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2006-11-17 00:28:54 · 4 respostas · perguntado por eli S 1 em Educação e Referência Nível Superior

4 respostas

http://www.culturabrasil.pro.br/durkheim.htmRESUMO
http://evunix.uevora.pt/~eje/introducao%20_a_sociologia.htm

1. A sociologia é o estudo dos fenômenos sociais, da interação e da organização social.

2. A sociologia é importante para cada dia de nossas vidas, pois fornece instrumentos para entender as forças externas que regulam nossos pensamentos, percepções e ações.

3. A sociologia surgiu sob as condições de mudança associadas com: a) o declínio do feudalismo e o aparecimento do comércio, da indústria e da urbanização; b) o movimento intelectual conhecido como Iluminismo, no qual a ciência e o pensamento laico sobre os mundos físico, biológico e social poderiam prosperar; e c) o choque traumático e a mudança social brusca decorrentes da Revolução Francesa.

4. O nome sociologia foi proposto pelo pensador francês, Auguste Comte, que acreditaxia que a ciência da sociedade poderia competir com as ciências naturais. Comte também sentia que o descobrimento das leis da organização social humana poderia ser usado para reconstruir a sociedade de uma forma mais humana.

3. I-ierbert Spencer na Inglaterra similarmente argumentava que as leis da organização humana poderiam ser desenvolvidas. Essas leis iriam concentrar-se no crescimento e na complexidade da sociedade, visto que essas causas criavam pressões para: a) o aumento da interdependência e troca entre as pessoas e organização de uma sociedade:

e b) o aumento do uso do poder para regular, controlar e coordenar as atividades desses membros e unidades organizacionais. Spencer fundou uma teoria sociológica conhecida como funcionalismo, em que a função de uma estrutura social na manutenção da sociedade era enfatizada.

6. Ëmile Durkheim adotou as idéias de Spencer, mas deu continuidade à tradição francesa de enfatizar a importância das idéias culturais para a integração da sociedade. Como Spencer, ele era um funcionalista e acreditava que as leis da organização humana poderiam ser descobertas, mas acrescentou à teoria de Spencer a importância de se descobrir as causas e funções dos símbolos que buscam integrar a sociedadc.

7. Karl Marx, um alemão que foi expulso de sua terra natal e que acabou se estabelecendo na Inglaterra, enfatizou a natureza contraditória da sociedade, inspirando uma teoria conhecida como a teoria do conflito ou sociologia do conflito. Na opinião de Marx, as desigualdades na distribuição de meios de produção armam o palco para a transformação da sociedade, pois as pessoas sem os meios de produção se organizam para entrar em conflito com aquelas que controlani a produção, que detêm o poder, e que manipulam os símbolos culturais para legitimar seus privilégios. Ao contrário de Comte, Spencer e Durkheim, Marx não acreditava no desenvolvimento de leis gerais para a organização humana.

8. Max Weber, outro importante fundador alemão da sociologia, engajou-se num diálogo vitalício mas silencioso com Marx, enfatizando que a desigualdade é multidirnensional e não exclusivamente baseada na economia, que o conflito é contingente em condições históricas e não é o resultado inevitável e inexorável da desigualdade, e que a mudança poderia ser causada pelas “idéias” assim como a base material e econômica de uma sociedade. Ele também realçou que a sociologia deve olhar tanto para a estrutura da sociedade como um todo para os significados que os indivíduos conferem para essas estruturas. Como Marx, ele duvidava de que houvesse leis gerais da organização humana, mas, ao contrário de Marx, ele sentia que é necessário que sejam isentas de juízos de valor, ou objetivas, na descrição e análise dos fenômenos sociais.

9. A sociologia norte-americana antiga adotava as idéias européias para problemas específicos associados com a urbanização e a industrialização, mas de fato iniciou duas importantes tendências: a) o uso ampliado das técnicas estatísticas, quantitativas; e b) a proposta teórica conhecida como Interacionismo, em que a ênfase é dada aos processos que sustentam e transformam a sociedade, através de interações face a face.

1(1. A sociologia é agora uma área ampla e diversa que analisa todas as facetas da cultura, da estrutura social, do comportamento e interação e da mudança social.



No mundo contemporâneo, a ciência tornou-se o modo predominante para se entender o universo. A ciência não é a ónica forma para isso, pois a religião, o senso comum, a literatura, a poesia, as ideologias, a filosofia e a intuição pessoal são também usadas para compreender o mundo. Assim, a ciência tem concorrentes; e essa competição é mais intensa em algumas áreas do que em outras. Alguns não-cientistas questionam as alegações dos físicos sobre como o universo físico funciona; o mesmo é verdade para os químicos, bioquímicos e biólogos. Entretanto, ainda que ocultamente, as crenças religiosas quanto ao “creacionismo” freqüentemente se posicionam num patamar de hostilidade em relação à concepção evolucionista darviniana da espécie. Na área social, entretanto, a ciência dificilmente reina. (lis homens e suas criações -- sociedade e cultura não são freqüentemente vistos como acessiveis ao estudo científico. E há mais de 150 anos, desde a proposta de Auguste Comte (l830-1848), de que a sociologia poderia ser uma ciência natural, que os próprios sociólogos permanecem divididos nessa questão: a sociologia pode, ou deve, ser tomada como ciência? Só porque Karl Marx e Max Weber questionavam as possibilidades da sociologia científica é, que muitos sociólogos contemporâneos (Halfpenny, 1982; Denzin,1970) também o fazem. Todavia, por ora, vamos assumir que essa controvérsia sobre o status científico da sociologia não exista, e examinar como a sociologia científica procede.





A NATUREZA DA CIÊNCIA



O objetivo da ciência é possibilitar-nos entender e acumular conhecimento sobre o universo. O veículo para tais entendimentos é a teoria, que procura nos contar por que os fenômenos existem e como eles funcionam (J. Turner, 1991). As teorias científicas têm algumas características especiais que as separam de outros tipos de explicações como as religiosas, as de dogma político e as opiniões pessoais (J. Turner, 1985a).

Uma característica distinta das teorias científicas é sua abstração. Elas são determinadas em termos muito genéricos porque o objetivo é explicar os fenômenos,em todas as épocas e lugares. Por exemplo, a fórmula famosa de Albert Einstein, E = mc2, não diz qualquer coisa sobre a emissão específica de energia (E), ou o corpo da matéria (m), ou a velocidade da luz (c) num momento específico no tempo; o que diz é que a energia, a matéria e a velocidade da luz são fundamentalmente relacionadas em todos os tempos, em todos os lugares e em todas manifestações de energia. Em resumo, essa equação revolucionária e abstrata porque nasce além das particularidades e estados que é verdade em todos os tempos e lugares em nosso universo. As teorias sociológicas também podem ter essa qualidade. Por exemplo, como observei no último capítulo, Herbert Spencer (1874-1896) propôs que com o crescimento populacional os membros de uma sociedade se tornam mais diferenciados, levando a fragmentações e especialização de grupos que são integrados por interdependências e concentrações de poder. Esta teoria é também abstrata porque não se retere ã uma população específica num ponto determinado do tempo, mas a boas as populações em todos os tempos e lugares.

Uma segunda característica única das teorias científicas é que elas são sujeitas a provas. lá foi inclusive dito que as teorias científicas existem para serem refutadas (Popper, 1959, 1969), posto que o objetivo da ciência seja submeter suas teorias a tantas provas quantas forem necessárias para se ter a segurança de que a teoria não é facilmente refutada, e e, portanto, plausível. Pois se uma teoria permanece intacta após repetidas confrontações de dados empíricos, então é considerada por ora como a melhor explicação da “maneira” que as coisas são. Quando as teorias resistem à prova de tempo — isto é, esforços repetidos de contestação —, então se tornam provisoriamente aceitas como verdade, como a “maneira” que as coisas realmente são (Popper, 1969).

Esse é o modo de funcionamento de toda ciência. Não é um processo eficiente, mas éum meio de mantermos nossas teorias presas a fatos reais. Nós defendemos ceticamente as teorias e constantemente as verificamos contra os fatos. Compare essa proposta a formas alternativas para a compreensão do mundo. Em interpretações religiosas, os poderes dos deuses e as forças sobrenaturais são tidos como controladores do fluxo de acontecimentos, e há uma suposição de que as coisas deveriam ocorrer; e, se essa visão não corresponde àmaneira real pela qual os acontecimentos se desdobram, as crenças no poder dos deuses ou a verdade das suposições não são contestadas, como seriam no caso de uma teoria científica. Melhor, uma nova interpretação é oferecida para sustentar as crenças. Similarmente, os preconceitos pessoais são freqüentemente mantidos quando os fatos os contradizem; de fato, nós nos apegamos aos nossos preconceitos e percepções porque eles nos confortam e porque estamos acostumados a eles. As ideologias políticas têm essa mesma qualidade; as pessoas apóiam-se em suas crenças políticas até mesmo quando os programas defendidos em nome dessas crenças fracassam. Em contrapartida, as teorias científicas são finalmente refutadas ou transformadas quando elas não correspondem aos fatos empíricos.

As teorias não são casualmente testadas, embora freqüentemente comecemos apenas com a intuição de que os dados correspondem à teoria. Eventualmente a teoria deve ser avaliada de um modo sistemático, em termos de alguns procedimentos genéricos, geralmente denominados de método científico. A idéia geral por trás dos métodos da ciência é desenvolver procedimentos imparciais para coletar dados e então especificar claramente o percurso escolhido. Dessa forma, outros dados podem surgir e verificar que fomos honestos e não cometemos quaisquer erros bobos ou impusemos preconceitos. Sem dados nos quais possamos acreditar, ou ter confiança, não sabemos se temos registros precisos dos acontecimentos nem sabemos se os dados realmente se sustentam na teoria que estamos testando.





QUADRO 2.1 O Que Torna a Ciência Única?



1. A ciência não busca avaliar o que deveria, 5. A ciência usa métodos de coleta de dados ou não deveria, existir ou ocorrer. que podem ser contestados por outros

para certificar-se de que os dados usados

2. A ciência busca apenas compreender para testar as teorias não são parciais.

por que os fenômenos existem e como

eles funcionam, sem julgamentos de

6. A ciência acumula conhecimento

valor, quando as teorias encontram sustentação

consistente em testes empíricos e quando
3. A ciência gera determinada compreen- aquelas que não recebem tal sustentação
são que desenvolve teorias abstratas e são refutadas ou modificadas.
isentas de juízos de valo; as quais expli­-
cam o como e o porquê dos fenômenos.

4. A ciência então sujeita essas teorias à

verificação empírica, refutando-as ou

modificando-as se os fatos não corres­pondem a elas.







Assim, a ciência encontra a sociologia à medida que nós usamos teorias para explicar o mundo social e, ao mesmo tempo, verificamos essas teorias com fatos reais. Como as teorias são desenvolvidas e testadas, acumula-se conhecimento e sabemos mais sobre o mundo social que nos cerca.





AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS



Seria bom nesse momento apresentar as grandes realizações da teoria sociológica para explicar o comportamento humano, a interação e a organização. Mas atualmente há pouco consenso sobre quais teorias são as melhores, e tampouco existe entre os pesquisadores a iniciativa de testar cada uma de nossas muitas teorias e ver qual parece melhor. De fato, a sociologia revela uma tendência infeliz, para os teóricos, de criar teorias que não são muito acessíveis aos testes e, para os pesquisadores, de coletar e analisar os dados sem prestar muita atençao a teoria (Turner e Tumer, 1990). Assim, é triste mas verdadeiro que os teóricos e pesquisadores tendem a seguir caminhos isolados. O lado cético das teorias evidencia para a sociologia uma série de propostas teóricas, interessantes apesar de muitas vezes nao verificadas empiricamente, para interpretar os fatos no mundo social (Ritzer, 1975, 1988; J. Turner, 1991). Deixe-me esboçar amplamente algumas das mais importantes dessas propostas, deixando para capítulos posteriores as teorias específicas que foram desenvolvidas dentro dessas amplas perspectivas. Nós já encontramos algumas dessas perspectivas quando discutimos a emergência da sociologia no capítulo anterior. Aqui seremos mais explícitos nos elementos fundamentais dessas amplas propostas (1. Turner, 1991).







Teorização Funcional



A teoria funcionalista foi criada por l-lerbert Spencer e retomada por Êmile Durkheim no século XX. Durante certo período dos anos 50, esse tipo de teoria dominou a sociologia; agora, representa apenas uma das diversas propostas. Todas as teorias funcionalistas examinam o universo social como um sistema de partes interligadas (Turner e Maryanski, 1979). As partes são então analisadas em termos de suas conseqüências, ou funções para o sistema maior. Por exemplo, a família seria vista como uma instituição social básica, que ajuda a manter a sociedade maior, regulamentando o sexo e unindo os adultos, e socializando os jovens para que eles possam se tornar membros competentes de uma sociedade. Alem disso, pode-se examinar qualquer estrutura — isto é, sua atual faculdade ou universidade em termos funcionalistas basta fazer uma única pergunta: como algum aspecto de sua escola

— conjunto de estudantes, grêmios e~ (issociações, diretório acadêmico, classe, corpo docente, administradores etc. — contribui para o funcionamento do sistema global?

A maioria das teorias funcionalistas postula “necessidades ou “requisitos” do sistema. Quando isso é feito, uma parte é examinada com respeito a como se preenche uma necessidade ou requisito do todo. Por exemplo, muitos sistemas sociais têm necessidades de tomar decisões, coordenar pessoas e alocar recursos; portanto, se issO constituísse um requisito básico, alguém perguntaria: que partes do sistema preenchem essas necessidades relacionadas? E então nós explica ríamos como uma parte específica—por exemplo, o governO, se o nosso sistema central é uma sociedade— funciona para preencher essa necessidade básica.

Há muitos problemas com teorias funcionalistas. Um dos mais importantes é que elas freqüentemente vêem as sociedades como demasiadamente bem integradas e organizadas (Dahrendorf, 1958, 1959). Assim, se toda parte do sistema tem uma função ou preenche uma necessidade, as sociedades pareceriam ser máquinas de movimento suave e bem lubrificadas. Todos nós sabemos, é claro, que isso não é verdade, pois o conflito e outros processos “disfuncionais” também existem. Contudo, teorias funcionalistas ainda têm um atrativo porque elas nos levam a ver o universo social, ou qualquer parte dele, como um todo sistêmico cujos elementos constitutivos funcionam em conjunto; ou seja, o funcionamento de cada elemento tem conseqüências sobre o funcionamento do todo.





Teorias do conflito



Karl Marx e Max Weber foram as origens intelectuais de teorias sobre o conflito, embora outros sociólogos antigos também vissem o mundo social segundo suas contradições. Ao contrário das teorias funcionalistas, que enfatizam a contribuição das partes para um todo maior, as teorias do conflito vêem os todos sociais cheios de tensão e os contradições (Collins, 1975). Embora haja muitas teorias distintas sobre o conflito, todos partilham um ponto em comum: a desigualdade é a força que move o conflito; e o conflito é a dinâmica central das relações humanas. De fato, seria difícil não notar as tensões e os conflitos que emanam da desigualdade. Por exemplo, em sua aula de sociologia há uma contradição inerente entre voce e seu professor sobre um elemento básico: sua nota. O professor controla a nota, e isso significa que ele tem poder sobre você. Você está, então, numa situação de grande desigualdade, e a tensão está apenas sob a superfície. Se não consegue a nota que você queria, você pode ficar contrariado, e, se você pudesse, faria algo para reverter a situação. A mesma força básica funciona em todas as relações sociais entre atores distintos, como indivíduos, grupos étnicos, escritórios e pessoal num escritório, classe social, ou nações.

Ao olharmos ao redor de nossa própria sociedade, vemos os efeitos da desigualdade que a contradição produz em todo lugar Os trabalhadores e gerentes nas empresas freqüentemente estão inquietos; as pessoas pobres agridem as pessoas ricas; as mulheres se ressentem dos salários mais altos e poder que os homens têm na sociedade; as minorias étnicas se ressentem com o status de “segunda classe” que lhes é dado; e assim vai. Todas essas fontes de contradição que se manifestam em formas distintas de conflito—crime violento, desordens, protestos, manifestaçoes, greves e movimentos sociais — originam-se da distribuição desigual de recursos valorizados pelas sociedades, como dinheiro, poder, prestígio, moradia, saúde e empregos. O conflito é, portanto, uma contingência básica da vida social; ele é potencialmente sentido em todo lugar, desde as relações interpessoais entre homens e mulheres, passando pela exigência de interações entre diferentes etnias, até os ressentimentos contra o poder dos pais, professores e empregadores.





Teorias íuteraccionistas



Ë bom falar sobre “partes”, “todos”, “funções”, “desigualdades” e “conflitos”, mas o que dizer das pessoas reais que devem se encarar e lidar umas com as outras? As teorias interacionistas tentam responder a essa questão, como veremos em detalhe no Capítulo 5 quando retornamos ao trabalho de George Herbert Mead (1934, 1938) e todos aqueles que foram seus discípulos. Por ora, deixe-me esboçar a posição básica das teorias interacionistas.

Os homens interagem emitindo símbolos — palavras, expressões faciais, corporais, ou qualquer sinal que “signifique” algo para os outros e para mesmos (Goffman, 1959, 1961, 1967; J. Turner, 1988). Através de gestos simbólicos, demonstramos nosso estado de espírito, intenções e sentido da ação; e contrariamente, pela leitura dos gestos dos outros, obtemos um sentido do que eles pensam e como eles se comportarão. Nós podemos até mesmo fazer isso quando outras pessoas não estão fisicamente presentes — por exemplo, quando você pensa em pedir mais dinheiro de um pai, reclamar de uma nota dada por um professor ou encantar alguém por quem esteja interessado. Aqui há uma troca de gestos em sua mente visto que você mentalmente interage com essa pessoa. Assim, a vida social está mediada por símbolos e gestos; e usamos esses gestos para nos entendermos uns com os outros, para criarmos imagens de nós mesmos e das situações e construirmos uma idéia de situações futuras ou desejadas.

Para os interacionistas, então, a explicação da realidade social deve emanar da investigação meticulosa do micromundo dos indivíduos que mutuamente interpretam os gestos, que constroem as imagens de si próprios e definem as situações segundo certos princípios (Blumer, 1969; Stryker, 1980). As macro ou grandes estruturas da sociedade — o Estado, a economia, a estratificação e similares — são construídos e sustentados por microinterações (Collins, 1981, 1986); e para os interacionistas seria impossível entender o mundo social sem investigar esses encontros no micronível. Pense nos seus gestos e nos das pessoas que estão ao seu redor numa sala de aula, por exemplo. Ao caminhar em direção à sua cadeira, como se desvia de seus colegas, como seus colegas se comportam — antes ou durante as aulas — e, também, os meios pelos quais os professores tentam se fazer entender Portanto, uma sala de aula “estruturada” está repleta de gestos, interpretação e reinterpretação, e situações definidas na perspectiva interacionista; você não é uma “abelha operária” que obrigatoriamente segue o roteiro de conduta de uma sala de aula (embora isso seja certamente relevante), porque você está constantemente emitindo sinais e interpretando a fim de transformar e, às vezes, criar novos roteiros para a interação. Dessa forma, o interacionismo é contrário às tendências que tomam a “estrutura” e a “cultura” como exteriores aos atores sociais, tratando-os como robôs.







Teorias Utilitaristas



Esse conjunto final de teorias fornece hipóteses para a compreensão dos homens da moderna economia, que, por sua vez, adotavam as idéias centrais dos filósofos escoceses, tais como Adam Smith (1776) durante a Era da Razão (Camic, 1979). Aos olhos dos teóricos utilitaristas, os homens são racionais até o ponto em que eles têm objetivos e finalidades; eles calculam os custos de várias alternativas para atingir esses objetivos e escolher a alternativa que maximize seus benefícios (ou o que os economistas chamam de “utilidade”) e minimizar seus custos. Dessa forma, nós somos seres que tentam tirar algum proveito de uma situação, ao reduzirmos nossos custos (Ilechter, 1987; Coleman, 1991). Por exemplo, você pode calcular quanto trabalho você está disposto a dispender (seu “custo”) a fim de receber determinada nota (seu “benefício”) neste curso ou, se eu posso ser idealista por um momento, conhecimentos que você pode usar durante toda a sua vida (a longo prazo, um benefício muito mais compensador). Assim, todas as situações envolvem uma “troca” de recursos: você abre mão de alguns recursos (seu custo) a fim de receber algo que você percebe ser mais valioso (sua utilidade).

Assim, para os teóricos do utilitarismo, todas as relações sociais são, em última análise, trocas entre atores que incluem custos a fim de obter benefícios uns dos outros, ou seja, que calculam a relação custo-benefício. Seu professor incorre num custo (energia e tempo para preparar as aulas, conversar com os alunos, correção de provas etc.) a fim de receber um salário (da universidade) e, talvez, sua lealdade e admiração. Da mesma forma, você vai as aulas, lê, pensa e se submete às pmvas (seus custos) para receber notas, conhecimento, e talvez uma mesada de alguém como seus pais (seus benefícios ou utilidades). Nós não fazemos os cálculos conscientemente, na maioria das vezes eles estão implícitos. Apenas quando não temos certeza do que fazer numa determinada situação é que tomamos consciência dos cálculos flexíveis de custo-benefício. Mas, finalmente, os utilitaristas argumentam que em instituições escolares você troca tempo, energia e dinheiro por notas, diplomas e conhecimento, que você calcula serem ainda mais valiosos do que vias alternatix’as para dispender seu tempo, energia e dinheiro.

Para os teóricos do utilitarismo, a interação, a sociedade e a cultura são finalmente criadas e sustentadas porque elas oferecem bons resultados para indivíduos racionais. Esses resultados raramente são monetários; em geral, eles são “posses” menos tangíveis —sentimentos pessoais, afeição, orgulho, estima, poder, controle e outras moedas “suaves” que estruturam a sociedade. Pode-se ver isso simplesmente observando uma situação em que você ficou zangado ou feriu seus sentimentos; em tal situação, uma recompensa (freqüentemente não monetária) não foi recebida proporcionalmente ao seu custo e investimento; esse fato indica que, sob a superfície de seus sentimentos, estão implícitos cálculos sobre custos e recompensas.





A Situação Atual da Teoria Sociológica



Há muitas variantes específicas dessas perspectivas teóricas. Encontraremos algumas delas à medida que avançarmos na questão da sociologia. Do ponto de vista da ciência, seria bom ter teorias mais centradas e precisas que tenham sido sistematicamente testadas e que agora organizariam essa introdução à sociologia. Mas isso não vem ao caso. Muitos sociólogos não acreditam que isso possa ou deveria ser o caso (Seidman e Wagner, 1992). Ao contrário, as teorias sociológicas atuais podem apenas nos ajudar a interpretar aspectos específicos do mundo social, e então para o presente nossas teorias não são como aquelas das “hard sciences” (Giddens, 1971, 1976, 1984).

A sociologia tem muitas partes de teoria, tipicamente inspiradas pelos fundadores, mas a maioria não foi sistematicamente testada e aceita como a melhor explicação do mundo social. Para alguns, os objetivos da ciência na sociologia são ilusórios, e o sonho de Comte de uma ciência da sociedade é apenas um sonho. Para muitos outros, a sociologia ainda não se tornou uma ciência madura, mas seu potencial está presente nas idéias teóricas que foram elaboradas através destas quatro perspectivas: funcionalista, de conflito, interacionista e utilitarista. Além disso, há muitas teorias “menores” ligadas a essas quatro e outras propostas mais genéricas, que nos ajudam a entender muitos processos sociais, como veremos.

A sociologia, como as demais ciências, passa hoje por uma crise provocada pelas transformações que estão atingindo o contexto social da vida humana. E uma realidade de mudanças confusas e, às vezes, incontroláveis, que provocam a alteração do papel social da mulher, modificam as relações de trabalho, fortalecem o sistema capitalista e aumentam a flexibilidade no gerenciamento. A globalização une os espaços e varre as distâncias, modificando o papel do Estado-Nação e o comportamento das classes sociais. Essa nova ordem social exige o repensar das categorias sociológicas. Diz lanni (1997:14): “Diante das metamorfoses do objeto da sociologia, a teoria logo se vê desafiada, posta em causa no que se refere a conceitos e interpretações. Não se trata apenas de acomodar e reformular conceitos e interpretações. Trata-se de repensar alguns fundamentos da própria reflexao sociológica. Há metamorfoses do objeto da sociologia que desafiam as categorias de tempo e espaço, micro e macro, holismo e individualismo, sincronia e diacronia, continuidade e descontinuidade, ruptura e transformações. Nesse contexto, algumas categorias básicas da reflexão sociológica abalam-se, parecem declinar ou emergem, desafiando a imaginação”. Para Ianni, talvez um dos maiores expoentes da Sociologia brasileira, a crise dos paradigmas provocada pela metamorfose das relações sociais força um repensar das análises e categorias sociológicas.





MÉTODOS NA SOCIOLOGIA



Na ciência, os dados no mundo real precisam ser sistemática e cuidadosamente coletados para que os procedimentos possam ser confirmados por alguém. F’ois, se nós simplesmente descrevemos alguns dados sem dizer aos outros conto e por quc esses dados foram coletados, ninguém pode nos checar para ver se os nossos “fatos” são realmente verdadeiros. Assim, na ciencia uma proposta de procedimento comum — o n11’tl)llo cít’uttWco — direciona a pesquisa, ou a coleta e análise de informações sobre o mundo.

O método científico é freqüentemente percebido quando há etapas ou passos, mas não deveríamos nos deixar influenciar demais passando a ver a ciência como uma marcha para a Verdade e o conhecimento. Melhor, a prática da ciência, ou a pesquisa, científica depende simplesmente da conformidade a algumas regras (Babbie, 1992).

O primeiro passo é a formulação de problemas, a problemática da pesquisa, ou o que se está tentando descobrir Isso pode soar óbvio, mas é fundamental porque é preciso delimitar o foco da pesquisa. Caso contrário, andaremos em círculo durante a coleta de dados. Na ciência, as problemáticas de pesquisa são freqüentemente ditadas por uma teoria e um desejo de ver se a teoria é aceitável. Na sociologia bem como nas cienctas mais avançadas, as razões de uma pesquisa vão além da simples verificação de teorias. Uma razão para começar uma pesquisa é simplesmente a curiosidade sobre algum aspecto do mundo. Outra é o desejo de um cliente — uma agência governamental, uma corporação, uma instituição de caridade — de obter informações sobre determinado tema. Ainda outra é que uma pesquisa de caráter exploratório revela lacunas em nosso conhecimento, ou estimula novas questões. Assim, enquanto a visão idealizada da ciência veria toda a pesquisa como guiada pela teoria, a realidade é bem diferente. Há muitas outras razões para se desenvolver uma pesquisa, e o método científico pode ser facilmente adaptado a elas.

Um outro tópico importante no desenvolvimento da pesquisa é a questão do que o pesquisador espera encontrar E sempre conveniente formular uma hipótese, a qual pode ser criada a partir de uma teoria, mas não obrigatoriamente sobre os resultados esperados. Dessa forma, os pesquisadores têm um critério ou padrão com o qual confrontar suas descobertas. Sem uma hipótese para orientar a coleta e análise de dados, ou pelo menos uma vaga idéia sobre o que é provável de ser encontrado, fica mais difícil centralizar esforços; de fato, reuniríamos informações desnecessárias, ou até mesmo irrelevantes em relação à problemática da pesquisa.

Finalmente, depois de expor um problema e suas expectativas em relação a ele, um plano de pesquisa é construído. Esse plano reúne o conjunto de procedimentos ou técnicas para a coleta de informações visto que se relaciona com a problemática de pesquisa e hipóteses de alguém. Há muitos tipos básicos de técnicas, mas todas elas tentam expor claramente como a informação deve ser coletada. A escolha de uma técnica depende de muitos fatores — a natureza da problemática, a verba disponível e as preferências do pesquisador. Na sociologia, há quatro tipos básicos de técnicas ou procedimentos empregados na pesquisa: (1) experimentos, (2) levantamentos, (3) observações; e (4) histórias. Cada um é brevemente resumido a seguir.





Experimentos



A idéia por trás de um experimento é testar o efeito de um fenômeno particular em algum aspecto do mundo social, tipicamente as respostas das pessoas aos estímulos ou situação específicos. O ingrediente-chave de um experimento é o controle das influências externas que contaminariam a avaliação dos pesquisadores dos efeitos dos estímulos centrais de uma situaçao. No clássico procedimento experimental, isso é conseguido com dois grupos:

(1)0 grupo experimental, o qual recebe o estímulo ou é exposto a uma situação de interesse; e (2) o grupo de controle, o qual não recebe o estímulo ou não é exposto à situação. As diferenças entre os dois grupos permitem que o investigador determine quanto o estímulo ou a situação afetou os indivíduos. Esse esquema clássico é raramente usado na sociologia, mas o objetivo de controlar as influências externas ainda orienta a pesquisa. Um procedimento experimental mais típico na sociologia isola os indivíduos do mundo externo, e então observa suas respostas a um estímulo ou a uma situação particular de interesse para os investigadores. Isolando temporariamente os indivíduos, algum controle sobre as influências externas éconseguido e torna-se possível registrar as respostas das pessoas a um estímulo ou situação. Por exemplo, digamos que queremos examinar os efeitos de colocar indivíduos numa situação de poder Nós isolaríamos um grupo de indivíduos num laboratório, planejaríamos uma tarefa para eles executarem, e criaríamos uma situação em que um indivíduo tivesse poder Observando e relatando as respostas, poderíamos examinar os efeitos de ter poder Assim éa natureza dos experimentos na sociologia.





Levantamento



A técnica de pesquisa mais usual na sociologia são os levantamentos, em que as pessoas são indagadas sobre um tema de interesse do pesquisador (Rossi et ai., 1985). Essas perguntas podem ser feitas por um entrevistador que se senta com o entrevistado ou, mais tipicamente, por um questionário que o entrevistado simplesmente preenche. A validade dessa técnica depende de alguns fatores. Primeiro, os entrevistados são a população inteira de interesse ou, mais habitualmente, uma amostra representativa desta população? Segundo, todos os entrevistados concordam em responder as perguntas? Terceiro, os entrevistados respondem precisamente às mesmas perguntas? Porém, na prática, esses três aspectos são geralmente difíceis de ser congregados. Pode ser impossível de perguntar a toda a população, ou ela pode ser de difícil acesso. Pode ser difícil de conseguir que todos respondam, porque estão ocupados, desinteressados, esquecidos, ou até mesmo adversos a intromissões em suas vidas. Pode ser que itens de um questionário sejam interpretados diferentemente pelos vários entrevistados, ou, em se tratando de entrevistas, os entrevistadores façam as perguntas num tqm diferente ou a “química” da interação entre o entrevistador e o entrevistado produza respostas diferentes. Se as amostras são suficientemente grandes, muitos desses problemas são eliminados, ou se neutralizam. Contudo, ao ser usada extensivamente, essa técnica revela outros prohlemas (Cicourel, 1964): ela revela apenas o que as pessoas dizem, não o que elas podem realmente pensar e fazer; estrutura as respostas dos entrevistados em vez de deixar que eles se comuniquem àsua maneira; fica facilmente sujeita a mentiras e deturpações; não examina facilmente os fenômenos que não podem ser confrontados com perguntas. Os sociólogos, entretanto, empreendem essa técnica, porque é rapidamente administrada e favorável à aplicação de estatística (Collins, 1984; Lieberson, 1985, 1992). Além disso, os sociólogos estão freqüentemente interessados no que as pessoas pensam, sentem e acreditam; e uma entrevista ou questionário é uma maneira relativamente fácil de conseguir conhecimentos, percepções, sentimentos e emoções superficialmente.





Observações



Às vezes o melhor é deixar os limites do laboratório experimental, desprezar o questionário, e sair entre as pessoas em situações da vida real e observar o que elas estão realmente fazendo. A técnica das observações faz exatamente isso (Whyte e Whyte, 1984; Whyte, 1989): ela coloca o pesquisador numa situação “natural”, na qual ele observa e toma nota do que vê. Nesse caso, nuanças, contexto, interações, histórias e relações entre os acontecimentos podem ser descobertos. Uma das técnicas de observação é a observação participante, em que o pesquisador realmente se torna um membro do grupo, organização ou comunidade que está sendo estudada. Como tal, o observador, além de estar mais intimamente envolvido, pode realmente perceber o mundo de uma maneira semelhante àquela que observa. Outro tipo de técnica de observação é a observação discreta, em que o pesquisador nao participa diretamente como um membro, limitando-se a observar o que está acontecendo. Esse tipo de procedimento perde um pouco da intimidade e percepção possíveis na observação participante, mas, em contrapartida, diminui a possibilidade de influências que pode causar a presença do pesquisador no desenrolar dos acontecimentos e, conseqüentemente, nos dados coletados para a pesquisa. Freqüentemente, a observação antecede os levantamentos, porque ela possibilita a formulação de questões que sejam compreensíveis para os entrevistados. A grande vantagem da técnica da observação é que se está investigando o mundo real, não as construções artificiais dos procedimentos experimentais, ou as perguntas de questionarios e entrevistas (Whyte, 1989). A grande desvantagem, entretanto, é que os pesquisadores podem ver coisas distintas segundo suas subjetividades. Além disso, estudos por observação dificultam a confirmação de que ocorre efetivamente o que o pesquisador diz que ocorre, porque o grupo pode se extinguir, ou porque diferentes pesquisadores observam ou estimulam respostas de formas diferentes.





Levantamento Histórico



As vezes queremos saber o que aconteceu no passado. Pode-se, é claro, perguntar às pessoas nas entrevistas sobre seu passado, mas geralmente queremos observar a longos alcances da história. É nesse ponto que a história e a sociologia convergem. Todos os fundadores da sociologia — Spencer, Marx e Weber, em particular — usaram a História para desenvolver ou ilustrar suas idéias; e em décadas recentes ressurgiu o interesse pelo levantamento historico para verificar e ilustrar teorias, ou para descrever o encadeamento dos acontecimentos nas sociedades passadas. A pesquisa histórica pode extrair seus dados da pesquisa prévia de historiadores que investigaram arquivos empoeirados, ou dos dados dos arqueólogos que “escavaram” o passado; e, em outras épocas, os sociólogos vão eles próprios aos registros ou ao sítio arqueológico. A diferença principal entre a história e a sociologia histórica é que, na maioria dos casos, a pesquisa sociológica está interessada em usar a historia para verificar ou ilustrar uma teoria mais genérica, ao passo que o historiador busca apenas descrever os fatos de uma época específica no passado. Embora isso seja uma distinção vaga, captura o sentido das diferenças entre a história e a sociologia. O grande problema em usar os registros históricos é que eles sempre estão incompletos e sujeitos a diferentes interpretações (as quais, é claro, garantem “empregos” aos historiadores); e, como conseqüência, a história raramente pode fornecer uma “prova” definitiva e conclusiva de uma idéia teoruca.

Uma vez que os dados são coletados por uma dessas técnicas de pesquisa, eles são submetidos à análise. O tipo de análise depende da técnica de pesquisa e da natureza dos dados, mas o objetivo é ser meticuloso, sistemático e imparcial. Da análise virão nossas conclusões sobre o que descobrimos; e, portanto, seria melhor estarmos atentos, pois outros nos tomarão como ponto de partida e, conseqüentemente, verificarão nossas conclusões.

E um passo final no método científico é avaliar a aceitabilidade da hipótese ou, se hipóteses não foram oferecidas, indicar o que os dados nos informam sobre os fenômenos estudados.



avaliar a aceitabilidade de:



‘Ir Teoria nova ou existente





\ Formular uma

Interesses

dos clientes ~ problemática —ø. de pesquisa

Conjunto de / dados tornecidos pela pesquisa







Figura 2.1 Elementos do método científico.



Esses passos podem parecer simples bom senso, mas sao muito mais: eles nos obrigam a ser sistemáticos, permanecer imparciais (ou pelo menos reduzir nossos preconceitos) e deixar outros saberem o que descobrimos e como descobrimos. Sem as diretrizes do método científico, não poderíamos acreditar nas descobertas um do outro e não saberíamos como x’erificá-las e reavaliá-las. Disso resultaria um conhecimento por “puro acaso” e geralmente inexato; e não acumularíamos conhecimentos válidos sobre o mundo.





A cIÊNcIA EXCLUI O HUMANISMO?



Meus colegas sociólogos geralmente proclamam que a sociologia é “uma forma de arte

A idéia genérica é que os sociólogos deveriam parar de aplicar questionários impessoais e, em vez disso, entrarem contato com os trabalhos reais das pessoas. Outrossim, deveríamos usar nossa intuição tanto quanto nosso intelecto para extrair informação sobre o mundo. O dever da sociologia de usar idéias conceituais genéricas é defendido, mas só quando essas idéias são influenciadas pela nossa participação ativa com pessoas em situações da vida real. Sabendo de antemão os interesses, dilemas, problemas e frustrações dos indivíduos na sociedade, podemos usar nosso conhecimento teórico para ajudá-los e tornar suas vidas melhores e mais satisfatórias. Os sociólogos que defendem essa opinião acreditam que sua missão é diagnosticar as fontes de tensão entre os indivíduos que prejudicam a organização social e então sugerir possíveis soluções.

Muitos sociólogos profissionais dedicaram-se primeiramente à sociologia por razões humanitárias. Eles sentiam que certas condições sociais estavam erradas — discriminação sexual e étnica, a riqueza confrontada com a miséria, infelicidade e alienação, e outros males sociais — e queriam minimizar esses males. Afinal, essa foi certamente a motivação de Karl Marx e muitos outros sociólogos. Eles queriam ajudar as pessoas e fazer um mundo melhor. Do técnico mais meticuloso ao teórico mais criativo e conceituado, encontramos motivações humanistas. E claro, esse fato significa que há sempre uma ideologia rondando

o pensamento de um sociólogo. Às vezes esta ideologia é explicitamente defendida, mas implícita ou explícita, a maioria dos sociólogos realmente defende opiniões sobre “o que está errado com a sociedade” e uma proposta genérica para “o que deveria ser feito a fim de resolver esses problemas”. E verdade que ao mesmo tempo que somos realistas reconhe­cemos que é impossível moldar a sociedade à nossa vontade e ardor. Além disso, reconhecemos as tendências de nosso pensamento, e tentamos evitá-las ao “fazer ciência”. De fato, algo geralmente acontece aos sociólogos durante o percurso acadêmico, especialmente quando estão a caminho de um doutoramento. De alguma forma, as motivações humanistas e o fervor ideológico recuam cedendo lugar às habilidades técnicas e ao profissionalismo acadêmico. Uma conseqüência disso é que os estudiosos que permanecem abertamente humanistas e partidários tendem a ver os experimentos, estatísticas, métodos científicos imparciais e teoria genérica como o “inimigo” número um dos seus conceitos mais práticos. Eles tendem a ver a teoria e os métodos como uma negação tanto das suas intuições nas situações estudadas quanto de seu desejo em ajudar as pessoas.

Esse abismo aparentemente intransponível entre a intuição, por um lado, e a pesquisa, por outro, é desnecessário. Nossas idéias, sentimentos e intuições são fontes maravilhosas de dados sociológicos. Embora geralmente enfatizemos os problemas metodológicos de tais dados — preconceitos e julgamentos pessoais, impossibilidade de verificação empírica, por exemplo—, deveríamos também reconhecer a grande vantagem que eles nos dão sobre os cientistas naturais. Visto que somos homens estudando homens e suas estruturas de organização social, podemos usar nossa intuição para obter informação. Nós geralmente temos profunda intimidade com a nossa matéria numa medida que um geólogo ou um tisico nunca pode ter. Em resumo, nossa intuição e nosso sentimento podem nos dar uma verdadeira percepção sobre o que está acontecendo. Contudo, não deveríamos ir fundo nessa questão, como muitos sociólogos fazem.

Nossa intuição pode estar errada, ou apenas parcialmente certa. E se propomos soluções baseadas em informações incorretas ou partidárias (isto é, naquilo que pensamos que dt’z’crio ocorrer), podemos, potencialmente, fazer mais mal do que bem. De fato, podemos machucar as pessoas e criar situações sociais ainda mais difíceis para aqueles que estamos tentando ajudar. Assim, precisamos qualificar o nosso entusiasmo pela intuição e pela informação, reunidas e interpretadas à luz de nossas experiências reais na esfera social. Nós não deveríamos desprezar essa vantagem intuitiva ou suprimi-la, tampouco deveríamos reprimir nossos interesses humanistas e desejos de ajudar as pessoas e fazer um mundo melhor Mas precisamos complementar isso. Essa complementação surge com o reconhecimento de que a ciência é o que pode mobilizar e canalizar a intuição e os preconceitos ideológicos com finalidades construtivas.

Se queremos exercitar nosso humanismo — e esse motivo é o que faz a maioria de nós se iniciarem sociologia—, precisamos ser hábeis ao reunirmos e interpretarmos informação sobre as situações que queremos mudar e sobre as pessoas que queremos ajudar. Nós também precisamos entender por que e conto as situações funcionam. E precisamos ser capazes de antecipar as conseqüências de quaisquer mudanças que iniciamos e coletar informação precisa dessas mudanças. Nós não podemos confiar na intuição e em nossas ideologias pessoais nessas questões. Nós precisamos de teoria que tenha contrariado esforços para contestá-la para nos dizer como e por que as coisas funcionam, e precisamos usar essa teoria determinando o que precisa ser feito para melhorar uma situação. Nós também precisaremos coletar informação precisa e analisá-la cuidadosamente para saber exatamente o que existe numa situação e exatamente quais são as conseqüências de nossas ações teoricamente concebidas.

Se não temos teoria, não temos estrutura para entender e interpretar o mundo social. Daí, não sabemos o que fizemos ou o que esperar. Se não temos métodos, não podemos ter confiança em nossas teorias, visto que elas não foram verificadas empiricamente, e não podemos saber exatamente o que precisa ser mudado numa dada situação. Nós podemos usar nossa familiaridade com uma situação e nossa intuição criativa para fazer valer teorias importantes e desenvolver formas sistemáticas de coletar informação. Mas nossa intuição não pode substituir a teoria, métodos meticulosamente construídos e análise detalhada. Por isso a ciência é uma importante ferramenta para aproximar as questões sociais e os problemas de interesse dos humanistas.





SOCIOLOGIA CIENTÍFICA E ENGENHARIA SOCIAL



Como mencionei no Capítulo 1, o fundador da sociologia, Auguste Comte, acreditava que uma ciência da sociedade pudesse servir para melhorar uma sociedade. Ele observou que, se a sociologia podia desenvolver e provar leis teóricas como aquelas nas ciências físicas e biológicas, seria possível alcançar um nível de entendimento sobre a organização humana que facilitaria a construção de novas formas sociais. Assim, Comte viu que a ciência e o humanismo não são opostos: uma vez que haja entendimento de como e por que o mundo social funciona, esse conhecimento pode ser usado para construir um mundo melhor. Em estilos inteiramente diferentes, Karl Marx e Émile Durkheim sentiam da mesma forma. Eles desejavam usar seus conhecimentos conceituais de como o mundo funciona para coustruir unta sociedade melhor.

Palavras como “construir” fazem pensar em engenharia social, em controle social, em um mundo orwelliano do “Big Brother”, em uma sociedade tecnocrata estúpida e sem vida. A engenharia é boa, muitos argumentariam, contanto que a utilizemos para construir pontes e estradas. Mas a engenharia livre do conhecimento teórico cria coisas como bombas nucleares e outros artifícios potencialmente prejudiciais. Esses “medos” da engenharia sao, é claro, bem fundamentados. Mas poderia ser argumentado que os usos nocivos da engenharia são o resultado da organização em formas societárias que os encorajam e sustentam. Se soubéssemos mais a respeito do universo social, seríamos mais bem capacitados para limitar o mau uso do conhecimento. Por outro lado, entretanto, usaríamos mal o conhecimento da organização social para criar coisas ainda mais monstruosas.

Essa questão é discutível. O desenvolvimento da teoria e do uso de métodos de pesquisa vai produzir mais conhecimento sobre o funcionamento do mundo social. Esse conhecimento — até mesmo em seu atual estado bruto — vai ser usado para a engenharia social (Hunt, 1985). Nós chamamos a engenharia social por outros nomes na sociologia —as vezes de prática sociológica, em outras ocasiões de sociologia clínica e de sociologia aplicada — visto que o título “engenharia social” tem conotações negativas. Mas deveríamos saber o que esses títulos mais positivos significam: são esforços para se construir certos tipos de relações sociais que usam idéias teóricas e descobertas de pesquisa. Como toda

engenharia, ela pode ser usada para fins bons e maus — devendo “bom~~ e “mau”, é claro, ser definidos. Assim, não deveríamos ver a sociologia científica como uma atividade misteriosa e secreta, pois na realidade está sendo usada para mudar nossas vidas diárias; e é provável que seja usada ainda mais no futuro.





RESUMO



1. A ciência é o esforço sistemático para compreen~er o universo, partindo de idéias teóricas que receberam sólido apoio com pesquisas meticulosamente desenvolvidas.

2. A teoria é, definitivamente, o veículo para se entender o universo, e revela duas características distintas: (a) abstração e generalidade; e (b) experimentação/empirismo. Acumula-se conhecimento quando as teorias abstratas são verificadas e confirmadas.

3. A teoria na sociologia não é tão bem desenvolvida como nas ciências naturais. Atualmente, quatro perspectivas teóricas genéricas orientam a teoria na sociologia: (a) o funcionalismo, em que o interesse é compreender como os fenômenos sociais funcionam a fim de atenderas necessidades do todo social no qual eles estão inseridos; (b) teorias do conflito, em que a ênfase está nos efeitos de desigualdades que produzem conflito; (c) o interacionismo, em que a atenção está voltada para o uso de gestos na comunicação face a face e adaptações de indivíduos um para com o outro; e (d) o utilitarismo, em que a ênfase está no cálculo de custos-benefícios na busca dos objetivos.

4. os dados no mundo empírico são coletados sistematicamente de acordo com os dogmas do método científico. Esses dogmas incluem: (a) estabelecer uma problemática de pesquisa; (b) formular uma hipótese; (c) coletar dados ou promover experimentos, entrevistas e questionários, observações ou levantamento histórico; (d) analisar os dados; e (e) tirar conclusões com respeito à validade da teoria, pesquisa exploratória, ou interesses particulares de um cliente.

3. Os julgamentos preconcebidos quando os homens estudam os homens também permitem à ciência social uma vantagem: temos uma familiaridade intuitiva com nossos objetos de estudo.

6. O acúmulo de conhecimento sociológico será usado para construir e reconstruir as relações sociais. Tais esforços não são obrigatoriamente anti-humanistas; na verdade, eles podem ser feitos em nome do humanismo. Daí, a ciência e o humanismo não serem, por definição, contradi tórios.



UM MUNDO DE SÍMBOLOS



Os homens, assim como outros animais, podem fazer algo surpreendente: podem representar facetas do mundo, suas experiências e praticamente qualquer coisa com sinais arbitrários. Nós chamamos esses sinais de símbolos quando as pessoas chegam a um consenso quanto ao que um sinal significa e o que representa. As palavras que você está agora lendo são sinais (marcas pretas numa página) com cujo significado nós concordamos; e daí cada palavra é um símbolo. Essas palavras são organizadas em sentenças, parágrafos e capítulos. Elas são parte de um sistema organizado de símbolos.

O que é verdadeiro no caso da língua é verdadeiro para quase tudo o que podemos pensar. Bandeiras, cruzes, punhos fechados, franzir as sobrancelhas, livros, bíblias e pro­gramas de computador, todos são sinais que carregam significados combinados. Em geral, eles pertencem a sistemas de símbolos, pois eles invocam outros símbolos e significados relacionados. É através de tais sistemas de símbolos que lembramos do passado, tomamos conhecimento do presente e prevemos o futuro. Sem essa capacidade surpreendente, nosso mundo seria feito de impressões banais e irrelevantes. Nós seríamos escravizados no aqui e agora. Não teríamos a música, a arte, a matemática, a piada, o juramento, a leitura, a adoração, ou quaisquer outras coisas que nós, como homens, aceitamos como verdade. Nossa vida seria chata e rotineira, mas não “saberíamos” isso, visto que seríamos incapazes de representá­la com símbolos.

Podemos perceber o significado dos sistemas de símbolos observando as formigas e outros insetos sociais, como cupins e abelhas. Nós os chamamos de “social” porque eles sao organizados, mas eles o são segundo informações muito diferentes daquelas dos nossos sistemas de símbolos. As informações que orientam esses insetos e sua conduta estão codificadas nos genes de seus cromossomos. Dessa forma seu lugar e função na sociedade sao predeterminados e geneticamente organizados (embora todos os organismos se adaptem às peculiaridades de seu meio ambiente).

Os sistemas de símbolos humanos não são geneticamente programados. Eles são criados no imaginário, usados e transformados à medida que nos defrontamos uns com os outros e com as condições de nosso meio ambiente. Mas, na prática, eles equivalem aos códigos genéticos dos insetos sociais, pois eles moldam nossas ações e, sobretudo, nossos padrões de organização social. O conjunto desses sistemas de símbolos de uma população humana é geralmente denominado pelos sociólogos de cultura (Kroeber e Kluckhohn, 1973; Parsons, 1951). No dia-a-dia, freqüentemente usamos o termo cultura para nos referirmos a outras coisas, como um bom vinho, um bom whisky, um tempero gostoso ou uma cerveja especial, mas isso em si não é cultura, e sim produtos materiais cuja existência é decorrente da cultura. Trata-se de coisas criadas simbolicamente a fim de organizar as pessoas para produzirem novas coisas. Todavia esses produtos também podem ser símbolos culturais em si mesmos se eles “dizem algo” sobre nós aos outros. Então, servir uma cerveja especial e não uma marca qualquer pode significar algo, ainda que de maneira sutil, em sua relação com os outros, assim como dirigir um automóvel Mercedes-Benz, Lexus ou BMW. Dessa forma, os produtos culturais (que resultam de símbolos culturais, quando eles organizam a produção) podem se tornar símbolos e influenciar o comportamento, a interação e a organização entre as pessoas.





Eu devo, agora, acrescentar uma observação de advertência e qualificação: essa ênfase na cultura como sistemas de simbolos não é universalmente aceita. Há muitas definições diversas de cultura (Kroeber e Kluckhohn, 1973), e alguns querem ver a cultura como a soma total de todas as criações humanas (Singer, 1968): símbolos, artefatos materiais e formas de organização. Quando essa definição mais global é usada, então uma distinção entre a cultura material (artefatos físicos) e a cultura não-material (sistemas de símbolos e modos de comportamento) é às vezes formulada. Entretanto, empregarei um uso mais restrito, mas é importante estar consciente de que não há uma definição úníca da cultura nas ciências sociais (Gilmore, 1992).

Assim, o ponto de vista enfatizado aqui salienta o fato de que nosso mundo éconstruído e mediado por símbolos. Praticamente tudo o que experimentamos, fazemos, desejamos e vemos está preso a símbolos. Assim, entender a nós mesmos e o mundo social mais amplo requer um conhecimento maior da cultura. Nós precisamos reconhecer que os simbolos estruturam nosso mundo, embora em menor medida do que no caso das formigas, das abelhas e dos cupins geneticamente pré-programados. Em resumo, não deveríamos subestimar o poder dos simbolos culturais para ditar nossas percepções, nossos conhecimentos e nossos comportamentos, tampouco deveríamos superestimar seu poder Os homens os criam e podem recriá-los à medida que transformam suas relações uns com os outros quando reorganizam seus mundos sociais ou quando lidam com novas condições ambientais.

Essa perspectiva pode oferecer subsídios para uma certa compreensão da cultura brasileira. Se analisarmos a sociedade brasileira, podemos perceber as transformações dos últimos cinqüenta anos. Entretanto, ainda estamos saindo da cultura de favores marcada por traços autoritários, em que predominam o coronelismo e o populismo, para uma cultura de direitos, com ênfase nos valores da cidade e da democracia. Souza Neto (1993) destaca a trajetória dessas mudanças sociais nas conquistas das crianças e dos adolescentes no Brasil e no mundo.





SÍMBOLOS E SOCIEDADE



De certo modo, a cultura e seus produtos são simples recursos que nos possibilitam fazer as coisas. Sem a linguagem, nossa comunicação é limitada. Sem a tecnologia (informação sobre como manipular o meio ambiente) não poderíamos comer e nos abrigar. Os simbolos, então, intermedeiam nossa adaptação ao meio ambiente, nossa interação com os outros, nossa interpretação de vivências e nossa própria organização em grupos.

Entretanto, os simbolos são mais que uma intermediação conveniente. Também nos dizem o que fazer, pensar e perceber Parafraseando Marshall McCluhan, nossa mediação simbólica também carrega uma mensagem, ou um conjunto de instruções. Como vimos, eles não nos acorrentam da mesma forma que a informação nos genes das formigas, abelhas e cupins, mas realmente limitam nossas opções. Até mesmo um recurso simbólico aparentemente neutro como a língua carrega uma mensagem escondida (Hall, 1959). Por exemplo, a língua dos norte-americanos nativos Hopi difere do inglês no sentido em que trata a noção de tempo (Carroll, 1956). Em inglês, “tempo”é um substantivo, que significa que pode ser modificado — morto, economizado, gasto, perdido, desperdiçado. (Por exemplo, você pode estar passando “tempos difíceis” lendo meu livro, ou você pode considerar tudo isso “um desperdício de tempo”. Mas para os Hopi, “tempo”é um verbo e como tal não pode ser modificado ou manipulado como um substantivo; o tempo simplesmente flui e os homens seguem esse caminho. (Um Hopi provavelmente reclamaria menos deste livro.) Assim, as respectivas opiniões da pessoa que fala hopi ou inglês variarão, assim como seus comportamentos e estruturas da organização social. No caso brasileiro temos a palavra “saudade”, que não encontra uma tradução perfeita em outras línguas. A cultura, então, éraramente um recurso neutro. A cultura é uma restrição, e é esse aspecto coercitivo da cultura que mais interessa aos sociólogos.

Os sociólogos estudam a cultura examinando como os sistemas simbólicos limitam a interação e a organização humana, e, por sua vez, como os modos de organização social funcionam para criar, sustentar ou transformar a cultura (Kroeber e Parsons, 1958). Nós não nos interessamos por todos os sistemas simbólicos, apenas por aqueles que são relevantes aos interesses da sociologia. Ou seja, estamos interessados nos simbolos que influenciam nossa visão das coisas, nossas ações no mundo, nossas interações com os outros e coordenam nossas ações e comportamentos sociais.





SISTEMAS DE SÍMBOLOS



Os simbolos são organizados dentro de sistemas que os tornam bastante complexos. Embora haja uma enorme diversidade nos sistemas de simbolos e entre as populações humanas, estes sistemas são de diversos tipos básicos.





Sistemas de Linguagem



Um primeiro tipo é o sistema de códigos de linguagem que pode classificar desde palavras faladas e as palavras escritas nesta página até complexas representações matemáticas e algoritmos de computador. Os tipos básicos de códigos de linguagem de uma população influenciam amplamente sua organização. Por exemplo, se uma população tem apenas a língua falada, seus modos de organização serão limitados, ao passo que, se essa população pode desenvolver também uma língua escrita, pode armazenar informação de forma eficaz, conseqüentemente, elaborar outros modos de organização social. E, se novas linguagens —matemática, lógica, algoritmos de computador e outros códigos simbólicos — podem ser desenvolvidas, as possibilidades de adaptação dessa população ao seu meio ambiente podem aumentar, e a natureza das relações sociais de seus membros e seus modos de organização social serão fortemente alterados. Pense, por exemplo, no que a linguagem de informática tem feito para a velocidade, proporção e distância das relações do mundo moderno, e você pode ver o poder da linguagem para transformar a sociedade.





Sistemas de Tecnologia



Outro sistema cultural básico é a tecnologia, ou a organização de informação e conhecimento sobre como controlar e transformar o meio ambiente. Se colher frutos e caçar animais e o armazenamente básico de informação de uma população — como foi durante 30.00(1 dos 411.000 anos de nossa espécie —, a organização social e a adaptação ao meio ambiente serão limitadas (embora devesse ser enfatizado que as sociedades de caça e coleta poderiam ter sido menos estressadas e mais contentes com suas vidas do que as sociedades “modernas”). Como a tecnologia se expande, expandem-se as proporções das sociedades:

podemos produzir mais, ficar maiores e mais complexos. Assim, a tecnologia é uma das forças motrizes da organização humana, age como uma jamanta cultural, transformando nossos modos de vida, nossos relacionamentos com os outros e nossas formas de organização social (Lenski, 1966; Lenski, Lenski, e Nolan, 1991). De fato, quase todo aspecto de sua vida diária — sua roupa, seu transporte, seus planos de vida, suas percepções, suas aspirações, seus modos de comunicação — está circunscrito pelos produtos oriundos de novos conhecimentos ou tecnologia. De fato, nem podemos imaginar a vida sem telefone, televisão, carro, apartamento, roupas fáceis de passar, redes de informática, conversa por e-mail, CD’s, e assim por diante. Se as relações pessoais se perdem nessa “dança” tecnológica, não deveríamos nos surpreender.





Sistemas de Valores



Os homens sempre defendem idéias do que é bom ou ruim, adequado ou inadequado, e indispensável ou dispensável. Essas idéias são valores; e quando elas são organizadas dentro de um sistema de padrões ou critérios para avaliar o valor moral e adequação do comportamento, elas constituem um sistema de valores (Willians, 1970; Rokeach, 1973, 1979).

Os valores possuem um aspecto especial: eles são abstratos dentro de sua generalidade de aplicações. Eles podem servir a muitas situações diversas (Kluckhohn, 1951). Sem esta qualidade abstrata, que nos permite adequar os valores a situações específicas, as pessoas teriam dificuldade de se comunicar e relacionar-se, porque elas não teriam qualquer padrão moral comum para avaliar as ações dos outros bem como suas próprias. Imagine uma conversa entre dois indivíduos que defendem conjuntos de valores bem diferentes. Eles não concordariam no que deveria ocorrer, o que seria justo, e o que seria um comportamento adequado. O que é notável na maioria das populações humanas é o fato de terem, no mínimo, algum consenso sobre os valores. Esse consenso é raramente perfeito, devo advertir, pois uma das mais interessantes dinâmicas de uma sociedade é o conflito sobre os valores. Mas uma sociedade sem um mínimo de consenso de valor seria caracterizada pelo conflito e tensão. É impressionante que numa sociedade tão grande como a brasileira ou a dos Estados Unidos, espalhada sobre uma imensa área geográfica, haja algum acordo sobre o que é bom, ruim, adequado e inadequado. Em grande parte, esse consenso geral sobre os valores é o que nos faz tipicamente “brasileiros”, e o que nos possibilita como indivíduos nos adaptarmos dentro e fora de novas situações sem grande tensão. Quando partilhamos valores básicos, podemos interagir, embora possamos discordar em muitas coisas.

Quais são alguns dos valores comuns (Williams, 1970)? No Brasil ou na América, concordamos com valores como êxito (fazer bem, tentar fazer bem), “atuação” (tentar dominar e controlar situações), liberdade (não ter limites na busca de nossos sonhos), progresso (aprimorar nós mesmos e o mundo ao nosso redor), materialismo (adquirir objetos materiais, criteriosamente, é claro) e eficiência (fazer as coisas de maneira racional e prática).



Essas idéias, assim como outras, nós partilhamos e elas nos servem como padrões morais para avaliar nós mesmos e os outros nas situações mais concretas. Nós não concordamos com todos esses valores; de fato, algumas pessoas rejeitam todos eles. Mas há um grau surpreendente de consenso sobre eles dentre a maioria das pessoas. Enquanto você e eu poderíamos, por exemplo, atribuir a esses valores prioridades diferentes, nós provavelmente concordamos sobre eles de maneira geral. Como conseqüência, podemos interagir sem grandes dificuldades.

Com a mesma relevância, o todo social e seus elementos — economia, sistema político, sistema educacional, padrões de coletividade, e assim por diante — são influenciados por esses valores. Dessa forma, há alguma “cola” para manter a sociedade junta e lhe dar algum grau de coesão.

Os valores operam, é claro, nos indivíduos quando eles tomam decisões de se comportar de certas maneiras. Por exemplo, um aluno norte-americano ao ler este livro éorientado pelos valores centrais de sua sociedade: “atuação” (dominarei este livro), êxito (terei êxito em compreendê-lo), progresso e materialismo (tenho de conseguir um diploma que me certifique como qualificado para um bom emprego) e eficiência (não vou desperdiçar tempo relendo). Todos esses valores orientam a conduta do aluno num sistema educacional organizado em torno dessas premissas morais. Além disso, o ingresso na escola marcou uma aceitação implícita desses valores pelos alunos e desejo de perpetuar o sistema educacional organizado em torno da “atuação”, do êxito, do individualismo e do materialismo. O que vale para a escola também vale para quase todas as situações. Uma das facetas dos valores de um sistema de valores é orientar as percepções e a conduta dos indivíduos na sociedade.

Uma perspectiva funcionalista enfatiza as ampliações de um sistema de valores nas ações e motivações das pessoas na sociedade. Se pensarmos na análise de Émile Durkheim sobre a consciência coletiva e sua função integrantes para a sociedade, podemos ver que o consenso sobre os valores é crucial. Há um grande mérito em analisar as funções dos valores, como Durkheim fez há muito tempo e como fiz aqui, mas não devemos nos esquecer de que os valores podem ser uma fonte de desintegração numa sociedade. Quando segmentos de uma população defendem valores distintos, ou, como discutirei brevemente, crenças diferentes, a cena está pronta para o conflito. As pessoas discordarão sobre seus padrões morais, sem contudo abandoná-los, pois eles são muito estimados. A teoria do conflito enfatizaria esse aspecto da vida social e, ainda, realçaria que os valores são instrumentos para os mais privilegiados que têm poder para definir quais valores as pessoas deveriam defender. Eu voltarei a esse ponto mais tarde, mas é importante tê-lo em mente.





Sistemas de Crenças



Ainda outro tipo de sistema de símbolo gira em torno das crenças, que são as cognições e as idéias das pessoas em determinadas situações — educação, trabalho, família, amizades, política, religião, vizinhança, esporte, lazer e todos os tipos básicos de situações sociais numa sociedade (Turner e Starnes, 1976). Algumas crenças representam a aplicação de valores básicos de situações específicas. Numa faculdade ou universidade, por exemplo, os alunos deveriam obter boas notas (êxito), trabalhar arduamente (“atuação”, eficiência),

evoluir nos conhecimentos (progresso). Quase todas as situações — trabalho, diversão, amizades, esporte etc. — envolvem crenças que nascem da aplicação desses e outros valores comuns. Até mesmo num relacionamento pessoal imaginamos quão “bem estamos fazendo” (êxito), se estamos progredindo no relacionamento (progresso) e o que precisamos “fazer para melhorá-lo” (“atuação”). Dependendo do tipo de relacionamento — namoro, relacionamento filial, coleguismo, amizade — aplicam-se crenças bastante diferentes, mas todas elas invocam as mesmas premissas de valor Fazendo isso, elas nos orientam e nos deixam confiantes de que estamos fazendo a coisa certa.

Outras crenças são, aparentemente, mais concretas. Elas são idéias que defendemos sobre “o que é e o que existe” numa situação. “Sabendo o que existe” nos sentimos confiantes para enfrentar determinada situação e agir nela. Também defendemos crenças sobre situações que não vivemos, que ainda temos que viver, ou que jamais vivemos —trabalho, casamento, velhice, pobreza, e outras situações distantes. Membros de uma população podem ser vistos como “ligados” nos mundos sociais uns dos outros dessa forma. Possuindo as crenças de outros cenários e contextos sociais, nós vicarialmente sabemos sobre” esses cenários e podemos potencialmente “agir” neles. Por esta razão, novas situações não são totalmente desconhecidas. Temos valores comuns e algumas crenças para nos orientar quando inicialmente nos atrapalhamos.

Entretanto, nossas crenças concretas não são sempre precisas. Elas são muito influenciadas por valores e outras crenças sobre o que deveria ocorrer ou existir numa determinada situação. Mas estamos convencidos de que realmente conhecemos outros contextos sociais, sentimos um companheirismo vicário com os outros e a sensação de que poderiamos operar nesses outros contextos. Por exemplo, a maioria dos norte-americanos acredita que há oportunidades de emprego para qualquer um que realmente queira trabalhar e que muitos beneficiários da previdência social são preguiçosos e deturpam sua necessidade (Kluegen e Smith, 1986; Smith, 1985). Essa crença invoca valores como “atuação”, êxito, progresso e eficiência para o mundo do trabalho e do bem-estar Também contém alguns dados supostamente neutros: há muitos empregos lá fora e muitas pessoas demasiadamente preguiçosas para pegá-los. E carrega uma presunção: se eu estivesse pobre e sem trabalho, eu pegaria qualquer emprego e preservaria minha dignidade. Assim, sentimo-nos conhecedores de um mundo que, na realidade, é provável que não vivamos. Mas os “dados” nessas crenças podem estar errados: a maioria das pessoas inscritas na previdência social não podem trabalhar — elas são velhas demais, incapazes demais e doentes demais, e praticamente metade delas trabalham período integral ou foram despedidas (1. Tumer, 1993b); assim, os “dados” mais precisos são que a economia não tem empregos suficientes para todos os cidadãos e que os salários para muitos empregos não são suficientemente altos para manter as pessoas fora da pobreza (Beeghley, 1983; Ropers, 1991). Portanto, nossas crenças sobre o que realmente existe e ocorre podem ser influenciadas pelos nossos julgamentos de valor. Isso não é ruim; é inevitável em questões humanas.

De fato surgiu, na sociedade moderna, uma verdadeira indústria para apurar as ações e as ?piniões públicas — que são, na essência, expressões de crenças. A indústria da opinião publica vai alem das apurações de eleição e levantamentos de opinião gerais, como fazem os institutos Gallup e Harris; ela também envolve as pesquisas de mercado. A percepção de que o comportamento das pessoas — desde a hora de votar para presidente até comprar um produto — é influenciado por suas atitudes, que, por sua vez, são moldadas por seus valores e crenças comuns, mudou amplamente a maneira de os políticos concorrerem à eleição, assim como a maneira de as empresas negociarem.

No Brasil, até há pouco tempo, a classe dominante brasileira e mesmo a classe dominada acreditava que a pobreza era de responsabilidade exclusiva do indivíduo. O pobre era naturalmente um “vadio”. Essa crença fez com que a pobreza no Brasil fosse tratada como uma questão de policia e não de políticas sociais.





Sistemas Normativos



Valores e crenças são genéricos demais para regular e orientar o comportamento de maneira precisa; eles nos dão apenas uma visão e perspectiva comuns, habilitando-nos aos comportamentos gerais (Blake e Davis, 1964). Mas eles não nos dizem precisamente o que fazer. As normas compensam essa deficiência dos outros sistemas, informando-nos o que éesperado e apropriado numa situação especifica. Imagine-se vir à aula sem conhecer as “regras” e as expectativas para o comportamento de um aluno. Você é mobilizado a alcançar sua metas com êxito, a ser ativo e progredir intelectualmente, mas você não sabe o que fazer — onde sentar, como agir, o que fazer com suas mãos, pemas, boca e intelecto. Isso pode ser dificil de imaginar se você não conhece bem as regras gerais do comportamento escolar Na realidade, se nunca esteve numa sala de aula, se nunca teve seus próprios livros e se nunca assistiu a uma aula de faculdade, essa nova situação pode lhe parecer desconfortável. De fato, você pode se encontrar observando como os outros se sentam na sala de aula e como tomam notas. Assim, pode-se conhecer as normas gerais elementares de determinadas situações — o que alguns sociólogos chamam de normas institucionais —, mas cada pessoa deve aprender normas complementares para adequar o comportamento num ambiente especial.

Do ponto de vista do interacionismo, esse processo de descoberta é muito complexo e sutil. Se não conhecemos os aspectos relevantes da cultura que se aplicam a determinada situação, tornamo-nos intensamente “desafinados” às ações e gestos dos outros. Nós lemos esses gestos, buscando nos conectar aos mecanismos intelectuais que os produzem num esforço de aprender como nos comportar. Geralmente já possuímos valores, crenças e normas importantes, mas nosso conhecimento é deficiente no que concerne à proeminência de cada uma delas, e podemos até ser ignorantes em relação a normas e crenças relevantes. Nossos erros nos entregam, e experimentamos as sanções e desaprovação dos outros; conseqüentemente nos tornamos desafinados com os gestos dos outros. Ou então, sabendo de antemão da nossa ignorância, podemos agir experimentalmente prestando atenção a movimentos, palavras e gestos de outros, evitando os erros. Uma vez que damos um sentido aos simbolos culturais relevantes, os processos de interação sustentam esses simbolos ao mesmo tempo que os reafirmam, reforçando-os. Cada um de nós se comporta de modo adequado; tais comportamentos reforçam os valores, crenças e normas; e, quando estes são reforçados, eles ganham poder para limitar o comportamento. Atos de desvio realmente ocorrem e quebram esse “ciclo de reforço”, ou de afirmação, mas geralmente tentamos trazer o desviante de volta ao ciclo, sustentando-o. Dessa forma é que a cultura é sustentada pelas microações interpessoais dos indivíduos.

As normas variam desde as institucionais, que são concepções gerais para o comportamento nas esferas sociais básicas (trabalho, escola, amizades, casa etc.) às mais especificas, que nos dizem precisamente como atuar num ambiente concreto. Todos temos conhecimento das normas institucionais mais importantes, e conseqüentemente podemos entrar em novas situações com alguma orientação. Uma vez lá, podemos aprender as normas complementares, através da leitura de gestos dos outros. Nós devemos também aprender como criar novas normas em algumas situações quando interagimos com os outros, e esse processo pode tornar-se muito difícil, especialmente se as pessoas defendem diferentes crenças e invocam variações de normas que se contradizem. Quando as pessoas se casam, por exemplo, elas geralmente precisam negociar novos acordos sobre como elas vão comportar-se, porque as opiniões sobre o papel dos homens e das mulheres estão sofrendo transformações e as normas sobre as atividades da esposa e do marido podem diferir enormemente. À luz desse fato, não é surpreendente que a taxa de divórcio nos Estados Unidos seja mais alta no primeiro ano de casamento (Collins e Coltrane, 1991). A maioria dos recém-casados possuem crenças extremamente românticas, conhecem apenas as normas institucionais gerais sobre o casamento, e se apóiam no exemplo dos casamentos de seus pais e de seus amigos para orientar suas relações. Porém, para sua realização, o casamento exige outras normas, sem as quais fracassa.

Dessa forma, em sociedades modernas algumas situações exigem de nós o improviso e o desenvolvimento de acordos normativos à medida que avançamos. Outras, tal como um emprego de linha de montagem, são altamente limitadas, mas mesmo aqui as pessoas desenvolvem acordos normativos sobre como devem trabalhar no emprego. Muito de nossa vida social consiste de nosso aprendizado, harmonização, criação e renegociação de normas. Isso é particularmente verdade nas sociedades moderna5, onde a mudança social constante nos força a viver situações sempre novas.





Estoques de C’ouhecimento



Ao lado da linguagem, da tecnologia, valores, crenças e sistemas normativos, as pessoas possuem, de forma mais livre e implícita, estoques de informação. O sociólogo alemão, Alfred Schultz (1932), criou a frase “estoques de conhecimento à disposição” para descrever os catálogos de informação que 05 indivíduos podem dispor para se adaptar às situações. Por exemplo, um aluno que entra na taculdade possui estoques de conhecimento inütil sobre as escolas, salas de aula, hierarquias, ocasiões formais e informais, aulas e discursos ambientes e maneiras apropriadas para conversas. Estes estoques de conhecimento são usados para guiar a conduta de um aluno nas primeiras aulas e encontros, enquanto as normas mais indicadas para cada situação nova são aprendidas.

Assim, cada um de nós tem um estoque de conhecimento, moldado pelas experiencias vividas. Usamos esses estoques para nos guiar nas situações; e, quando as pessoas partilham estoques semelhantes de informação, elas podem construir uma visão comum de uma situação. Até mesmo quando não falamos a mesma língua isso é possível; alguém que viajou para um país estrangeiro pode comprovar como, pelos gestos, podemos freqüentemente consegui ir que os estrangeiros tirem de seus estoques de conheci mcii ti) informações p rox~ mas

às nossas, especialmente com respeito às situações comuns. Essa capacidade de usar esses sistemas implícitos de símbolos dá aos homens uma enorme flexibilidade em sua adaptação a novas situações.

Parte da cultura, então, é uma “inteligibilidade” silenciosa que é extraída constantemente, quando nos adaptamos um ao outro, às normas e a outros aspectos das situações. Se pudéssemos catalogar os valores, crenças e normas, seríamos inflexíveis, como robôs; e se algo novo surgisse fora da nossa “programação” não saberíamos o que fazer Mas podemos nos adaptar às nuança porque todos nós possuímos vastos armazéns ou estoques de conhecimento que podem ser utilizados.

Para sintetizar, podemos afirmar que a organização da sociedade humana e extremamente facilitada por simbolos culturais. Opostamente, os símbolos culturais são criados, sustentados ou transformados pela interação social. De fato, os teóricos do funcionalismo argumentam (Parsons, 1951, Alexander, 1985) que a integração da sociedade não pode ocorrer sem sistemas de símbolos comuns. A cultura assim preenche uma necessidade básica da sociedade. E, como os interacionistas enfatizam, esses sistemas de simbolos são sustentados pela leitura detalhada dos gestos uns dos outros. Os simbolos mais importantes para entender nossas ações e modos de organização são os sistemas de linguagem, de tecnologia, de valores, de crenças, de normas e de armazenagem de conhecimento. Esses são os equivalentes funcionais dos códigos genéticos dos insetos sociais, mas com uma grande diferença: eles podem ser transformados e usados para criar novas formas sociais. Se todos nós não participássemos de uma cultura comum, estaríamos nos chocando uns com os outros, insultando nossos amigos e, contrariamente, fazendo a coisa errada. Na realidade, não somos insetos, e, visto que nosso comportamento não está geneticamente codificado, há muito espaço para a má informação, informação inadequada, informação conflitante e informação mutante. Assim, a sociedade não é como uma colmeia bem organizada ou uni monte de formiga porque nós nos organizamos com códigos culturais, opostos aos genéticos. E nos simbolos culturais há um grande potencial para a ambigüidade, divergência e conflito.





VARIAÇÕES CULTURAIS



Os homens criam sistemas de símbolos culturais porque precisam deles. Eles sao desenvolvidos para facilitar a interação e a organização, como argumentam os teóricos do funcionalismo. E, porque as pessoas vivem e agem em diverso meio ambiente, a cultura naturalmente também se diferenciará. E, como enfatizaria a teoria do conflito, as variações culturais são uma fonte de constantes contradições e tensão numa sociedade. Exatamente como as línguas, outros sistemas culturais também diferem, tais como a tecnologia, os valores, as crenças, as normas e os repertórios de conhecimento. Esse fato tem enormes implicações. Deixe-me revisar algumas delas.



Cultura ou os sistemas de símbolos

que os homens usam para orientar

seu comportamento







Interações ou adaptações em micro-nível que as pessoas produzem nos contatos face a face



Figura 3.1 As inter-relações entre estrutura social e cultura.

Estrutura social ou os padrões relativamente estáveis de relações de que os homens dispõem para organizar a vida social



Os símbolos regulam a interação e estrutura social, mas o contrário não é verdadeiro:

as pessoas vivem em um sociedade dinâmica e criam cultura em suas inter-relações diárias; e modos de relações sociais nas estruturas de sociedade (tais como economia, política, desigualdade, família etc.) podem gerar pressões para o surgimento de novos sistemas de simbolos. Sem este ciclo de reforço mútuo, a sociedade humana não se sustentaria, e teríamos muita dificuldade de saber como se comportar e como interagir um com o outro.





Conflito Cultural



Os sistemas culturais como os valores e crenças são um conjunto “de lentes” ou um prisma colorido através do qual vemos o mundo. Nossas percepções são tão influenciadas pela cultura, que percebemos algumas coisas mas ficamos inconscientes quanto a outras. E por isso que a ciência foi criada como um esforço consciente para a redução dos preconceitos inerentes de cada cultura. A ciência é um tipo de sistema de crença e, como outros aspectos da cultura, surgiu para lidar com os problemas humanos. No caso da ciência, o desejo de coletar informação precisa e verificar as idéias empiricamente levou ao desenvolvimento da crença de que o conhecimento é gerado por teorias que são constantemente verificadas com dados sistematicamente coletados. lnicialmente, as crenças sobre a ciência, e mais tarde o desenvolvimento de normas de comportamento para os cientistas, encontraram grande resistência por parte de outros tipos de sistemas de crenças — religião, filosofia e ideologia, para citar apenas as mais importantes. E alguns destes ainda vêem a ciência com grande antipatia. Tal antipatia pode criar conflitos culturais entre indivíduos que concomitantemente mantêm um número de crenças diferentes, assim como conflitos maiores entre grupos de indivíduos que aderem a diferentes crenças. Os fundamentalistas religiosos questionam a ciência quando suas conclusões violam seus dogmas. Marxistas, de direita ou de centro, geralmente se recusam a aceitar o conhecimento cientificamente fundamentado. Até mesmo nos Estados Unidos, onde a ciência é uma crença cultural dominante, o conflito vem à tona quando questões com forte fator emocional, como o ensinamento da evolução darwiniana no lugar da Criação divina, são debatidas.

Quando as diferenças nas crenças culturais se tornam a base da organização política e da ação, conflitos culturais tornam-se mais intensos. Por exemplo, o conflito atual sobre

o aborto envolve não apenas o desacordo entre as crenças sobre maternidade, vida e concepção mas um verdadeiro combate entre vários grupos organizados (Luker, 1984). Tais conflitos são difíceis de resolver porque as crenças dos “combatentes” são muito diferentes e energicamente defendidas. Conflitos semelhantes ocorreram inúmeras vezes nos Estados Unidos e em todas as sociedades complexas em que o consenso absoluto sobre os simbolos é simplesmente impossível.





Subculturas



Diferentes subgrupos no interior de uma sociedade geralmente possuem crenças de alguma forma diferentes e às vezes até mesmo valores diferentes. Esses mundos culturais diferentes são construídos e sustentados pela interação face a face, como diriam os teóricos do interacionismo; pois pessoas em interação freqüente desenvolvem sistemas de símholos comuns para dar significado a suas experiências. E assim, através da interação, as pessoas de diferentes subculturas desenvolvem diferentes normas, padrões de discurso, gestos e expressões corporais. Por exemplo, trabalhadores com contratos temporários existem num mundo cultural de alguma forma diferente do que os trabalhadores com garantia de emprego, assim como os negros e brancos, os hispânicos e anglo-saxônicos, ricos e pobres, executivos e operários, professores e alunos. Esses subgrupos podem ser denominados de subculturas porque seus membros veem o mundo através de lentes simbólicas de alguma forma diferente, e de alguma forma se comportam diferentemente; e geralmente essas diferenças causam conflito, especialmente quando a elas se aliam diferenças de poder, riqueza, bem-estar e outros recursos valorizados numa sociedade. Na realidade, todos nos nos relacionamos porque partilhamos minimamente da mesma cultura. Mas nossas relações são geralmente limitadas porque reconhecemos nossas diferenças e tentamos minimiza­las através de interações padronizadas e ritualizadas. E, é claro, às vezes essas diferenças nas crencas e normas vêm à tona quando o conflito já está declarado — e então nenhum esforço pode nos salvar de enfrentarmos nossas diferenças.

Como a teoria marxista e outros estudiosos do conflito demonstraram, algumas suhculturas possuem mais poder e recursos materiais do que outras. C)s ricos, os detentores de poder político, e osgrandes empresários, por exemplo, estão mais aptos para impor suas crenças e definir as normas para aquelas suhculturas sem riqueza, poder político ou poder econômico (Mills, 1959). Saber “o quanto” eles podem influenciar é um assunto de intenso debate (Alford e Friedland, 1985), mas quase não há dúvida de que os valores básicos, as crenças elementares e varias normas institucionais tenham sido mais influenciados por aqueles com riqueza e poder, do que por aqueles sem riqueza e poder (l3ourdieu, 1984). Às vezes, essa influência desproporcional é ressentida pelos mais fracos, e surge o conflito. Por exemplo, as mulheres, os negros norte-americanos, os homossexuais, e outras subculturas na América do Norte, pressionaram pela redefinição de crenças e normas sobre papéis na sociedade, cultura branca anglo-saxônica e sexualidade, respectivamente. De fato, muito da campanha presidencial de 1992 girou em torno de uma defesa das antigas tradições culturais por aqueles que estão satisfeitos com o status quo de um lado, e a introdução de novos sistemas de símbolos por aqueles que, por outro lado, estão cansados de ser culturalmente dominados. Tais conflitos são inevitáveis numa sociedade com muitas subculturas distintas.

A cultura hegemônica brasileira concebe a cultura das classes populares ou subalternas como inferior. Essa ótica ganha visibilidade quando observamos as relações cotidianas das chamadas “minorias”, como é o caso da mulher, da criança, do idoso, do nordestino, do índio, do homem que vive na rua, que são tratados como coisas. Isso contraria o pressuposto de que a cultura é a forma de ser de um povo, de um grupo, e que sua desvalorização é a desvalorização da própria pessoa.





Contradições Culturais

Não apenas os subgrupos podem possuir crenças culturais diferentes e outros símbolos, mas os componentes culturais podem eles próprios ser de alguma forma incoerentes e contraditórios. Nós em geral possuímos valores, crenças e normas incoerentes; e como conseqüência experimentamos as contradições culturais. Felizmente, a inteligência humana permite apaziguar, ainda que receosamente, muito dessa incoerência. Assim, os biólogos podem aderir ao darwinismo quando pesquisam e podem acreditar na Criação em seu dia-a-dia; os brancos podem acreditar na igualdade e liberdade enquanto possuem estereótipos discriminatórios sobre os negros; os alunos podem acreditar no aprendizado e ainda colar nas provas; e os professores podem acreditar numa busca imparcial pela verdade e odiar aqueies cuja pesquisa contradiz a sua própria. Mas há limites para essas “ginásticas da inteligência”. Incoerência demais pode criar um problema para o indivíduo e, se muitas pessoas numa sociedade enfrentam contradições culturais, patologias pessoais surgem e se espalham pela sociedade. Ou contradições culturais podem levar as pessoas a mudar a sociedade, como foi o caso nos dias que precederam à guerra civil norte-americana, quando os abolicionistas reagiram contra as crenças das pessoas que afirmavam tanto que “todos os homens são iguais” (as mulheres também, esperemos) quanto que a escravidão era aceitável. Assim, importantes contradições nos valores, crenças e normas geralmente criam distúrbio tanto pessoal como social. Eles san a essência da mudança e reorganização numa sociedade.





Etnocen trism o





Finalmente, todos os sistemas culturais fazem com que as pessoas vivam numa sociedade etnocêntrica — isto é, os indivíduos tendem a ver seu sistema de \alores, crenças e normas como melhores do que os dos outros. Esse etnocentrismo leva à intolerância, e a intolerancia leva, por sua vez, ao conflito e as tensoes.

Assim a crenca dos Estados Unidos em sua superioridade moral pode levá-los a interferir nas questões das outras nações cujos caminhos são, sob uma visão etnocêntrica, inferiores. Várias outras sociedades fizeram isso, e portanto nz~o deveríamos nos punir. O etnocentrismo também existe no interior de uma sociedade: membros de certas suhculturas podem ver como interiores os de outras .suhculturas, e isso também pode levar ao conflito.

Observando praticamente qualquer campus universitário nos Estados Unidos, o etnocentrismo é imediatamente evidente. O esforço para aumentar o intercâmbio cultural, a convivência, a mistura étnica entre alunos, trouxe aos indivíduos, de uma forma ou de outra, normas e crenças diferentes e com diferenças de comportamentos. Cada subcultura

— afro-americanos, hispano-americanos, de origem anglo-saxônica, americanos brancos e naturalizados, americanos de origem asiática, de classe média, da classe trabalhadora e assim por diante — vê a outra com desconfiança e aplica os padrões de sua subcultura ao avaliar os outros. Esse etnocentrismo é claro, agravado pelo domínio dos brancos de classe média e valores anglo-saxônicos, suas crenças e normas, na maioria das faculdades norte-americanas, pois membros de outras subculturas devem constantemente se confrontar com o domínio de muitos símbolos culturais diferentes de seus próprios.

Um dos desafios da era da globalização é aprender a viver com as diferenças culturais e utilizá-las como formas de humanização. Nesse sentido, a educação deve contribuir para formar o projeto na ética da tolerância.





RESUMO



1. A informação que orienta grande parte da atividade humana é simbólica e não genética. Ao contrário dos insetos sociais, os homens criam os códigos que orientam seus comportamentos, interações e modos de organização social.

2. A cultura é o sistema de símbolos que uma população cria e usa para organizar-se, facilitar a interação e para regular o comportamento.

3. Há muitos sistemas de simbolos dentre uma população, mas entre os mais importantes estão: (a) sistemas de linguagem que as pessoas usam na comunicação; (b) sistemas de tecnologia que incorporam o conhecimento sobre como dominar o meio ambiente; (c) sistemas de valores que dizem respeito aos princípios de bom e mau, de certo e errado; (d) sistemas de crença que organizam as cognições das pessoas sobre o que deveria existir e realmente existe em situações e espaços específicos; (e) sistemas normativos que dão expectativas gerais e específicas sobre como as pessoas devem se comportar em diversas situações; e (f) estoques de conhecimento, que dispõem de informação implícita que as pessoas inconscientemente usam para compreender as situações.

4. A cultura varia dentro e entre as sociedades, e essa situação geralmente leva ao conflito entre aqueles que possuem valores, crenças ou normas diferentes. Alguns conflitos permanecem no nível simbólico, mas o conflito geralmente surge do combate aberto entre partes com crenças diferentes.

5. As subculturas surgem e persistem em sociedades complexas, cada uma revelando alguns sistemas de simbolos distintos. As vezes, o conflito é evidente entre as subculturas, especialmente quando algumas subculturas são capazes de impor seus símbolos às outras.

6. Sistemas de simbolos geralmente revelam contradições e incoerências, uma situação que pode colocar os indivíduos em conflito pessoal, e às vezes grupal.

7. O etnocentrismo é um subproduto inevitável das diferenças culturais, com indivíduos que vêem como inferiores aqueles símbolos culturais distintos dos seus. O etnocentrismo produz preconceitos que geralmente vêm à tona em conflitos declarados.







ATORES E INTERAÇÃO



Shakespeare uma vez escreveu: O mundo é um palco, e todos os homens e as mulheres sao apenas atores: eles têm suas entradas e saídas; e desempenham muitos papéis de cada vez”. Muito da vida humana é de fato realizado num palco, mas, ao contrário da vida teatral, nosso palco é montado pelos simbolos culturais e estrutura social. Num sentido real, todos nós somos atores num palco e atuamos diante de uma platéia formada pelos presentes e por aqueles que podemos imaginar Ao mesmo tempo que tentamos interpretar comportamentos culturais, estamos num palco construído pela estrutura social. A vida social envolve cada um de nós como atores que, ao interpretar, interagem com os outros. Este processo é fundamental para a vida social, para a compreensão de nós mesmos e daqueles ao nosso redor





A NATUREZA SIMBÓLICA DA INTERAÇÃO HUMANA



No começo do século XX cientistas sociais não entendiam como a interação humana ocorre. Tudo levava a crer que a interação entre as pessoas é o processo fundamental dentro do mundo social, mas como e por que isso ocorre? Quais são os mecanismos específicos e os processos envolvidos? Um filósofo da Universidade de Chicago, George Herbert Mead (1934), desvendou o mistério desse processo, como observei no Capítulo 1. Mead não teve nenhuma idéia genial; ao contrário, ele pegou pedacinhos dos trabalhos de outros e os combinou de maneira a fazer sentido.

A essência da interação, Mead argumentou, é a emissão de sinais e gestos. Qualquer organismo deve agir dentro de seu meio ambiente, e, quando age assim, emite sinais ou gestos que marcam seu curso de ação. A interação ocorre, Mead sentiu, quando (1) um corpo emite sinais ao se mover em seu meio ambiente, (2) outro corpo vê esses sinais e altera seu curso de ação em resposta a eles, emitindo, assim, seus próprios sinais, e (3) o corpo original torna-se consciente dos sinais desse corpo secundário alterando seu curso de ação à luz desses sinais. Vamos imaginar um gato e um cachorro. O cachorro está procurando um poste para fazer xixi (emitindo os sinais apropriados); um gato vadio observa o cachorro vindo em sua direção e entra em pânico, fugindo (seus gestos); o cachorro vê o gato e altera o curso de sua ação, esquece de sua bexiga e, em vez disso, vai caçar.

Quando esses três estágios se passaram, então a interação ocorreu. Note que sinais e gestos são o veículo crítico de interação e que esses sinais não necessitam ser simhólicos no sentido cultural. Isto é, o gato pode não ser capaz de ler ou interpretar os gestos do cachorro, nem o cachorro necessariamente entende o pânico do gato. Mas “essa conversa gestual”, como Mead colocou, é, todavia, interação.

Mead também pensava que os homens interagem num modo único e especial. Os sinais que os homens enviam, lêem, recebem e respondem são simbólicos na medida em que eles significam a mesma coisa para o corpo que envia e para o corpo que recebe. Em resumo, eles são culturais. Os sinais nesta página significam mais ou menos a mesma coisa para nós dois; como conseqüência, a interação é especial porque é mediada por sinais que sao dados pela definição cultural. Na realidade, com nossa inteligência, podemos ligar significados comuns, combinados praticamente com todos os nossos movimentos — fala, gestos faciais, expressão corporal, distância relativa dos outros, vestuário, corte de cabelo, ou quase qualquer sinal ou gesto que fazemos. É por isso que nos sentimos “num palco” em frente aos outros, pois implicitamente sabemos que os outros estão lendo nossos gestos e interpretando nossa atuação. Mesmo que alguns animais possam também interagir simboIicamente, eles não podem fazê-lo na mesma medida que os homens (Seboek, 1968; Aitchison, 1978; Maryanski e Turner, 1992).

Mead observou que a capacidade de ler gestos simbólicos permite que os homens absorvam papeis ou assumam o papel do outro. O que ele queria dizer é que, pela leitura dos gestos alheios, podemos nos imaginar em seu lugar; podemos assumir seu ponto de vista e ter uma percepção do que é provável que eles façam. Assim, se alguém vem até você encarando, mãos fechadas, e chamando você de nomes obscenos, você pode imaginar-se na situaçao dele e adequar suas reações. Todos nós assumimos papéis em toda situação, mas geralmente não temos a consciência desse processo até que nos encontremos numa situação complicada em que hesitamos a cada palavra e gesto emitidos pelos outros. Imagine-se tendo um encontro pela primeira vez com alguém, ou indo a uma festa onde você não conhece ninguém, ou entrando na escola ou alojamento pela primeira vez, ou estando em qualquer número de situações novas em que você dispõe apenas de normas institucionais básicas para se orientar. Você enfrenta — isto é, você aprende as normas mais específicas para a situação — assumindo o papel ou observando os outros e usando o que voce ve para orientar suas reações. Isso é interação simbólica, e é o meio pelo qual nos ligamos dentro da cultura e seus valores, crenças e normas. Contrariamente, ao tornar-se consciente de símbolos culturais, podem-se assumir papeis e assim relacionar-se com os outros em variados status de estruturas sociais específicas. Como um teórico funcionalista poderia argumentar, a função de assumir papéis é ligar as pessoas umas às outras e àcultura como um todo, desse modo facilitando sua cooperação e, finalmente, a integração da sociedade. E então, se fôssemos incapazes de usar símbolos culturais e assumir papéis, a interação seria muito complicada de fato, e a sociedade desmoronaria.

Mead também enfatizou outros processos envolvidos na interação humana. Um é o processo que ele denominou de mente. Para Mead, a mente não era uma única coisa ou entidade, mas uma série de processos. Para Mead, a mente é o processo oculto, nos bastidores da ação que antecipa as conseqüências da escolha de um curso de ação; assim, com base nessa avaliação prévia, escolhemos ou selecionamos uma ação específica. Mead caracterizou a mente como o processo de “ensaio imaginário” no qual, como qualquer bom ator que vá interpretar, ensaiamos nossa ação de diferentes formas e avaliamos a reação de nossa platéia a essas alternativas. Tais processos mentais são uma parte íntima da interação humana, pois, como assumimos papéis dos outros, assumimos suas intenções, e nos conscientizamos das suas crenças e normas importantes, que se tornam parte de nossas considerações mentais. Nós, então, imaginamos como os outros reagirão a nós, e avaliamos se estamos tazendo a coisa adequada em termos de códigos culturais. Um teórico do utilitarismo acrescentaria algo à descrição de Mead: calcularíamos nossos custos-benefícios quando imaginariamente ensaiássemos as ai terna tix’as, tentando escolher qual nos daria o maior retorno.

Por sermos tão hábeis nesse processo, geralmente somos inconscientes de seu funcionamento. Mas pense novamente sobre uma situação em que você se sentiu emharaçado ou inseguro. Lembre-se de como você ensaiou seus caminhos e antecipou qual seria a reação dos outros. Naturalmente não se pode estar sintonizado o tempo todo; isso seria exaustivo demais. Mas todos nós estamos sempre envolvidos em ler gestos, assumir papéis, e secretamente (em nossa mente) imaginando as conseqüências de reações diversas. Pois, se as pessoas não pudessem entrar nesses processos, a interação não poderia ser flexível e não poderia envolver mais do que duas pessoas.

Ainda outro processo essencial envolvido na interação é o que Mead rotulou de eu. De acordo com Mead, cada um de nós vê a si mesmo como um objeto em cada situação em que nos encontramos, exatamente como vemos outros objetos — pessoas, carros, cadeiras, casas etc. Quando nos comunicamos com alguém, lemos gestos: assim fazendo, conseguimos uma imagem de nós mesmos como um objeto. Assim, os gestos dos outros tornam-se um tipo de “eu refletido” (Cooley, 1909) ou espelho no qual nós o vemos refletidos. Todos nós estamos num sentido, implicitamente dizendo “Espelho, espelho meu”, só que nosso espelho não está na parede do nosso quarto mas nos gestos de outros. Em cada situação obtemos uma imagem de nós mesmos, mas também apresentamos para cada situção uma imagem mais estável e tolerante de nós mesmos como um certo tipo de objeto ou pessoa. Cada um de nós tem uma auto-imagem, e é a nossa percepção dos gestos de outros, e não seus gestos reais, que molda nossos comportamentos a fim de não violar essa imagem. Assim, nossas ações na maioria das situações revelam uma coerência através da qual buscamos sustentar nossa auto-imagem. Passamos a nos comportar de modos previsíveis, e devido a nossa coerência os outros são capazes de harmonizar suas reações com nossos comportamentos. Da mesma forma, ajustamos nossas respostas aos outros nos moldes dessa interação.

Em síntese, o homem se revela e se reconhece nas relações com o outro e com as coisas por meio de sím bolos.

Quando você diz coisas do tipo “Desculpe, eu não estou sendo eu mesmo”, você está reconhecendo que os outros não o verão da forma usual porque você agiu contrariamente a sua auto-imagem. Ou, quando você diz “Eu não posso entender como ele pôde fazer isso”, você está realmente dizendo duas coisas: sua percepção foi ineficaz, e você não pôde ver coerencia, como ditado pela auto-imagem dele, nas reações dele. Daí você não saber como reagir.

Assim, George Herbert Mead viu a interação como um processo de emissão e recepção de gestos, e, no caso dos homens, a emissão definiu culturaimente símbolos que carregam 5ignificados comuns. Esses gestos são usados para interpretar os significados e ajudar os homens a se tornarem conscientes das intenções dos outros e suas possíveis linhas de conduta. Com as capacidades cognitivas fornecidas pela “mente”, podemos ensaiar alternativas, imaginar seu impacto, inibir reações inadequadas, e selecionar um modo de conduta que facilitará a interação (ou, de um ponto de vista utilitarista, que maximizara os benefícios ou recompensas). Além disso, podemos nos ver como objetos em situações e lhes dar uma auto­imagem estável, que nos dá uma bússola para orientar nossas reações de modos característicos e coerentes. Tal é a natureza de “interação simbólica” como visto por Mead, e suas visoes neste processo primordial representam o ponto de partida para pesquisas futuras.





A REPRESENTAÇÃO DRAMJ TICA DO EU



Visto que todos nos somos atores num palco, orquestramos nossas emissões de gestos para nos representar sob uma certa luz, como um certo tipo de pessoa, e como um indivíduo que espera certas reações dos outros. Alguns de nós são, é claro, melhores atores do que outros. Mas todos nós somos intérpretes que manipulam a emissão de gestos. Essa visão de interação é conhecida como teatraliza ção, um termo que se tornou popular pelo recente sociólogo Erving Goffman (1959, 1967).

Goffman utilizou nossa analogia do teatro para distinguir os espaços de interação entre palco e bastidores (Goffman, 1959). No palco, as pessoas constantemente manipulam e orquestram os gestos de modo a trazer à tona reações desejadas dos outros — reações que sustentam sua auto-imagem e que correspondem às exigências normativas da situação. Nos bastidores, as pessoas relaxam um pouco e tiram suas mascaras. Os bastidores permitem alguma privacidade com companheiros que partilham as dificuldades de subir ao palco. Para Goffman, muita interação acontece nas idas e vindas entre os bastidores e o palco. Se você duvida disso, examine suas próprias rotinas diárias. Você está nos bastidores quando está se preparando para ir à escola, no banho, com escova de dentes, secadores de cabelo, bobs, maquiagem, desodorantes e gel para cabelo. Você está no palco quando está se sentando na classe, participando de uma reunião de estudantes ou flertando numa festa.

Sem os bastidores, a vida seria extremamente estressante. E ainda, sem o palco, a organização social seria problemática. Como um funcionalista argumentaria, a sociedade exige que as coisas sejam feitas e as ações sejam coordenadas; esse fato, por sua vez, exige que os homens ajam e obedeçam. Nós seguimos regras; dizemos a coisa certa; e nos conduzimos de forma apropriada. Se as pessoas se recusassem a fazer assim, a realidade social seria desordenada e caótica.

A teatralização também aponta um importante aspecto de toda a interação: o uso de “adereços” físicos durante uma interação. Um desses “adereços” é o nosso corpo, e seu “arranjo” durante a interação. Um grupo de pessoas de um círculo fechado, ao interagir, está dizendo algo às pessoas fora desse círculo; duas pessoas que andam juntas, de mãos dadas, estão numa interação muito diferente do que outro casal que mantém alguma distancia um do outro; ou uma classe com cadeiras num círculo terá um sentido diferente, contrária àquela com fileiras como em um teatro. Assim, como posicionamos i10550s corpos em um gesto, o qual “diz algo” sobre o fluxo de interação, e usamos “linguagem corporal” —posição, olhares, toques e outras insinuações — para criar significados sobre o que está acontecendo.

Outro “adereço” são objetos no espaço — mesas, cadeiras., paredes, portas, divisórias, bancos e qualquer coisa que seja um objeto físico que comunique alguma coisa sobre uma interação. Quando uma pessoa se senta à mesa ou vira uma cadeira para colocar os pés, esse gesto comunica informalidade. Um professor que se senta sobre a mesa interage muito diferentemente do que o que permanece de pé atrás de uma tribuna. Ou, na interação mais personalizada, nós geralmente colocamos ou tiramos barreiras físicas para comunicar distancia ou proximidade.

Ainda, outro “adereço” é o vestuário, que diz muito aos outros e, como consequência, estrutura o fluxo de nteraçao. Reagimos e respondemos muito diferentemente a um professor usando paletó e gravata do que a um vestido informalmente. Os vários tipos de vestuário— emblema> de associações, distintivos atléticos, dizeres em camisetas etc. —todos influenciam de modo sutil o fluxo de interação.

Outro aspecto da teatralização é o que Erving Goffman (1959) chamou de manipulação de percepções, em que orquestramos gestos, estruturas de palco, e posição de corpo para apre>entar uma fachada. Fazemos isso a fim de apresentar determinado eu à nossa platéia e para receber certos tipos de reações. Então, quando estamos no palco, gerenciamos nossos gestos e outros adereços disponíveis. Tal manipulação dá ao comportamento de cada pessoa uma coerência, facilitando a sintonia de comportamentos. É claro que, como enfatizou Goffman, as fachadas podem tanto manipular quanto decepcionar, como, por exemplo, quando um “homem de bem” apresenta uma fachada que mascara suas intenções verdadeiras de roubar Todos nós fazemos isso às vezes, espero que em menor grau, mas ainda nos percebemos apresentando uma fachada que não é lá muito verdadeira.





AS TÉCNICAS IMPLÍCiTAS DE INTERAÇÃO



Dividir o mundo em palcos e seguir os roteiros culturais de comportamento não é suficiente para garantir um sentido de ordenação durante a interação. Todos nós conhecemos alguém que aparentemente faz qualquer coisa exatamente da forma que tem de ser e, contudo, nos preocupamos. Algo está faltando — não temos certeza absoluta do que é —‘ mas algo está errado em como esta pessoa fala, gesticula e age. Uma razão possível para essa preocupaçao é a falha ou inabilidade desse indivíduo na utilização de certas técnicas de interação implícita, porém extremamente importantes. Quando essas técnicas não são usadas, o sentido de continuidade e ordenação na interação é quebrado (Mehan e Wood, 1975; Handel, 1982). Assim, a interação depende de alguns processos complementares que o sociólogo Harold Garfinkel (1967) denominou etnométodos. Quando interagimos com os outros, usamos uma variedade de métodos interpessoais ou técnicas para criar e sustentar uma ordem e fornecer continuidade na interação. Esses métodos interpessoais são tão inconscientemente empregados que nos conscientizamos deles apenas quando alguém não os usa, ou os usa incorretamente.

Usando um dos exemplos de Garfinkel (1967), tente imaginar sua reação se você fosse o sujeito desta interação fictícia:



Si. 11-110: O pneu furou.

E\ni RI\1I \TA1R)R: O que você quer dizer com o pneu furou?

SL Iii o: O que você quer dizer com o que você quer dizer? O pneu furou quer dizer que o

pneu furou. É isto o que quis dizer Nada especial. Que pergunta louca!



Obviamente, essa interação está perdendo sua continuidade e ordenação, mas por quê? A razão é que o indivíduo 2 violou uma técnica implícita e combinada em todas as interações:

não perguntarmos o óbvio e presumirmos (o que não deve ser desafiado) que partilhamos certas experiências de vida. Os teóricos da etnometodologia denominaram esse método específico de princípio et cetcra porque comunicamos com nossos gestos a ordem implícita de não se questionar certas coisas. Deixe-me agora reconstruir para você um diálogo que eu tive com um aluno (novamente, imagine-se nesta interação).



Ai t”’co: Você sabe, estou tendo problemas com esta matéria.

Ei : Não, não sei.

Ai c~o: A matéria é tão, tão abstrata, você sabe?

EL’: Não, não sei.

Acu\o: Bem, eu ... eu voltarei uma outra hora.



As pessoas freqüentemente usam a frase “você sabe” em diálogos. Quando esta pequena frase é usada, o princípio et cetera, ou técnica, está sendo invocado. O locutor está, na essência, afirmando que devemos aceitar o pronunciamento dele, mesmo que “não saibamos” o que significa. Balançando a cabeça ou dizendo “Sim, eu sei”, criamos um sentido compartilhado e ordenamos a interação.





INTERAÇAO DE PAPÉIS SOCIAIS



Um papel social é simplesmente um conjunto de comportamentos (gestos) que as pessoas emitem e que os outros aceitam como significando um tipo e curso de ação particular Como vimos no último capítulo, muitos papéis sociais são ditados por normas e por nosso status numa estrutura social (Parsons, 1951). Por exemplo, quando você atua como aluno (vestindo-se de um certo modo, falando de uma maneira particular, tomando notas, participando de aulas, e assim por diante), o conjunto de seus comportamentos revela uma coerência e um estilo que quase qualquer um pode reconhecer como “apenas de um aluno”. Este papel social é, em grande parte, ditado pelas normas culturais e atuação em uma estrutura escolar Essas mesmas características podem ser encontradas na empresa.





QUADRO 5.1 Ver ficando Rupturas na Interação



Uma maneira de descobrir o universo sutil não pronuncie nenhuma palavra e tente

dos métodos é verificar, você mesmo, não mexer seu rosto ou como. Se você seguir

uma ruptura. E isso é muito fácil, porque alguma dessas sugestões, uma interação

toda e qualquer interação face a face en- provavelmente se desintegrará diante de

volve o uso de técnicas implícitas. Aqui seus olhos.

estão algumas sugestões: na próxima vez que Outra boa idéia seria agir como um convi­alguém usar a frase “você sabe” diga que dado na casa de seus pais: pergunte se você

você não sabe, ou tome a afirmação mais pode usar o banheiro, peça permissão para

óbvia que uma pessoa faz (“Estou atrasado pegar algo para comer, pergunte se você

para a aula”) e pergunte o que a pessoa pode se deitar, e assim por diante, como se

quer dizer (“O que você quer dizer com afta- você fosse um convidado. Seus pais imagi­sado?”), ou, ainda melhor, permaneça narão”oqueestáerrado” etentarãorecons­indiferente quando alguém fala com você, truir um sentido de ordenação.



Ainda, os códigos culturais e o status de alguém em uma estrutura social são, no melhor dos casos, caracterizações gerais (R. Turner, 1962). Há sempre muito espaço para manobras; é sempre possível apresentar-se de um modo específico (como aluno atleta, aluna “rainha da beleza”, membro da associação estudantil, membro do grêmio, aluno intelectual, aluno louco, aluno arroz-de-festa etc.). Isso é o que Goffman denominou de manipulação de percepções, parte da qual envolve gestos orquestrados para avaliar que papel social vamos desempenhar Na realidade, os outros estão esperando ler nossos gestos para descobrir esse papel social. Como parte de nossos estoques de conhecimento (Schutz, 1932), todos nós carregamos dentro de nós mesmos idéias gerais de vários papéis sociais —o de aluno, mãe, pai, namorado, trabalhador, estudioso, atleta, “caxias”, cômico, paquerador, professor, motorista, gerente, calouro, amigo, colega, e assim por diante. Para cada papel social provavelmente temos muitas concepções sobre os comportamentos adequados. A interação é bastante facilitada pela habilidade de armazenar papéis sociais em nossa memória porque, uma vez que o papel social de alguém é estabelecido de acordo com essas idéias, podemos antecipar, pelo menos até certo ponto, como aquela pessoa reagira conosco. A vida é muito menos estressante quando somos capazes de colocar alguém em um papel social, pois podemos então assumir o papel social recíproco e, de certa forma, continuar no piloto automático. E quando não conhecemos o papel social de um indivíduo te temos de trabalhar na interação. Temos de ler gestos mais ativamente, absorver um papel mais cautelosamente, olhar fixamente e com atenção através cio “eu refletido”, permanecer mais mentalmente alertas e fazer muitos exercícios mentais cansativos. A vida é muito mais fácil quando os outros orquestram seus gestos para informar que papel social e4ão desempenhando.

Esses processos de interaçao s~o dados em sua mais articulada expressão pelo sociologo Ralph li. Tu rner (190 19ó8 1980). Turner argumentou que não apenas assumimos papéis perante os ocitros (para ver qual é o papel social deles) mas também criamos papéis. Como parte de nossa representação teatral, nós consciente e inconscientemente manipulamos gestos — palavras, postura, inflexão de xoz, vestuario, expressões faciais — para dizer aos outros que papel estamos desempenhando, xisto que os outros estão buscando nesses gestos um sinal de nosso papel. Além disso, eles assumem que os nossos gesto)s ser~o coerentes e quis nossos respectix’os papéis 5~o todos coerentes; e assim, uma vez que eles tenham lido alguns gestos e colocado uma pessoa em um papel, eles esperam que outros gestos sejam coerentes com esse papel. E as pessoas estão) constantemente x’erificando e reveri ficando os papéis umas das outras apenas para certiticar-se de que elas os desempenharam de modo certo.

A>sim, todas as interações envolvem os processos de representação de gestos para avaliar um papel, buscando descobrir os papéis dos outros, e reax’aliando e reverificando os papeis. Entretanto, uma vez que somos colocados dentro de um papel pelos outros, égeralmente difícil escapar, porque os outros continuam a reagir a nós como representantes daquele papel. As pessoas relutam em nos deixar de fora de um papel, porque elas não querem reajustar seus comportamentos, a menos que sejam forçadas a isso. Somente através de um esforço persistente é que as pessoas podem recriar seus papéis em uma situação.

Tente agora lembrar-se de algumas situações pessoais em que essas dinâmicas de papéis funcionaram. Você lembrou de situações em que foi~” malcompreendido” e colocado em um papel errado; ou lidou com pessoas que “x’ocê não poderia compreender” porque seus comportamentos não revelavam um papel que você conhecia; ou você se viu ou viu outros indivíduos tentando fazer um papel para si mesmos que eles simplesmente não podiam representar e nos quais eles não poderiam ser levados a sério. Se essas situações i.aracterizassem toda a vida social, a interação seria embaraçosa e difícil. Felizmente, na maioria das interações desempenhamos papéis, criamos papéis e verificamos papéis sem dificuldade. Como conseqüência, nossas interações acontecem facilmente.





OS ESTEREÓTIPOS NAS INTERAÇÕES



Freqüentemente as pessoas desempenham papéis que são tão conhecidos e estereotipados que interagimos com eles como modelos, como não-pessoas ou como categorias. Não épreciso ser insensível e mesquinho para tratar as pessoas como não-pessoas; mas, na vida ocupada que todos nós levamos, achamos mais fácil fazer as coisas quando podemos interagtr com pessoas como estereótipos. Se tivéssemos que interagir pessoalmente com todo funcionário, transeunte, colega de classe, professor, zelador, administrador, ou vendedor de alimento, tratando cada um como um ser humano único e fascinante que merece O) nosso) mais sensivel e preciso desempenho de papel, nós nos consumiríamos, e jamais conseguiríamO)s fazer qualquer coisa. Assim, em uma sociedade complexa em que participamos de muitas situações, a interação em termos de categorias é essencial, um ponto enfatizado pelo) so)cioilogo) alemão prectirso)r Alfred Schutz (1932). Para esses brex’es mas tuncionalmente essenciais enco)ntro)s, as pessoas muttiamente cate çartzam, ou constro)em tipificações. Isto é, elas imediatamente colocam umas às outras em papéis altamente característico)s e co)m isso) fazem seu negócio sem dificuldade. Quando uma pessoa compra mantimento)s em uma loja, ela e o funcionário estereo)tipam um ao outro, interagem de maneiras muito) previsíveis, e mal se dão conta um do) o)utro. E claro que, se ela se torna uma “cliente regular” (outro tipo de estereótipo), então ambas as partes trabalham um pouco mais arduamente e tentam ser um pouco mais pessoais.

As interações obviamente variam em seu grau de categorização mútua. Além disso, quando elas são sustentadas, elas tendem a se desenx’olver no tempo desde o altamente estereotipado ao) mais particular. Entretanto, esse processo deve acontecer durante o decorrer do) tempo). Se alguém “avança rápido demais”, “se atira sobre você”, ou “invade seu espaço”, vo)cê percebe desde o movimento muito rápido) de uma interação estereotipada ate uma que é mais pessoal e íntima. Um primeiro namorado que confessa setis mais íntimos sentimentos está violando o papel de “recém-conhecido” e o estereotipando como um “primeiro namorado”. Nessa situação a pessoa se sente embaraçada. Um médico que faz a você perguntas muito) íntin)as e revela seus sentimentos pessoais está provavelmente “provo)cando uma reação em você” (sua nova designação do papel do médico) e, como conseqúência, está violando seu estereótipo de médico.

Até certo ponto, as normas nos dizem catita as situações íntimas ou estereotipadas devem ser. Mas também, to)dos temos idéias implícitas sobre essas questões. Nós raramente damos ouvidos aos estereótipos, a menos que eles sejam violados, forçando-nos a agir de forma mais interpessoal do que queremos.





MOLDURAS DE INTERAÇÃO



Sem a capacidade de diminuir o campo da interação, teríamos de gastar muita energia buscando dar sentido às interações. Felizmente, os homens dispõem de um importante atalho: eles usam seus gestos e “adereços” para enquadrar a interação. Mais uma vez, Erving Goffman (1974) nos fornece uma importante análise, usando a metáfora de uma moldura de quadro que engloba e destaca certos objetos (o quadro) e exclui tudo o mais fora dela. Os homens criam molduras simbólicas com seus gestos, indicando o que érelevante e irrelevante para a interação. Por exemplo, quando alguém diz “Posso falar com você em particular”, esse conjunto de gestos enquadra a interação de uma maneira particular. Ou, quando alguém diz “Eu não quero falar sobre isso”, assuntos potenciais de interação estão sendo colocados fora da moldura.

Enquadrar é tão importante à interação que é geralmente usado involuntariamente. Pegue um “bom artista” novamente; um bom artista cria duas molduras, uma “própria” de seus pensamentos, é a base para a interação e outra, mais secreta, que difere da anterior. Ou pense sobre alguém que parece estar manipulando outro: a pessoa que manipula está em geral criando uma moldura para aparências e uma outra para fins privados para que os outros não percebam.

Molduras são criadas de muitas formas. A fala é, naturalmente, a mais óbvia: “Mãos à obra”, “Estou apaixonado”, “Estou com dor de cabeça”, “Precisamos conversar”, e assim por diante. Mas além das palavras faladas, usamos outros gestos e “adereços” também (J. Turner, 1988). Por exemplo, o número de pessoas e seu enquadramento em uma situação, como é o caso para uma aula em que os corpos são alinhados em fileiras e este alinhamento enquadra a situação, em termos do que pode, e não pode, ocorrer. Ou a distância física entre as partes para uma interação enquadra a situação, tornando evidente a movimentação de alguém dentro de nossa “área pessoal”. Ao lado do enquadramento corporal, nossa conduta — expressão corporal, por exemplo — faz muito do trabalho de moldura, visto que se abaixar contra uma parede e permanecer em pé e se jogar para frente significam duas coisas opostas. Estruturas físicas também enquadram interações; por exemplo, os alunos podem rapidamente notar quando vão do corredor em que estavam conversando para a sala do professor.

As molduras podem ser trocadas, ou reencaixadas nos termos de Goffman (1974). Quando alguém diz “Não vamos mais conversar sobre isso”, está mudando de moldura. De fato, qualquer interação que resiste pode experimentar diversas trocas de molduras —por exemplo, fofoca geral para trabalhar como relatos sobre confidências pessoais, de volta à fofoca geral, e assim por diante. Uma vez que entendemos os palpites para a troca de molduras, torna-se possível mover-se sem dificuldades através da essência sempre mutante da interação. Além disso, podemos assentar interações em múltiplas molduras, assim as pessoas em um ambiente de trabalho (uma moldura) conversam informalmente como amigos (outra moldura dentro da primeira), com alguns se tornando bons amigos ou companheiros (outra moldura dentro da última) e com outros se tornando namorados (ainda outra moldura). Assim, a interação é assentada e laminada em molduras, e podemos ir de uma para a outra um tanto facilmente — como denota uma simples frase como “Bem, de volta ao trabalho, eu espero”.

Sem enquadrar, a interação seria muito mais trabalhosa. Em nossos “estoques de conhecimento” nós adquirimos discernimentos sobre os significados dos gestos com relação a molduras, e molduras reencaixadas. Como temos essa facilidade, podemos facilmente determinar o que é relevante e apropriado para uma situação, e então atuar sem muitas preliminares. Se nossa facilidade no enquadramento é fraca, entretanto, pareceremos perdidos e “fora dela”, expressando afirmações e comportando-nos de maneiras que pareçam estranhas aos outros.



RITUAIS DE INTERAÇÃO



Nós todos provavelmente já passamos por algum conhecido e dissemos “Oi”, e não recebemos nenhuma resposta. E uma experiência muito incômoda, até mesmo se não conhecemos bem a pessoa. A razão para esse desânimo, talvez até mesmo raiva ou aborrecimento, é que um ritual de interação foi violado. Muito da interação humana émediada pelos rituais interpessoais; isto é, cada indivíduo está comprometido com um comportamento altamente estereotipado (Goffman, 1967). E interações entre as pessoas, que estão mutuamente estereotipadas, são quase todas ritualizadas. Por exemplo, “Como vai você hoje?”, “Muito bem”, “O tempo está bom”, “Sim”, “Tenha um bom dia”, “Tchau”, e “Até logo” são todos rituais de interação. O mesmo é verdade para o caso das molduras, em que rituais são freqüentemente usados para enquadrar inicialmente, e então reenquadrar uma situação. Nós estamos comprometidos nesses rituais de interação porque eles nos dão uma sensação de ser uma linha dentro do tecido social.

É mais provável que a interação seja ritualizada sob certas condições (Collins, 1975):

entre estranhos e entre pessoas de status muito diferentes. As pessoas que não se conhecem bem conx’ersam com base em estereótipos, sentindo-se cada qual distante, e fazendo contato sem compromisso. Aqueles de poder, prestígio e riqueza desigual interagem em padrões ritualizados para esconder a tensão latente entre as diferenças. Aqueles em status subordinados procuram não demonstrar suas dificuldades, ao passo que as pessoas de alto status geralmente desejam reconhecimento de seu status imponente, sem provocar rancores e sem ter que controlar o respeito dado pelos indivíduos de baixo status. Lembre-se, por exemplo, de uma conversa que você pode ter tido com um professor: toda a sua informalidade aparente é altamente ritualizada, pois a interação é entre as pessoas de status muito diferente. Assim a teoria do conflito enfatiza um importante aspecto de interação:

as pessoas na interação estão geralmente em situação de desigualdade e, como conseqüência, em um estado de tensão. Essa tensão pode ser minimizada por um ritual e distanciada, mas está sempre lá, pronta a surgir dentro da mais antagônica interação.

Assim, os rituais nos permitem conservar nossas máscaras e manter nossa dignidade e ao mesmo tempo reforçarmos nossos sentimentos de pertencer a um todo social maior. Os rituais mais críticos são estes do dia-a-dia, que desempenhamos rotineiramente e não acidentalmente a íueuas que alguém não participe. E neste caso vemos como eles são importantes, pois nosso sentimento de continuidade social é interrompido.

Na realidade, interações cotidianas são estruturadas por rituais (J. Turner, 1986a, 1988, 1989; Turner e Collins, 1989). Há rituais de abertura (“Oi, como vai você”) e rituais de fechamento (“Até logo”); e no meio dessa abertura e fechamento há rituais para reparar rupturas (“Oh, desculpe-me, eu não sabia”), para enquadrar e reenquadrar (“Isto ébastante”), para dar seqüência à conversa (“Isto é realmente interessante, mas você pensou em ... ‘)e que organizam o fluxo da interação. Aqueles que não podem usar esses tipos de rituais interpessoais, ou que os usam de um modo errado, parecem embaraçados e difíceis; a interação torna-se convulsiva, e falta continuidade e fluxo.

Assim, rituais são essenciais à interação. Se você tem dúvida disso, viole apenas um ritual, tal como não dando uma abertura ou fechamento onde é pedido ou violando qualquer um dos muitos rituais que você implicitamente entende. Se você fizer isso, a interação se tornará forçada de repente, indicando como os rituais são importantes à estrutura social.







JNTERA ÇÃO COM GRUPOS DE REFERÊNCIA E PESSOAS AUSENTES



Henry David Thoreau implicitamente capturou uma importante dinâmica da interação humana quando escreveu: “Se um homem não acompanha os passos de seus companheiros talvez seja porque ele ouve um tambor diferente. Deixe-o ater-se à música que ele ouve, apesar do ritmo e da distância”. Em todas as interações, lidamos não apenas com aqueles imediatamente presentes, mas com muitos “tambores distantes”. Podemos simultaneamente interagir com pessoas presentes e com pessoas ausentes. Esse processo é, às vezes, óbvio com filhos jovens, os quais, quando brincam juntos, invocam seus pais (“Olha, o meu pai diz ...“ ou “O que sua mae vai achar disso?”). Todos nós também interagimos com pessoas importantes que nao estão presentes — um cônjuge, um namorado, um pai, um filósofo, ou qualquer um que consideramos significatix’o para nós. Em geral, a reação percebida ou introduzida desses indivíduos distantes é bem mais importante do que as reações daqueles bem a nossa frente. Todos nós gostamos de pensar em nós mesmos (especialmente nos Estados Unidos), como individualistas convictos que somos, e assim disfarçamos ou evitamos saber o quanto, ao interagir com o “outn)” ausente, nossa conduta é orientada.

Ereqüentemente as pessoas distantes personificam valores culturais e crenças, e interagindo com eles nos ligamos à cultura geral ou a uma subcultura específica (Kelley, 1958). E, com a mesma freqüência, assumimos o ponto de vista de um grupo grande de indivíduos~,sem separar, até mesmo sabendo disso, um indivíduo particular que personifica este ponto de vista (Shihutani, 1955). Melhor, temos uma idéia geral do que esses grupos de referência esperam, e nós, desse modo, ajustamos nossa conduta. George l-lerhert Mead referiu-se a esse processo de interação como o “outro generalizado”.

O fato de que a interação geralmente envolve pessoas distantes e grupos de referência pode potencialmente criar tensões com aqueles que não sabem sobre esses tambores distantes. O que eles podem ver é alguém que perde os palpites ou que viola as normas da atual situação. Normalmente, somos bastante bons em reconciliar nossos comportamentos com aqueles tanto próximos quanto distantes. Mas às vezes temos dificuldade, e, como conseqüência, dizemos e fazemos coisas estúpidas, pelo menos no ponto de vista daqueles a nossa frente. Outras vezes, reconhecemos que andamos em direção a diferentes tambores e ritualizamos nossas interações. Por exemplo, atletas e intelectuais, negros e brancos, hispânicos e anglo-saxônicos, velhos e jovens, ricos e pobres, educados e mal-educados, todos ritualizam seus encontros iniciais para evitar as tensões e embaraços criados por nossa interação com pessoas distantes não familiares e grupos de referência (Merton e Rossi, 1968).





INTERAÇÃO E ORDEM SOCIAL



Finalmente, a sociedade é mantida unida pelas pessoas em contato face a face. Naturalmente, os indivíduos criam um universo de símholos culturais e estruturas de grande porte que limitam o que eles podem fazer quando se encaram e quando emitem sinais e interpretam gestos mutuamente. De fato, os sistemas de símbolos e matriz de estruturas sociais têm x’ida própria, sendo dirigidos pelas dinâmicas que podem esmagar os indivíduos; e, ainda, são as pessoas que ocupam status em estruturas sociais, desempenham papéis, têm simbolos que orientam suas vidas, e sustentam a cultura e estrutura da sociedade. Assim, o processo de interação fortalece as organizaçoes sociais e eu 1 turais.



É difícil fazer a conexão entre a interação de micronível e as macroestruturas e sistemas culturais. Nós sabemos que eles estão ligados — o micro não é possível sem a existência da macro, e vice-x’ersa — mas a influência mútua dos dois níveis é difícil de discernir e analisar. Este problema e denominado de problema de micro-macro “vínculo” ou micro-macro “intervalo” (J. Turner, 1983; Alexander et ai., 1986). Ainda, para nossas finalidades, precisamos apenas reconhecer que os processos esboçados neste capítulo são os que sustentam as estruturas e símbolos do mundo social. Sem a habilidade de manipular códigos, desempenhar papéis e interpretar gestos, as estruturas da sociedade e os sistemas de simbolos da cultura (língua, tecnologia, estoque de conhecimento, valores, crenças, normas) nao poderiam existir. Contrariamente, essas estruturas e sistemas de simbolos limitam e orientam o curso da interação.





RESUMO



A interação envolve a emissão mútua de sinais e leitura de gestos e o ajuste de respostas àemissão de gestos. A interação humana, de acordo com G. 11. Mead, também envolve as capacidades pela mente (pensamento, consideração e ensaio de alternativas) e o eu (vendo a si próprio como um objeto).

2. Na análise de Erving Coffman, a interação ocorre em um teatro, tanto o palco quanto os bastidores, e usa “adereços” para orquestrar uma fachada pessoal como parte de um processo mais generico da manipulação de códigos. Goffman também desenvolveu a noção de “moldura” como parte da manipulação, desse modo os individuos mostram o que deve ser incluído e excluído como consideração relevante durante o curso de interação.

3. A etnometodologia enfatiza que muito do sentido de ordem dos homens é sustentado por técnicas, que são implicitamente usadas pelos indivíduos para preservar a idéia de que eles experimentam o mundo social de maneiras semelhantes.

4. A interação ocorre em estruturas sociais, em que as considerações de papéis sociais se tornam importantes. As pessoas gerenciam sua emissão de gestos para desempenhar papéis sociais para si mesmas, e ativamente lêem os gestos umas das outras a fim de descobrir os papéis sociais que os outros estão tentando estabelecer. Esse processo é possível porque os indivíduos dispõem, em seus estoques de conhecimento, de conjunto de papéis sociais que eles adotam ao representar o papel para eles próprios e ao interpretar os gestos de outros. Os indivíduos também buscam verificar e reverificar os papéis uns dos outros.

3. Muitas interações procedem em termos de estereótipos mútuos, nos quais os indivíduos se veem como categorias segundo as quais adaptam suas respostas.

e. A interação depende de rituais, ou seqüências estereotipadas de gestos, que indicam a abertura,

o fechamento, a estruturação e outros aspectos do processo de interação.

A interação envolve conscientização de, e adaptações para, expectativas dos outros e ponto de

vista de grupos não fisicamente presentes numa situação. Tais grupos de referência e outros

distantes geralmente orientam e dirigem os comportamentos e reações dos indivíduos.

8. Interação, estrutura social e cultura são inter-relacionadas. Cada uma não poderia existir sem a ou tra.

2006-11-17 00:52:10 · answer #1 · answered by cristal9deluz5 6 · 0 0

Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês, fundador da sociologia moderna.
No século XVIII, Giambatista Vico dizia em sua obra “A Nova Ciência” que a sociedade se subordina a leis definidas que podem ser perfeitamente estudadas. Ele estava trazendo para a sociedade européia, dita civilizada, uma metodologia de estudo que os evolucionistas já usavam para estudar outros povos desde o incremento da colonização de outros continentes.
A idéia de se dedicar ao estudo da sociedade européia não era nova, mas tão pouco era uma ciência estabelecida. Vários filósofos e economistas inclinavam-se cada vez mais ao estudo dos fenômenos socias como determinantes em suas pesquisas. Entretanto foi somente no século XIX que esta tendência se tornou reconhecida como uma condição para o Conhecimento. Auguste Comte criou o termo Sociologia para denominar o estudo da sociedade que dava ênfase aos fenômenos socias, suas instituições e suas regras. Contudo, sua obra não era Sociologia, era mais uma ciência sociológica, feita de muita inspiração e pouco rigor metodológico.
Foi somente no segunda metada do século XIX, com Émile Durkheim que a Sociologia realmente passou a existir, com objeto, método e objetivos claros e definidos. Mesmo que de lá para cá estes tenham mudado bastante. Podemos dizer que se Durkheim não foi o “pai” da idéia, com certeza ele foi o “pai” da ciência.
A partir do final do séc. XVII e início do séc. XVIII é grande o número de pessoas, principalmente entre os mais pobres, que são forçados a deixar seus lares no campo e rumam para as cidades a fim de encontrar novas formas de sobrevivência. Durante estes dois séculos o números de indústrias, localizadas dentro e na periferia das cidades, aumenta assustadoramente modificando a paisagem urbana, bem como seu estilo de vida.
A cidade ganhou uma nova feição caracterizada pelo modo de produção capitalista e pelo trabalho assalariado, refletindo as suas contradições. A arrancada industrial não beneficiou os assalariados, pois enquanto o custo de vida nas cidades subiu em torno de 62% durante o séc. XVIII, o salário médio cresceu apenas em torno dos 26% no mesmo período , o que implica no aumento da miséria e de todos os males que ela traz.
O crescimento rápido e desordenado das cidades e a introdução das máquinas pioraram as condições de trabalho e de vida dos operários, gerando a chamada "questão social". Ou seja, o problema de ter de se lidar com uma camada da população que é um enorme contingente de trabalhadores mal pagos ou desempregados que se encontram em situação de extrema desvantagem no sistema capitalista.
O séc. XIX é ao mesmo tempo o apogeu e a crise da sociedade burguesa, o proletariado avança ameaçando a ordem do sistema que tem de se proteger, ao mesmo tempo que tenta se legitimar. Contudo, vale a pena atentar para a questão de que nascia um novo estilo de vida, baseado na vida urbana e na sociedade de consumo, que tornava a sobrevivência de cada um totalmente dependente da produção dos outros, obrigando progressivamente ao consumo para esta sobrevivência, mesmo assim, deixava este consumo fora do alcance da maioria da população trabalhadora.
Não é de se estranhar que no meio deste contexto aparecessem homens dispostos a discutir sobre o que estava acontecendo, dispostos a tentar entender as mudanças sociais e individuais, de tentar estabelecer ordem e regras a um mundo que se modificava rapidamente e outros que quisessem acelerar ainda mais estas mudanças. Homens que não podiam mais se contentar com dogmas, com explicações religiosas. Todos eles herdeiros do pensamento Iluminista, críticos racionais e laicos, muitos levados pelo pensamento positivista, fiéis depositários de suas esperanças na possibilidade ilimitada da ciência. Entre eles Émile Durkheim.

2006-11-17 00:41:25 · answer #2 · answered by Anonymous · 0 0

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2006-11-17 00:38:15 · answer #3 · answered by AMRR 5 · 0 0

Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coerção social.

Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).

A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são: Da divisão social do trabalho (1893); Regras do método sociológico (1894); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.

2006-11-17 00:37:34 · answer #4 · answered by Marivaldo L 6 · 0 0

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2006-11-17 00:36:52 · answer #5 · answered by Anonymous · 0 1

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