Não creio que isso seja verdade. Que Manoel Carlos frequenta as livrarias (ótimas) do Leblon, como a padaria Rio Lisboa, como o Armazém do Café, todos sabem. Mas não dá para afirmar que as histórias são contadas por pessoas nessa livraria. Reproduzo partes de entrevista dada por ele à Folha Online - Ilustrada, antes mesmo da novela estrear. Você vai ver que a multiplicidade de personagens e de temas não permite afirmar que foi tudo conversa de livraria, mas um somatório de experi6encias, notícias de jornal, bate-papos e etc. Leia:
Em entrevista à Folha Online, o autor falou um pouco de seu universo ficcional, declarou sempre se repetir e justificou seu amor pelo Leblon, cenário sempre presente em sua obra.
Folha Online - O que há de comum entre todas as suas Helenas?
Manoel Carlos - Todas são o mais verdadeiras possível. Melhor: o mais verdadeiras que eu consigo fazer. Todas, sem exceção, mentem, enganam, trapaceiam, traem e são traídas. Tudo por amor. Ou, supostamente, por amor. Por isso são tão reconhecíveis pelas mulheres que assistem às minhas novelas.
Folha Online - Esta será sua terceira Helena vivida por Regina Duarte. Você escreveu o papel para ela? Considera que ela seja o modelo de mulher que melhor retrata a Helena de Manoel Carlos e, conseqüentemente, um tipo de mulher brasileira?
Manoel Carlos - Cada Helena precisa de uma atriz. Regina encaixou-se em três delas, mas não poderia ter feito a Helena de Lilian Lemmertz (Baila Comigo, 1982), de Maitê Proença (Felicidade, 1991), de Vera Fischer (Laços de Família, 2000), de Christiane Torloni (Mulheres Apaixonadas, 2003). Para cada uma escrevi a Helena que elas poderiam fazer. Já tenho uma nova Helena em mente, para uma próxima novela, mas ainda não escolhi a atriz.
Folha Online - Mais uma vez você retomará muitos aspectos recorrentes às suas novelas, como o ambiente do Leblon. Qual é a peculiaridade desse microcosmo que lhe chama tanto a atenção?
Manoel Carlos - O Leblon me remete ao bairro onde nasci e cresci em São Paulo, de onde saí aos 18 anos. Um bairro pequeno, quase uma vila, onde todos se conhecem e se cumprimentam cordialmente. Onde ninguém está de passagem, como em Ipanema e Copacabana, por exemplo, em que a população flutuante é maior do que o número de moradores. No Leblon, quem está andando nas ruas mora no bairro. O Leblon é isso. Ainda é isso. Não sei por quanto tempo mais.
Folha Online - As suas novelas, em particular, são as que mais parecem ter essa preocupação com a realidade concreta. Qual a relação de sua obra com o cotidiano?
Manoel Carlos - Procuro fazer uma ficção não delirante. Nunca gostei, por exemplo, de ler ficção científica e realismo mágico, como nunca me entreguei, nem quando criança, às histórias em quadrinhos. O que me ocupou sempre foi uma ficção realista ou próxima disso. Escolho um grupo de pessoas e começo a escrever sobre como elas vivem, o que sonham, o que conseguem. Faço ficção, mas tenho compromisso com o verossímil.
Folha Online - O fato de sua temática ser recorrente acabou lhe dando um estilo próprio. Como trabalhar com um mesmo tema sem se repetir?
Manoel Carlos - E quem disse que eu não me repito? E quem disse que quem escreve ficção (realista ou não) não se repete? Praticamente conto sempre as mesmas histórias.
Folha Online - Você acha que o seu estilo criou um diálogo próprio com o público?
Manoel Carlos - Acho que todos os novelistas de televisão têm seu quinhão de público cativo, além daquele que a novela cativa ao longo dos seus 200 capítulos. Não é privilégio meu, nem de ninguém.
Folha Online - Suas histórias são essencialmente familiares. Seria correto afirmar que, em sua obra, a única instituição sólida de nossa sociedade é a família? É nela que está a força de sua narrativa?
Manoel Carlos - Na família não está apenas a força da minha narrativa, mas a força de uma nação, de todas as nações, em todo o mundo.
Folha Online - Uma de suas grandes preocupações é a violência. Em "Páginas" haverá novamente esse retrato? Sob que recorte?
Manoel Carlos - A violência habitual, que vemos nas ruas quase todos os dias. Ou nas notícias dos jornais e televisão. Balas perdidas, assaltos a mão armada, invasões de apartamentos, arrastão nas praias, desrespeito aos idosos, crianças de rua, tudo que existe em qualquer lugar. Tudo isso passará pela novela, de uma maneira ou de outra.
Folha Online - Ainda sobre a violência, como você avalia os eventos ocorridos em São Paulo recentemente?
Manoel Carlos - Uma tragédia anunciada. E deve-se esperar mais do que aconteceu, infelizmente. Na minha novela, Renata Sorrah fará uma juíza que sofre ameaças de morte e passa a andar armada. Esta semana, em entrevista à imprensa, o ex-secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, diz textualmente que o próximo passo dos bandidos será matar juízes, desembargadores, promotores. Minha sinopse é de junho do ano passado. Como vê, eu estava antenado.
Folha Online - Haverá o chamado "marketing social" em sua novela, segundo me consta, sobre os portadores da síndrome de Down e de HIV. Como você avalia essa responsabilidade social que a novela tem em nossa sociedade e como você, no papel de autor, se utiliza desse poder?
Manoel Carlos - Acho fundamental o merchandising chamado social. A novela é um veículo perfeito para isso, pois atinge milhões de pessoas diariamente. Sinto-me gratificado quando consigo colaborar, como no caso das doações de medula óssea, em "Laços de Família".
2006-11-14 13:04:34
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answer #2
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answered by Ricardo 6
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