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9 DE MAIO DE 2006 - 22h10

Os pobres contra os miseráveis

por Moises Diniz*


O Brasil está enfrentando um debate quase no mesmo nível que fazem os norte-americanos sobre a guerra no Iraque. É que o presidente indígena da Bolívia nacionalizou o gás e o petróleo de seu país e provocou a ira das transnacionais. O problema é que uma delas, a maior delas, é a nossa gloriosa Petrobrás.



Gloriosa no nome e na feição, porque, de resto, já está sob controle de outras mãos. Há muito tempo! A Petrobrás foi ‘privatizada’ na gestão FHC, ficando apenas 32% do seu capital social nas mãos do estado brasileiro. A gente finge que ela é nossa, apenas porque temos a maioria dos votos.



Foi uma plástica tão bem feita que, até hoje, o povo brasileiro pensa que é dono da Petrobrás. Companhias norte-americanas controlam cerca de 40% do capital da empresa que fez Getúlio Vargas e Lula sujarem as mãos de petróleo. Outra fatia gorda fica com empresários brasileiros. É como a dama que dorme em casa e se prostitui durante o dia. Uma mágica tucana que nos dá o ‘controle’ do capital votante e entrega às multinacionais o capital social, aquele que dá lucro.



Aqui reside a grande tragédia. Como o estado brasileiro detém o controle ‘político’ e administrativo da Petrobrás, o contribuinte terá que pagar os custos de qualquer prejuízo da empresa. É que os empresários, estrangeiros e brasileiros, que detêm 68% do capital da empresa, não discutem prejuízos, só lucros. É aqui que entra a tragédia boliviana.



Um país miseravelmente pobre, a Bolívia não passava, até 1º de maio de 2006, de um mero garimpo de gás e petróleo. Multinacionais como Repsol, Total, Amaco, Enron e Petrobrás saqueavam a Bolívia, como as multinacionais norte-americanas saqueiam o Brasil, a África e o Oriente Médio. Duro de ouvir? A Petrobrás, na Bolívia, não passa de uma multinacional.



Nós, que passamos tantas décadas dissertando e reclamando da brutalidade das multinacionais, somos agora os algozes. E o que faz a Petrobrás na Bolívia nada difere do que fazem todas as multinacionais ao redor do mundo. O mesmo discurso da mídia, que argumenta os investimentos realizados pela Petrobrás na Bolívia, é o mesmo utilizado por todas as multinacionais.



A Bolívia está na 114ª posição do IDH, tem um PIB de apenas US$ 22,3 bilhões, exatamente 22 vezes menor do que o PIB do estado de São Paulo. Uma renda 'per capita' anual de US$ 2,6 mil e 64% da população abaixo da linha da pobreza. Para se ter idéia da penúria, apenas os US$ 1,3 bilhões de investimentos da Petrobrás na Bolívia representam 18% do PIB daquele país.



O dramático é que os seus 8,8 milhões de habitantes estão em cima de um mar de riqueza, controlada e apropriada por algumas multinacionais. Repsol (espanhola), Total (francesa), British Gas e British Petroleum (britânicas), Petrobras (brasileira), Enron (estadunidense), Shell (holandês-britânica). Elas controlam a exploração de petróleo e gás, num valor de 100 bilhões de dólares.



Esta é a tragédia! O valor desses recursos naturais, 100 bilhões de dólares, corresponde a 12 vezes o PIB da Bolívia. 75% do PIB da Bolívia, magros US$ 22,3 bilhões, estão sob o controle de capitalistas estrangeiros, sendo 18 por cento desses sob controle brasileiro. A Petrobrás é a maior multinacional no setor de gás e também controla 20 por cento dos postos de gasolina do país.



Só gás e petróleo, em reservas, representam US$ 100 bilhões de dólares, mas o PIB da Bolívia é de apenas 22,3 bilhões. E como isso é possível? Ora, é que os bolivianos ficavam com apenas 18% do imposto (royalty) sobre essas multinacionais. O MAS de Evo Morales, ainda na oposição, elevou para 50% e, agora, o Decreto ‘Heróis do Chaco’ o fixou em 82%. Imaginem quantos bilhões de dólares foram ‘saqueados’ da Bolívia em todas essas décadas!



Apesar desses números terríveis, a imprensa brasileira grita como se o nosso território estivesse sendo invadido por uma força estrangeira. Os líderes da oposição ao governo Lula só faltaram exigir que o exército brasileiro invadisse a Bolívia, como Bush fez no Iraque. É que não há nenhuma diferença. Lá é petróleo e aqui é gás!




Imaginem se a Bolívia tivesse poder econômico e militar para exigir o ressarcimento de todo o saque do passado, perpetrado pelas mesmas multinacionais que ainda estão lá. Alguns jornais e revistas daqui, no lugar da tinta, usariam sangue em seus editoriais. E tudo “em nome dos interesses nacionais”. Será que está mesmo em jogo o ‘interesse nacional”?




Há 6 anos que FHC vendeu cerca de 40% do capital da Petrobrás para os capitalistas de Wall Street e 19% para empresários brasileiros como Benjamin Steinbruch e Daniel Dantas. O presidente tucano forçou o Brasil e suas empresas, como a indústria cerâmica, cimenteira e de vidros, a mudarem sua matriz energética hídrica. Tudo para atender os “interesses nacionais” de empresas como Repsol, Total, Amaco e Enron, que detinham o controle de reservas de 400 milhões de metros cúbicos do gás boliviano.



Mas, quem usa uma botija de gás em casa, pensa que esse assunto tem a ver com ele. Quando se fala em gás, todo mundo olha para a sua botija na cozinha. Então, os números aparecem para clarear nossa mente. O gás de cozinha teve um aumento de 2,2% no governo Lula contra 420% no de FHC, aquele mesmo governo que fez o contrato com a Bolívia para trazer, via gasoduto, 25 milhões de metros cúbicos de gás. Estranho, não?



E quanto dessa monstruosidade de gás vai para a cozinha do brasileiro? O gás utilizado nas residências (3%), no comércio (2%), na área de serviços (público e privado) e no transporte com gás natural veicular (GNV) fica em torno de 15% do consumo. Por outro lado, só a indústria consome 79% de todo o gás boliviano que chega ao Brasil.



Um aumento do gás interferiria na vida do brasileiro, não por causa do consumo doméstico, mas devido à política anterior do governo FHC, que sabotou a nossa matriz energética hídrica. Agora, por causa da ação soberana de um outro país, o Brasil sofrerá os prejuízos. Dessa forma, o caminho não é “se irritar com Evo Morales”, pois quem nos ferrou foi FHC.



O caminho, agora, é encontrar saídas ao médio prazo. Por enquanto, só nos resta a difícil trilha da negociação. Do contrário, se tivéssemos os falcões do PSDB no governo da República, eles levariam o Brasil ao confronto diplomático. Então, Evo Morales, para não se desgarrar do profundo e histórico sentimento nacionalista boliviano, fecharia os dutos.



Seria o desastre econômico na Bolívia e o caos no abastecimento do Brasil. É o que sonham as multinacionais, ofendidas pelo grito dos ‘Heróis do Chaco’. Por aqui, também gritam os velhos falcões da política brasileira, com suas asas quebradas na última eleição.

2006-11-04 00:33:29 · 6 respostas · perguntado por Anonymous em Governo e Política Participação Civil

6 respostas

MARIA FERNANDA. LULA É PRESIDENTE DO BRASIL
E TEM QUE DEFENDER OS INTERESSES DO BRASIL!!!

Se ele defende a Bolívia, trai o Brasil. E deve ser afastado por traição.

Se você gosta tanto da Bolívia, mude para lá.
É um favor que faz.
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2006-11-04 01:37:17 · answer #1 · answered by M.M.D.C. 7 · 0 1

....."AS NAÇÕES NÃO TEM AMIGOS..TEM INTERESSES".
(Franklin Delano Roosevelt)
No juramento de posse de presidentes, entre outros ìtens, é o de defender os interesses do País ...
...Procurem saber porquê a Bolivia perdeu o acesso ao mar para o Chile......Se a Petrobrás não é mais "brasileira", porquê o Lula é quem nomeou o Presidente?..Alguém se recorda quando, no governo FHC, foi dada a oportunidade a todos os brasileiros
de investir parte do FGTS em ações da PETROBRÁS???....Perguntem a quem investiu.. se se arrependeu..........MEMORIOL é um santo remédio...
Não pertenço a nenhum partido político e é porisso que ponho a razão acima de qualquer "ideologia"....a ...Vale do Rio Doce comprou a INCO canadense..tornando-se uma das maiores mineradoras DO MUNDO...e nem porisso eu vi ou ouvi algum "gênio" patriota canadense reclamando.... talvez porque deve ter-se mudado para a Bolivia,Equador,Guatemala,Perú.,Belize,........

2006-11-04 05:53:18 · answer #2 · answered by bachelor 7 · 3 1

Em primeiro lugar, quem levou a PETROBRAS para a Bolívia e enterrou bilhões lá, deixando de investir em areas no Brasil, cedendo estas areas para empresas multinacionais, deixando de gerar empregos para Brasileiros, NÃO FOI O ATUAL GOVERNO, MAS SIM A TURMA DO FHC! agora, pode ter certeza que uma guerra, seja ela militar ou econômica, terá um custo muito maior, a solução agora é se contentar com o que sobrou, punir os responsáveis(FHC e cia LTDA ) e tocar a vida para frente, aprendendo com os erros. Embora, quem não saberia que fazer negócio com estas REPUBLIQUETAS acabaria dando nisso ?

2006-11-04 01:22:50 · answer #3 · answered by uu 2 · 3 1

Odeio invasões principalmente eu penso que a América latina deve se unir mais em prol dos interesses comuns .

2006-11-04 00:42:47 · answer #4 · answered by sarita 3 · 1 0

Voce é patriota ou não, brasileira ou boliviana? Se for, retorne ao seu país, é um favor que nos faz para nós povo brasileiro.
Tenho dito.

2006-11-07 10:02:46 · answer #5 · answered by Sérgio 4 · 0 0

Parabéns pela coragem de postar pergunta táo impopular.

Seus argumentos, fortes e bem fundamentados, me obrigaram a repensar alguns dos meus conceitos, muito embora meus intintos democráticos e nacionalistas já tivessem me alertado da TRAMÓIA por trás dos indignados discursos dos tucanos e pefelistas, QUE SÁO OS MAIORES ENTREGUISTAS DESSA TERRA BRASILIS.

Espero que a diplomacia brasileira SEJA CAPAZ DE ENCONTRAR A SOLU;ÁO MENOS DANOSA aos leg[itimos interesses de ambos, BRASIL e BOLÍVIA, e que as MULTINACIONAIS aprendam a respeitar os DIREITOS DOS POVOS que as admitem em seus territórios acreditando que seráo AGENTES DE DESENVOLVIMENTO, quando na verdade náo passam de AGENTES DA MAIS ABJETA E DESUMANA EXPLORAÇÃO.

Muito obrigado pela oportunidade de REFLETIR sobre meus próprios pontos de vista.

2006-11-04 00:51:00 · answer #6 · answered by heitor_goulart 1 · 1 3

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