Se o Brasil tivesse ouvido o ilustre pensador católico, nossa história teria tido outro rumo.
Ouçamos as clarividenctes palavras do brilhande orador:
"Não nos iludamos sobre as causas profundas da tremenda crise que o Brasil atravessa, e que enche de angústias a mais tormentosa quadra de nossa História.
A crise do Brasil apresenta sintomas econômicos, sociais, políticos. Sua raiz, porém, é de ordem moral, e exclusivamente moral.
E se alguém ainda duvidasse da existência ou da profundidade do mal, dir-lhe-íamos que atendesse ao fato simplesmente inquietante de, em um País que tem quatro séculos de História honrada e cheia de brilho, aparecer subitamente uma ditadura cujos atos mereceriam figurar em operetas, e não em compêndios de História, que arvora a anarquia administrativa em sistema de governo, e a arte de despistar em arte de governar.
Qual o ponto de apoio desta ditadura? Como o sepulcro de Mahomet, suspenso entre o Céu e a Terra, a ditadura nenhum apoio tem, quer de Deus, quer dos homens.
Quais os defensores desta ditadura? Um grupo reduzido de ditadores do ditador, a lhe impor determinaçöes, a tutelar Estados, e dividir o Brasil em Interventorias e vice-reinados, como crianças que entre si dividem um lote de brinquedos!
É tal sua força convincente, tal o ardor com que fazem a apologia do estranho governo que apóiam, que conseguiram a adesão de diversos elementos de boa fé.
Excluídos, porém, estes elementos, que são um mero joguete nas mãos do "Club 3 de Outubro", temos o espetáculo inédito de um sindicato de políticos, a feitorizar a nação por um ano e meio, forçando finalmente a população a se levantar para impor um regime de ordem e de lei, contra o desejo - suprema ironia! - das autoridades que deveriam ser as defensoras natas da mesma ordem e da mesma lei!
Este fato gravíssimo nos força à reflexão. E, por menos que reflitamos, vemos claramente que é na moralidade fraca de certos elementos que reside a causa de tantas desgraças.
E, enquanto não for sanada a causa de tal debilidade moral, estará aberta a porta a novas lutas, que condenarão o Brasil ao suplício tantálico de ver fugir-lhe dos lábios ressequidos a paz e a ordem que tanto almeja, logo que esta se aproxime por momentos de sua boca sedenta.
Eternamente a construir revoluçöes e a destruir, desencantado e desiludido, a obra que levantara, o Brasil consumirá nesta tarefa ingrata o melhor de seu tempo, em lugar de caminhar decididamente para a alta missão que lhe reserva a Providência.
Não constitui argumento alegar que é pequeno o número de elementos nefastos que provocaram e agora defendem a lamentável situação atual que só conseguimos remover com o recurso às armas. O micróbio se vale justamente de sua pequenez, para iludir a atenção dos incautos, e vitimar em pouco tempo os mais robustos organismos.
Agora em São Paulo - arrastando consigo todo o Brasil, enche páginas e páginas de glória, que legará ao futuro - é imprescindível que cogitemos seriamente das providências necessárias para a definitiva pacificação do Brasil.
A grandeza do heroísmo com que lutam nossos soldados, a beleza da abnegação com que aflui às arcas do Tesouro o que de mais precioso continham as economias dos pobres e os cofres dos ricos, o edificante exemplo de solidariedade cívica que damos hoje ao mundo inteiro, tudo isto precisa ser resguardado dos perigos que virão depois da vitória.
É imprescindível que, quanto antes, se dote o Brasil de uma Constituição realmente conforme as tradiçöes espirituais e históricas do País. É imprescindível que novas leis venham pôr cobro a abusos que já se tornam velhos.
Mas de que valerão as melhores leis e a mais perfeita Constituição, se uma profunda moralidade não lhes assegurar o cumprimento?
Do que vale o voto se não é dado pelo eleitor com sinceridade, e aceito pelo candidato com reta intenção?
Do que serve um Congresso, se nele não se cuida dos interesses do Brasil, mas dos de uma facção?
De que nos serve o mais bem municiado dos exércitos, se se desvia da ética militar, e se arvora em tutor ou feitor do País?
Do que vale um perfeito aparelhamento escolar, se por seu intermédio se ensina a História do Egito ou a composição do sistema solar, mas se omite intencionalmente o estudo dos deveres para com Deus, a Pátria e a família?
Todo o seu aparelhamento administrativo, que deveria ser para a Nação como o maquinismo que conduz o navio ao porto, não será outra coisa senão um fardo pesadíssimo e impossível de sustentar, se não for por toda a parte disseminada a seiva de uma profunda moralidade.
E esta moralidade nova, o Brasil não deverá buscá-la nos ensinamentos amorais de um Lenin, ou nas fantasias mais ou menos sedutoras de algum filósofo contemporâneo.
Folheie o Brasil as páginas de sua própria História. Indague de Anchieta qual o fundamento de sua admirável abnegação apostólica; pergunte a Vieira qual a chama que acendeu em prol das mais nobres causas o talento de sua inexcedível eloqüência; pergunte a Amador Bueno qual o princípio em virtude do qual se julgava obrigado a guardar fidelidade a seu Rei; interrogue o Duque de Caxias sobre o segredo que tornou gloriosa a sua espada no Paraguai; investigue as razöes que levaram a Princesa Isabel a abolir o cativeiro, com o sacrifício do próprio trono. E todos, a uma voz, apontarão para nosso céu estrelado, mostrando o Cruzeiro do Sul, símbolo bendito da Redenção, que a Providência desenhou em nosso firmamento."
2006-10-31 02:17:55
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answer #1
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answered by Anonymous
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