sociedade de seu tempo, no sistema capitalista. No entanto, Marx procurou mostrar as possibilidades de transformação da realidade social, e orientou que os pesquisadores podem e devem desempenhar um papel social revolucionário na defesa da classe trabalhadora.
Esses teóricos, procuraram criar novos conceitos, para nos propiciar uma visão do mundo, não mais no campo do senso comum, mas no da ciência.
À partir de 1923, com o início da Escola de Frankfurt, seus expoentes, Max Horkheimer, Theodor Adorno, Walter Benjamin e Herbert Marcuse, expressando o desejo de autonomia e independência do pensamento, demonstraram ceticismo quanto aos resultados nos engajamentos políticos. O pensamento desses filósofos é marcado pela desilusão e ceticismo. Essa escola cria a idéia da Indústria Cultural, que transforma os indivíduos em conformistas, substituindo a consciência crítica, pelo incontido e permanente desejo de consumo.
Para entendermos os mecanismos de alienação da mídia de comunicação de massa, e os pressupostos inseridos de forma massiva na mídia, com o objetivo do controle das assas e a preservação da Matrix, temos que analisar, mesmo que superficialmente, todas essas correntes de pensamento.
Estaríamos incompletos se não incluirmos os estudos contemporâneos de Paul Lazarsfeld e Robert Merton. Esses dois cientistas sociais, no artigo “Comunicação de massa, gosto popular e ação social organizada”, demonstraram muita preocupação com a onipresença e o poder potencial dos meios de comunicação de massa. A onipresença dos meios de comunicação de massa leva muitas pessoas a uma crença generalizada, senso comum, em seu enorme poder. Destaca-se a preocupação quanto ao controle social exercido por indivíduos e grupos poderosos da sociedade.
O genial George Orwell, nas primeiras páginas de seu “1984”, nos alerta: “Em cada patamar, diante da porta do elevador, o cartaz da cara enorme o fitava da parede. Era uma dessas figuras cujos olhos seguem a gente por toda parte. O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI, dizia a legenda”.
Muito além de meras funções de atribuição de status social e de reiteração de normas sociais, facilmente identificadas, nossa preocupação, deve voltar-se para algo muito mais preocupante e atual: a disfunção narcotizante
Bombardeado de forma massiva por informações, o indivíduo acaba confundindo “conhecer os problemas” com “fazer algo a respeito do mesmo”. A consciência social é preservada, pois o indivíduo está sempre informado e preocupado, mas é induzido a participar da vida como “voyerista”, expiando a do “buraco da fechadura” eletrônica. O conhecimento se torna totalmente passivo, não provoca participação ativa, não existindo portanto, uma avaliação crítica da sociedade. Adota-se o senso comum, enfatizando o conformismo transmitido e imposto pelos meios, pela mídia que, sob total patrocínio e dependência econômica, renunciam, acredito, imediatamente, a seus objetivos sociais, interesses que, na maioria das vezes, se mostram incompatíveis com outros interesses, de poder e econômicos.
A metodologia de alienação e narcotização das massas é muito extenso. Censura ao direito à informação e a livre expressão do pensamento. O direcionamento para uma corrente de pensamento. Manipulação da informação, direcionando-a, alterando seu conteúdo, através de técnicas de manipulação da forma. Aplicação pura e simples da disfunção narcotizante. O desvio da conscientização de um fato e problema, para uma “compensação”, do “levar vantagem”, da nossa brasileiríssima, execrável e conhecida “Lei de Gerson”, e por aí afora.
Após 25 anos de ditadura militar, e mais 17 anos de governo civil incompetente, corrupto, ladrão e totalmente insensível com a população miserável de nosso país, heróis anônimos, bons brasileiros, que ainda acreditam nos valores mais sagrados do ser humano, após esses 42 anos de alienação forçada do povo, me entristeço, pois 42 anos foi todo o sacrifício de minha geração.
Washington Olivetto (WBrasil) esse outro genial brasileiro um dia disse assim “O Brasil é um país de terceiro mundo com exigência publicitária de primeiro. Muitas vezes nossa publicidade chega a ser melhor que o próprio Brasil (...) O fascínio pela novela veio da idéia de que o Brasil não foi descoberto, foi escrito. É como se fosse uma mistura de Garcia Marques e Kafka – parece um país ficcionário às vezes”.
O Brasil realmente é muito mais do que uma novela, grande Washington Olivetto, muito mais do que uma obra de ficção. O Brasil é as lágrimas, o sangue, os sacrifícios e os sonhos de muitas gerações de homens, mulheres e crianças, de índios, negros e de imigrantes, que sonharam e sonham, em fazer desta terra uma grande Nação. Um dia, esse País vai deixar de ser apenas um País, e vai se transformar numa grande Nação. Vai acordar de seu sono letárgico. Vai acordar da Matrix.
Jenyberto Pizzotti, 53 anos, Jornalista e Consultor de Marketing
e-mail: jenyberto@yahoo.com.br
Um beijo!!
2006-12-12 01:36:51
·
answer #1
·
answered by inka 7
·
4⤊
2⤋