Aos 50, Rosemiro entra em campo novamente
Por Matheus Pichonelli, especial para a GE.Net
A brincadeira já estava irritando. Do gramado, mais precisamente na ala direita do ataque palmeirense, era impossível escutar a voz de Osmar Santos, metros acima, em alguma cabine de transmissão do Parque Antártica. Mas era pegar na bola e ensaiar um arranque e Rosemiro parecia escutar, nitidamente, a voz do narrador esportivo gritando por ele ao microfone. “Lá vai o namoradinho da Raquel Welch”. Era o que dizia Osmar Santos, referindo-se à atriz norte-americana que fez sucesso nas telas de cinema de Holywood na década de 1960, quando ganhou status de símbolo sexual.
A referência, obviamente, era uma provocação. Afinal, do técnico ao roupeiro do Parque Antártica, todos sabiam que os atributos estéticos do lateral-direito do Palmeiras não eram as suas maiores virtudes. Rosemiro jamais gostou da brincadeira.
Hoje, aos 50 anos, impossível saber se Rosemiro é daqueles que não envelhecem com o tempo ou se ele já nascera envelhecido nos tempos em que jogava descalço nos gramados de terra batida de Belém. O rosto é o mesmo. As idéias, porém, mudaram. Dos tempos de atleta, só saudades. E não são poucas. Tanto que a vontade de voltar à ativa já deixou o campo das idéias para ganhar forma. Formou-se assim, juntamente com os também ex-jogadores Pedro Rocha, Pita, Zenon, entre outros. Agora, é só juntar a tropa, arrumar uma bola e um campo para jogar. O nome do esquadrão: Seleção Master Stars.
“Depois de quatro meses de sondagens e especulações, conseguimos juntar vários ex-jogadores e convencê-los a voltar a jogar”, conta ex-lateral, prestes a fazer sua reestréia, em gramados do Brasil Central. “Já agendamos amistosos em Goiás e Mato Grosso do Sul”.
A intenção, conta Rosemiro, além de matar a fome de bola que os ex-atletas já acumulavam, é prestar solidariedade àqueles que não conseguiram fazer fortuna no esporte e hoje vivem com dificuldades. “Sabemos de várias situações como essa, mas é complicado citar nomes. Queremos arrecadar fundos e ajudar essas pessoas”, diz.
Vida como técnico – Para fugir à regra, ao invés de seguir rumo no futebol como treinador, Rosemiro prefere voltar aos gramados, numa tentativa de valorizar o futebol master num país em que esta cultura ainda é uma novidade. Mesmo assim, vontade de dirigir uma equipe nunca lhe faltou.
“O problema é que para isso (ser treinador), é preciso uma estrutura, um apoio do clube. Como aconteceu com o Zetti no Paulista. Já tive chance de treinar uma equipe de Santa Catarina, mas quando vi as condições de trabalho que eles me colocariam, não aceitei. Se o time não dá uma boa alimentação para o atleta, como é que o técnico vai ter autoridade para exigir dele alguma coisa em campo?”, questiona.
“Para um treinador, autoridade é tudo. Olha só o Oswaldo de Oliveira, quando perdeu a autoridade no Corinthians, caiu. Técnico mesmo era o Oswaldo Brandão, que virava para a gente, com um cachimbo numa mão e um copo de uísque na outra e falava: ‘seus fdp, quero que ceis joguem amanhã e ganhem o jogo. Ceis já tão cansados de saber o que tem que fazer. Vou embora, não tem treino hoje’. A gente ia a campo e ganhava”, relembra.
Herdeiros – “Acho o Baiano previsível demais”, diz o ex-lateral-direito do Palmeiras, tão logo é perguntado sobre como vem sendo tratada a camisa 2 alviverde nas costas de seus herdeiros. “Ele sempre olha reto e corre. É fácil marcar. Nunca vi o Baiano correr pelo meio, receber na ponta, confundir a marcação”, critica.
Sobre os destaques na posição, Rosemiro mostra-se preocupado. “Não teremos o Cafu para sempre e até agora não apareceu um herdeiro. Mas, mesmo assim, se ele parar de jogar bola hoje e voltar daqui a dez anos, ainda vai ter um lugar para ele na seleção”, profetiza.
Nome: Rosemiro Correia de Souza
Data e local de Nascimento: 22 de fevereiro de 1954, em Belém (PA)
Clubes em que atuou: Remo (1972 a 1975), Palmeiras (1975 a 1980), Vasco da
Gama (1980 a 1983), Bangu (1984 a 1986), Colorado (1986 a 1987), Noroeste
(1987), Chapecoense (1988), Marcílio Dias (1988) e Noroeste, novamente
(1989)
Títulos: tetracampeão paraense pelo Remo (1972/73/74 e 75), paulista pelo
Palmeiras (1976), carioca pelo Vasco da Gama (1981) e catarinense pelo
Marcílio Dias (1988).
2006-11-20 22:45:16
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answer #1
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