Do ponto de vista da medicina, principalmente da psiquiatria e da psicologia, a depressão nervosa é considerada um estado mórbido, em que a mente ou o humor se encontra abaixo do nÃvel óptimo do indivÃduo
Generalidades
Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever nossos sentimentos. Todos se sentem "para baixo" de vez em quando, ou de alto astral à s vezes e tais sentimentos são normais. A depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento. Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que bem, são incompreensivos e talvez até egoÃstas. O amigo que realmente quer ajudar procura ouvir quem se sente deprimido e no máximo aconselhar ou procurar um profissional quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.
Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças conceituais entre a depressão psiquiátrica e a depressão normal seria comparar com a diferença que há entre clima e tempo. O clima de uma região ordena como ela prossegue ao longo do ano por anos a fio. O tempo é a pequena variação que ocorre para o clima da região em questão. O clima tropical exclui incidência de neve. O clima polar exclui dias propÃcios a banho de sol. Nos climas tropical e polar haverá dias mais quentes, mais frios, mais calmos ou com tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de variação. O clima é o estado de humor e o tempo as variações que existem dentro dessa faixa. O paciente deprimido terá dias melhores ou piores assim como o não deprimido. Ambos terão suas tormentas e dias ensolarados, mas as tormentas de um, não se comparam à s tormentas do outro, nem os dias de sol de um, se comparam com os dias de sol do outro. Existem semelhanças, mas a manifestação final é muito diferente. Uma pessoa no clima tropical ao ver uma foto de um dia de sol no pólo sul tem a impressão de que estava quente e que até se poderia tirar a roupa para se bronzear. Este tipo de engano é o mesmo que uma pessoa comete ao comparar as suas fases de baixo astral com a depressão psiquiátrica de um amigo. Ninguém sabe o que um deprimido sente, só ele mesmo e talvez quem tenha passado por isso. Nem o psiquiatra sabe: ele reconhece os sintomas e sabe tratar, mas isso não faz com que ele conheça os sentimentos e o sofrimento do seu paciente.
Como é?
Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações de tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação corporal como dores e enjôos. Contudo para se fazer o diagnóstico é necessário um grupo de sintomas centrais:
Perda de energia ou interesse
Humor deprimido
Dificuldade de concentração
Alterações do apetite e do sono
Lentificação das atividades fÃsicas e mentais
Sentimento de pesar ou fracasso
Os sintomas corporais mais comuns são sensação de desconforto no batimento cardÃaco, constipação, dores de cabeça, dificuldades digestivas. PerÃodos de melhoria e piora são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está melhorando sozinho quando durante alguns dias o paciente sente-se bem. Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os sintomas simultâneos, aliás, é difÃcil ver todos os sintomas juntos. Até que se faça o diagnóstico praticamente todas as pessoas possuem explicações para o que está acontecendo com elas, julgando sempre ser um problema passageiro.
Outros sintomas que podem vir associados aos sintomas centrais são:
Pessimismo
Dificuldade de tomar decisões
Dificuldade para começar a fazer suas tarefas
Irritabilidade ou impaciência
Inquietação
Achar que não vale a pena viver; desejo de morrer
Chorar à -toa
Dificuldade para chorar
Sensação de que nunca vai melhorar, desesperança...
Dificuldade de terminar as coisas que começou
Sentimento de pena de si mesmo
Persistência de pensamentos negativos
Queixas freqüentes
Sentimentos de culpa injustificáveis
Boca ressecada, constipação, perda de peso e apetite, insônia, perda do desejo sexual
Diferentes tipo de depressão
Basicamente existem as depressões monopolares (este não é um termo usado oficialmente) e a depressão bipolar (este termo é oficial). O transtorno afetivo bipolar se caracteriza pela alternância de fases deprimidas com manÃacas, de exaltação, alegria ou irritação do humor. A depressão monopolar só tem fases depressivas.
Depressão e doenças cardÃacas
Os sintomas depressivos apesar de muito comuns são pouco detectados nos pacientes de atendimento em outras especialidades, o que permite o desenvolvimento e prolongamento desse problema comprometendo a qualidade de vida do indivÃduo e sua recuperação. Anteriormente estudos associaram o fumo, a vida sedentária, obesidade, ao maior risco de doença cardÃaca. Agora, pelas mesmas técnicas, associa-se sintoma depressivo com maior risco de desenvolver doenças cardÃacas. A doença cardÃaca mais envolvida com os sintomas depressivos é o infarto do miocárdio. Também não se pode concluir apressadamente que depressão provoca infarto, não é assim. Nem todo obeso, fumante ou sedentário enfarta. Essas pessoas enfartam mais que as pessoas fora desse grupo, mas a incidência não é de 100%. Da mesma forma, a depressão aumenta o risco de infarto, mas numa parte dos pacientes. Está sendo investigado.
Depressão no paciente com câncer
A depressão costuma atingir 15 a 25% dos pacientes com câncer. As pessoas e os familiares que encaram um diagnóstico de câncer experimentarão uma variedade de emoções, estresses e aborrecimentos. O medo da morte, a interrupção dos planos de vida, perda da auto-estima e mudanças da imagem corporal, mudanças no estilo social e financeiro são questões fortes o bastante para justificarem desânimo e tristeza. O limite a partir de qual se deve usar antidepressivos não é claro, dependerá da experiência de cada psiquiatra. A princÃpio sempre que o paciente apresente um conjunto de sintomas depressivos semelhante ao conjunto de sintomas que os pacientes deprimidos sem câncer apresentam, deverá ser o ponto a partir do qual se deve entrar com medicações.
Existem alguns mitos sobre o câncer e as pessoas que padecem dele, tais como"os portadores de câncer são deprimidos". A depressão em quem tem câncer é normal, o tratamento da depressão no paciente com câncer é ineficaz. A tristeza e o pesar são sentimentos normais para uma pessoa que teve conhecimento da doença. Questões como a resposta ao tratamento, o tempo de sobrevida e o Ãndice de cura entre pacientes com câncer com ou sem depressão estão sendo mais enfocadas do que a investigação das melhores técnicas para tratamento da depressão.
Normalmente a pessoa que fica sabendo que está com câncer torna-se durante um curto espaço de tempo descrente, desesperada ou nega a doença. Esta é uma resposta normal no espectro de emoções dessa fase, o que não significa que sejam emoções insuperáveis. No decorrer do tempo o humor depressivo toma o lugar das emoções iniciais. Agora o paciente pode ter dificuldade para dormir e perda de apetite. Nessa fase o paciente fica ansioso, não consegue parar de pensar no seu novo problema e teme pelo futuro. As estatÃsticas mostram que aproximadamente metade das pessoas conseguirá se adaptar a essa situação tão adversa. Com isso estas pessoas aceitam o tratamento e o novo estilo de vida imposto não fica tão pesado.
A identificação da depressão
Para afirmarmos que o paciente está deprimido temos que afirmar que ele sente-se triste a maior parte do dia quase todos os dias, não tem tanto prazer ou interesse pelas atividades que apreciava, não consegue ficar parado e pelo contrário movimenta-se mais lentamente que o habitual. Passa a ter sentimentos inapropriados de desesperança desprezando-se como pessoa e até mesmo se culpando pela doença ou pelo problema dos outros, sentindo-se um peso morto na famÃlia. Com isso, apesar de ser uma doença potencialmente fatal, surgem pensamentos de suicÃdio. Esse quadro deve durar pelo menos duas semanas para que possamos dizer que o paciente está deprimido.
Causa da Depressão
A causa exata da depressão permanece desconhecida. A explicação mais provavelmente correta é o desequilÃbrio bioquÃmico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. Esta afirmação baseia-se na comprovada eficácia dos antidepressivos. O fato de ser um desequilÃbrio bioquÃmico não exclui tratamentos não farmacológicos. O uso continuado da palavra pode levar a pessoa a obter uma compensação bioquÃmica. Apesar disso nunca ter sido provado, o contrário também nunca foi.
Eventos desencadeantes são muito estudados e de fato encontra-se relação entre certos acontecimentos estressantes na vida das pessoas e o inÃcio de um episódio depressivo. Contudo tais eventos não podem ser responsabilizados pela manutenção da depressão. Na prática a maioria das pessoas que sofre um revés se recupera com o tempo. Se os reveses da vida causassem depressão todas as pessoas a eles submetidos estariam deprimidas e não é isto o que se observa. Os eventos estressantes provavelmente disparam a depressão nas pessoas predispostas, vulneráveis. Exemplos de eventos estressantes são perda de pessoa querida, perda de emprego, mudança de habitação contra vontade, doença grave, pequenas contrariedades não são consideradas como eventos fortes o suficiente para desencadear depressão. O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência genética como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram que mais do que a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor mais as pessoas. O fator genético é fundamental uma vez que os gêmeos idênticos ficam mais deprimidos do que os gêmeos não idênticos.
Na depressão, o tratamento rápido, intensivo e completo (até o desaparecimento total dos sintomas) diminui as chances de recaÃdas, de depressões de tratamento difÃcil no futuro e de atrofias de Hipocampo. Esse dado é especialmente válido para portadores de depressão que perdem meses em psicoterapias e tratamentos alternativos. Terapia é importante, mas na depressão ela é ator coadjuvante e não principal.
1) Sintomas:
Os mais comuns são tristeza, desânimo, insônia, apatia, falta de alegria, de apetite (algumas pessoas tem aumento de sono e de apetite), de desejo sexual, falta de vontade ate mesmo de fazer coisas simples tipo tomar banho, assistir televisão ou ler um jornal. Sensação da falta de sensações. Ou seja, basicamente uma diminuição geral do nÃvel de energia da pessoa.
Nem sempre a depressão significa tristeza, na maioria das vezes o sintoma principal é a queda de energia.
Ocorrem pensamentos pessimistas e repetitivos que não saem da cabeça. A pessoa perde o interesse por coisas que gostava de fazer ou por pessoas com as quais gostava de conviver. Parece que não consegue se concentrar numa leitura ou guardar na memória o que leu.
Ãs vezes aparecem ataques de ansiedade com sudorese, palpitações e tremor, verdadeiros ataques de pânico, o que não quer dizer que você também tenha a SÃndrome do Pânico.
Também podem ocorrer Pensamentos Obsessivos: a pessoa sabe que eles não fazem sentido mas não consegue tirá-los da cabeça. Por exemplo: conferir portas e janelas, achar que poderia fazer mal a si mesmo ou a outras pessoas, etc. Essa pensamentos podem fazer parte da Depressão e não quer dizer que a pessoa também esteja sofrendo de DOC.
Problemas que antes eram resolvidos com facilidade se tornam tarefas pesadas e difÃceis. Coisas que antes eram agradáveis se tornam sem graça.
Alguns casos de Depressão se caracterizam por dores vagas e difusas pelo corpo ou na cabeça, com vários exames laboratoriais normais. O intestino pode ficar preso, a boca amarga, a pele envelhecida, os cabelos e as unhas fracos e sem brilho.
Muitas vezes aparecem pensamentos de "dormir e não acordar mais". Algumas pessoas se sentem como se estivessem separadas do mundo por uma redoma de vidro.
Outras não conseguem nem sentir alegria nem tristeza ("sensação da falta de sentimentos").
A pessoa pode ficar com "idéias fixas". As principais são as seguintes:
Acha a situação financeira ruim e sem perspectiva.
Se sente culpado por coisas que fez e que não fez. O passado volta carregado de auto-recriminações, de arrependimentos, de coisas erradas que fora da Depressão a pessoa nem se lembra que existiram.
Durante a fase depressiva a auto-estima fica abaixo de zero.
Acredita estar passando por uma doença incurável.
Evidentemente nem todas as pessoas com Depressão apresentam todos esses sintomas.
As pessoas mais idosas podem apresentar um quadro clÃnico com falta de memória importante, à s vezes mais evidente do que a própria Depressão.
Outras pessoas tem nÃtida piora da Depressão quando o tempo está nublado. à o que se chama de Depressão Sazonal. Ela pode ser muito bem tratada com Fototerapia.
2) Causas, fatores desencadeantes e situações que propiciam o aparecimento da Depressão:
Existem muitas. Geralmente é uma combinação de mais de uma causa. Por exemplo:
Predisposição genética.
Depressões anteriores. Depressão, “quanto mais tem mais tem e quanto menos tem menos tem”. Daà a importância de começar a tratar o quanto antes.
Personalidade perfeccionista, detalhista.
Distimia.
Situações difÃceis, desgastantes, frustrantes.
Perdas: de pessoa querida, de dinheiro, de posição profissional ou social, aposentadoria, etc.
Gravidez, Parto e Menopausa.
SÃndrome do Pânico.
Distúrbio Obsessivo Compulsivo.
Stress Pós Traumático: experiência traumática na qual a pessoa se sentiu indefesa ou humilhada ou sem possibilidade de reação, por exemplo, assalto, seqüestro, acidentes.
Psicose.
PÃlula Anticoncepcional (causa comum de depressão em mulheres jovens), Implantes Hormonais, DIUs hormonais.
Corticóides, Quimioterapia, Interferon, Betabloqueadores, Parlodel, Digitálicos, Dissulfiram, Reserpina, Cinarizina.
Neurolépticos, BenzodiazepÃnicos, Barbitúricos, etc.
Drogas e álcool.
Anabolizantes, Anfetaminas.
Apnéia Obstrutiva do Sono.
Hiper - e Hipotireoidismo, Hashimoto.
Hepatite (principalmente C), Câncer, Pneumonia, Mononucleose, Reumatismo, Insuficiência CardÃaca, Infarto, Ponte de Safena, Asma, Insuficiência Respiratória, Câncer, Doença de Cushing, Diabetes, Anemia Perniciosa, Lupus, Artrite Reumatóide, Aids, Hipovitaminoses, Doença de Wilson, SÃfilis, Huntington, Lupus, Poliarterite Nodosa, Hipovitaminoses, Insuficiência Renal.
Traumatismos cranianos, Acidente Vascular Cerebral ("derrame"), Insuficiência Circulatória Cerebral, Alzheimer, Arteriosclerose, Esclerose Múltipla, Parkinson, Huntington, tumores benignos e malignos, Epilepsia, Aneurismas, Enxaqueca, etc.
Dores crônicas, Fibromialgia.
Radioterapia.
Manifestação pára-neoplásica.
3) O que é esta Depressão :
De uma maneira bem simples, seu cérebro é formado por inúmeras células que se comunicam entre si através de substâncias quÃmicas chamadas Neurotransmissores e por algum motivo eles não estão "circulando" como deveriam. Por isso você se sente sem pique, com a concentração e a memória fracas, meio "devagar" (algumas pessoas sentem na verdade agitação, ao invés de apatia) e com alguns dos outros sintomas descritos acima.
4) Uma Depressão pode ser "quÃmica" apesar de ter causa externa ?
Sim. Muitas vezes ela começa reativa a algum problema real, mas com o tempo vai se tornando fÃsica. Ãlcera, Infarto, gastrite e muitas outras doenças são desencadeadas por um Stress e no entanto depois também se tornam fÃsicas.
Mas é importante você saber que os eventos de vida que desencadearam a ou as primeiras depressões são cada vez menos necessários. Ou seja: com o tempo ela pode aparecer sozinha sem absolutamente nenhum motivo.
à por isso que é tão importante tratar logo e de maneira completa
5) Tratamento :
A) Antidepressivos.
São remédios que corrigem o metabolismo dos Neurotransmissores. Eles não são calmantes e nem estimulantes, não criam dependência fÃsica e nem psÃquica.
B) Psicoterapia.
Pode ser útil, pois a Depressão afeta a pessoa como um todo e quase nenhuma doença se restringe apenas ao seu aspecto fÃsico. Traços de personalidade assim como problemas atuais ou passados podem ter algo a ver com a Depressão. Existem várias técnicas de Psicoterapia e algumas são mais indicadas que outras.
Se a Depressão apresenta certo grau de intensidade, a medicação tem prioridade absoluta com relação à terapia. A Psicoterapia pode esperar um pouco para ser iniciada, mas a medicação não, pois todas as pesquisas indicam que quanto mais rápido começar o tratamento medicamentoso maior é a chance de não se ter recaÃdas mais tarde.
C) Tempo para começar a melhorar.
Quase todos os Antidepressivos precisam de 3 a 6 semanas para fazer efeito. Não interrompa o tratamento por não sentir melhora nos primeiros dias. Uma maneira de apressar a melhora é tratar com Antidepressivo no soro.
6) Para a famÃlia:
Geralmente a famÃlia sofre porque não consegue ajudar e sobrecarrega porque vê a pessoa passar por especialistas, fazer exames, tomar calmantes, estimulantes e vitaminas sem melhora. Então começa a dizer que é fita, "frescura", falta de força de vontade, e começa a dar palpites para a pessoa "se ajudar" "se animar" "reagir" e etc., como se ela não soubesse de tudo isso ...
A Depressão não é sinal de fraqueza de caráter e nem passa somente com "pensamento positivo".
A pessoa com Depressão geralmente está completamente indecisa com relação a tudo. Alguém tem que tomar decisões inclusive para iniciar o tratamento.
7) Observações:
A) Algumas vezes o primeiro remédio não produz resultado. Isso não quer dizer que seja um caso grave. Na maioria das vezes basta trocar de medicação.
B) Mesmo que você já esteja se sentindo bem, não interrompa a medicação. Seu médico deve decidir quando diminuir, interromper ou trocar de medicação. Mesmo que sua depressão seja curta, o tratamento será longo. Na verdade, quanto mais tempo você tomar o Antidepressivo, menor é o risco de uma outra depressão no futuro.
C) Decisões importantes com relação a problemas atuais de sua vida devem ser tomadas depois da Depressão ter melhorado. No momento todos os seus pontos de vista estão pessimistas e você está arriscado a tomar decisões que não tomaria se não estivesse deprimido.
D) A Depressão pode voltar ? Muitas vezes pode. Existem fatores que serão avaliados para se chegar a uma conclusão. Porém, hoje em dia existem várias possibilidades de se fazer um tratamento preventivo para evitar esse problema.
E) Se quando parar ou diminuir a dose do Antidepressivo os sintomas da Depressão voltarem, não quer dizer dependência da medicação, mas sim que ainda não era hora dessa parada. Antidepressivos não criam dependência. A Depressão é que algumas vezes exige tempo de tratamento mais longo.
F) Um bom condicionamento fÃsico é sempre importante, pois a ginástica libera Endorfinas, que são nossos Antidepressivos naturais e aumentam nosso bem estar. O intestino funciona melhor, a pressão arterial fica mais estável, etc.
G) Yoga, meditação, massagem de relaxamento: sempre ajudam e muito, principalmente as duas primeiras.
H) Diminuir álcool e cafeÃna (café, chá preto, chá mate, refrigerantes) sempre ajuda.
Concluindo: a Depressão é uma doença que incomoda muito a vida do paciente e de sua famÃlia. Por outro lado, costuma ser fácil de tratar. Assim como na Depressão a pessoa não consegue se imaginar bem, quando ela passa a pessoa não consegue imaginar como era possÃvel estar tão mal tão pouco tempo atrás.
Depressão pós Parto Depressão Sazonal e Fototerapia Distimia , Perguntas e Respostas Depoimentos Borderline
DEPRESSÃO
O termo Depressão pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios emocionais sem ser exclusivo de nenhum deles, pode significar uma sÃndrome traduzida por muitos e variáveis sintomas somáticos ou ainda, pode significar uma doença, caracterizada por marcantes alterações afetivas.
O público está certo ao estranhar a ostensiva e constante presença desta tal Depressão em quase tudo que diz respeito à transtornos emocionais, e os psiquiatras não estão menos certos ao procurarem descobrir uma ponta de Depressão em quase tudo que lhes aparece pela frente.
Do ponto de vista clÃnico seria extremamente fácil e cômodo se a Depressão fosse caracterizada, exclusivamente, por um rebaixamento do humor com manifestação de tristeza, choro, abatimento moral, desinteresse, e tudo aquilo que todos sabemos que uma pessoa deprimida apresenta.
Desta forma até o amigo Ãntimo, o vizinho ou o dono da bar da esquina poderiam diagnosticá-la. A parte mais difÃcil e trabalhosa da psiquiatria está no diagnóstico dos muitos casos de Depressão atÃpica, incaracterÃstica ou mascaradas, bem como, perceber traços depressivos em outras patologias emocionais, como por exemplo, nos casos de Pânico, Fobia, etc.
Entre as emoções, aquelas decorrentes do estado de humor são as mais estudadas e, entre essas, a mais pesquisada é a Depressão.
A sintomatologia depressiva é muito variada e muito diferente entre as diferentes pessoas. Para entendermos melhor essa diversidade de sintomas depressivos, vamos considerar que, entre as pessoas, a Depressão seria como uma bebedeira geral, onde cada pessoa alcoolizada ficasse de um jeito; uns alegres, outros tristes, irritados, engraçados, dorminhocos, libertinos...
A única coisa que todos teriam em comum é o fato de estarem sob efeito do álcool, todos estariam tontos, com os reflexos diminuÃdos, etc. Na Depressão também; cada personalidade se manifestará de uma maneira.
Demência DepressivaNos idosos as dificuldades de memória podem ser a queixa principal e ser confundido com os sinais iniciais da demência. Este quadro de prejuÃzo da memória e outros sinais que poderiam confundir a Depressão com demência recebe o nome de PSEUDO DEMÃNCIA DEPRESSIVA. Nestes casos, soma-se à lentidão dos processos psÃquicos um exagerado desinteresse, dando a falsa impressão de que a pessoa não está tendo consciência absoluta da realidade. Na realidade, o que o idoso deprimido tem é um grande desinteresse em lembrar fatos e em participar dos eventos cotidianos. Veja
A psicopatologia recomenda como válida a existência de três sintomas depressivos básicos, os quais darão origem a variadÃssimas manifestações desta alteração afetiva. Essa trÃade sintomática da Depressão seria:
1 - Sofrimento Moral,
2 - Inibição Global e,
3 - Estreitamento Vivencial.
Compete à sensibilidade do observador, relacionar um sentimento, um comportamento, um pensamento ou sentimento, como a expressão individual de um desses três sintomas básicos, como sendo a expressão pessoal e adequada da personalidade de cada um diante da Depressão.
Depressão com Ansiedade ou
Ansiedade com Depressão?
Alguns deprimidos podem apresentar sintomas somáticos (fÃsicos), juntamente ou ao invés dos sintomas emocionais de tristeza, angústia, medo, etc. Esses sintomas fÃsicos podem ser, por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, e outras queixas de caracterização clÃnica complicada.
Para estes pacientes somáticos, talvez seja mais fácil comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos do que do discurso. Também em crianças e adolescentes a Depressão pode se dissimular sob a forma de um humor irritável ou rabugento, revoltado e irrequieto, ao invés da tristeza e abatimento.
Outras pessoas podem manifestar sua Depressão com irritabilidade aumentada, como por exemplo, crises de raiva, explosividade, sentimentos exagerados de frustração, tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando os outros.
Na Depressão também é muito freqüente um certo prejuÃzo na capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Os depressivos podem se queixar de enfraquecimento da memória ou mostrar-se facilmente distraÃdas. A produtividade ocupacional costuma estar também prejudicada, notadamente nas profissões intelectualmente exigentes. Em crianças deprimidas pode haver uma queda abrupta no rendimento escolar, como resultado da dificuldade de concentração.
Freqüentemente existem pensamentos sobre a morte nos quadros depressivos. Trata-se, não apenas da ideação suicida tÃpica mas, sobretudo, da preferência em estar morto a viver "desse jeito". Nos idosos as dificuldades de memória podem ser a queixa principal e ser confundido com os sinais iniciais de demência.
O prejuÃzo da memória e outros sinais que poderiam confundir a Depressão com demência recebem o nome de Pseudodemência Depressiva. Nestes casos, soma-se à lentidão dos processos psÃquicos um exagerado desinteresse, dando a falsa impressão de que a pessoa não está tendo consciência absoluta da realidade. Na realidade, o que o idoso deprimido tem é um grande desinteresse em lembrar fatos e em participar dos eventos cotidianos.
Para entender porque e como existem sintomas de Depressão atÃpica, sintomas que sugerem apenas indiretamente a presença de Depressão, temos que falar da coexistência da Depressão com a ansiedade, sabendo que essa última sim, é pródiga em sintomatologia somática e emocional atÃpica.
Muito embora os atuais manuais de classificação de doenças mentais tratem separadamente os quadros ansiosos dos afetivos, pesquisas e autores têm se preocupado em estabelecer relações entre esses dois estados psÃquicos. Kendell (1974), ao longo de cinco anos de observação constatou que o diagnóstico de Depressão passa para Ansiedade em 2% dos casos e, em sentido contrário, da Ansiedade para a Depressão, em 24% dos casos. Pode-se constatar também que antigos quadros ansiosos costumam evoluir no sentido da Depressão (Roth, 1972 e 1982). Lesse (1982) sustenta ainda a idéia da evolução do estresse para Ansiedade e em seguida para Depressão.
São conhecidos os expressivos sintomas depressivos em doentes com transtornos ansiosos, como aqueles observados por Fawcet (1983), que encontrou sintomas de Depressão em 65% dos ansiosos e Roth (1972), que detectou em grande número de pacientes, simultaneamente irritabilidade, agorafobia, ansiedade, culpa e agitação.
O medo, por exemplo, seja de caracterÃsticas fóbica ou não, reflete sempre uma grande insegurança e pode aparecer tanto nos transtornos da ansiedade quanto nos transtornos de natureza depressiva. A associação da Depressão com crises de pânico foi encontrada, inicialmente, em proporções que variavam de 64 a 44% dos casos (Clancy, 1979).
O estudo de Stavrakaki e Vargo (1986), reavaliando pesquisas dos últimos 15 anos, sugeriu três tipos de reflexão sobre a questão Ansiedade versus Depressão:
1. Ansiedade e Depressão diferem qualitativamente;
2. Ansiedade e Depressão diferem quantitativamente e;
3. Ansiedade se associa à Depressão.
Atualmente tem-se enfatizado muito a teoria unitária, pela qual a Ansiedade e a Depressão seriam duas modalidades sintomáticas da mesma afecção. As atuais escalas internacionais de Hamilton para avaliação de Depressão e de Ansiedade, não separaram nitidamente os dois tipos de manifestações. Outras escalas anteriores também mostravam a mesma falta de clareza para diferenciação entre esses dois quadros emocionais (Johnstone, 1986; Mendels, 1972).
A tendência unitária Ansiedade-Depressão se reforça ainda na eficácia do tratamento com antidepressivos, tanto para quadros ansiosos, como é o caso do Pânico, da Fobia Social, do Transtorno Obsessivo-compulsivo e mesmo da Ansiedade Generalizada, quanto para os casos de Depressão, com ou sem componente ansioso importante.
O número de autores que não acreditam na Ansiedade e Depressão como sendo a mesma coisa, aos quais nos juntamos, é maioria expressiva, entretanto, quase todos reconhecem existir alguma coisa em comum nesses dois fenômenos.
Acreditamos, pois, na necessidade imperiosa de um antecedente afetivo e de caráter depressivo para que a ansiedade se manifeste patologicamente. O mesmo requisito afetivo não se necessita para a ansiedade normal e fisiológica. Talvez seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à terapêutica antidepressiva.
Saber com certeza se a Ansiedade pode ser uma das causas de Depressão ou se, ao contrário, pode surgir como conseqüência desta ou, ainda, se uma nova entidade clÃnica independente se constitui quando ambos fenômenos coexistem num mesmo paciente tem sido uma questão aberta à s pesquisas e reflexões.
Strian e Klicpera (1984) consideraram há tempos que Depressão e Ansiedade formavam um quadro unitário. Clancy (1978), há mais tempo ainda constatou que o humor depressivo antecedia com freqüência ao primeiro ataque de pânico. Existem boas observações do transtorno ansioso aparecer em pessoas portadoras de caráter predominantemente depressivo na personalidade (Lader, 1975), e alguns até consideram o paciente ansioso como portador de um tipo de Depressão endógena atÃpica (Salomon, 1978).
Ansiedade e Depressão também foram cogitadas como aspectos diferentes do mesmo transtorno afetivo por Downing e Rikels (1974), entendendo-se os casos de pânico, fobia, obsessões e somatizações como sendo reflexo de sintomas depressivos que se manifestariam atipicamente (Gersh e Fowles, 1979).
De fato, a insegurança tÃpica do estado fóbico-ansioso pode ser melhor entendida à luz de uma autopercepção pessimista e de uma representação temerosa da realidade, ambos de conotação depressiva. Monedero (1973) considera a angústia como um temor de algo que vai acontecer e a ansiedade como um temor atual, caracterizado pela procura e impaciência apressada, enfatizando um componente humor-congruente depressivo da ansiedade.
Há ainda autores que admitem a Depressão como uma complicação freqüente dos transtornos ansiosos ou que os sintomas ansiosos seriam comuns nas doenças depressivas primárias, aceitando o fato de pacientes com Depressão primária apresentarem estados ansiosos graves (Rodney, 1997; Cunningham, 1997). A maioria dos autores, entretanto, afirma que pacientes com pânico primário, com pânico complicado pela Depressão, com Depressão Primária complicada por pânico ou com Depressão Primária, oferecem sérias dificuldades para se diferenciar nitidamente os estados ansiosos dos depressivos.
Uma terceira posição, há tempos cogitada, é a ansiosa-depressiva como transtorno unitário e emancipado, quer da Ansiedade Generalizada, quer da Depressão Maior (Stavrakaki, 1986). Esta postura unitária, diferente daquela que considera ansiedade e Depressão como sendo faces de uma mesma doença, também era sustentada por Paykel (1971) e por Downing e Rikels (1974). Schatzberg (1983) diz que os pacientes com quadros mistos de Ansiedade e Depressão exigem terapias diferentes dos grupos de pacientes que apresentam esses quadros isoladamente. Observa que quando as duas sÃndromes coexistem a evolução é mais crônica, a resposta é menor à s terapias convencionais e o prognóstico é pior.
Hipotimia ou Depressão
Na Hipotimia (humor baixo) ou Depressão, verifica-se o aumento da reatividade e sensibilidade para os sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o simples mal-estar, até o estupor melancólico, ou seja, uma apatia extrema por melancolia.
Esse estado de Hipotimia ou Depressão se caracteriza, essencialmente por uma tristeza profunda, normalmente imotivada, que se acompanha de lentidão e inibição de todos os processos psÃquicos. Em suas formas leves a Depressão se revela por um sentimento de mal-estar, de abatimento, de tristeza, de inutilidade e de incapacidade para realizar qualquer atividade.
Os pacientes hipotÃmicos estão dominados por um profundo sentimento de tristeza imotivada. No doente deprimido, as percepções são acompanhadas de uma tonalidade afetiva desagradável: tudo Ihe parece negro. Os doentes perdem completamente o interesse pela vida. Nada lhes interessa do presente nem do futuro e, do passado, são rememorados apenas os acontecimentos desagradáveis. As percepções são lentas, monótonas, descoloridas. Ao paciente parece que os alimentos perderam o sabor habitual. Nos estados depressivos, as ilusões são mais freqüentes do que as alucinações.
As idéias deliróides nos pacientes hipotÃmicos são comuns, expressando geralmente idéias de culpa, de indignidade, ruÃna, pecado e de auto-acusação. O pensamento é lento e o próprio ato de pensar é acompanhado de um sentimento desagradável. O conteúdo do pensamento exprime motivações dolorosas. O paciente é incapaz de livrar-se de suas idéias tristes pela simples ação de sua vontade ou dos "pensamentos positivos", como se diz.
O quadro clÃnico do estado afetivo depressivo é caracterizado pela inibição geral da pessoa, pela baixa performance global refletida pela lentidão e pobreza dos movimentos, pela mÃmica apagada, pela linguagem lenta, monótona e pelas dificuldades pragmáticas.
Os sintomas somáticos são bastante evidentes nos pacientes hipotÃmicos. Os distúrbios vasomotores se traduzem em mãos frias, algumas vezes pálidas e cianosadas, pela palidez dos lábios e hipotermia. São freqüentes os espasmos ou dilatações vasculares, com conseqüente oscilação da pressão arterial. Os pacientes deprimidos dão-nos a impressão de mais velhos. As perturbações digestivas também são constantes, a lÃngua pode se apresentar saburrosa, há alterações do apetite, tanto com inapetência quanto com hiperfagia e constipação intestinal. Os distúrbios circulatórios ocasionam um sentimento subjetivo de opressão na região cardÃaca, causando a chamada angústia precordial.
Em determinados casos, sob a influência de fatores externos ou em conseqüência de causas internas temporárias, a Depressão pode aumentar de modo considerável, determinando um estado de excitação ansiosa. Quando o paciente, não encontra solução para seu sofrimento costuma pensar no suicÃdio.
A Depressão patológica é um dos sintomas fundamentais do Transtorno Afetivo Bipolar, em sua fase depressiva. Estados depressivos também podem ser observados em todas as psicoses e neuroses. No Transtorno Afetivo Bipolar, entretanto, a Depressão tem uma origem ligada a fatores afetivos internos (sentimentos vitais), que escapam à compreensão do doente e de seus familiares.
Nas Distimias, nas Reações Agudas ao Estresse e nas neuroses de modo geral, a Depressão costuma ser mais reativa, isto é, mais psicogênica (mais anÃmica que vital), originando-se de situações psicologicamente compreensÃveis e de experiências desagradáveis. A anormalidade do sentimento depressivo nesses quadros psicogênicos está na intensidade e na duração desse afeto em comparação à s pessoas normais e não em sua qualidade, como acontece nos Transtornos Afetivos Bipolares.
Tipos de Depressão; quanto a origem
Os afetos depressivos podem aparecer como uma resposta a SITUAÃÃES REAIS, através de uma Reação Vivencial depressiva, quando diante de fatos desagradáveis, aborrecedores, frustrações e perdas. Trata-se, neste caso, de uma resposta a conflitos Ãntimos e determinados por fatores vivenciais. Daà denominação DEPRESSÃO REATIVA, ou seja, em reação a alguma coisa real e acontecida, à uma fonte exógena que pode ser casualmente relacionada à quela reação.
Esta Depressão Reativa, embora compreensiva por tratar-se de uma reação afetiva à uma vivência desagradável, não deve ser entendida como normal e fisiológica mas apenas compreensÃvel. Diante de fatos desagradáveis podemos esperar, fisiologicamente, a tristeza e não a Depressão e, quanto à isso, não devemos fazer nenhuma confusão.
Esta última, a Depressão, deve ser uma denominação reservada para as Reações Vivenciais Anormais proporcionadas por circunstâncias vivenciais desagradáveis, ou seja, reações desproporcionais em quantidade, qualidade e temporalmente ao agente causal. Os sentimentos de tristeza que normalmente acompanham situações frustrantes são diferenciados da Depressão por não comportarem a trÃade sintomática de Inibição PsÃquica, Estreitamento de Campo Vivencial e Sofrimento Moral.
A Depressão pode aparecer ainda acompanhado, ou aparentemente motivada, por SITUAÃÃES ANÃMICAS. Neste caso, certas perspectivas futuras, certos anseios e objetivos de vida estão representados intrapsiquicamente de maneira negativa. Há um sentimento depressivo associado à s conjecturas irreais de tal forma que o panorama atual dos acontecimentos e a expectativa do porvir são funestamente valorizados. Sofre-se por aquilo que não existe ainda ou, muito possivelmente, nem existirá. Um exemplo disso é a Depressão experimentada diante da possibilidade da perda de um emprego, ou da perspectiva de vir a sofrer de grave doença e assim por diante.
Evidentemente, não se trata aqui, de que tais perspectivas sombrias estejam a alimentar a Depressão, mas muito pelo contrário, ou seja, a Depressão é quem confere um significado lúgubre às possibilidades do futuro. Não se pode acreditar que, neste caso, exista uma relação causal vivencial solidamente vinculada à Depressão, pois, de qualquer forma, as situações referidas como promovedoras e alimentadoras da Depressão não aconteceram ainda.
Em outros termos e de acordo com que se sabe sobre Reações Vivenciais (vide adiante), falta o elemento estressor, o qual existe apenas na imaginação do paciente. Portanto, é lÃcito pensar já numa Depressão mais profundamente arraigada no ser, a qual, embora atrelada à personalidade, utiliza os elementos vivenciais apenas para nutrir sua necessidade de sofrimento (uma vez que, ainda não aconteceram concretamente).
Há, finalmente, casos de Depressão procedentes de um temperamento francamente depressivo ou seja, a nÃvel de SENTIMENTOS VITAIS. São, neste caso, transtornos da afetividade emancipados dos elementos vivenciais quanto à causalidade. Isso não impede que sejam desencadeados por vivências traumáticas. Trata-se de uma Tonalidade Afetiva Básica rebaixada e, evidentemente, talhada à reagir sempre depressivamente à vida.
As pessoas que se encontram depressivas durante uma fase de suas vidas, cujo contexto vivencial sugere-nos uma circunstância sofrÃvel, quer como conseqüência de um fato único, quer como uma somatória de fatos traumáticos sucessivos, sem que possamos detectar um temperamento depressivo prévio, provavelmente estarão apresentando uma Depressão Reativa. Neste caso, esta reação depressiva não pode ser tida como decorrência de uma Tonalidade Afetiva Depressiva de Base, mas como uma resposta emocional à uma circunstância de vida. Daà empregar-se, antigamente, a denominação de DEPRESSÃO EXÃGENA, ou seja, dependente de fatores externos à personalidade da pessoa.
Depois de estabelecido nesta pessoa o estado depressivo, ainda que, conseqüente a fatores reais e externos à sua personalidade, tudo mais em sua vida parecerá depressivo, até que saia desta fase afetiva. Assim sendo, poderá também ser pessimista quanto à sua situação futura, portanto, depressivo quanto à Situações Imaginárias.
Da mesma forma, os pacientes portadores de Tonalidade Afetiva Depressiva de Base, por possuÃrem um temperamento previamente depressivo, independentemente dos fatos vividos, sempre estarão tingindo de negro suas perspectivas futuras. São portadores da, anteriormente denominada, DEPRESSÃO ENDÃGENA e, como se viu, relacionada não apenas ao Sentimentos Vitais como também à s Situações Imaginárias.
A questão em se saber a natureza endógena ou exógena do estado depressivo, hoje em dia, parece não despertar o mesmo interesse de antes. Os indivÃduos com caracterÃsticas afetivas depressivas (anteriormente denominados de depressivos endógenos) reagirão sempre aos estÃmulos da vida de uma forma consoante ao seu afeto depressivo, portanto, dando-nos a falsa impressão de apresentarem Depressão Reativa: a maioria dos eventos, para eles, terá uma conotação negativa. Por outro lado, a clÃnica tem mostrado, com freqüência, determinadas vivências bastante suportáveis para alguns, ocasionando, em outros, verdadeiras Reações Depressivas. Isso nos sugere que tal Reação Depressiva não deve ser legada apenas aos elementos vivenciais.
No fundo, considerando o estado afetivo no qual o indivÃduo se encontra no momento, tem sido tarefa muito penosa estabelecer a natureza de sua Depressão. Nestes casos, recorremos quase sempre à personalidade pregressa do paciente; se a tonalidade afetiva era, anteriormente, depressiva, há possibilidade deste estado depressivo atual ser de natureza endógena, mas mesmo assim não será uma implicação obrigatória.
Outras vezes, também de acordo com exemplos cotidianos da prática clÃnica, personalidades previamente bem adaptadas e sugerindo uma boa adequação afetiva poderão, não obstante, apresentar fases de profunda Depressão sem motivação vivencial. Procura-se, nestes casos de Depressão sem motivação ambiental ou, talvez, em atenção a um conforto do terapeuta, justifica-la como decorrência da eventual somatória de vivências passadas. Certeza disso, entretanto, ninguém pode ter.
PRÃXIMA PÃGINA
SINTOMAS DA DEPRESSÃO
Os sintomatologia depressiva muito variada e muito diferente entre as diferentes pessoas. Por isso a psicopatologia recomenda como válido a existência de apenas três sintomas depressivos básicos e suficientes para sua detecção, no entanto, estes sintomas básicos darão origem à infinitas manifestações desta alteração afetiva. Trata-se, esta trÃade, da:
1 - Inibição PsÃquica,
2 - do Estreitamento do Campo Vivencial e,
3- do Sofrimento Moral.
Compete à sensibilidade do observador, relacionar um sentimento, um comportamento, um pensamento ou um determinado sintoma como sendo a apresentação pessoal e individual de um desses três sintomas básicos, tradução esta adequada a disposição pessoal da personalidade de cada um.
Em crianças e adolescentes, por exemplo, o humor pode ser irritável ao invés de triste. O adulto deprimido também pode experimentar sintomas adicionais durante a Depressão. Estes incluem alterações no apetite ou peso, alterações do sono e da atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicÃdio.
De qualquer forma, a Depressão deve ser acompanhada por sofrimento ou prejuÃzo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou outras áreas importantes da vida do indivÃduo. Para algumas pessoas com Depressão mais leves, o funcionamento pode parecer normal, mas exige um esforço acentuadamente aumentado. O estado depressivo freqüentemente é descrito pela pessoa com setimentos de tristeza, desesperança, falta de coragem ou como estando "na fossa" (DSM.IV).
DelÃrio DepressivoEmbora o juÃzo crÃtico possa estar conservado no paciente deprimido, suas vivências são suportadas com muito sofrimento e pessimismo.
A interpretação da realidade assume caráter alterado, de acordo com a intensidade da Depressão: poderá simplesmente se apresentar como idéias falsas, nos casos mais leves ou, nos casos mais graves como delÃrio franco.
Acontece que, para diferenciar o delÃrio da depressão do delÃrio da esquizofrenia, chama-se Idéia Deliróide quando o delÃrio é secundário à depressão e DelÃrio Primário, quando for da esquizofrenia.
Em alguns casos, a tristeza pode ser negada de inÃcio, mas subseqüentemente pode ser revelada pela entrevista, por exemplo, quando a pessoa chora durante a consulta ou pela fisionomia aborrecida e entristecida. Outras pessoas, entretanto, podem se queixar de se sentirem indiferentes, apáticos ou ansiosos ou, ainda, podem referir queixas somáticas sem correspondência clÃnica mais do que sentimentos de tristeza. Muitos referem ou demonstram irritabilidade aumentada, tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando outros, ou um sentimento exagerado de frustração por questões menores.
Sofrimento Moral (autoestima baixa)
O Sofrimento Moral, ou sentimento de menos-valia, é um fenômeno marcante e desagradável na trajetória depressiva. Trata-se de um sentimento de autodepreciação, auto-acusação, inferioridade, incompetência, pecaminosidade, culpa, rejeição, feiúra, fraqueza, fragilidade e mais um sem-número de adjetivos pejorativos.
Dependendo do grau da depressão, o Sofrimento Moral aparece em graus variados, desde uma sutil sensação de inferioridade até profundos sentimentos depreciativos. Outro fator que complica o diagnóstico é o fato do Sofrimento Moral nem sempre ser consciente e claro à pessoa que o sente. Muitas vezes a pessoa com baixa autoestima recorre a mecanismos de defesa que ofuscam seus verdadeiros sentimentos.
Por exemplo, nas pessoas com importante traço de irritabilidade e agressividade na personalidade, o sentimento de baixa autoestima se manifesta com agressividade, com comportamentos de superioridade ostensiva, com dificuldades gritantes em lidar com as frustrações, com as filas, com ter de esperar, enfim, são pessoas que manifestam essa sensação de estarem sendo "agredidas" de alguma forma, portanto, revidam com mais agressividade.
Em pessoas naturalmente retraÃdas e introvertidas, a baixa autoestima se faz sentir com mais retraimento ainda, com mutismo e quietude preocupante, com isolamento e extrema dificuldade em expor sentimentos. Por isso, muitas vezes, "preferem" a manifestação somática dessas emoções.
Em pessoas de personalidade ansiosa a baixa autoestima faz com que os outros (notadamente, a opinião dos outros) pareçam inimigos em potencial, capazes que são de depreciar, de julgar, de avaliar... Portanto, nada mais sensato que apresentarem, esses pacientes, quadros fóbicos sociais, evitação, sintomas autossômicos quando diante de outras pessoas, e assim por diante.
Quando a Depressão adquire caracterÃsticas muito graves e psicóticas, o Sofrimento Moral pode ser aparecer sob a forma de delÃrio. Nesse caso seria o delÃrio humorcongruente. Um judeu, psicótico depressivo, durante uma de suas crises de depressão profunda apresentava um pensamento francamente delirante, o qual dava-lhe a certeza de ter parte de seu cérebro apodrecido. Outrossim, julgava-se culpado por ter ingerido, contra sua crença religiosa, carne suÃna há mais de 15 anos. Uma espécie de punição divina aplicada ao pecador incauto.
O prejuÃzo da autoestima proporcionado pela Depressão Grave ou Psicótica, pode ainda determinar uma ideação claramente paranóide, onde a culpa adquire uma posição destacada. Para fins de diagnóstico, deve-se ter em mente que nas psicoses esquizofrênicas, onde freqüentemente aparece a ideação paranóide, a autoestima não se encontra perturbada como nos estados depressivos psicóticos. Esta observação pode auxiliar o diagnóstico diferencial entre uma depressão com sintomatologia psicótica (ideação deliróide) e uma psicose esquizofrênica (com delÃrios).
O Sofrimento Moral deve ainda ser considerado o maior responsável pelo desfecho suicida das depressões severas. Aparece como uma prova doentia da incompetência do ser, de seu fracasso diante da vida e de sua falência existencial. Enquanto nos estados eufóricos a autoestima se encontra patologicamente elevada e as idéias de grandeza proporcionam uma aprazÃvel sensação de bem-estar, na Depressão a pessoa se coloca numa das posições mais inferiores entre seus semelhantes.
Organicamente, uma pessoa com Sofrimento Moral, portanto, com tendência a autodepreciar-se em todos os sentidos, pode entender uma simples dor de estômago como prenúncios de um câncer gástrico, uma tontura trivial com indÃcios de um derrame iminente, uma tosse frugal como sugestiva de câncer de pulmão ou tuberculose, uma simples gripe como sinal de AIDS, etc.
Inibição Global (apatia e desinteresse)
A Inibição global do organismo é um dos sintomas básicos da Depressão e se manifesta como uma espécie de freio ou lentificação dos processos fÃsicos e psÃquicos em sua globalidade, uma lassidão e lerdeza generalizada de toda a atividade corpórea. Em graus variáveis, esta inibição geral torna o indivÃduo apático, desinteressado, lerdo, desmotivado, com dificuldade em suportar tarefas elementares do cotidiano e com grande perda na capacidade em tomar iniciativas.
Os campos da consciência e da motivação estão seriamente comprometidos, advindo daà a dificuldade em manter um bom nÃvel de memória, de rendimento intelectual, da atividade sexual e até da agressividade necessária para tocar adiante o dia-a-dia. Percebemos os reflexos desta Inibição Global em várias áreas da atividade da pessoa, inclusive na diminuição da atividade motora e até na própria expressão da mÃmica, fazendo com que o paciente tenha aparência de abatimento e de desinteresse.
A Inibição Global tem sido a responsável pelo longo itinerário que muitos pacientes percorrem antes de se acertarem com um tratamento psÃquico. A primeira idéia que os pacientes deprimidos têm, estimulados também pela famÃlia, é que seu mal estar pode resultar de alguma anemia, fraqueza, problema circulatório..., depois passam a tratamentos alternativos de macrobiótica, yoga, tai-chi-chuam..., submetem-se a tediosos a passeios de gosto duvidoso, levados por amigos bem intencionados e, muitas vezes, consultam até um neurologista. Este ponto costuma ser o mais próximo que chegam do aparelho psÃquico e, normalmente, a causa psÃquica é a última a ser questionada, embora seja a primeira que se faz sentir.
As pessoas que rodeiam o paciente com Inibição Global são solÃcitas em lembrá-lo de que a vida é boa, ressaltam que nada lhes falta, que gozam de saúde, que não são ricos mas tem gente em pior situação, que pertencem a uma famÃlia decente e compreensiva... O paciente, por outro lado, não sendo um retardado mental, sabe de tudo isso e as palavras estimulantes apenas aumentam sua perplexidade, sua culpa e seu aborrecimento consigo próprio.
A Inibição Global é secundária à Depressão, é um sintoma decorrente da Depressão e não uma doença que corrompe o juÃzo crÃtico, tornando os pacientes completamente desorientados em relação à s condições de sua vida ou de sua famÃlia.
Outro conceito importantÃssimo, é que a Inibição Global é conseqüência da depressão e não o contrário. Essa colocação é importante porque, comumente, o público leigo costuma recomendar à pessoa deprimida para que se esforce e se mobilize para melhorar da depressão, quando na realidade seria o contrário, ou seja, deve melhorar da depressão (tratar) para mobilizar-se normalmente e sem ninguém para pedir.
Estreitamento Vivencial (perda de prazer)
Estreitamento Vivencial é a expressão mais adequada para representar a perda progressiva da pessoa deprimida em sentir prazer. A palavra para designar o ponto mais alto desse fenômeno de perda do prazer é Anedonia, ou seja, a incapacidade em sentir prazer por todas as coisas. No Estreitamento Vivencial o universo de interesses e de prazeres pelas coisas da vida vai sendo cada vez menor e mais restrito.
De fato, o interesse humano está indissoluvelmente ligado ao prazer; nos interessamos por aquilo quer nos dá prazer, por aquilo com o qual temos alguma ligação afetiva. Em situações normais a pessoa abre para si um leque de interesses: interesse pelas notÃcias, pelos esportes, pela companhia de amigos e pessoas queridas, pelo conhecimento em geral, pelos passeios, pelas novidades, pelas compras, pelas artes, pelos filmes, pela comida, pelas revistas e jornais, enfim, cada pessoa nutre um rol de interesses pessoais, evidentemente, interesses por coisas que lhe dão prazer.
Pois bem. No Estreitamento Vivencial da depressão esse leque de interesses vai se fechando, aparecendo progressivamente um desinteresse e desencanto pelas coisas. Há um momento onde a preocupação com o próprio sofrimento toma conta de todo interesse vivencial do deprimido.
Não há ânimo suficiente para admirar um dia bonito, para se interessar na realização ocupacional, para degustar uma boa bebida, para deleitar-se com um filme interessante, para sorver uma boa companhia, para incrementar a discoteca, visitar um amigo...
No rol de ocupações do deprimido com Estreitamento Vivencial acaba só existindo a preocupação consigo próprio e com sua dor. Nada mais lhe dá prazer, nada mais pode motivá-lo. Neste caso, o leque do campo vivencial fica tão estreito que só cabe nele o próprio paciente com sua depressão, o restante de tudo que a vida pode oferecer não interessa mais, a própria vida parece não interessar mais.
Enquanto a Inibição Global pode ser entendida como um aspecto exterior do relacionamento do indivÃduo com o mundo, como uma espécie de prejuÃzo em sua performance, em seu rendimento pessoal e de relacionamento com as coisas, o Estreitamento Vivencial, por sua vez, denota uma alteração mais interior, um prejuÃzo nas impressões que o mundo e a vida causam no sujeito.
Um é centrÃfugo o outro centrÃpeto. Na Inibição Global as coisas são feitas com dificuldade e lerdeza, com maior esforço fÃsico e mental. No Estreitamento Vivencial as coisas nem sequer serão feitas.
Como se manifesta a Depressão
Saber como, exatamente, a pessoa apresenta sua depressão é uma questão complicada. Como dissemos, as manifestações depressivas são muito variadas e extremamente dependentes da personalidade de cada um.
Mas uma coisa é certa; a Depressão costuma estar junto com a maioria dos transtornos emocionais, ora aparecendo como um sintoma de determinado estado emocional, ora apenas coexistindo com quadros ansiosos, outras vezes como causa de determinados transtornos. Em muitas situações psÃquicas a Depressão se encontra presente, à s vezes de forma tÃpica outras vezes dissimulada.
A Depressão aparece como um sintoma associado e impregnando todo o viver dos pacientes emocionais em geral, tanto sob sua forma tÃpica, com tristeza, choro, desinteresse, etc, quanto em sua forma atÃpica, com somatizações, pânico, ansiedade, fobia, obsessões.
De qualquer forma, o que encontramos mais freqüentemente nos distúrbios depressivos são os sintomas atrelados a essa afetividade alterada. Normalmente os sintomas afetivos não proporcionam prejuÃzo significativo da crÃtica mas, apesar do juÃzo crÃtico estar conservado, as vivências do deprimido terão representação alterada (veja o capÃtulo sobre a Representação do Objeto), serão suportadas com grande sofrimento e com perspectivas pessimistas.
Assim sendo, a interpretação e valorização afetiva da realidade podem ter seu caráter alterado, de acordo com a intensidade da Depressão: a pessoa deprimida poderá simplesmente apresentar idéias falsas sobre a realidade, nos casos mais leves ou, nos casos mais graves, poderá desenvolver delÃrio franco sobre a realidade.
Em sua forma tÃpica e clássica a manifestação da depressão depende sempre da maneira (quadro clÃnico, freqüência, intensidade) com a qual se manifesta o chamado Episódio Depressivo. Assim sendo, estudando o Episódio Depressivo entenderemos as manifestações clÃnicas de todas as depressões tÃpicas. Enfatizando sempre o termo "tÃpico".
Apesar de não ser bem o propósito dessa obra classificar doenças, estando mais preocupados em fazer entender as emoções, mesmo assim vamos dar uma pincelada em alguns aspectos classificatórios importantes para o entendimento global.
Saber se o estado depressivo é Leve, Moderado ou Grave é apenas uma questão da intensidade com que se apresenta o Episódio Depressivo. Saber se esse estado depressivo é uma ocorrência única na vida da pessoa ou se é repetitivo, dependerá da freqüência com que os Episódios Depressivos se apresentam. Saber se o Transtorno Afetivo em pauta é simplesmente um quadro depressivo ou se é bipolar, dependerá do fato dos Episódios Depressivos serem a única ocorrência afetiva ou se coexistem com episódios de euforia. Enfim, como se vê, estudando o Episódio Depressivo, sua intensidade, freqüência e apresentação, podemos classificar o tipo de Transtorno Afetivo.
Devido ao fato dos estados depressivos se acompanharem, com assiduidade, de sintomas somáticos, a existência ou não destes sintomas também acaba fazendo parte da classificação. Da mesma forma, a presença concomitante ao Episódio Depressivo com sintomas psicóticos determinará diferentes classificações.
Cumprindo apenas um propósito acadêmico, e aproveitando para mostrar que a classificação dos Transtornos Afetivos (ou do Humor) é relativamente fácil, relacionamos abaixo a classificação formal, de acordo com a CID.10 (Classificação Internacional das Doenças).
DELÃRIO NA DEPRESSÃO
O DelÃrio Depressivo aparece só nos quadros muito graves. Normalmente surge sob a forma de DelÃrio de Pecado, quando a idéia principal é de culpa, ou quando o problema é a saúde, sob a forma de DelÃrio de Doença. Se o medo diz respeito à fortuna, surgirá o DelÃrio de RuÃna ou de Empobrecimento.
Percebe-se claramente que todos esses 3 tipos de delÃrios depressivos dizem respeito à severo prejuÃzo da auto-estima.
O doente com DelÃrio Pecaminoso crê, sem razão, ter cometido os piores crimes e pecados ou aumenta pequenas transgressões reais e tentações, mesmo apenas em pensamentos, para um pecado imperdoável. Por este motivo não apenas o próprio paciente, nesta vida e na vida além da morte, como também todos os seus parentes e até todo o mundo será castigado de forma indescritÃvel.
O DelÃrio de Empobrecimento ou o castigo muitas vezes é pensado de forma contaminante; não é apenas o doente a ser castigado por suas dÃvidas ou irá morrer de fome, mas também seus parentes terão igual destino.
O DelÃrio de Doença depressivo é a crença de ter determinadas doenças, sempre especialmente graves. Devemos estabelecer uma distinção entre este delÃrio da depressão, do DelÃrio HipocondrÃaco, que surge na Esquizofrenia ou na Psicose Delirante Persistente, sem necessária existência de depressão.
Via de regra existe também uma diferença no fato de que o DelÃrio de Doença depressivo transfere para o futuro o pior que poderá acontecer, ao passo que o hipocondrÃaco se preocupa com o presente. O depressivo crê sofrer de obstrução intestinal e que irá morrer de forma especialmente horrenda; o hipocondrÃaco sofre, neste momento atual, em função de constipação intestinal e exige e espera ajuda.
INTERESSE, APETITE E SONO NA DEPRESSÃO
A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente, pelo menos em algum grau nas pessoas com Depressão.
Os pacientes podem relatar menor interesse por passatempos, "não se importar mais", ou a falta de prazer com qualquer atividade antes considerada agradável.
Os membros da famÃlia freqüentemente percebem um certo retraimento social ou descaso para atividades agradáveis, como por exemplo, jogar, assitir tv, ler revistas, reunir-se com amigos, brincar com netos e/ou com colegas, etc.
Em muitos casos há uma redução significativa nos nÃveis de interesse ou do desejo sexual.
O apetite geralmente está reduzido, sendo que muitos indivÃduos sentem que precisam se forçar a comer. Outros, por outro lado, podem ter uma incômoda avidez por alimentos especÃficos, como por exemplo, chocolates, doces, etc.
Quando as alterações no apetite são severas, seja por diminuição ou aumento, pode haver uma perda ou ganho significativos de peso.
A perturbação do sono mais comumente associada com um Episódio Depressivo é a insônia, tipicamente intermediária, ou seja, com despertar durante a noite e dificuldade para voltar a dormir. Menos freqüente é a insônia terminal, isto é, despertar muito cedo, com incapacidade de conciliar o sono novamente. A insônia inicial, isto é, a dificuldade para adormecer, embora menos freqüente, também pode ocorrer.
Além disso, alguns pacientes apresentam, curiosamente, uma sonolência excessiva (hipersonia), na forma de episódios prolongados de sono noturno ou de sono durante o dia.
FORMAS CLÃNICAS DA DEPRESSÃO
As várias classificações dos Transtornos Afetivos do tipo depressivo, que na realidade são as várias maneiras da Depressão se manifestar clinicamente, dependem sempre da maneira (existência, freqüência e intensidade) com a qual se manifesta o Episódio Depressivo ou, também, quando a Depressão se manifesta sem a ocorrência de Episódio Depressivo (atÃpica). Assim sendo, estudando-se o Episódio Depressivo entenderemos todos os tipos de Depressão tÃpica.
A grosso modo e bem didaticamente, gostaria de dividir as manifestações clÃnicas da Depressão apenas de duas maneiras: TÃpica e AtÃpica. As Depressões TÃpicas seriam aquelas que se apresentam através dos Episódios Depressivos e, de acordo com as classificações internacionais (DSM.IV e CID.10). As Depressões AtÃpicas são aquelas que se manifestam, predominantemente através de sintomas ansiosos (Pânico, Fobia ...) e somatiformes.
Saber se um estado depressivo tÃpico está se apresentando de forma Leve, Moderada ou Grave é apenas uma questão da intensidade com a qual se apresentam os Episódios Depressivos. Saber se o estado depressivo é uma ocorrência única na vida da pessoa ou se é recidivante (repetitivo), dependerá da freqüência com que se apresentam esses Episódios Depressivos. Saber se o Transtorno Afetivo em pauta é simplesmente um quadro depressivo ou se é bipolar, dependerá do fato dos Episódios Depressivos serem a única ocorrência afetiva ou se coexistem com outros episódios de euforia.
Enfim, como se vê, sabendo-se os Episódios Depressivos, sua intensidade, freqüência e apresentação saberemos classificar o tipo de Transtorno Afetivo depressivo tÃpico.
Embora o juÃzo crÃtico esteja freqüentemente conservado, as vivências do deprimido são suportadas com grande sofrimento e com perspectivas pessimistas. A interpretação da realidade assume caráter alterado, de acordo com a intensidade da Depressão: poderá simplesmente se apresentar como idéias falsas, nos casos mais leves ou, nos casos mais graves como delÃrio franco.
Na psicomotricidade do deprimido percebemos inibição geral das funções, lentidão, pobreza da fala e dos movimentos, ombros caÃdos e andar com sacrifÃcio, desleixo nos cuidados com a higiene pessoal, abandono de si próprio. Nos casos mais graves podemos ter posturas de negativismo, como se a pessoa estivesse numa espécie de catatonia (apatia intensa e até paralisação psicomotora.
Alguns deprimidos podem salientar apenas sintomas somáticos (fÃsicos) ao invés de sentimentos de tristeza, como por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, e outras queixas somatomorfas. Para estes, talvez, seja mais fácil comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos que do discurso. Também em crianças e adolescentes a depressão pode dissimular-se sob a forma de um humor irritável ou rabugento, ao invés de triste e abatido.
DISTIMIATrata-se de uma maneira de sentir a realidade com tonalidade afetiva depressiva e melancólica sem que, necessariamente, seja considerado uma doença franca continuada. Portanto, não há aqui um severo prejuÃzo das qualidades de vida social ou ocupacional em um grau suficiente para atribuir um caráter patológico, mas a depressão aparece como uma caracterÃstica existencial dessas pessoas. Hoje, a denominação mais correta para esta afetividade depressiva solidamente atrelada à personalidade e sem caracterÃsticas limitantes da vida é o chamado Transtorno Afetivo Persisistente do tipo Distimia.
Conceitualmente entende-se como DISTIMIA uma depressão crônica, com sintomatologia não suficientemente grave para podermos classificá-la como Transtorno Depressivo Recorrente.
A caracterÃstica essencial do Transtorno DistÃmico é um humor cronicamente deprimido. Na Distimia as pessoas se auto-definem como tristes ou "na fossa". Em crianças e em alguns adolescentes o humor, originariamente deprimido, pode ser irritável, rebelde ou opositor.
Outros pacientes podem apresentar irritabilidade aumentada, como por exemplo, crises de raiva, explosividade, sentimentos exagerados de frustração, tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando os outros. O que encontramos mais freqüentemente nos distúrbios depressivos são sintomas atrelados predominantemente à afetividade, normalmente sem severo prejuÃzo da crÃtica.
A perda de interesse ou do prazer está quase sempre presente em algum grau. Os pacientes podem relatar menor interesse por passatempos, não se importam mais com coisas antes importantes, enfim, falta-lhes prazer para atividades anteriormente consideradas agradáveis, incluindo a atividade sexual.
Aproximadamente 50% dos pacientes com Distúrbio Depressivo Maior têm seu primeiro Episódio Depressivo antes dos 40 anos e a maioria destes surtos não tratados duram de 6 a 13 meses. Tratados, a maioria dos episódios dura cerca de 3 meses.
EPISÃDIO DEPRESSIVO
Devido ao fato dos estados depressivos se acompanharem, com muita assiduidade, de sintomas somáticos, a existência ou não destes sintomas faz parte da classificação, assim como também a presença de sintomas psicóticos, como vimos acima. Segundo a CID.10 a classificação dos Episódios Depressivos ficaria assim:
F32 - EPISÃDIO DEPRESSIVO
F32.0 - Episódio Depressivo Leve
F32.00 - ... sem Sintomas Somáticos
F32.01 - ... com Sintomas Somáticos
F32.1 - Episódio Depressivo Moderado
F32.10 - ... sem Sintomas Somáticos
F32.11 - ... com Sintomas Somáticos
F32.2 - Episódio Depressivo Grave sem Sintomas Psicóticos
F32.3 - ... com Sintomas Psicóticos
Os Episódios Depressivos podem proporcionar perturbações do sono. Comumente, estas se manifestam sob a forma de insônia. A insônia da depressão costuma ser intermediária, caracterizada por despertar durante a noite com dificuldade para voltar a dormir. No caso da insônia ser terminal há um despertar muito cedo, com incapacidade de conciliar o sono novamente.
A insônia inicial, quando há dificuldade para adormecer, é a mais incomum na depressão pura (sem ansiedade). Menos freqüentemente alguns pacientes reagem à depressão com sonolência excessiva (hipersonia), na forma de episódios prolongados de sono noturno ou de sono durante o dia. Ocasionalmente a razão pela qual o indivÃduo busca tratamento pode ser esta perturbação do sono.
Muito marcante também é a apatia durante a crise depressiva. A diminuição da energia fÃsica e mental é comum e se traduz por cansaço e fadiga crônicos, muitas vezes responsáveis por inúmeros exames de sangue a que se submetem os pacientes. O deprimido pode relatar fadiga persistente sem esforço fÃsico compatÃvel e as tarefas mais leves parecem exigir mais esforço que o habitual.
Também pode haver diminuição na eficiência para realizar tarefas. A pessoa deprimida pode queixar-se, por exemplo, de que as coisas levam o dobro do tempo habitual para serem feitas.
Na depressão também é muito freqüente um certo prejuÃzo na capacidade de pensar, de concentrar-se ou de tomar decisões. Os depressivos podem se queixar de enfraquecimento de memória ou mostrar-se facilmente distraÃdas.
A produtividade ocupacional costuma estar também prejudicada, notadamente nas pessoas com atividades acadêmicas ou profissionais intelectualmente exigentes. Em crianças deprimidas pode haver uma queda abrupta no rendimento escolar como resultado da dificuldade de concentração.
Freqüentemente existem pensamentos sobre morte durante o Episódio Depressivo. Trata-se, não apenas da ideação suicida tÃpica mas também da preferência em estar morto ainda que não propositadamente. Em pessoas menos gravemente deprimidas, tais pensamentos costumam ser uma crença de que seria preferÃvel estar morto à conviver com este sofrimento e, nos casos mais severos, pensamentos recorrentes sobre cometer suicÃdio.
Nos idosos as dificuldades de memória podem ser a queixa principal e ser confundido com os sinais iniciais da demência. Este quadro de prejuÃzo da memória e outros sinais que poderiam confundir a depressão com demência recebe o nome de Pseudo Demência Depressiva.
Nestes casos, soma-se à lentidão dos processos psÃquicos um exagerado desinteresse, dando a falsa impressão de que a pessoa não está tendo consciência absoluta da realidade. Na realidade, o que o idoso deprimido tem é um grande desinteresse em lembrar fatos e em participar dos eventos cotidianos.
Uma porção significativa das mulheres relata uma piora dos sintomas depressivos alguns dias antes do inÃcio do perÃodo menstrual. O sucesso do tratamento da chamada Tensão Pré-Menstrual (TPM) com antidepressivos é hoje um indÃcio da labilidade afetivas de parte expressiva dessas pacientes.
A duração de um Episódio Depressivo Maior é variável. Quando não-tratado o Episódio Depressivo costuma durar 6 meses ou mais, não importando a idade de inÃcio. Na maioria dos casos, existe a remissão completa dos sintomas, retornando o funcionamento ao nÃvel normal, mas não sem severo sofrimento e/ou outros prejuÃzos vivenciais.
CRITÃRIOS DSM-IV PARA EPISÃDIO DEPRESSIVO MAIOR
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo perÃodo de 2 semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior. Pelo menos um dos sintomas é:
(1) humor deprimido ou;
(2) perda do interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição
médica geral ou alucinações ou delÃrios incongruentes com o humor.
(1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito).
Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável
(2) interesse ou prazer acentuadamente diminuÃdos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados
(4) insônia ou hipersonia quase todos os dias
(5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
(6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias
(7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente)
(8) capacidade diminuÃda de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano especÃfico, tentativa de suicÃdio ou plano especÃfico para cometer suicÃdio
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuÃzo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivÃduo.
C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipotiroidismo).
D. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuÃzo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.Veja ilustração do tema
TRANSTORNO DEPRESSIVO RECORRENTE
Com esse nome a CID.10 classifica os transtornos depressivos que se caracterizam pela ocorrência repetida de Episódios Depressivos correspondentes à descrição supra-citada de um Episódio Depressivo.
Esse transtorno pode, contudo, comportar breves episódios caracterizados por um ligeiro aumento de humor e da atividade(hipomania), sucedendo imediatamente a um Episódio Depressivo, e por vezes, podem ser precipitados por um tratamento com medicamentos antidepressivos.
As formas mais graves do Transtorno Depressivo Recorrente apresentam numerosos pontos comuns com os conceitos da fase depressiva de um transtorno que era chamado, antigamente, de Psicose ManÃaco-Depressiva (PMD), ou de Melancolia, assim como de Depressão Vital ou Depressão Endógena por outros autores. Assim sendo, repetindo apenas com finalidade didática, aquilo que a CID.10 chama de Transtorno Depressivo Recorrente Grave é sinônimo de Psicose ManÃaco-Depressiva (PMD) fase depressiva, Melancolia, Depressão Vital ou Depressão Endógena.
O primeiro Episódio Depressivo do Transtorno Depressivo Recorrente pode ocorrer em qualquer idade, da infância à senilidade, podendo ter um inÃcio agudo ou insidioso, durando de algumas semanas a alguns meses.
O risco de ocorrência de um episódio de euforia (manÃaco) não pode jamais ser completamente descartado em um paciente com um transtorno depressivo recorrente, qualquer que seja o número de Episódios Depressivos apresentados. Entretanto, em caso de ocorrência de algum Episódio ManÃaco em portadores de Transtorno Depressivo Recorrente, autoriza a mudar o diagnóstico para Transtorno Afetivo Bipolar.
As subclassificações do Transtorno Depressivo Recorrente são:
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos
Psicose manÃaco-depressiva, forma depressiva sem sintomas psicóticos
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas psicóticos
Psicose manÃaco-depressiva, forma depressiva, com sintomas psicóticos
Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão
Outros transtornos depressivos recorrentes
Transtorno depressivo recorrente sem especificação
Depressão unipolar SOE
2006-11-03 16:18:39
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answer #2
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answered by neto 7
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