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1 respostas

Ana,
Este livro a que se refere reúne poemas clássicos de Manuel Bandeira. Seguem alguns poemas deste livro com comentários:

A EVASÃO E A UTOPIA

A opressão da realidade, a solidão e a doença conduziram-no à busca da evasão, à procura do lugar ideal, onde praticamente tudo seria possível:

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água.

Pra me contar histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

Lá sou amigo do rei

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

Assim ele se autodefine:

Auto-Retrato

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

AS LEMBRANÇAS

A infância, como retorno ao passado, opõe-se a este presente de angústia e dor vivenciado pelo poeta. O folclore, suas quadras e canções populares, a família sempre aparecerão ligados à infância:

Profundamente

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

ECOS PARNASIANOS E NÉVOAS SIMBOLISTAS

Em muitos poemas, Bandeira aproxima-se da estética parnasiana através da rigidez formal, da seleção de temas, da busca do universal e da apreensão objetiva da realidade.
Em outros textos aparecem o irracionalismo, as paisagens indefiníveis, nebulosas e as atmosferas crepusculares. O Simbolismo, que além dessas características privilegiou a musicalidade, despertará no poeta o gosto pelo subjetivismo, pela introspecção.

Paisagem Noturna
(...)
O plenilúnio vai romper. . . Já da penumbra
Lentamente reslumbra
A paisagem de grandes árvores dormentes.
E cambiantes sutis, tonalidades fugidias,
Tintas delinqüescentes
Mancham para o levante as nuvens langorosas.


A REVOLTA MODERNISTA

Assimilando as conquistas dos poetas do Modernismo, Manuel Bandeira, em muitos textos nos quais discute a prática poética, define esta nova postura estética.
Primeiramente, houve uma ruptura com o Parnasianismo, ou com a tradição lírica da época; depois, estes textos negariam as confecções e manifestariam o desejo de libertação:

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado
(...)
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Muitas propostas da “fase heróica” do Modernismo (1922-1930) estariam incorporadas à sua poesia, entre elas: a fusão prosa/poesia, versos brancos (sem rimas), versos livres (sem métrica), nova utilização de sinais gráficos (linha pontilhada para indicar a respiração, por exemplo), o diálogo, o humor negro e a linguagem coloquial. Veja se você reconhece algumas destas características presentes no texto abaixo:

Pneumatórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três ... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e
o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino

EXPERIÊNCIAS CONCRETISTAS

O Concretismo, poesia de vanguarda que se firmou na década de 60, também mereceu a atenção de Bandeira.


Palavras soltas, sonoridade, visualização.

A onda

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

Espero ter te ajudado.
Abraços, Moran.

2006-11-08 05:20:08 · answer #1 · answered by Moran 5 · 0 0

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