Quem sabe a razão para a solidão? Sobre o sozinho interno?
Por mais que me jogue na multidão há imensos espaços não ocupados entre as pessoas. Mesmo que estejamos repletos de afazeres, de eventos e de palavras, sons, imagens e velocidade, lá dentro, bem fundo, há a solidão.
Sentir-se só, isolado, com ou sem pessoas à volta, sentir-se abandonado, desvinculado do mundo, medo., mesmo que numa música não pareça tão desagradável e pesada: "Solidão... De manhã... Poeira tomando assento... Rajada de vento... Som de assombração... Coração... Sangrando toda palavra sã..." (Açaà - Djavan). Palavras e sons bonitos junto com a descrição do incômodo. Quantas e quantas vezes já não nos sentimos assim? Ora mergulhamos nisso, ora nos desesperamos por isso, ora nos confundimos com isso, ora burlamos isso. Só pode ser muita dor. Mas será que é isso mesmo?
A palavra SOLIDÃO encontrada no dicionário vem com o seguinte significado: "estado de quem se acha ou vive só". Em SOLITÃRIO encontra-se: Que decorre de solidão; Que não convive com seus semelhantes; Situado em lugar ermo; Aquele que vive só;
Essas denominações exprimem de forma muito generalizada um possÃvel significado da Solidão e daquele que sente. Esse significado é o que comumente as pessoas se referem, mas existem outras faces desse tema que as pessoas também experienciam e não costumam explorar, ficando tudo misturado como se fossem meras nuances da mesma coisa.
Na visão acima, estar sozinho é vivido com sentimentos contundentes de insatisfação e desagrado, sentir-se sozinho é um "estado de alma" que pode estar claro, perceptÃvel para os outros ou não.
O medo que advém desse estado tem lastro no ensimesmamento em que ficamos, porque estamos em um momento de estar entregue a nós mesmos, sentindo abandono e desvalia, perdidos, sem o referencial do controle de nossos pensamentos e sentimentos que muitas vezes temos quando estamos na frente dos outros. Nesse momento estamos diante de nós mesmos e só de nós mesmos. Somos então impiedosamente crÃticos conosco, cobramos, revisamos nossos erros de forma cruel, o nosso vazio, o que não modificamos. à difÃcil aceitar as limitações e dificuldades sem lutar contra elas.
Tanto a solidão que foi descrita acima quanto o isolamento que vai ser colocada agora podem estar presentes ao mesmo tempo. O isolamento, outra situação de solidão, é comum a todos os seres humanos. A pessoa o sente porque é um indivÃduo diferente dos outros, possuindo a sua originalidade, suas caracterÃsticas peculiares e uma existência especÃfica e singular.(...) Os seus pontos extremos se encontram no nascimento e na morte: nascemos sozinhos e sozinhos morremos. à quando precisamos fazer escolhas e tomar decisões, sobretudo as que são mais relevantes para a nossa vida. Nesta ocasião, os outros podem estar conosco e ajudar-nos até certo ponto. Mas há o instante nevrálgico em que todos nos deixam e não podem mesmo ficar conosco. Sentimo-nos, então, sozinhos, porque, na verdade, ninguém pode escolher e nem decidir em nosso lugar.
Há ainda a solitude, um estado em que a alma humana encontra-se irremediavelmente só, mas esta solidão está amparada internamente em várias situações de preenchimento de vida que não há angústia, não há sofrimento, não há culpados nem inocentes. Só a constatação que o vazio que há dentro de nós é o vazio que preenche a todos e cada um. Um espaço sem palavras, sem sons, sem imagens, mas que é confortável para que nosso espÃrito se restabeleça e cresça em si no nada absoluto. Observe só a sua mente. De um modo e de mil modos ela está tentando apenas uma coisa: “Como esquecer que sou só?” Outro dia mesmo, estive lendo estas linhas de T. S. Eliot:
Seremos todos, de fato,
Incapazes de amar e de inspirar amor?
Então a pessoa é só...
Se o amor não é possÃvel, a pessoa é só. à preciso torná-lo possÃvel. Se não é possÃvel, tem de ser inventado, acreditado. Se é praticamente inviável, sua ilusão precisa ser criada – porque a pessoa necessita evitar a solitude.
Quando você está sozinho, fica com medo. Lembre-se: o medo não vem dos fantasmas. Quando você está sozinho, é da solidão que vem o medo. Mas ficamos escondendo a causa, porque vê-la significa ser transformado ao ver.
Quando você vai andando sozinho por uma floresta, na realidade, você não fica com medo de fantasmas, de ladrões, de assaltantes, pois eles estão mais nas multidões. O que estariam fazendo numa floresta? – todas as suas vÃtimas estão é por aqui.
Quando você está sozinho em seu quarto, no escuro, você não fica com medo de fantasmas. Fantasmas são apenas projeções. Na realidade, você está com medo da solidão – este é o fantasma. De repente, você tem de encarar a si mesmo; de repente, você é obrigado a ver seu total vazio e absoluta solitude, sem nenhum modo de se relacionar... Você grita e grita, e ninguém o escuta, ninguém o abraça – não há ninguém para o abraçar, não há ninguém para o aquecer.
Este é o medo, a angústia do homem: se o amor não for possÃvel, a pessoa está só. Por isto, é preciso que o amor se torne possÃvel, ele tem de ser criado – mesmo que seja falso, ele tem de ser criado. A pessoa precisa seguir amando, porque de outro modo será impossÃvel viver.
E, sempre que uma sociedade se depara com o fato de que o amor é falso, duas coisas podem acontecer: ou as pessoas começam a suicidar-se, ou passam a ser saniasins. As duas coisas são uma só.
SuicÃdio é um esforço ordinário para destruir a si próprio... pois, se você não existir, ninguém estará sozinho... Mas isto não funciona, porque logo você estará num outro corpo. Isto nunca funcionou.
Sânias é o derradeiro suicÃdio. Se a pessoa é só, então, a pessoa é só: isto tem de ser aceito, não é para ser evitado. Se a pessoa é só, e daÃ? Se este é o fato, então, este é o fato – precisamos penetrar nele. Sânias significa encarar a própria solidão, entrar nela, entrar nela apesar do medo, morrer nela. Se a morte vier assim, tudo bem, mas a pessoa não vai se esquivar da verdade. Se a solidão é a verdade, então a pessoa a aceita e penetra nela. Este é o significado do sânias. E a pessoa realmente comete suicÃdio. Ela desaparece.
Esta é a transformação de que falo. Os budas não estão interessados em informação, estão interessados em transformação. E todo o seu mundo é um estratagema para escapar de si próprio. Os budas destróem esses estratagemas e o trazem de volta para você mesmo...
à por isto que estar em contato com um buda é só para os raros, os corajosos. A mente ordinária não consegue suportar. A presença do buda é insuportável. Por que? Por que as pessoas têm sido tão contra Buda e Cristo e Zaratustra e Lao Tzu? Por uma certa razão: estas são as pessoas que não lhe permitem a luxúria da inverdade, o conforto da mentira, a conveniência de viver em ilusões. Estas são as pessoas que não lhe permitem, estas são as pessoas que o empurram para a verdade. E a verdade é perigosa.
A primeira verdade a ser experimentada é que a pessoa é só. A primeira verdade a ser experimentada é que o amor é ilusório. Pense só, pense só na enormidade disto: o amor é ilusório.
E você só tem vivido através dessa ilusão... Você amava seus pais, amava seus irmãos e irmãs... depois, foi se apaixonando por uma mulher, ou um homem. Você ama sua pátria, sua igreja, sua religião; você está apaixonado por seu carro, por sorvete... etc. etc. Você está vivendo em todas essas ilusões... e, de repente, você se encontra nu, só, todas as ilusões se foram... Dói. Mas é assim
2006-11-24 02:03:17
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answer #3
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answered by kao kabeci ilê 7
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