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Em todo o período eleitoral e talvez até antes a mídia lançou várias críticas ao governo, sendo que a maioria de forma distorcida. Veja o texto a seguir que trata desse assuno:
26 DE OUTUBRO DE 2006 - 15h00
Grande imprensa cometeu suicídio nestas eleições, diz Nassif

Por André Cintra e Priscila Lobregatte
Ao adotar um pensamento único, elitista e anti-Lula, a mídia entrou numa rota suicida. Esse estilo, ''inédito em termos de grande imprensa'', criou ''um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo''. O diagnóstico é de Luis Nassif, jornalista há mais de três décadas e ex-membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo.


Luis Nassif (foto) se tornou uma das vozes mais avessas aos descalabros que tomaram conta do jornalismo. Em sua opinião, a mídia sequer se esforçou para entender um fenômeno como o Bolsa Família - e sai dessa eleição desiludida com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na entrevista que concedeu ao Vermelho - e que abre a série ''Mídia x Mídia'', o jornalista mineiro atacou o presidenciável tucano Geraldo Alckmin. ''A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada''. De acordo com Nassif, ''Alckmin não tem discernimento'' e sofre de ''incompetência gerencial''.

As declarações de Nassif foram tomadas nesta quarta-feira (25/10), num escritório da Avenida Paulista, em São Paulo, onde o jornalista coordena a Agência Dinheiro Vivo. Confira os principais trechos dessa entrevista exclusiva.

Por que essa onda anti-Lula e anti-PT ficou cada vez mais forte na grande mídia?
No começo do ano passado, alguns colunistas - não oriundos da imprensa propriamente dita -, intelectuais e pessoas do showbiz, basicamente o (Arnaldo) Jabor e o Jô (Soares), começaram uma crítica mais pesada ao Lula e ao PT. Essa crítica, num determinado momento, resvalou para uma posição de intolerância e teve eco na classe média.

Quando teve eco, aconteceu algo que, para mim, é o mais inacreditável que eu já vi em mais de 30 anos de jornalismo: a Veja entra na parada e começa a usar aquele estilo escabroso. É inédito em termos de grande imprensa - e é um suicídio editorial. Agora, aquele estilo acabou batendo aqui, em São Paulo, em alguns círculos do Rio de Janeiro, induzindo a mídia a apostar na queda do Lula. Quando não conseguiu derrubar Lula, a mídia enlouqueceu. E então todos os jornais caminhavam na mesma direção. Isso não existe. Todo mundo endoidou.

Criou-se um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo. Os colunistas, de uma maneira quase unânime, entraram nesse clima - até por constrangimento. Aquela posição relativamente diversificada que existia nos jornais, através de seus colunistas, acabou. Os colunistas foram inibidos. Há jornalistas aí, com 40 anos de carreira, que escreveram 365 artigos, um por dia, sobre o mesmo assunto, todo dia pedindo a cabeça do Lula.

Não dá. Criou-se uma guerra santa que é incompatível com o papel da mídia. Isso era para os jornais dos anos 50. Partiu-se para um festival de ficção, de arrogância, de agressividade e falta de civilidade que é veneno puro na veia na imagem dos jornais e das revistas que entraram nessa.

E, mesmo assim, o Lula não caiu...
Porque, no começo dos anos 90, tivemos um fenômeno: começou a surgir a ''banda B'' da opinião pública. As classes D e E começaram a ter voz. É a história dos descamisados - e Collor percebeu muito bem isso. Começa a haver nessas classes um novo campo. À medida que o país vai evoluindo, aquela mediação feita pelos coronéis tende a se diluir. Este foi um primeiro ponto. Quando Lula lança o Bolsa Família - que é um programa muito bem-feito e que tem, sim, contrapartida -, ele pega esse fenômeno, que ganha corpo. O Fernando Henrique, que é sociólogo e tal, por conta de sua postura imperial, não percebeu esse novo cidadão emergente.

Outro ponto é que, na medida em que se criou essa unanimidade na mídia, você descartou públicos: o público engajado, que tem seu pensamento - a favor do Lula e do governo -, e que de repente percebeu que não havia nenhum veículo que fosse justo; e o segundo é um público menor, mas muito influente, que é o público dos formadores de opinião bem informados. Com aquela simplificação com que veio a cobertura, estes setores acabaram se desiludindo com a imprensa. Tudo isso surge num momento em que a internet já tinha massa crítica aí, com os blogs e tudo, para fazer contraponto. E entre os blogs tem de tudo.

Aquela diversidade que os jornais ainda tinham e perderam, o pessoal foi buscar na internet. E uma coisa a gente aprende com os blogs: se houver 20 blogs falando ''A'', basta um blog falando ''B'' de forma consistente, que ele inverte e desmascara. Há a interação entre os blogs e seus leitores. Os blogs emergiram como uma alternativa. E isso culminou com a matéria do Raimundo Pereira na CartaCapital. Em outros momentos, a Carta teria feito a matéria e ninguém falaria nada. Agora a matéria teve um alarido infernal, de tudo quanto é blog discutindo. E o tema não morreu.

A ponto de a Globo ter de se explicar...
É, tentou, tentou, mas não conseguiu responder. (Ali Kamel) é um rapaz inteligente, mas há coisas que, se você não consegue explicar, é melhor não tentar. Se você precisa de mais de uma lauda para explicar, não tente. Ele tentou e ficou chato, porque estava claro que era uma armação do delegado visando a Globo.

E aí se entra em outro aspecto: qual o interesse jornalístico de uma foto? Uma foto de dinheiro é igual a uma foto de dinheiro. Não há informação nisso. Essa foto ainda foi maquiada para dar maior fotogenia. O único interesse era como ela ia repercutir nas eleições, como no caso da Roseana Sarney. A gente sabia que esse dinheiro existia há semanas. O fato de aparecer a foto não tem significado nenhum.

Mas os jornais e TVs queriam dar a imagem para saber o efeito eleitoral da foto. Se o único interesse sobre a foto era esse, é evidente que a parte mais relevante do ponto de vista da notícia era saber como vazou a foto. E não deram isso. Manipularam e protegeram o delegado (Edmilson Bruno Pereira). Isso é um episódio marcante. Um golpe como esse, não temos paralelo em nossa história.

A mídia, cumprindo esse papel, é suicida. Ela não tem como ganhar. Se ela derruba o Lula, ela fica com a pecha de golpista para o resto da vida. Todo problema que surgisse seria imputado à mídia. Ou seja, se ela ganha, ela perde. Se não derruba o Lula - que foi o que aconteceu -, ela mostra que perdeu o poder que ela tinha.

Existe nisso um preconceito de classe?
Houve um claro preconceito de classe. No momento da internacionalização da economia brasileira, o Fernando Henrique passa a se cercar de uma corte que é minoritária em São Paulo, mas que tem muita ressonância. É um pessoal que se julga internacionalista, mas é da ''geração Daslu'' - de um esnobismo altamente provinciano visto por um estrangeiro, mas que aqui dentro pegou muitos setores, inclusive da imprensa. Esse deslumbramento cresceu de uma forma muito ampla nesse período, em cima de um conjunto de colunistas muito próximos ao Fernando Henrique.

O grande pecado do Fernando Henrique, lá atrás, foi quando ele começou a desqualificar as críticas e começou a tratar tudo que não era internacional como caipira e provinciano. Ou seja, criaram-se ali as bases para essa visão entre modernos e anacrônicos. O fator Veja foi fundamental para trazer esse componente. A Veja já vinha num crescendo de grosserias e ataques pessoais, mas, no ano passado, explodiu.

E veio até aquela capa absurda de que o PT emburrece o país...
Quando se entra nesse preconceito monumental, a crítica fica desqualificada. Aquele papel da mídia, de ser mediadora, deixa de existir. E o Lula fez uma coisa de gênio político. Quando começaram os escândalos, ele mandou apurar tudo. Na medida em que o pessoal acusado foi tirado do barco, passou a sensação de que era possível reconstruir o governo Lula sem os barras-pesadas que passaram por seu governo.

Então você tem o Bolsa Família mudando a realidade brasileira, com a incorporação das massas excluídas. O Lula não é salvo pela política do Palocci ou do Banco Central, mas pelo Bolsa Família. E não apenas pelos que são beneficiados - mas também por aqueles que estão de fora e percebem que esse programa vai mudar a história do Brasil. Os jornais não se deram conta disso.

Quando ficou claro que o Lula não ia cair, começaram a falar: ''Ah, mas o eleitor do Lula é nordestino, é analfabeto''. E quem fica com eles (os jornais)? Uma classe média muito paulistana, preconceituosa e anacrônica - porque quem é minimamente sofisticado não entra nesse jogo.

Você pega essa prepotência da Veja - esse negócio de ''eu sou imbatível''. Veja aquele rapaz, o diretor, que entrou um dia e disse: ''Hoje derrubamos o presidente!''.

Quem?
O Eurípedes (Alcântara), né? Acho que foi quando saiu aquela matéria do Palocci. Ele (Eurípedes) é que é o grande responsável por toda essa mudança que teve - essa adjetivação, esse clima todo.

A sensação de poder se dá pelo seguinte: você tem canais de TV, jornais, revistas - todos falando a mesma coisa. Só que, quando abre a cortina, tem um monte de gente espiando atrás da cortina. É um olhando pro outro, é um negócio auto-referenciado. Poucas vozes ousaram investir contra esse clima.

Os jornais apostaram na beligerância entre PSDB e PT?
Essa guerra acabou. Os jornais, com amadorismo, achavam que esse clima duraria até a queda do Lula. No dia seguinte às eleições, saem de cena Fernando Henrique, (Jorge) Bornhausen, (Tasso) Jereissati e os jornais e revistas que entraram nessa - eles só prosperam em tempos de guerra. As forças para pacificação são mais fortes do que as forças da guerra.

Fernando Henrique é outro que se queimou. Poderia ser um pacificador... Itamar e Sarney deram declarações, como ex-presidentes, com responsabilidade perante o país. E de repente vem o Fernando Henrique e solta a franga de uma maneira que deixa de ser referência.

Por que as irregularidades do governo Alckmin ficaram completamente fora da pauta da grande mídia, ao menos até as eleições?
A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada. Então você pega a Secretaria de Educação. Numa entrevista, perguntei para ele: ''Governador, qual a sua proposta para as universidades federais?''. Ele respondeu: ''Vamos criar indicadores de acompanhamento''. E por que não criou nas universidades estaduais? ''Ah, porque isso poderia conflitar com o conceito de autonomia universitária''.

Olha o Rodoanel: quatro anos para resolver uma questão ambiental. Isso não existe. Mas, como precisava criar um anti-Lula, jogam o Alckmin como bom gestor - coisa que ele não era. Tem outras virtudes, mas não essa. E aí precisa vir o Lembo e dizer que o estado está vendendo estatal para pagar contas. Imagina se isso fosse com o governo Lula? Aí começa a ficar explícita a perseguição da mídia.

Você acha que Alckmin não tem condições de governar o Brasil?
Não. O Alckmin não tem discernimento. O Serra e o Aécio pegam gente eficiente, se cercam de bons quadros. E o que o Alckmin faz aqui? Na esfera federal, essa falta de discernimento do Alckmin seria complicada - e estamos falando do que ele já fez no estado, não num país. Não tenho informações sobre desonestidade da parte dele. Agora, no que diz respeito à incompetência gerencial, sim.

Publicado em www.vermelho.org.br

2006-10-27 16:47:49 · 9 respostas · perguntado por virtuosojr 2 em Governo e Política Eleições

9 respostas

Acabei de assistir o debate. Durante todo o tempo, observei mais o modelo do programa do que o debate em si.
Tive receio, não nego, de outra tentativa de golpe.
Não digo que estou absolutamente tranqüila, pois ainda teremos o Jornal Nacional de amanhã.
Já conheço Alkimin e Lula, e não tem força em todo este 'globo' que me faça votar no primeiro.
O que Nassif diz, é exatamente o que percebemos a cada debate. Quando digo percebemos incluo todo o povo brasileiro que na sua grande maioria é sim carente de educação formal.
Mas há neste nosso povo uma sabedoria invejável a qualquer outro povo do mundo.
Todos perceberam 'o golpe de estado' tentado pela Globo, mas a maioria só se deu conta disto na segunda-feira, após a eleição do primeiro turno.
Mas o tiro saiu pela culatra.
Começaram os debstes do segundo turno.
Percebemos a imbecilidade (não encontro outro termo) diplomada do Alkimin.
E todos tiveram tempo de digerir (não sem esgasgo), tudo o que aconteceu.
O fato de Lula estar à frente nas pesquisas é justamente o reflexo disto, e não o inverso como estão fazendo circular na internet, ou dão 'a entender' na chamada mídia marrom.
Nós, brasileiros - não de vários brasiis, como salientou o Alkimin em suas considerações finais , mas de um só Brasil, sem divisões - temos também uma qualidade que, realmente acredito nisto, não se iguala em nenhum outro país: somos extremamente solidários.
O Bolsa Família não ganha voto por ser moeda de troca.
O Bolsa Família permite que um brasileiro não mais faminto consiga ter um mínimo de saúde para poder raciocinar.
Ninguém é capaz de pensar direito com a barriga vazia.
Desculpe por escrever demais, acho que me empolguei muito.
De qualquer forma, que bom que a Globo 'quebrou a cara. Realmente, há males que vêm para bem e, como disse o Lula no debate, Deus escreve certo por linhas tortas.

2006-10-27 17:25:27 · answer #1 · answered by Flavia P 5 · 0 1

Ah! ah! ah! ah! Não tente agredir a inteligência de quem se dispõe a teclar neste site. Parece-me quem não tem discernimento é quem afirma que a mídia adotou um pensamento único, elitista e anti-lulla. Não foi isso que toda a população brasileira viu durante o último debate, encerrado agora há pouco. Os eleitores indecisos catalogados pelo IBOPE sorteados para dirigir perguntas aos candidatos eram todos do POVÃO (micro empresário, recepcionista, funcionária de creche, trabalhador sem CTPS, ou seja, sub-empregado, um cabeleireiro que quase não consegue ler o seu "script"...). Não consigo imaginar situação melhor para o Lulla, respondendo somente a pessoas do POVÃO. E ainda assim seu desempenho foi PÉSSIMO!

2006-10-27 17:16:35 · answer #2 · answered by ktraf45 1 · 0 0

Boa pergunta !!!

2006-10-27 17:15:48 · answer #3 · answered by Mario Cesar 3 · 0 0

PARABÉNS!!!!!!!! concordo em gênero grau e número.........a muito tempo já estava absurdamente indignada com a posição anti-ética da imprensa.....especialmente Veja e Globo.........chega a ser hilário a parcialidade dele quanto ao PSDB........isso é um crime.....pq a população pobre só assiti a Globo e então a Globo acaba tendo a oportunidade de fazer uma lavagem cerebral nesse povo que não tem acesso à internet e não pode se informar.........um exemplo desse triste posicionamento da impresa foi hoje no debate.......ao meu ver..........esse debate foi calculadamente criado para favorecer o Alckmin....todas as perguntas estavam relacionada as críticas que ele vinha fazendo ao Governo Lula nos debates anteiores..........e a questão da Amazônia........foi jogada de mestre deles.......minunciosamente tudo planejado..........é uma pena a imprensa estar se submentendo a isso..........como brasileira eu, sinceramente, sinto uma profunda decepção e deseperança com relação aos meios de comunicação..............É Lula de novo com a força do povo!!!!!!!!

2006-10-27 17:06:54 · answer #4 · answered by rfg 2 · 0 0

''Lula não é Lula; é uma parte do povo deste País, que adquiriu consciência política. É por isso que eu não caio. Porque eu não sou sozinho. Na hora em que tirarem as minhas pernas, eu vou andar pelas pernas de vocês; na hora em que tirarem os meus braços, eu vou gesticular pelos braços de vocês; na hora em que tirarem meu coração, eu vou amar pelo coração de vocês. E na hora em que tirarem a minha cabeça, eu vou pensar pela cabeça de vocês. Eles deveriam ter aprendido com Tiradentes. Não basta matar; não basta esquartejar, não basta salgar a carne e pendurar no poste. Porque a carne você mata e ela apodrece, mas as idéias estão perambulando pelas brisas deste País, querendo liberdade, querendo direito, e isso nós temos de sobra para dar''

2006-10-27 16:51:44 · answer #5 · answered by Anonymous · 0 0

Parabéns por nos trazer essa excelente matéria.

Foi mesmo o Suicídio da Mídia !

2006-10-27 16:49:14 · answer #6 · answered by Justiceiro 1 · 1 1

Eu estava preocupado e votei no Geraldo no primeiro turno... Não aguento mais tanta corrupção... Mas, agora tudo mudou! Fui chamado para mudar para New York em 17 de dezembro!!! Já consegui vender meu apartamento e meu carro!!!

Então, mudou tudo!!! Té mais putada!!! AGORA VOU VOTAR NO LULLA!!! Quero mais que esse paisinho de "m e r d a" se f o d a!!! Por isso vou votar no MULLA do apocalipse...

Volto em 4 anos para arrematar o que sobrar dessa m e r d a e desse povinho!!! HUAHUAHUAHUA

Bem feito Brazil!!!!

2006-10-27 16:55:06 · answer #7 · answered by Gustavo 1 · 0 1

Discordo completamente. Isto é pensamento tendencioso.

2006-10-27 16:50:33 · answer #8 · answered by Aprendiz 4 · 0 1

CAI FORA LOGO MULLÃO LADRÃO DO POVÃO!!!!!!!!!

45 NELLE!!!!!!!!!

2006-10-27 16:49:49 · answer #9 · answered by basta de mentiras 6 · 0 1

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