O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá-amarelo (Passiflora edulis), porém apresenta baixas produtividades devido à carência de polinizadores naturais, como as abelhas mamangavas (Xylocopa spp.), nas áreas cultivadas. O presente trabalho investigou o uso, em cultivos de maracujá, de um modelo de ninho racional para mamangavas sugerido por FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001). Os resultados mostraram que a presença dos ninhos racionais povoados na área estudada propiciaram aumentos da ordem de 505% na frequência das mamangavas às flores de maracujá e 92,3% no vingamento inicial de frutos. Portanto, pode-se concluir que o uso das caixas racionais testadas é eficiente em aumentar a população dessas abelhas na área agrícola e que o seu uso pode contribuir para elevar os índices de polinização e produtividade do maracujá-amarelo.
Palavras-chave: mamangava, criatório racional, polinização, maracujá.
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ABSTRACT
Brazil is the largest producer of passionfruit (Passiflora edulis) in the world, but holds low fruit productivity due to the lack of natural pollinators such as carpenter bees (Xylocopa spp.) in cultivated areas. The present work investigated the use in passionfruit plantations of a model of rational nesting box for carpenter bees suggested by FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001). Results showed that the introduction of inhabited nesting boxes in the studied area raised in 505% the frequency of carpenter bees to passionfruit flowers and in 92.3% initial fruit setting. Therefore, it is concluded that the use of this model of rational nesting boxes is efficient to increase carpenter bee population in an agricultural area and can contribute to increase levels of pollination and productivity in passionfruit plantations.
Key words: carpenter bee, rational rearing, pollination, passionfruit.
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INTRODUÇÃO
As mamangavas (Xylocopa spp.) podem polinizar uma variedade de culturas agrícolas (CAMILLO, 1979; FREE, 1993; SIHAG, 1993; SOUSA, 1994; FREITAS et al., 1999; ALVES, 2000; FREITAS & OLIVEIRA FILHO, 2001). Entre elas, o maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims. f. flavicarpa Deg.) destaca-se tanto por sua importância econômica para o País, como por depender diretamente da polinização cruzada para obtenção de frutos, tendo essas abelhas como o único polinizador eficiente de suas flores (RUGGIERO, 1973; 1980; 2000; MANICA, 1981; SOUSA, 1994).
O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de maracujá-amarelo com aproximadamente 33 mil hectares plantados e produtividade média de 9.035kg.ha-1 (CANÇADO JÚNIOR et al., 2000; RUGGIERO, 2000). Porém, segundo RUGGIERO (2000) e AGRIANUAL (1998), a cultura do maracujá apresenta potencial produtivo no Brasil de 40.000 a 45.000kg.ha-1, se conduzida com irrigação e uso correto da polinização.
Uma série de fatores tem levado à redução no número de mamangavas nos maracujazais, com conseqüentes perdas de produtividade da cultura. A diminuição da cobertura vegetal próxima às áreas cultivadas, falta de locais adequados para nidificação, ausência de espécies silvestres nos plantios que funcionem como fonte de alimento e o uso de defensivos agrícolas vêm contribuindo para reduzir as populações dessas abelhas nos plantios comerciais para assegurar os níveis de polinização adequados (RUGGIERO, 1973; SAZIMA & SAZIMA, 1989; CAMILLO, 2000; FREITAS & OLIVEIRA FILHO, 2001). Como conseqüência, para tornar a cultura economicamente viável, a polinização manual vem sendo empregada em todo o país, aumentando consideravelmente os custos de produção (GRISI JÚNIOR, 1973; CEREDA, 1980; MANICA, 1981).
A introdução de mamangavas em áreas de maracujá dispensa a polinização manual e produz índices de polinização adequados, conforme demonstrado por CAMILLO (1996a,b). No entanto, a falta de ninhos racionais que permitam o manejo adequado das abelhas tem inviabilizado o criatório de mamangavas em escala comercial para a introdução em áreas agrícolas. FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001) propuseram um modelo de caixa racional com ninhos móveis para mamangavas, e OLIVEIRA FILHO & FREITAS (2003) testaram a colonização e biologia reprodutiva dessas abelhas no modelo proposto, verificando que ele apresenta boa aceitação por X. frontalis, e não afeta a biologia reprodutiva dessa espécie de abelha. No presente trabalho, é testada a eficiência do uso dessas caixas racionais na polinização do maracujá-amarelo.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida na fazenda Sítio Estreito, município de São Luís do Curú - CE, situado 90km ao Noroeste de Fortaleza, utilizando o modelo de caixa contendo ninhos racionais para mamangavas descrito em FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001). Dados relativos à freqüência de pastejo das mamangavas nas flores, requerimentos de polinização do maracujazeiro e o efeito da introdução de ninhos racionais com mamangavas nos maracujazais foram avaliados nesse estudo.
Freqüência de pastejo das mamangavas
A freqüência diária de mamangavas às flores de maracujá, em uma área de 1ha, foi observada durante sete dias antes e sete dias depois da introdução de sete ninhos povoados em cinco caixas, com o objetivo de determinar a abundância natural dessas abelhas na área e o incremento da população após a introdução das caixas racionais povoadas. Isso foi feito percorrendo-se diariamente todas as fileiras do cultivo quando se anotava o número de mamangavas visitando as flores ou sobrevoando o pomar nos intervalos de 11:00 - 12:00h, 12:00 - 13:00h, 13:00 - 14:00h, 14:00 - 15:00h, 15:00 - 16:00h.
Requerimentos de polinização do maracujá
Para verificar os requerimentos de polinização do maracujazeiro, conduziu-se um experimento com os seguintes tratamentos:
T1 = Polinização livre - Cem flores de maracujá, escolhidas aleatoriamente antes de sua abertura, foram marcadas e após sete dias, contou-se e anotou-se o número dos frutos vingados. Esses dados possibilitaram determinar o nível de polinização ocorrendo naturalmente no pomar;
T2 = Polinização restrita - Neste tratamento, cem botões florais foram cobertos por sacos confeccionados com filó (malha 2mm X 2mm). Ao abrirem, no dia seguinte, essas flores foram privadas da visita de agentes polinizadores pelos sacos de filó. Após sete dias, anotou-se o vingamento dos frutos;
T3 = Visita única sem remoção do pólen da flor - quarenta e um botões florais foram etiquetados e ensacados no dia anterior à antese. No dia seguinte, para cada flor, retirou-se o saco uma hora depois da flor estar aberta, quando os estigmas já haviam se curvado para a posição favorável à polinização e aguardou-se a visita da primeira mamangava. Após uma visita à flor, esta foi novamente ensacada. Cada flor foi acompanhada individualmente. Após sete dias, contou-se e anotou-se o número de frutos vingados;
T4 = Visita única com remoção do pólen da flor - quarenta botões florais foram ensacados, porém imediatamente após a antese o pólen das anteras foi removido por meio de hastes plásticas com pontas de algodão umedecidas, sendo o saco recolocado. Em seguida, procedeu-se como no tratamento anterior.
Efeito da introdução de ninhos racionais com mamangavas
O efeito da introdução de ninhos racionais povoados com mamangavas em áreas cultivadas com maracujá foi verificado comparando os resultados obtidos com aqueles da polinização livre antes da introdução das caixas na área, testando-se:
T1 = Polinização livre (antes da introdução das caixas) - cem flores de maracujá escolhidas aleatoriamente antes de sua abertura, foram marcadas. Após sete dias, contou-se e anotou-se o número de frutos;
T2 = Polinização com a introdução de colméias racionais para mamangavas - sete dias após a introdução de sete ninhos de mamangavas na área de cultivo de maracujá, marcaram-se cem flores da cultura, escolhidas aleatoriamente antes de sua abertura. Após sete dias, contou-se e anotou-se o número de flores que vingaram.
Tratamento estatístico
Os dados relativos à freqüência de pastejo das mamangavas foram analisados por testes de Análise de Variância para cada um dos cinco horários estudados, e as médias comparadas a posteriori pelo teste de Tukey-B. Os dados referentes ao efeito da introdução de ninhos racionais com mamangavas nos pomares foram analisados por meio do teste não paramétrico de Kruskal-Wallis devido ao seu caráter binomial (vingou fruto = 1 x não vingou = 0), que não atende às pressuposições da ANOVA. As diferenças entre médias foram calculadas usando-se, também, testes não paramétricos de comparação múltipla. Já os dados sobre requerimentos de polinização do maracujazeiro foram testados por meio do teste de Mann-Whitney.
RESULTADO
Freqüência de pastejo das mamangavas
As observações feitas sobre a freqüência de pastejo das mamangavas, tanto antes quanto depois da introdução das caixas racionais no pomar de maracujá, mostram que o início das atividades de visitação às flores de maracujá por parte das mamangavas, ocorre por volta de 11h, momento em que é observada a abertura dos primeiros botões florais, prolongando-se até as 16h
O estudo dos requerimentos de polinização do maracujazeiro mostrou que o número de frutos vingados sete dias após a marcação das flores diferiram significativamente (c2 = 23,895; gl = 3; P<0,05) entre os tratamentos. Uma única visita da mamangava em flores cujo pólen não havia sido removido, resultou em um maior número de frutos e diferiu significativamente (P<0,05) dos demais tratamentos Seguiram-se então, por ordem decrescente do número de frutos vingados, os tratamentos de uma visita da mamangava às flores cujo pólen havia sido totalmente removido, polinização livre e polinização restrita, todos diferindo entre si.
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2006-11-19 22:45:45
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answer #1
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