Os Celtas eram um povo (ou grupo de povos) da família linguística indo-européia que se espalhou pela maior parte da Europa a partir do II milênio a.C., tendo maioria populacional no norte da Europa ocidental até o advento do Império Romano. As tribos célticas ocuparam a maior parte do continente europeu, desde a Península Ibérica até a Anatólia. A maior parte dos celtas foi conquistada, subjugada, e mais tarde integrada pelos Romanos.
Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os Bretões, os Gauleses, os Escotos, os Eburões, os Batavos, os Belgas, os Gálatas, os Trinovantes, entre outros. Muitos destes grupos deram origem aos nomes das províncias romanas na Europa que mais tarde batizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos da Europa.
Os celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro (Idade do Ferro) na Europa (culturas de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das estepes asiáticas). Do ponto de vista da independência política, grupos celtas perpetuaram-se até pelo menos o século XVII na Irlanda, o país em que melhor se preservaram as tradições de origem celta. Outras regiões européias que também se identificam com a cultura celta são o País de Gales (uma entidade subnacional do Reino Unido). A Cornualha (Reino Unido), a Bretanha (França), o norte de Portugal e a Galiza também são regiões onde resquícios das línguas e costumes celtas são encontrados até hoje.
A influência cultural celta jamais desapareceu, e tem até mesmo experimentado um ciclo de expansão em sua antiga zona de influência
Demografia
As origens dos celtas são ainda hoje motivo de controvérsia. Alguns autores classificam-nos como arianos ou caucasianos, mas além de englobarem grupos distintos, parecem ser a resultante da fusão sucessiva de culturas e etnias que se verificou a partir do II milênio a.C.. Em Portugal e na Espanha, por exemplo, fundiram-se aos iberos, originando os celtiberos.
Todavia, estudos genéticos realizados em 2004 pelo Dr. Daniel Bradley, do Trinity College de Dublin, evidenciaram algo que já se suspeitava (que os laços genéticos entre os habitantes de áreas célticas como Gales, Escócia, Irlanda, Bretanha e Cornualha são muito fortes) e trouxeram uma novidade desconcertante: a de que, dentre todos os demais povos da Europa, os traços genéticos mais próximos destes eram encontrados na Península Ibérica.
Numa entrevista para a agência Reuters, Bradley explicou que ele e sua equipe propunham uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do Atlântico: pelo menos 6000 anos atrás, ou até antes disso. Os grupos migratórios teriam saído de áreas em torno do que são hoje Espanha e Portugal em fins da Idade do Gelo.
[editar] História
Distribuição dos Celtas na Europa. A área verde sugere a possível extensão da área (proto-)céltica por volta de 1000 a.C.. A área laranja indica a região de nascimento da cultura La Tène e a área vermelha indica a possível região sob influência céltica por volta de 400 a.C..Vestígios associados a cultura celta remontam a pelo menos 800 a.C., no sul da Alemanha e no oeste dos Alpes. Todavia, é muito provável que o grupo étnico celta já estivesse presente na Europa Central centenas ou milhares de anos antes desse período.
Durante a primeira fase da Idade do Ferro céltica (do século VIII ao século V a.C.), as sepulturas encontradas pelos arqueólogos indicam o surgimento de uma nova aristocracia e de uma crescente estratificação social. A partir do século VI a.C., quando grupos do norte da Europa e da região oeste dos Alpes entram em contato comercial com as colônias gregas fundadas no Mediterrâneo Ocidental, as diferenças sociais aprofundam-se. O intercâmbio com os gregos (que chamavam os celtas indistintamente de keltoi) é evidenciado pelas finas peças de cerâmica grega encontradas nos túmulos. É igualmente provável que os gregos tenham adotado o costume de armazenar o vinho em vasos de cerâmica após seus contatos com os celtas.
Os objetos inumados das sepulturas comprovam que o comércio dos celtas estendia-se a regiões ainda mais afastadas, tendo sido encontradas peças de bronze de origem etrusca e mesmo tecidos de seda, seguramente oriundos da China.
A partir do século V a.C., verifica-se um deslocamento dos centros urbanos celtas (até então localizados ao longo dos rios Ródano, Saona e Danúbio), evento associado a segunda fase da Idade do Ferro européia e ao desenvolvimento artístico da cultura La Tène. As sepulturas deste período apresentam armas e carros de combate, embora sejam menos ricas do que as do período pacífico anterior. Isto, provavelmente, deve ser um reflexo de sua fase de maior expansão, quando invadem o sul da Europa após 400 a.C..
Em 390 a.C. os celtas invadem o norte da Itália (Gália Cisalpina) e saqueiam Roma. Por volta de 272 a.C., também pilham Delfos na Grécia. As hostes celtas conquistam territórios na Ásia Menor, nos Balcãs e no norte da Itália, onde o contingente mais numeroso era o dos gauleses.
A partir do século II a.C., os celtas começam a perder espaço para os povos de língua germânica, e os romanos pouco a pouco os vão dominando a partir de 192 a.C. (quando anexam a Gália Cisalpina). No século I a.C., Júlio César conquista a Gália e no século I d.C. o imperador Cláudio domina a Bretanha. Somente a Irlanda e o norte da Escócia (onde viviam os escotos) permaneceram fora da zona de influência do Império Romano.
Encanto de Boadicéia, jóia em estilo celta
[editar] Linguagem e cultura
As línguas célticas derivam de dois ramos indo-europeus do grupo denominado centum: o celta-Q (goidélico), mais antigo, do qual derivam o irlandês, o gaélico da Escócia e o dialeto da Ilha de Man, e o celta-P (galo-britânico), falado pelos gauleses e pelos habitantes da Bretanha, cujos descendentes modernos são o galês (do País de Gales) e o bretão (na França).
Uma vez que os povos celtas não possuíam escrita e difundiam o conhecimento apenas por via oral e não escrita, as informações que temos sobre eles foram obtidas principalmente através do testemunho dos romanos durante as invasões à Bretanha. Isto não nos permite traçar um quadro mais completo e imparcial do que foi a realidade quotidiana desses povos.
As manifestações artísticas célticas possuem marcante originalidade, embora denotem influências asiáticas e das civilizações do Mediterrâneo (grega, etrusca e romana). Há uma nítida tendência abstrata na decoração de peças, com figuras em espiral, volutas e desenhos geométricos. Entre os objetos inumados, destacam-se peças ricamente adornadas em bronze, prata e ouro, com incisões, relevos e motivos entalhados. A influência da arte celta pode ser percebida até mesmo nas iluminuras medievais irlandesas.
O Gaulês Agonizante, uma das imagens mais clássicas sobre os celtas
[editar] Organização social
A unidade básica de sua organização social era o clã, composto por famílias aparentadas que partilhavam coletivamente suas terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do gado. Com base em estudos efetuados na Irlanda, determinou-se que sua organização política era dividida em três classes: o rei, os nobres e os homens livres. Os servos, artesãos, refugiados e escravos não possuíam direitos políticos. A esta estrutura secular, agregavam-se os sacerdotes (druidas), bardos e ovados, todos com grande influência sobre a sociedade.
[editar] Religião
►Ver artigo principal: Druida.
A religião celta era politeísta com características animistas, sendo seus ritos quase sempre realizados ao ar livre. Discute-se ainda hoje se algumas de suas cerimônias envolviam sacrifícios humanos. O calendário anual possuía várias festas místicas, como o Imbolc e o Belthane, assim como Equinócios e Solstícios.
Com a assimilação por Roma, os deuses celtas perderam suas características originais e passaram a ser identificados com seus correspondentes e similares romanos. Posteriormente, com a ascensão do Cristianismo, a Velha Religião foi sendo gradualmente abandonada, sem nunca ter sido totalmente extinta.
Atualmente existem movimentos de resgate cultural e adaptação aos novos tempos que buscam as origens de suas crenças no paganismo antigo, sendo alguns de seus principais representantes a wicca e os neo-druidas, que embora contenham alguns elementos celtas não são célticos nem representam a cultura do povo celta.
A wicca tem sua origem na obra de ocultistas do século XX, como Gerald Brousseau Gardner e Alesteir Crowley. Já o neo-druidismo não tem uma fonte única, sendo uma tentativa de reconstruir o druidismo da Antigüidade, tendo sua estruturação sido iniciada em sociedades secretas da Grã-Bretanha a partir do século XVIII.
[editar] Mitologia
►Ver artigo principal: Mitologia Celta.
São riquíssimas as narrativas mitológicas célticas, principalmente aquelas transmitidas oralmente em forma de poema, como "O Roubo de Gado em Cooley". Nesta, o herói irlandês Cú Chulainn enfrenta as forças da rainha Maeve para defender o seu condado. Outros legados dos celtas são as histórias do ciclo do Rei Artur da Inglaterra e contos de fadas, como por exemplo, Chapeuzinho Vermelho
_______________________________________________________Druidas (e druidesas) eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino, jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta. Embora não haja consenso entre os estudiosos sobre a origem etimológica da palavra, druida parece provir de oak (carvalho) e wid (raiz indo-européia que significa saber). Assim, druida significaria aquele(a) que tem o conhecimento do carvalho. O carvalho, nesta acepção, por ser uma das mais antigas e destacadas árvores de uma floresta, representa simbolicamente todas as demais. Ou seja, quem tem o conhecimento do carvalho possui o saber de todas as árvores.
Druidismo
A visão tradicional mostra os druidas como sacerdotes, mas isso na verdade não é comprovado pelos textos clássicos, que os apresentam na qualidade de filósofos (embora presidissem cerimônias religiosas, o que pode soar conflitante). Se levarmos em conta que o druidismo era uma religião natural, da terra baseada no animismo, e não uma religião revelada (como o Islamismo ou o Cristianismo), os druidas assumem então o papel de diretores espirituais do ritual, conduzindo a realização dos ritos, e não de mediadores entre Deus e o homem.
Ao contrário da idéia corrente no mundo pós-Iluminismo sobre a linearidade da vida (nascemos, envelhecemos e morremos), no druidismo, como entre outras culturas da Antigüidade, a vida é um círculo ou uma espiral. O druidismo procurava buscar o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte espiritual presente na Natureza, e dessa forma reconhecia oito períodos ao longo do ano sendo quatro solares (masculinos) e quatro lunares (femininos), marcados por cerimônias religiosas especiais.
A sabedoria druídica era composta de um vasto número de versos aprendidos de cor e conta-se que eram necessários cerca de 20 anos para que se completasse o ciclo de estudos dos aspirantes a druidas. Pode ter havido um centro de ensino druídico na ilha de Anglesey (Ynis Mon, em galês), mas nada se sabe sobre o que era ensinado ali. De sua literatura oral (cânticos sagrados, fórmulas mágicas e encantamentos) nada restou, sequer em tradução. Mesmo as lendas consideradas druídicas chegaram até nós através do prisma da interpretação cristã, o que torna difícil determinar o sentido original das mesmas.
As tradições que ainda existem do que poderiam ter sido suas práticas religiosas foram conservadas no meio rural e incluem a observância do Halloween, rituais de colheita, plantas e animais que trazem boa ou má sorte e coisas do gênero. Todavia, mesmo tais tradições podem ter sido influenciadas pela cultura de povos vizinhos.
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Fontes clássicas
A principal fonte clássica sobre os druidas é Júlio César, em sua obra De Bello Gallico (A Guerra da Gália). Todavia, os comentários de César sobre os druidas mal enchem uma página e dão margem a inúmeras dúvidas, infelizmente não sanadas por outros autores clássicos (que escreveram ainda menos sobre o tema). César fala sobre a organização e as funções da classe dos druidas (presidência dos ritos, pedagogos e juizes), a eleição do druida-mor, a reunião anual (conclave) na floresta de Carnutos, a isenção do serviço militar e a aprendizagem de longos poemas. Afirma também que os druidas se interessavam em aprender astronomia e assuntos da natureza, e se recusavam terminantemente em colocar seus ensinamentos por escrito.
Outros autores clássicos, como Plínio e Cícero, também se referem ao interesse dos druidas pelo estudo dos astros e pela prática da adivinhação. Tácito e Suetônio confirmam o interesse, mas nos apresentam os druidas como bárbaros cruéis e supersticiosos. Analisando o contexto histórico, T.D. Kendrick em sua obra The Druids, afirma que até a época do início do Império Romano, os druidas gozavam de ótima reputação; a partir daí, sua credibilidade desceu ladeira abaixo. Peter Berresford Ellis, em El Espíritu del mundo celta, afirma que tal desprestígio se deveu muito mais a necessidade de justificativas para a conquista e dominação dos celtas do que por demérito dos druidas.
Certo mesmo é que a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores romanos tentaram extinguí-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de 50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter a cidadania romana. Em seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas atividades e finalmente Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal. Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como uma classe social e religiosa de extrema importância e respeitabilidade.
Finalmente, embora muitos autores clássicos como Hipólito de Roma apresentem os druidas como "filósofos", colocando-os no mesmo nível dos pitagóricos (teriam sido ensinados por um servo de Pitágoras, Zaniolxis) e com elevados conhecimentos de astronomia, não existem provas concretas (ou mesmo vestigiais) de tal saber. Até onde se sabe, o conhecimento que os druidas tinham dos astros e seus ciclos não ultrapassava o de povos similares em seu estágio de desenvolvimento. Mesmo que eles fossem herdeiros diretos da cultura megalítica que construiu Stonehenge, isso significaria apenas um conhecimento mais elaborado dos ciclos lunares e solares e não a sofisticação da astronomia praticada pelos babilônios e egípcios. A comparação com os pitagóricos não implica necessariamente qualquer interesse concreto pela matemática, mas apenas pelo estudo das "ciências ocultas" (que era como os contemporâneos e posteriores aos pitagóricos encaravam as atividades dos mesmos).
Quanto a suposta crença dos druidas na metempsicose (ou transmigração das almas), ela não encontra respaldo nos ritos funerários celtas: eles faziam o corpo (ou as cinzas) ser acompanhado de armas e utensílios que lhe seriam úteis na vida pós-morte. Ou seja, quem crê que vá precisar de seus bens no outro mundo, certamente não espera reencarnar neste.
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Veja também
2006-11-23 04:32:58
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answer #1
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answered by Anonymous
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