Capa do Livro Leão-de-Chácara
O livro de contos Leão-de-Chácara, de João Antonio, reúne quatro histórias: além do conto que dá nome ao livro, Três Cunhadas -Natal 1960, Joãozinho da Babilônia e Paulinho Perna Torta. As histórias do contista giram em torno das camadas mais populares das grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo nas décadas de 60 e 70. Vivendo aos trancos e barrancos, os protagonistas de João Antonio são sempre pobres e marginalizados.
"Entre eles, se destacam as figuras do malandro, do leão-de-chácara, dos pivetes, guardadores de carros, meninos de rua, prostitutas, boêmios e traficantes. São esses seres anônimos e excluídos com os quais João Antonio se identifica", avalia o professor Marciano Lopes e Silva, mestre e doutor em Letras e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e é um dos editores do site de literatura www.nomeiodocaminho.com.br.
O especialista compara esta característica da literatura de João Antonio com a de Rubem Fonseca. Para Silva, Fonseca mergulha seu olhar nesse universo, mas ao contrário de João Antonio o faz sem se identificar com os seres representados. "Daí que os personagens de Rubem Fonseca sejam, em geral, tipos sem alma, caricaturas, enquanto os de João Antonio, mesmo sendo tipos, possuem alma, uma dimensão humana que os engrandece e os aproxima dos personagens de Dostoievski", analisa o professor.
Outra caraterística que Silva considera intessante nos textos de João Antonio é a linguagem coloquial, com palavrões e gírias, em frases mais longas. "Em geral, dá vazão ao monólogo interior dos personagens ao mesmo tempo em que explora estilisticamente a riqueza do vocabulário destes grupos sociais. Por isso é comum encontrarmos em suas narrativas longas enumerações", diz.
Ele cita como exemplo um trecho da página 16 do livro: "O que vai pintar de trouxa, espertinho, pé grande, mocorongo do pé lambuzado, muquira, bêbado amador, loque, cavalo de teta, zé mané dando bandeira, doutor de falsa fama, papagaio enfeitado, quiquiriquis, langanhos, paíbas, não será fácil. Eu aturando, ô pedreira! Para mim a noite vai ser de murro". Divulgação
"João Antonio permanece à sombra, injustamente esquecido", afirma o professor Marciano Silva
O tema violência é recorrente nas histórias de João Antonio. Mas ao invés de explorá-la em seus mínimos detalhes, o contista apenas aponta para a sua existência, sem a intenção de transformá-la em espetáculo aos leitores e ao enriquecimento seu e dos editores. "Ao proceder desta forma, João Antonio não contribui para os interesses da mídia e do mercado, mas, diversamente, para o enriquecimento da arte", considera Silva. E complementa: "João Antônio permanece à sombra, injustamente esquecido nestes dias em que a literatura sobre a violência urbana e o romance-reportagem (que alguns andam chamando de antropológico), no estilo de Cidade de Deus e Abusado, fazem tanto sucesso".
Vestibular
Como se trata de um livro de contos, não há a necessidade de que seja lido de cabo a rabo ou em seqüência, já que uma história independe da outra. Para o professor Vinícius Prestes, dos pré-vestibulares Domínio e Apogeu, de Curitiba, a releitura pode ser interessante. “A linguagem de João Antonio pode causar um desconforto, conseqüente dificuldade ao vestibulando”, afirma. O estudante vai encontrar em Leão-de-chácara um vocabulário típico dos meios onde as narrativas se passam, como casas noturnas, mas que ao mesmo tempo respeita a norma culta da língua portuguesa. “Essa mistura é que torna a obra tão interessante quanto à linguagem”, avalia Prestes.
Os contos da obra trazem textos praticamente com ausência de diálogos, o que pode parecer cansativo. Prestes enfatiza que, no entanto, a temática supera essa dificuldade. “Ela deixa bem claro os embates sociais, algo tão comuns no período que se passa a obra quanto hoje”. Segundo o professor a UFPR ainda não cobrou a obra como deveria. Para Prestes, ela permite a elaboração de questões muito interessantes. “Principalmente comparativas com obras que retratam a camada mais popular da sociedade como Memórias de um Sargento de Milícias e Terras do Sem Fim”, afirma.
Como dica aos vestibulandos, Prestes diz que o estudante deve notar a verossimilhança da obra. “Ela retrata os conflitos sociais presentes seja na sociedade brasileira da década de 1960 e 1970, assim como presentes na atualidade”, conclui.
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2006-12-04 06:57:14
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answered by eu Amabile 7
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"Leão-de-Chácara", de João Antônio
Segundo livro de João Antônio (1937-1996), que o situa como autor de contos de uma linguagem ricamente inventiva, calcada nos diálogos da malandragem urbana. Aqui ele reúne quatro histórias sobre "trancos" e embates ocorridos em camadas populares das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro nas décadas de 60 e 70.
Nos contos de Leão de chácara, João Antônio vai buscar seus personagens no meio do povo humilde das grandes capitais, entre a arraia miúda que aprende a viver nos embates, trancos e barrancos da rua, postos à margem da ordem social, que suportam ou enfrentam de acordo com as circunstâncias. Segundo o autor, as narrativas são "sumarentas de vida e porejantes de verdade humana".
Não aparecem protagonistas marcados por traços pitorescos que os transformem em coloridas figuras do folclore urbano. Pelo contrário, são o retrato veraz das camadas sociais a que pertencem. Foram recortados com total fidelidade e na plenitude de suas grandezas e misérias.
Capa do Livro Leão-de-Chácara
O livro de contos Leão-de-Chácara, de João Antonio, reúne quatro histórias: além do conto que dá nome ao livro, Três Cunhadas -Natal 1960, Joãozinho da Babilônia e Paulinho Perna Torta. As histórias do contista giram em torno das camadas mais populares das grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo nas décadas de 60 e 70. Vivendo aos trancos e barrancos, os protagonistas de João Antonio são sempre pobres e marginalizados.
"Entre eles, se destacam as figuras do malandro, do leão-de-chácara, dos pivetes, guardadores de carros, meninos de rua, prostitutas, boêmios e traficantes. São esses seres anônimos e excluÃdos com os quais João Antonio se identifica", avalia o professor Marciano Lopes e Silva, mestre e doutor em Letras e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e é um dos editores do site de literatura www.nomeiodocaminho.com.br.
O especialista compara esta caracterÃstica da literatura de João Antonio com a de Rubem Fonseca. Para Silva, Fonseca mergulha seu olhar nesse universo, mas ao contrário de João Antonio o faz sem se identificar com os seres representados. "Daà que os personagens de Rubem Fonseca sejam, em geral, tipos sem alma, caricaturas, enquanto os de João Antonio, mesmo sendo tipos, possuem alma, uma dimensão humana que os engrandece e os aproxima dos personagens de Dostoievski", analisa o professor.
Outra caraterÃstica que Silva considera intessante nos textos de João Antonio é a linguagem coloquial, com palavrões e gÃrias, em frases mais longas. "Em geral, dá vazão ao monólogo interior dos personagens ao mesmo tempo em que explora estilisticamente a riqueza do vocabulário destes grupos sociais. Por isso é comum encontrarmos em suas narrativas longas enumerações", diz.
Ele cita como exemplo um trecho da página 16 do livro: "O que vai pintar de trouxa, espertinho, pé grande, mocorongo do pé lambuzado, muquira, bêbado amador, loque, cavalo de teta, zé mané dando bandeira, doutor de falsa fama, papagaio enfeitado, quiquiriquis, langanhos, paÃbas, não será fácil. Eu aturando, ô pedreira! Para mim a noite vai ser de murro". Divulgação
"João Antonio permanece à sombra, injustamente esquecido", afirma o professor Marciano Silva
O tema violência é recorrente nas histórias de João Antonio. Mas ao invés de explorá-la em seus mÃnimos detalhes, o contista apenas aponta para a sua existência, sem a intenção de transformá-la em espetáculo aos leitores e ao enriquecimento seu e dos editores. "Ao proceder desta forma, João Antonio não contribui para os interesses da mÃdia e do mercado, mas, diversamente, para o enriquecimento da arte", considera Silva. E complementa: "João Antônio permanece à sombra, injustamente esquecido nestes dias em que a literatura sobre a violência urbana e o romance-reportagem (que alguns andam chamando de antropológico), no estilo de Cidade de Deus e Abusado, fazem tanto sucesso".
Vestibular
Como se trata de um livro de contos, não há a necessidade de que seja lido de cabo a rabo ou em seqüência, já que uma história independe da outra. Para o professor VinÃcius Prestes, dos pré-vestibulares DomÃnio e Apogeu, de Curitiba, a releitura pode ser interessante. “A linguagem de João Antonio pode causar um desconforto, conseqüente dificuldade ao vestibulando”, afirma. O estudante vai encontrar em Leão-de-chácara um vocabulário tÃpico dos meios onde as narrativas se passam, como casas noturnas, mas que ao mesmo tempo respeita a norma culta da lÃngua portuguesa. “Essa mistura é que torna a obra tão interessante quanto à linguagem”, avalia Prestes.
Os contos da obra trazem textos praticamente com ausência de diálogos, o que pode parecer cansativo. Prestes enfatiza que, no entanto, a temática supera essa dificuldade. “Ela deixa bem claro os embates sociais, algo tão comuns no perÃodo que se passa a obra quanto hoje”. Segundo o professor a UFPR ainda não cobrou a obra como deveria. Para Prestes, ela permite a elaboração de questões muito interessantes. “Principalmente comparativas com obras que retratam a camada mais popular da sociedade como Memórias de um Sargento de MilÃcias e Terras do Sem Fim”, afirma.
Como dica aos vestibulandos, Prestes diz que o estudante deve notar a verossimilhança da obra. “Ela retrata os conflitos sociais presentes seja na sociedade brasileira da década de 1960 e 1970, assim como presentes na atualidade”, conclui.
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MUITAS VOZES
Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido.
(estamos todos nós
cheios de vozes
que o mais das vezes
mal cabem em nossa voz:
se dizes pera,
acende-se um clarão
um rastilho
de tardes e açúcares
ou
se azul disseres,
pode ser que se agite
o Egeu
em tuas glândulas)
A água que ouviste
num soneto de Rilke
os Ãnfimos rumores no capim
o sabor
do hortelã
(essa alegria)
a boca fria
da moça
o maruim
na poça
a hemorragia
da manhã
tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente
um susto
ou uma ventania
(que o poema dispara)
chama
esses fósseis à fala.
Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.
Ferreira Gullar
Desde o princÃpio, por tudo o que já fez, Ferreira Gullar sempre nos deixou esperando a grande poesia. E ela veio de novo calmamente, depois de um silêncio profundo,como um tumulto; chegou agora com Muitas Vozes. Há muito não se juntavam, na poesia brasileira, tantas coisas belas numa safra só.
Foi preciso muita coisa passar: o exÃlio, depois a morte rondar perto, familiar e sem ênfase; os mortos restarem no abandono do chão impenetrável; o silêncio crescer dos ausentes ao cosmos, até a estridência. E ainda assim de tudo ficar um pouco - o galo saiu de entre as plantas em novo anúncio; Cláudia Ahimsa virou musa do planeta Terra; o bem-te-vi cantou de volta em São LuÃs -, para só então a poesia mostrar-se como não-coisa, como voz, essa voz que somos nós, que não alcança o ser da coisa, que quer ser coisa na linguagem do poema, e é apenas som.
Mas som com sentido: testemunho de nossa precária condição frente aos astros e à única eternidade que de fato conhecemos, a do instante de vida: a polpa, o gosto vivo da fruta, o momento do sexo, tudo na Ãntegra irrecuperável na Palavra. Gullar ouve as vibrações do mito, mas tem os pés no chão e a escuta dos homens. Recolhe a poesia das vozes entrelaçadas à sua, com toda a simplicidade. A grande poesia pode estar ao rés da fala e ao alcance dos ouvidos.
No oco da voz (do poema) se forma o sentido que o poeta atribui à s coisas que não o têm e cujo ser resta impenetrável para ele como o morto na cova. A força do concreto vem, no entanto, do instante de vida que fica na memória e toma forma poética na linguagem: a voz que não quer se apagar, que repete outras vozes mortas e refaz com palavras o gosto de alegria da hortelã, ou o que, intangÃvel, adeja/ acima/ do que a morte beija.
A complexidade da sÃntese poética que se acha neste livro em que os temas da identidade, do tempo e da linguagem se defrontam com o silêncio e a morte é o resultado formal de uma longa e densa experiência. à importante observar que o processo de constituição dessa experiência foi exposto, em boa parte, no relato notável de suas memórias do exÃlio, Rabo de Foguete. Nele o drama vivido pelo poeta à mercê das circunstâncias polÃticas da história recente da América Latina se converte, mediante uma narrativa próxima do romance, num processo de escavação da subjetividade atravessada pela experiência histórica. A poesia - O Poema Sujo - surge então, em em meio ao sofrimento,como o último reduto da identidade pessoal frente à s catástrofes do mundo contemporâneo
2006-12-01 11:47:56
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answer #6
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answered by Gabriel 4
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