O Orgasmo Feminino
Existe, por vezes, a ideia errónea de que a satisfação das relações sexuais se liga invariavelmente à obrigatoriedade da ocorrência do orgasmo feminino. Este pressuposto esbarra de forma clara no desconhecimento da função sexual humana, principalmente a feminina.
As relações sexuais têm sempre uma componente fisiológica que, tal como as outras funções (cardíaca, hepática, pulmonar, etc) pode não funcionar na sua plenitude, não significando, contudo, que exista qualquer tipo de problemática associado. Para além desta vertente meramente fisiológica, as relações sexuais são, ainda, influenciadas decisivamente pela componente psicológica de cada indivíduo, esta sim, desempenhando um papel preponderante na capacidade e disponibilidade de cada um em reagir sexualmente, contando-se inúmeras nuances ao nível da resposta sexual, no seio dos parâmetros considerados ajustados e comuns à maior parte dos sujeitos.
Temos então, dois factores extremamente importantes a influenciar a resposta sexual humana. Na esmagadora maioria das situações, estes factores estão de tal forma interligados que se torna quase quimérico isolá-los. Uma mulher que não obtenha o orgasmo no decurso de uma relação sexual, pode, no entanto, sentir-se bem do ponto de vista sexual. O problema pode surgir quando o seu parceiro pensa que algo está errado entre eles ou que a sua parceira tem algum problema do foro sexual. Essa ansiedade pode influenciar, também, o seu desempenho sexual, para além do da companheira, podendo estar na génese de um real problema sexual/relacional. Esta forma de abordagem do orgasmo feminino com a consequente imperiosidade da sua existência, é algo que não encaixa no conhecimento actual que possuímos no que diz respeito às respostas sexuais feminina e masculina, sendo mais notórias estas questões, ao nível do orgasmo feminino e da ereção masculina. Assim, factores como fadiga, tensão, ansiedade, entre outros, podem interferir, de forma diferente, nas respostas sexuais de ambos os sexos, dificultando ou impedindo a obtenção do orgasmo e da ereção, ou ainda, implicando a perda súbita desta última. Torna-se, também importante, salientar a crescente necessidade de informar, por forma a que as ideias erróneas ligadas à sexualidade se reduzam, contribuindo-se para que os padrões que são veículados possam ter alguma variabilidade e adequabilidade em função de cada um dos sujeitos, sem que cada um deles pense que só pode responder sexualmente da forma x ou y. O conhecimento das idiossincrasias do próprio e do(a) companheiro(a), contribuirá para que se consiga lidar de forma mais salutar com essas diferenças que, eventualmente, até podem ser estimulantes.
Ejaculação Feminina
Um dos pontos mais controvertidos na área de sexualidade feminina é a ejaculação. É claro que os que duvidam de sua existência são todos, sem exceção, homens - ou mulheres que nunca tiveram ou nunca viram outra mulher ejacular. O fato é que até Aristóteles já descreveu a ejaculação feminina para explicar a fabricação do sêmen nas mulheres. Mas, depois que caiu por terra a noção de que as mulheres poderiam produzir sêmen, a ejaculação feminina foi esquecida para sempre até o advento do relatório Hite.
A verdade é que - sim - algumas mulheres ejaculam. O líquido que expelem, entretanto é bem diferente daquele expelido pelos homens. Além de não conter sêmen, o líquido ejaculado pelas mulheres é mais ralo, transparente, e chega a ser confundido com xixi. Mas não é urina - é um composto de ácido prostático fosfatoso com glicose, frutose, alguns sais minerais e uma baixíssima quantidade de uréia.
Já foi para cama com a amada, fez de tudo e no auge da coisa, jorrou como chafariz? Morreu de gozo e vergonha, pensando que tinha feito xixi sem querer? Confundiu-se, enrolou-se e reprimiu o que, ainda por cima, foi um de seus melhores momentos de prazer? Bom, então fez mal. De acordo com médicos e sexólogos, desde os anos 50, a ejaculação feminina é considerada um fato indiscutível pelo menos para algumas mulheres. Inclusive o que hoje se argumenta é que toda mulher é capaz de ejacular, variando apenas a quantidade de líquido expelido (de algumas gotinhas a verdadeiros jatos) relativa à capacidade de contração muscular de cada dama durante o orgasmo.
E de onde vem essa fonte de prazer, você deve estar se perguntando. Vem de minúsculas glândulas, chamadas parauretrais, situadas na esponja uretral, também conhecida como Ponto G, tecido esponjoso que envolve a uretra (canal que conecta a bexiga ao exterior, por onde se faz xixi) e que faz parte do sistema clitoriano. Durante o orgasmo, contrações musculares expelem este fluido das glândulas parauretrais, por dois igualmente minúsculos ductos, localizados em ambos os lados do canal uretral, em pouca ou muita quantidade. Pesquisas realizadas no fluido expelido, de uma maneira geral, revelaram pouca uréia e creatinina, componentes da urina e bem mais glicose e ácido prostático fosfatoso, elementos semelhantes aos encontrados no sêmen. Assim, de posse dessas informações, as potentes ejaculadores que andavam se reprimindo e até fazendo cirurgias para incontinência urinária, com vistas a não molhar a cama ou a(o) parceira(o), sentiram-se menos constrangidas e passaram a soltar a franga (ou seria melhor dizer a rolha?).
AS PIONEIRAS NO ASSUNTO
Bom, o certo é que essa nova expressão de prazer (digo nova, por ser de recente discussão, pois até Shakeaspeare já falava nas “águas do meu amor”) deve muito de sua vinda à luz às médicas ligadas ao movimento feminista que, desde a década de setenta, passaram a redesenhar a anatomia do clitóris, demonstrando que sua parte visível (a glande) nada mais era que a ponta de um iceberg, cujo corpo possuía uma estrutura interna muito maior e mais complexa do que a sonhada pelos vãos tratados de anatomia tradicional. Foram elas que apontaram a esponja uretral, como responsável pela ejaculação feminina e, mais recentemente, esclareceram ser esta esponja parte do sistema clitoriano e não simplesmente um ponto ou região como indicado, na década de 50, pelo médico Ernest Grafenberg (1881-1957), a quem o ponto G deve o nome).
Além delas, outras pesquisadoras vêm aprofundando seus estudos sobre este órgão sexual feminino e lançando novas luzes sobre o assunto. Em 1998, a urologista australiana Helen O’Connell dissecou o clitóris de cadáveres de mulheres de várias idades, revelando que o corpo desse órgão de forma triangular, que se conecta à glande, é tão largo quanto à primeira junta do polegar, com dois braços de até 9 centímetros que adentram o corpo e terminam a apenas alguns milímetros das pontas da coxa. Entre esses braços, há, em cada lado da cavidade vaginal, dois bulbos, anteriormente chamados de bulbos do vestíbulo, por haverem sido considerados como partes da vagina, e que O’Connell agora quer denominar de bulbos do clitóris. A médica também afirma que, ao contrário da visão anatômica tradicional, o clitóris sim se conecta à uretra, rodeando-a em três lados enquanto um quarto lado se inserta na parede frontal da vagina. De fato, de acordo com O’Connell, os nervos cavernosos do clitóris se estendem ao longo das paredes do útero, da vagina, da bexiga e da uretra. Assim sendo, uma das aplicações, entre várias, dos estudos dessa médica, é a preservação da função sexual em mulheres que precisam ser submetidas a cirurgias na região pélvica, como retirada do útero, cirurgia para incontinência urinária e câncer na bexiga.
Legal mesmo será comparar a visão de O’Connell e a das médicas feministas e ver no que elas diferem e no que acrescentam dados uma a outra a outra. Com certeza, após tanto tempo sem a atenção devida aos seus órgãos sexuais, as mulheres só têm a ganhar com essa comparação bem como com as novas descobertas sobre o tema que seguramente surgirão nos próximos anos.
LEVE A TOALHA PARA A CAMA
Enfim, embora, em algumas pesquisas com ejaculadoras, seus fluidos tenham apresentado mais elementos de urina do que de ejaculação, hoje a maioria das (os) entendidas (os) bota a mão no fogo pela verdadeira ejaculação feminina, fruto – repetindo – das glândulas parauretrais, situadas na esponja uretral, que pode ser sentida ao se inserir o dedo na parte da frente da vagina, pressionando na direção do osso púbico ou do monte-de-vênus. Além disso, de qualquer forma, é sempre bom lembrar que tem gente que também gosta de praticar o que as gringas chamam de watersports (esportes aquáticos) ou golden showers (banho dourado ou chuva dourada), práticas sexuais que envolvem urina de uma ou de outra forma. Saídas do armário sadomasoquista pela chegada da AIDS e pela necessidade da discussão de todas as práticas sexuais com vistas à prevenção, os watersports também passaram a ser citados nos folhetos de prevenção as DST para lésbicas, perdendo um pouco de seu caráter de tabu. Assim, seja por uma coisa ou outra, para alcançar ou intensificar o orgasmo, se for o seu caso, vale mais a penas perder a vergonha, achar uma companheira igualmente potente ou pelo menos compreensiva e simplesmente levar a toalha para cama.
2006-11-02 01:30:33
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answer #1
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answered by Anonymous
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