Factos sobre as Touradas em Portugal
Sempre justificadas como tradição, as corridas de touros – vulgarmente conhecidas como touradas – são, na verdade, um dos costumes mais bárbaros existentes em Portugal, mantidas por um sector minoritário e ultrapassado da sociedade portuguesa. Por trás da suposta bravura dos cavaleiros tauromáquicos, dos bandarilheiros, dos forcados e dos demais intervenientes neste espectáculo medieval e degradante, está uma triste e horrível realidade – a perseguição, molestação e violentação de touros e cavalos que, aterrorizados e diminuídos nas suas capacidades físicas, são forçados a participar num espectáculo de sangue em que a arte é a violência e a tortura é a demonstração de cultura.
Onde o sofrimento começa
O sofrimento dos animais começa quando os touros – principais vítimas desta actividade (além dos cavalos e das vacas, assim como dos novilhos, quando são usados ainda enquanto bebés e jovens) –, depois de terem já perdido cerca de 10% do seu peso na viagem da ganadaria (onde são criados e onde estão habituados a uma vida tranquila) para a praça de touros, devido ao stress, são mantidos nos curros, até à hora de entrarem na arena, onde a angústia e o medo são crescentes. Junta-se a isto o sofrimento físico, que aqui começa, não só porque os animais são conduzidos com aguilhões e à paulada, mas também porque, entre outros métodos de preparação, são-lhes serrados os chifres a sangue frio para serem embolados (nas touradas portuguesas, os touros não têm sequer os seus chifres inteiros e expostos, para terem uma oportunidade mínima de se defenderem).
O Pânico dos Touros nas Touradas
Ao entrar na arena, os touros vão já fortemente enfraquecidos e feridos (devido aos chifres serrados a sangue frio antes da tourada), além de apavorados. O pânico do touro é tão grande, que fugiria deste cenário aterrorizador, se tivesse essa possibilidade. Ao contrário do que os defensores das touradas alegam, é possível observar a expressão de medo e de confusão nos touros sempre que estes entram na arena, e que se agrava quando a tortura da tourada se acentua, à medida que as bandarilhas e os restantes ferros (que podem ter comprimentos variáveis entre os 8cm e os 30 cm, além de terem afiados arpões na ponta, para se prenderem à carne e aos músculos dos animais) rasgam os seus tecidos, provocando-lhes um sofrimento atroz, além de febres imediatas, acrescidas de um enfraquecimento acentuado pela perda de litros de sangue.
Cavalos – As Outras Vítimas das Touradas
Se os touros adultos e os novilhos (bebés e jovens) são vítimas das touradas, também os cavalos são brutalizados neste espectáculo cruel. Na tourada à portuguesa, os cavaleiros tauromáquicos fazem o comum toureio a cavalo, expondo o cavalo às investidas com que os pobres touros se tentam defender, embora em vão. Os cavaleiros tauromáquicos, montando cavalos, cravam os ferros enormes no dorso dos touros, sem se exporem a qualquer perigo, enquanto os cavalos tentam esquivar-se, sofrendo com o pânico de se confrontarem com os touros, sendo comum ficarem feridos pelos chifres e pelas pancadas dos touros. Além disso, ao usarem esporas e ao serem extremamente agressivos com os cavalos para os forçarem a dirigir-se aos touros, os cavaleiros rasgam as costelas dos cavalos, que ficam severamente feridos, sangrando consideravelmente.
A Tourada em Detalhe
Todo o decorrer da chamada corrida de touros à portuguesa consiste na “lide” de seis touros, habitualmente. Cada um dos touros é toureado por um cavaleiro tauromáquico, que lhe crava entre quatro a oito ferros compridos com grandes e afiados arpões na ponta. Os touros podem alternativamente ser “lidados” por um toureiro a pé (embora isto seja menos comum nas touradas portuguesas), que crava repetidamente as aguçadas bandarilhas no dorso do touro. Seguidamente, é comum entrar em cena o bandarilheiro, que vem cansar ainda mais o touro já febril, brutalmente enfraquecido, confuso e assustado. Segundo os defensores da tourada, este espectáculo – que de nada mais se compõe a não ser da crueldade contra touros (e cavalos) – é uma arte, património da cultura portuguesa. Não será antes um acto de tortura?
Enquanto o touro é brutalizado na tourada, enquanto o cavalo é também vítima desta brutalização, e enquanto o sangue de ambos os animais escorre e mancha a arena em que este acto deplorável acontece, não são apenas toureiros (cavaleiros tauromáquicos e bandarilheiros) que participam nesta festa de sacrifício de animais – existe um público presente que, por minoritário que seja na sociedade portuguesa, aprecia e aplaude a violência a que assiste, regozijando-se com o sofrimento bárbaro que ali é infligido aos animais.
Os Forcados e a Pega
Depois do toureio, vem a “pega”. Os forcados, um grupo de oito indivíduos que vem “pegar” o touro, são habitualmente considerados os mais “bravos” de todos os intervenientes na tourada, onde nada mais do que cobardia e perversão se encontra. A “pega” consiste em enfrentar um touro que tem cerca de oito ferros cravados no dorso, que está gravemente febril e que já perdeu muitos litros de sangue, com a “bravura” de oito indivíduos que atacam um animal nestas condições, puxando-o, empurrando-o, pontapeando-o e esmurrando-o, puxando-lhe o rabo, por fim. Na tourada, na altura da pega, o touro é já praticamente incapaz de se manter de pé equilibradamente, pelo que a bravura dos forcados e da pega é, na verdade, um aproveitamento indecente de um animal severamente ferido.
Associações Académicas, Instituições de Beneficência e Igreja Católica Promovem Touradas
O escândalo das touradas é maior do que o facto da própria existência de um espectáculo destes ser permitida pela lei de um país supostamente civilizado, e do que o facto deste espectáculo ser apoiado por um público, ainda que residual e certamente perturbado. Algumas associações académicas, como a Associação Académica de Coimbra e a Federação Académica do Porto, apoiam e organizam garraiadas (touradas com “garraios”, ou seja, touros jovens ou ainda não totalmente desenvolvidos), como a Garraiada Académica de Coimbra e outras. E, como se o envolvimento de associações de estudantes universitários nesta crueldade não fosse já suficientemente grave, a própria Igreja Católica, nomeadamente através da Rádio Renascença, apoia e organiza touradas em Portugal. Diversas instituições particulares de solidariedade social, como a Liga Portuguesa Contra o Cancro e a Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21, estão também envolvidas nesta vergonha. As Santas Casas da Misericórdia são proprietárias da maior parte das praças de touros portuguesas.
Depois da Tourada, O Sofrimento Nos Curros
Depois da tourada, com o toureio a cavalo, toureio a pé e pega, cada touro regressa aos curros, horrivelmente ferido, com um sofrimento agonizante, onde, uma vez mais a sangue frio, lhe será cortada a carne e os tecidos musculares para lhe serem arrancados os ferros com os seus arpões, que lhe foram cravados durante a tourada. A dor é indescritível. Tanto nas touradas à portuguesa, sejam corridas de touros ou garraiadas, como nas largadas, touradas à corda, ou mesmo nas sortes de varas, tentas públicas e touradas de morte que, embora ilegais, acontecem em Portugal com a permissão das autoridades, os touros (e os cavalos) são as vítimas de um espectáculo com características extraordinariamente cruéis, envergonhando Portugal, por ser um país em que cerca de 5.000 touros e 300 cavalos por ano sofrem indefesos o mal que é a tourada.
“Touradas à Corda” e “Sortes de Varas”
Muito comuns nos Açores (embora aconteçam noutras zonas do país), as “touradas à corda” constituem um outro tipo de acto tauromáquico profundamente cruel. Estas consistem em prender uma série de cordas aos cornos dos touros e puxá-los pelas ruas das localidades onde esta barbaridade acontece, conduzindo-os à água, onde são forçados a cair e onde tentam nadar para evitarem morrer afogados. É comum os outros ficarem com fracturas nos cornos e nos membros. Em algumas “touradas à corda”, os touros são mortos à facada, como acontece nas touradas de morte ilegais em Monsaraz.
Também comuns nos Açores (embora aconteçam noutras zonas do país, como Alcochete), as “sortes de varas” são actos tauromáquicos extremamente violentos típicos das touradas em Espanha. Nas “sortes de varas” (que são ilegais e que os promotores tauromáquicos portugueses têm estado a tentar organizar sob outras designações, nomeadamente “tentas”, “provas” e “picarias”), os touros estão com os cornos inteiros e investem desesperadamente contra um cavalo – que tem uma imensa e muito pesada armadura a toda a sua volta e que tem os olhos tapados para não ter ainda mais medo do que já sente –, enquanto, do alto do cavalo, o “picador” espeta uma longa lança – a vara –, com um ferro muito comprido e afiado na extremidade, no dorso do touro. Quanto mais o touro faz força para se soltar e tentar defender, mais o ferro comprido o perfura, rasgando-o e provocando-lhe um ferimento de gravidade extrema. Os defensores das touradas defendem que as “sortes de varas” servem para avaliar a bravura dos touros, mas isso é uma falsidade – na verdade, as “sortes de varas” servem para enfraquecer e provocar um sofrimento imenso aos touros.
Largadas de Touros
Em várias localidades do Ribatejo é frequente serem organizadas “largadas de touros”. Nestas, vários touros são soltos pelas ruas destas localidades, sendo perseguidos por multidões que vão provocando os animais, que se encontram aterrorizados. É comum os touros escorregarem e ficarem com fracturas graves, nomeadamente nos cornos, quando marram contra superfícies para responder às pessoas que os provocam e molestam. É comum haver feridos e até mortos entre os participantes nestes eventos miseráveis. Frequentemente, as largadas de touros culminam em touradas.
“Capeias Raianas”
No distrito da Guarda, em alguns concelhos junto à fronteira com Espanha, são organizadas “capeias raianas” nas ruas destas localidades. Nestes eventos, grupos de indivíduos protegidos por uma espécie de cerca enorme de madeira mantêm, deste modo, a distância de um touro que se encontra solto, e que tenta marrar contra as extremidades desta cerca. Esta é mais uma das absurdas, e também cruéis, manifestações tauromáquicas existentes em Portugal.
“Chegas de Bois”
Em Trás-os-Montes, sobretudo junto à fronteira com Espanha, há um outro tipo de manifestação de cariz tauromáquico, embora diferente: as chegas de bois. Os criadores de bois trazem os seus bois maiores e mais fortes e levam-nos a confrontarem-se entre si, lutando violentamente, ficando os animais com fracturas nos cornos e com ferimentos graves, nomeadamente nos olhos, resultado das fortes investidas e dos cornos enormes e pontiagudos destes animais.
“Touradas de Morte”
Em alguns concelhos do interior alentejano, junto à fronteira com Espanha, as “touradas de morte” são comuns, apesar de ilegais (salvo em Barrancos, onde são vergonhosamente permitidas por lei). Nestas touradas, toureiros a pé espetam as bandarilhas nos animais, vez após vez, provocando-lhes um sofrimento extremo, após o que os matam, espetando-lhes uma espada comprida que deverá atravessar o seu corpo. Muitos toureiros repetem este acto – o acto de “estoquear” o touro – até 9 vezes, até acertarem. Enquanto isto, o touro sofre horrivelmente, caindo no chão, mergulhado numa poça do seu sangue. É depois morto com uma facada, sendo-lhe antes cortadas as orelhas, o rabo e as patas com o animal ainda vivo e consciente. Estas partes do seu corpo são os troféus dos toureiros e a carne destes animais é depois comida pelo público que assistiu à sua tortura.~
Fonte:
1. ANIMAL
2. International Movement Against BullfightsPerguntas e Respostas
Abaixo encontra as questões e objecções mais frequentes que se colocam acerca desta campanha e da exigência do fim das touradas. As perguntas que antecipámos e que abaixo apresentamos, assim como as respostas que apresentamos abaixo, serão certamente muito úteis para levar o público a melhor compreender por que razão exigir o fim das touradas faz tanto sentido – e por que razão, particularmente, faz tanto sentido fazer campanha para criar Cidades Anti-Touradas e mesmo uma Região Anti-Touradas em Portugal, como é objectivo desta campanha da ANIMAL.
Se as touradas são uma tradição e se fazem parte da cultura portuguesa, devem ser preservadas, certo?
Errado – e é preciso expicar bem esta questão. Em primeiro lugar, não se questiona que as touradas são uma tradição – o que se afirma é que são uma tradição cruel e primitiva que não pode ser aceite de modo algum por tudo aquilo que envolve. Em segundo lugar, se por um lado se admite que as touradas de algum modo fazem parte da cultura portuguesa, por outro lado tem que se deixar claro que estão muito longe de serem um elemento importante da cultura portuguesa e que estão ainda mais longe de serem actos culturais representativos da riquíssima cultura de Portugal. Em qualquer caso, o facto de uma dada prática (como as touradas) constituir uma tradição e ser um elemento cultural (quer seja mais ou menos importante) não faz, necessariamente, com que essa prática seja imediatamente aceitável.
O princípio moral segundo o qual nos devemos abster de provocar sofrimento e/ou morte a um animal (humano ou não-humano) é, obviamente, mais forte do que um eventual interesse cultural em manter uma tradição que contrarie este princípio. É o que acontece com as touradas. Assim, as touradas devem ser proibidas por serem actos de violência absolutamente inaceitável contra animais, apesar de poderem ser consideradas uma tradição e até um elemento cultural.
Mas que princípios morais são esses? Quem os define? Os meus princípios morais podem ser diferentes dos vossos!
Está praticamente convencionado que há um conjunto de princípios morais universalmente válidos e aceites como tal. Um destes é o princípio moral segundo o qual devemos abster-nos de provocar sofrimento e/ou morte a outro animal (humano ou não-humano), a não ser quando o acto de infligir sofrimento seja cometido em legítima defesa ou para beneficiar o destinatário desse acto (por exemplo, para tratarmos um animal, humano ou não-humano, que esteja ferido poderemos, durante o tratamento, ter que lhe causar alguma dor, que, nesse caso, é justificada). Quem quiser defender que este princípio não é universalmente válido e aplicável terá que enfrentar as implicações disso, na medida em que, se defender que este princípio é relativo aos indivíduos ou a uma sociedade, estará a defender, consequentemente, que a tortura é aceitável ou condenável dependendo das crenças subjectivas de cada indivíduo ou de uma dada comunidade. A ser assim, não poderia ser universalmente convencionado que a violação dos direitos humanos é intolerável – pois, se certos indivíduos ou certas comunidades aceitassem a tortura, a perseguição e o genocídio, e se se aceitasse que existe liberdade moral para isso, não se poderia condenar, a partir de Portugal, as perseguições e actos genocidas no Darfur, Sudão, por exemplo.
Mas os humanos são mais importantes que os touros e os outros animais, pelo que não se aplicam os mesmos princípios!
Em primeiro lugar, os humanos também são animais – simplesmente, são animais da espécie humana. De um modo geral, os outros animais – entre os quais os touros – têm as mesmas características essenciais que os humanos têm e que fazem com que estes sejam seres importantes e respeitáveis. Todos os animais que têm um sistema nervoso central, ou uma estrutura neurofisiológica semelhante, são seres sencientes (para saber mais sobre a senciência, clique aqui), ou seja, são seres que possuem a capacidade elementar de experienciar o sofrimento (e o prazer) físico e psicológico/emocional e que têm uma consciência que faz com que se sintam mal enquanto sujeitos que experienciam o sofrimento ou o prazer que sentem. Mas são seres ainda mais complexos do que isso: têm capacidade para terem desejos e planos, têm vidas sociais e afectivas complexas e têm uma personalidade própria de acordo com a qual vivem as suas vidas, que importam decisivamente para eles. Isto faz com que aquilo que lhes acontece seja importe para eles e faz com que tenham interesses elementares, aos quais devem corresponder correlativos direitos, nomeadamente: (1) o de estarem livres da tortura, física ou psicológica/emocional, (2) o de não serem mantidos prisioneiros e (3) o de não serem mortos. Os mesmos princípios morais fundamentais que se aplicam aos humanos que têm estas características devem, consistentemente, aplicar-se aos outros animais que têm as mesmas características.
O facto da tauromaquia ser uma arte não justificará a sua existência, apesar das críticas? É normal haver quem goste e quem não goste de diferentes formas de arte, mas isso não quer dizer que umas estejam certas e outras erradas.
Como já dissemos anteriormente, não se pode justificar um acto violento e injusto, como é o caso da tourada, com um facto moralmente irrelevante, como seja a ideia de que a tourada será uma arte. Pode-se também questionar que a tourada seja de facto uma arte – é estranho que se aceite que um acto que consiste simplesmente em espetar ferros compridos, com arpões no fim, nos dorsos de touros, por exemplo, seja uma arte. De qualquer modo, mesmo que se aceite que este acto pobre e indecente é uma arte, isso quererá dizer que é uma arte pobre e indecente, que é moralmente repugnante. Não é apenas uma questão de gosto e, como já dissemos acima, não é uma questão relativa. Quando direitos fundamentais de animais (humanos ou não-humanos) estão a ser postos em causa num acto de tortura absolutamente gratuita, nada importa que haja quem goste disso (se houver, é porque quem gosta disso é sádico e terá um gosto patológico pela tortura de outros), ou que isso seja uma arte, uma tradição ou um elemento cultural. É o caso da tourada e é o caso, por exemplo, da mutilação genital feminina – este último acto faz parte do código de comportamento social e tradicional de alguns povos africanos, mas é extremamente cruel e danoso para a saúde de quem é vítima deste. E, mais uma vez, o facto de ser uma tradição, de ser prezado por alguns e de ser visto como importante por quem defende ou comete este acto, não justifica o acto em si, que deve ser absolutamente condenado e proibido.
E o aspecto económico? Não é verdade que as touradas são economicamente importantes para Portugal? E, assim sendo, não deverão ser preservadas por isso?
Não, as touradas são economicamente importantes apenas para quem explora e violenta os touros e cavalos – ou seja, os toureiros, os ganadeiros e os empresários e promotores tauromáquicos. Ainda assim, mesmo que as touradas fossem economicamente importantes para Portugal (estando muito longe de o ser, sendo, além disso, um negócio em declínio), isso, mais uma vez, não serviria de justificação para que fossem mantidas. Em alguns países asiáticos há muitas famílias que forçam as suas filhas a prostituir-se desde muito novas, para alimentarem uma indústria de turismo sexual muito procurada e lucrativa. Estas crianças e jovens são violentadas e a sua liberdade é simplesmente desconsiderada em nome do benefício económico daí retirado para as suas famílias e, em grande medida, para as economias locais, que se alimentam consideravelmente das pessoas que se deslocam propositadamente a estas partes do mundo para poderem pagar para terem sexo com estas crianças e jovens. Esta é uma realidade abjecta que só merece condenação, sem hesitações, e não se pode, em circunstância alguma, tentar justificar esta indústria repugnante com o dinheiro que gera. O mesmo acontece com as touradas.
Mas as touradas são o espectáculo que mais público tem em Portugal!
De acordo com quem? Primeiro, é preciso provar isso – os defensores das touradas passam o tempo a fazer esta afirmação sem alguma vez se darem ao trabalho de a provar. Em segundo lugar, mesmo que isso fosse verdade (e tudo indica que não é), isso só significaria que, infelizmente, um público desinformado e com gosto pela crueldade pagaria para assistir à tortura de animais. No entanto, de que modo é que esse facto, a ser real, justificaria a violência tremenda de que os touros e cavalos são vítimas nestes espectáculos vergonhosos? É simples: não justifica nem justificaria.
Mas os touros foram especificamente criados para as touradas e esta espécie extinguir-se-á se as touradas acabarem.
A espécie de touro habitualmente utilizada nas touradas foi seleccionada geneticamente para que os seus indivíduos fossem torturados em touradas. É um facto. Mas isso não significa que estes indivíduos não sofram – na verdade, sofrem muito nestes espectáculos de sangue. Significa, ao invés disso, que o primeiro erro foi acreditar que é legítimo manipular geneticamente um animal em função de um espectáculo indecente no qual se quer violentar esse animal. Além disso, quando as touradas acabarem, é perfeitamente possível criar um santuário para manter em segurança os touros que forem salvos e que já não serão vítimas de crueldade extrema nestes espectáculos. Isso permitirá impedir que essa espécie se extinga. No entanto, se esta espécie se extinguisse (por exemplo, se todos os touros que fossem salvos morressem de velhice depois de uma vida feliz e se não se reproduzissem de modo a que a espécie se mantivesse), isso não teria qualquer impacto ecológico negativo, exactamente porque esta espécie antes não existia enquanto tal – como os próprios defensores das touradas passam o tempo a lembrar sobre a selecção genética da qual resultou.
Os touros não sofrem, por isso não há razão nenhuma para se querer pôr fim às touradas.
Claro que os touros sofrem – como acima referimos, os touros, como todos os outros animais, têm todas as características neurofisiológicas que fazem com que tenham a capacidade de sofrer. Além disso, basta olhar para um touro a ser torturado na tourada e todos os sinais evidentes de sofrimento estão lá: o cansaço extremo, a confusão e o pânico, a expressão de sofrimento, as lesões físicas, a carne e os músculos dilacerados, as perdas de litros de sangue, nomeadamente pela boca, entre outros sinais. Basta olhar para testemunhar este sofrimento horrível.
Sim, talvez sofram um pouco, mas os touros são animais de combate – precisam de ser lidados nas touradas para serem felizes.
É interessante que os defensores dos animais afirmem isto em defesa das touradas – os defensores das lutas de cães defendem exactamente o mesmo em relação aos cães que forçam a participar em lutas tremendamente cruéis, de onde saem já sem vida. Se todos nos opomos, sem hesitações, às lutas de cães, que são proibidas pela lei portuguesa, temos, consequentemente, que opor-nos também, sem hesitações, às touradas e exigir que sejam também proibidas.
Gostar de touradas é uma questão de liberdade – tem que haver liberdade para se gostar de touradas, para se promover estes espectáculos e para se assistir a eles, e, ao mesmo tempo, tem que haver liberdade para que quem não goste de touradas não assista a estes espectáculos.
Mais uma vez, é importante clarificar que não se pode ter a liberdade de apreciar a tortura de que outros seres são vítimas – desde logo, porque a liberdade que estes outros seres têm de estarem livres da tortura deve ser primeiramente respeitada. Isso não acontece nas touradas, obviamente.
Não estarão a tentar impor a vossa vontade aos outros só porque pensam que vocês é que estão certos?
Como também já defendemos acima, não estamos a discutir vontades pessoais nem princípios morais subjectivos; estamos, isso sim, a defender que uma das implicações elementares do princípio moral universal de que é errado cometer um acto de tortura, sobretudo se ele for cometido com fins lúdicos ou comerciais (como é o caso das touradas), é condenar as touradas de forma absoluta e exigir o seu fim imediato, total e definitivo. Esta é a atitude certa, não porque somos nós a defendê-la, mas porque está de acordo com esse princípio moral com o qual todos necessariamente concordamos.
Não é falta de patriotismo apelar a um boicote ao turismo em certas zonas de Portugal como fazem nesta vossa campanha?
Falta de patriotismo é continuar a permitir que Portugal, um país bonito que é um destinos de férias tão apreciado por tantos europeus e por tantos turistas estrangeiros de outros continentes, continue a ser um país onde os animais são tratados de forma rotineiramente cruel e em que a sua miséria seja institucionalmente cultivada. Todos os portugueses têm o dever moral de se envolver na protecção dos animais e na concretização de medidas que aumentem a protecção destes, e que todas as autoridades públicas portuguesas têm o dever de tomar medidas urgentes para fazer com que Portugal deixe de ser um inferno para os animais. Isso passa, necessariamente, por proibir as touradas, entre outros actos cruéis cometidos contra animais. Ao exigirmos a proibição das touradas, estaremos a ser efectivamente um povo patriota que quer que o seu país tenha uma imagem moderna e civilizada – e uma realidade que de facto lhe corresponda, em que os animais sejam respeitados e protegidos. Ao proibirem as touradas, as autoridades públicas portuguesas estarão, na verdade, a defender os interesses de Portugal e da economia portuguesa e a imagem de um país que, presentemente, é considerado incivilizado e subdesenvolvido na maneira como lida com os animais e os problemas que drasticamente os afectam aqui.
2006-11-22 13:21:08
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answer #4
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answered by Anonymous
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