HOBSBAWM, Eric J.. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Trad. De Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
A Revolução Industrial
Segundo Hobsbawm (2001:43), até 1840 a grande corrente de literatura oficial e não oficial sobre os efeitos sociais da revolução industrial ainda não começara a fluir. O próprio nome de revolução industrial reflete seu impacto relativamente tardio sobre a Europa.
Segundo Hobsbawm (2001:43), somente na década de 1830 que a literatura e as artes começaram a ser abertamente obsedada pela ascensão da sociedade capitalista.
“A revolução industrial explodiu”, significa que a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daà em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente, ilimitado, de homens, mercadorias e serviços. Esse fato é hoje tecnicamente conhecido pelos economistas como a “partida para o crescimento auto-sustentável” (HOBSBAWM, 2001:44).
(...) a revolução industrial não foi um episódio com um princÃpio e um fim, (...), pois sua essência foi a de que a mudança revolucionária se tornou norma desde então. (...) Mas a revolução mesma, o “ponto de partida”, pode provavelmente ser situada, com a precisão possÃvel em tais assuntos, em certa altura dentro dos 20 anos que vão de 1780 a 1800: contemporânea da Revolução Francesa, embora um pouco anterior a ela (HOBSBAWM, 2001:45).
Segundo Hobsbawm (2001:45), qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade tecnologia e cientÃfica.
Contudo,
(...) a maior parte da expansão industrial do século XVIII não levou de fato e imediatamente, ou dentro de um futuro previsÃvel, a uma revolução industrial.(...) Em 1850, embora tivessem produzido bem mais do que em 1750, o fizeram substancialmente de maneira antiquada (HOBSBAWM, 2001:48).
Além disso, as revoluções industriais pioneiras ocorreram em uma situação histórica especial, em que o crescimento econômico surge de um acúmulo de decisões de incontáveis empresários e investidores particulares, cada um deles governado pelo próprio mandamento da época, comprar no mercado mais barato e vender no mais caro. (...) Por outro lado, possuÃa uma economia bastante forte e um Estado suficientemente agressivo para conquistar os mercados de seus competidores. (...) Além do mais, a Grã-Bretanha possuÃa uma indústria admiravelmente ajustada à revolução industrial pioneira sob condições capitalistas e uma conjuntura econômica que permitia que se lançasse à indústria algodoeira e à expansão colonial (HOBSBAWM, 2001:48-49).
A indústria algodoeira foi assim lançada, como um planador, pelo empuxo do comércio colonial ao qual estava ligada; um comércio que prometia uma expansão não apenas grande, mas rápida e, sobretudo imprevisÃvel, que encorajou o empresário a adotar as técnicas revolucionárias necessárias para lhe fazer face (HOBSBAWM, 2001:50).
Segundo HOBSBAWM (2001:50),...mas o mercado ultramarino, não só se expandia de forma fantástica de tempos em tempos, como também o fazia constantemente sem um limite aparente.
(...) a perspectiva tradicional que viu a história da revolução industrial britânica primordialmente em termos de algodão é correta. (...) As fábricas de que tratavam os novos Decretos Fabris eram, até a década de 1860, entendidas exclusivamente em termos de fábricas têxteis e predominantemente em termos de engenhos algodoeiros (HOBSBAWM, 2001:53-54).
Com isso não se pretende subestimar as forças que introduziram a inovação industrial em outras mercadorias de consumo, notadamente outros produtos têxteis, alimentos e bebidas, cerâmicas e outros produtos de uso doméstico, grandemente estimuladas pelo rápido crescimento das cidades (HOBSBAWM, 2001:54).
Se o algodão florescia, a economia florescia, se ele caia, também caia a economia. Suas oscilações de preço determinavam a balança do comércio nacional. (...) por volta de 1830 e princÃpios de 1840, houve problemas de crescimento e uma agitação revolucionária sem paralelo em qualquer outro perÃodo da história britânica recente. Esse primeiro tropeço geral da economia capitalista industrial reflete-se numa acentuada desaceleração no crescimento, talvez até mesmo um declÃnio, da renda nacional britânica neste perÃodo. Essa primeira crise geral do capitalismo não foi puramente um fenômeno britânico (hobsbawm, 2001:54-55).
Suas mais sérias conseqüências foram sociais: a transição da nova economia criou a miséria e o descontentamento, os ingredientes da revolução social. E, de fato, a revolução social eclodiu na forma de levantes espontâneos dos trabalhadores da indústria e das populações pobres das cidades, produzindo as revoluções e 1848 no continente e os amplos movimentos cartistas na Grã-Bretanha. O descontentamento não estava ligado apenas aos trabalhadores pobres. Os pequenos comerciantes, sem saÃda, a pequena burguesia, setores especiais da economia eram também vÃtimas da revolução industrial e de suas ramificações (hobsbawm, 2001:55).
Estes descontentamentos por sua vez uniam-se nos movimentos de massa do “radicalismo”, da “democracia” ou da “república”, cujos exemplares mais formidáveis, entre 1815 e 1848, foram os radicais britânicos, os republicanos franceses e os democratas jacksonianos americanos (HOBSBAWM, 2001:56).
Segundo Hobsbawm, (2001:58), a indústria estava assim sob uma enorme pressão para que se mecanizasse, racionalizasse e aumentasse a produção e as vendas, compensando com uma massa de pequenos lucros por unidade e queda nas margens.
Havia uma pressão semelhante sobre o Ãndice de rentabilidade do capital, que a teoria contemporânea tendeu a identificar com o lucro. Mas esta consideração leva-nos à fase seguinte do desenvolvimento industrial – a construção de uma indústria básica de bens de capital (HOBSBAWM, 2001:59).
O mercado para pesados equipamentos de ferro ou vigas de aço, só passa a existir no curso de uma revolução industrial, e os que colocaram seu dinheiro nos altÃssimos investimentos exigidos até por metalúrgicas bem modestas, (...) são antes especuladores, aventureiros e sonhadores do que verdadeiros homens de negócios. Sua capacidade aumentou, graças a algumas inovações simples como a pudelagem e a laminação na década de 1780, mas a demanda civil da metalurgia permanecia relativa, entre modesta, e a militar diminuiu vertiginosamente depois de Waterloo HOBSBAWM, 2001:59-(60).
A imensa indústria britânica de carvão, embora provavelmente não se expandindo de forma suficientemente rápida rumo a uma industrialização realmente maciça em escala moderna, era grande o bastante para estimular a invenção básica que iria transformar as indústrias de bens de capital: a ferrovia (HOBSBAWM, 2001:60).
Nenhuma outra inovação da revolução industrial incendiou tanto a imaginação quanto a ferrovia, como testemunha o fato de ter sido o único produto da industrialização do século XIX. (...) Nenhuma outra invenção revelava para o leigo de forma tão cabal o poder e a velocidade da nova era (HOBSBAWM, 2001:61).
Segundo Hobsbawm (2001:62-64), na perspectiva dos estudiosos de desenvolvimento econômico, a esta altura era mais importante o apetite das ferrovias por ferro e aço, carvão, maquinaria pesada, mão-de-obra e investimentos de capital. Pois propiciava justamente a demanda maciça que se fazia necessária para as indústrias de bens-de-capital se transformarem tão profundamente quanto a indústria algodoeira. O grosso das classes médias, constituÃam o principal público investidor, era dos que economizavam e não dos que gastavam. Surge então, uma moderna sociedade de bem-estar social ou socialista que teria sem dúvida distribuÃdo algum destes vastos acúmulos para fins sociais.
Segundo Hobsbawm, (2001:64), traçar o Ãmpeto da industrialização é somente uma parte da tarefa deste historiador. A outra é traçar a mobilização e a transferência de recursos econômicos, a adaptação da economia e da sociedade necessárias para manter o novo curso revolucionário.
O rápido crescimento das cidades e dos agrupamentos não agrÃcolas tinha há muito tempo estimulado (...) a agricultura, que felizmente é tão ineficiente em suas formas pré-industriais que melhorias muito pequenas (...) podem produzir resultados desproporcionalmente grandes. (...) O vasto aumento da produção, que capacitou as atividades agrÃcolas britânicas na década de 1830 a fornecer 98% dos cereais consumidos por uma população duas a três vezes maior que a de meados do século XVIII, foi obtido pela adoção geral de métodos descobertos no inÃcio do século XVIII, pela racionalização e pela expansão da área cultivada (HOBSBAWM, 2001:64-65).
Segundo Hobsbawm (2001:65), tudo isso, por sua vez, foi obtido pela transformação social e não tecnológica: pela liquidação do cultivo comunal da Idade Média, da cultura de subsistência e de velhas atitudes não comerciais em relação à terra.
Segundo Hobsbawm (2001:65), as reações contra a introdução final do capitalismo no interior estavam condenadas e foram finalmente derrotadas na onda do avanço radical da classe média depois de 1830, pelo novo Decreto dos Pobres de 1934 e pela abolição das Leis do Trigo em 1846.
Segundo Hobsbawm (2001:66), em termos de produtividade econômica, esta transformação social foi um imenso sucesso; em termos de sofrimento humano, uma tragédia, aprofundada pela depressão agrÃcola de 1815, que reduziu os camponeses a uma massa destituÃda e desmoralizada.
Ao lado do problema de fornecimento de mão-de-obra, os de fornecimento de capital eram insignificantes. Inversamente à maioria dos outros paÃses europeus, não havia escassez de capital aplicável na Grã-Bretanha. A maior dificuldade era os que o controlavam a maior parte desse capital no século XVIII (...) que relutavam em investi-lo nas novas indústrias. (...) A escassez de capital fez com que os primeiros industriais (...) fossem mais duros, mais parcos e mais ávidos, e seus trabalhadores, portanto proporcionalmente mais explorados; mas isso refletia o fluxo imperfeito do excedente de investimento nacional e não sua inadequação (HOBSBAWM, 2001:68).
Assim, Segundo Hobsbawm, (2001:68), nem havia qualquer dificuldade quanto à técnica comercial e financeira pública ou privada.
Deste modo bastante empÃrico, não planificado e acidental, construiu-se a primeira economia industrial de vulto. Pelos padrões modernos, ela era pequena e arcaica, e seu arcaÃsmo ainda marca a Grã-Bretanha de hoje. Pelos padrões de 1848, ela era monumental, embora também chocasse bastante, pois suas novas cidades eram mais feias e seu proletariado mais pobre do que em outros paÃses. (...) Contudo, era a “oficina do mundo” (HOBSBAWM, 2001:68-69).
2006-11-12 17:03:02
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answer #3
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answered by CLIO 2
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