Séc. XIV, Portugal. No Condado Drogalis, hoje mais vulgarmente conhecido como Cova da Moura, há uma pastelaria muito famosa pelos seus queques. Bem, na verdade, não se chamavam "queques", pois o dono da pastelaria, um modesto quiosquiano, questionou-se um dia, enquanto esfregava as patas do seu cão com pedra-pomes da Galiza (aproveito para, desde já, avisar os nossos futuros seguidores e amantes desta filosofia quiosquiana, para se habituarem a este tipo de descrições aparentemente absurdas - fazem parte do nosso esquema de descontrução da realidade, um estratagema altamente sofisticado, fruto dos nossos grandes conhecimentos sobre associação livre psicanalítica e hermenêutica, e da nossa extrema familiarização com todo o processo de conserva de damascos em calda nas Bahamas)...
ora onde ia eu? ah, então o dono da pastelaria achava o nome "queque" demasiado disparatado - para quê ter, na mesma palavra duas sílabas iguais?! é melhor dizer só a ultima parte do nome, que é bem mais fácil de dizer,pois não temos de abrir tanto a boca, enquanto poupamos energia a dizer(façam a experiência, isto não está aqui ao calhas, que é que pensam?!)
Então, eram agora famosos os deliciosos "ques" da pastelaria deste senhor... A pastelaria só não tinha uma coisa - nome... Muitas horas passou o dono à procura de um nome original, que ficasse no ouvido (pior era depois para tirar, mas felizmente na altura já se faziam aquelas cotonetes muito jeitosas, de algodão da Grécia, da ilha Koufonissia, o único sítio do mundo onde há bichos-da-seda de barriga laranja) Procurou, procurou, mas não conseguiu achar tal nome...
Um dia, estava ele na pastelaria, ainda a pensar no nome, quando entra o parvinho do condado, um deficiente mental chamado Albu... O Albu entra na loja em grande alvoroço, olha para a deliciosa colecção de "ques", e extasiado e completamente vidrado na montra, diz, no seu jeito Neanderthalês de falar :" ALBU QUER QUE!! ALBU QUER QUE!!!"
O dono, que nem se apercebeu da situação, ouvindo tais palavras a serem proferidas, achou que a sua busca tinha terminado... Albuquerque era o nome eleito!
Desde então passou a ser Pastelaria Albuquerque, nome que tem sido usado para nomear muita gente e muita coisa, nomeadamente uma marca de amendois casca-de-leão muito famosa prós lados do Belize...
2006-11-02 23:54:04
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answer #2
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answered by Bráulio B.Boy 3
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A primeira coisa que me intrigou em Heloísa Maranhão foi o sobrenome. Sempre me interessei pela história dos sobrenomes, principalmente quando dizem respeito a lugares, como França, Maranhão, Costa etc. Depois de tomar coragem, perguntei-lhe a origem do seu nome e se era parente de meu grande amigo de longa data Haroldo Maranhão, falecido em 2004. Eram primos. E a história da família é interessante. O sobrenome de Heloísa e Haroldo derivou-se do Governador Jerônimo de Albuquerque, que teve o nome Maranhão acrescido ao sobrenome por concessão do Rei de Portugal, quando expulsou os franceses daquele Estado, em 1614. Heloísa adveio do ramo Albuquerque, português de longa cepa, poderoso e belicoso – digo, com armas de fogo. Já Haroldo adveio do outro ramo, indígena, também de longa cepa, do poderoso Cacique Pena Branca, que vivia em guerra com tudo e todos, portanto também belicoso – só que com flechas e tacapes. Essas duas linhas se misturaram e resultaram em personalidades completamente distintas, mas igualmente letradas. Heloísa, enfant do Sion de Petrópolis, fluente em francês, refinada professora de dramaturgia da Escola de Teatro, tradutora da rádio MEC e membro do Pen Clube do Brasil. Haroldo, monolíngüe, advogado da Caixa, colecionador de quadros, de livros, de histórias saídas das matas não do Maranhão, mas de Belém, onde nasceu e onde exerceu o jornalismo no jornal do pai e do avô. Ambos radicados no Rio. A própria Heloísa já escreveu sobre a origem da família Albuquerque em diversas ocasiões.
Ao conhecê-la melhor, pude apreciar seu pioneirismo, trabalhando em diversos empregos, sem se casar para não perder a autonomia de escritora, morando com a irmã, como a Raquel de Queiroz depois de viúva. Teve uma peça montada no Teatro Municipal, é verdade que devido ao prestígio paterno. Mas qual a escritora brasileira que, até a metade do século XX, não começou sua carreira pela mão do pai? Isso ocorreu com Dinah Silveira de Queiroz, com Rachel de Queiroz, com Júlia Lopes de Almeida, e tantas outras. As que não tinham pai a avalizá-las, tiveram vida difícil, na forte sociedade patriarcal brasileira, como Gilca Machado...
Heloísa tem uma refinada cultura francesa, que passa pelo perfeito domínio da língua, inclusive a capacidade de tradução, o profundo conhecimento do teatro universal e da literatura francesa e européia em prosa de ficção e poesia. Todos os requisitos para uma cultura humanística foram reunidos em seus romances em que maneja a alternância entre o real e o imaginário, com grande ênfase no imaginário teatralizado. Desde seu primeiro livro de poemas, Castelo interior e moradas (1974), baseado no livro de Santa Teresa d´Ávila, reviveu a poesia barroca espanhola, identificando-se e integrando-se a sua vida. Nos demais romances, como Lucrécia (1979), Dona Leonor Teles (1985) e A rainha de Navarra (1986), os jogos cervantinos e shakespeareanos entre ilusão e realidade são explorados ao máximo, numa linguagem ousada para seu tempo e seu sexo. Produz textos habitados por monstros perversos, com desejos impublicáveis, mas publicados por ela, obsessivos sexuais e mulheres impudicas, sejam rainhas ou plebéias, que compõem um transbordante quadro barroco digno de Rubens.
Tudo isso me deixou um pouco perplexa ao conhecer Heloísa Maranhão. Como pôde se gerar, no tradicional colégio Sion – ainda por cima no fechadíssimo internato de Petrópolis – dirigido por freiras rigorosas, uma mente essencialmente liberta de todas as amarras da sociedade repressiva e patriarcal? Este mistério, só a própria Heloísa poderá desvendar. Da minha parte atribuo esta capacidade da menina educada em francês, para casar-se, que se transformou em tradutora, professora, viajante sofisticada e autora de obras fesceninas, ao que Wolfgang Iser denomina os vazios do texto. Heloísa sem dúvida fala das fantasias que permeiam as mentes de reis e rainhas, de loucos e possessos, de devassos do passado e na memória do presente, mas muito mais é deixado à mente e à conclusão de cada um do que ela realmente expressa.
Explicou-me ela, a respeito do jogo oscilatório entre real e fantasia, presente no romance Rosa Maria Egipcíaca de Vera Cruz (1997), que, para escrevê-lo, primeiro pesquisou em detalhe a vida da escrava Rosa Maria Egipcíaca, freira e prostituta em Minas, que ia ser queimada pela Inquisição em Portugal, se não tivesse morrido antes, assim como a de Chica da Silva, a escrava amante de um rico contratador português João Fernandes de Oliveira, de Diamantina. Na sua obra, Chica da Silva tornou-se um misto de escrava fugida, vinda do Nordeste em companhia de um padre, e uma cortesã portuguesa com laivos de freira visionária.
Talvez no cordel se esconda parte do mistério da escrita de Heloísa. Sua técnica deve muito aos cordelistas do sertão. Guarda com eles a completa liberdade imaginativa e o desinteresse pela factualidade histórica. Mais do que a verdade, interessa-lhe a metaficcionalidade historiográfica, ou a história das mentalidades. A grande influência da sua juventude, recebeu-a de Câmara Cascudo, o grande folclorista nordestino, por quem sempre nutriu grande apreço. Como Clarice Lispector, em A hora da estrela, e Lygia Fagundes Telles, em Pomba enamorada ou uma história de amor (1999), Heloísa também criou, neste romance, sua personagem sonhadora e pobre, oriunda das páginas de cavalaria dos cordéis nordestinos, uma escrava mística e bem-sucedida, muito diferente do retrato realista pintado por Agripa Vasconcelos na biografia romanceada de Chica da Silva.
Como nos revelam Propp e Bakhtin, a riqueza da literatura erudita tem suas raízes na oralidade do povo, como ocorre com a sátira menipéia e o riso de Rabelais. É o riso brasileiro, o deboche e a insurreição que fornecem a seiva da literatura de origem européia desta grande erudita. Esta seiva é infinitamente transformada, até chegar à forma literária. Mas o cerne, o coração da história, está lá, no fundo da emoção. Obrigada, Heloísa, por sua coragem em reescrever, a partir de sua infância, as histórias de fadas e de castelos, de gnomos e anões, de loucas no hospício de Botafogo e das pistas de Carnaval, ou rainhas encerradas atrás de grades de castelos e freiras encerradas em mosteiros, todo um mundo de reinos renascentistas europeus revividos no imaginário brasileiro das histórias de cordel transformadas em livros de ficção.
2006-11-02 23:48:33
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answer #9
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answered by Jú =','= 3
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