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O currículo escolar
O currículo escolar representa a caminhada que a aluna ou o aluno fazem ao longo de seus estudos, implicando tanto conteúdos estudados quanto atividades realizadas sob a tutela escolar.
A origem da palavra currículo – currere (do latim) – significa carreira. Neste sentido, conforme Gimeno Sacristán (1998): “A escolaridade é um percurso para os alunos/as, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade ” (p. 125).
Um currículo pode ser definido por uma Rede de Ensino (para todas as suas escolas), ou por uma escola em particular. Um currículo também pode ser definido a partir dos livros didáticos que são adotados para cada série escolar ou pode funcionar a partir de algumas diretrizes nacionais.
Em nosso país não existe um currículo único nacional, conhecemos os Parâmetros Curriculares Nacionais que trazem, como sugestão, uma forma de definição das disciplinas e distribuição dos conteúdos entre os componentes curriculares propostos. Devido à dimensão territorial e à diversidade cultural, política e social do país, nem sempre os Parâmetros Curriculares chegam às salas de aula.
O que nos interessa neste momento é discutir o currículo frente ao desafio de ensinar a todos e, portanto, como trabalhar a partir de um currículo com as diferenças nas formas de aprender e na cultura.
Com este objetivo, várias escolas brasileiras têm elaborado formas de organização do ensino que privilegiam conhecimentos da pedagogia contemporânea para oportunizar a todos o acesso ao conhecimento.
Entre estas contribuições encontramos: a importância de trazer para a sala de aula a cultura local, o estudo de problemas cotidianos, a aplicação do conhecimento aos problemas que a aluna ou o aluno precisam enfrentar em seu dia-a-dia.
Junto a esta perspectiva, encontramos também a possibilidade de libertar a escola do cumprimento de uma lista de conteúdos previamente estipulados e, propondo aprendizados fundamentais em um determinado número de anos (além do ano letivo), ir desenvolvendo métodos de acompanhamento das aprendizagens que atendam ao contexto de desenvolvimento que cada aluno apresenta.
Neste sentido: “O currículo surge, então, em uma dimensão ampla que o entende em sua função socializadora e cultural, bem como forma de apropriação da experiência social acumulada e trabalhada a partir do conhecimento formal que a escola escolhe, organiza e propõe como centro as atividades escolares ” (Krug, 2001, p. 56).
Esta compreensão implica, ao abordar o currículo escolar, entender que este apresenta aspectos inter-relacionados de diferentes áreas humanas: sócio-antropológica, psicopedagógica, epistemológica e filosófica.
A contribuição sócio-antropológica ao currículo se dá na medida em que a escola reconhece as relações sociais e os instrumentos culturais aos quais os alunos e alunas têm acesso, buscando, como propõe Freire (1972), na prática social, a fonte e o fim dos conhecimentos que serão trabalhados.
A psicopedagogia nos faz perceber que a aprendizagem escolar precisa ser compreendida na relação dialética entre biológico e cultura, relação esta que se dá progressivamente, semelhante à figura de uma espiral e não de uma linha reta. No processo de conhecer não existe retorno, mas avanços progressivos. A convivência com diferentes saberes, nesta perspectiva, é um impulso para a aprendizagem.
A epistemologia nos desafia a questionar constantemente qual é o conhecimento que vale para o mundo hoje. Todo conhecimento é considerado político, pois pode servir à promoção da justiça, da liberdade, da melhoria de vida dos empobrecidos, por exemplo, ou pode servir à submissão, à dependência, ao empobrecimento ambiental e cultural.
Filosoficamente, o currículo escolar responde se todos serão percebidos como alunos que aprendem, e promovidos na sua aprendizagem, ou se a escola utilizará seu currículo em uma perspectiva meritocrática, ou seja, na sua organização escolar, apenas serão promovidos aqueles que merecerem.
Diante destas contribuições, cabe sintetizar a noção de currículo com a qual trabalhamos associada à concepção de aprendizagem que compartilhamos: em sua natureza, o currículo necessariamente implica diferentes formas de apropriação que o sujeito faz de um conjunto de vivências e conhecimentos oportunizados pela escola. Trata-se sempre de uma reconstrução individual, portanto, diferenciada a cada aluna/aluno.
Currículo escolar e formas de organização do ensino
Ao pensarmos o currículo escolar, devemos atentar que nem tudo o que a escola diz ensinar, a aluna ou o aluno assumem como aprendidos e, ainda, que nem tudo o que alunas e alunos dizem ter aprendido na escola, a escola assume como resultado de seu ensino.
De fato, nas escolas, muitas coisas são ensinadas sem necessariamente serem anunciadas e muitas coisas são aprendidas sem que constem dos currículos escolares.
O método que a escola usa para a definição do conhecimento que vai trabalhar diz muito sobre como ela encara o desafio de ensinar a todos.
Mais que respostas, algumas perguntas podemos fazer a nós mesmos sobre o ensino na sala de aula:
Quem define o conteúdo que será trabalhado em sala de aula? Com quem e a partir de que este conteúdo é definido?
Como se distribui o trabalho com o conhecimento entre as séries ou ciclos?
Como as professoras e professores interpretam a ciência? Ela se fundamenta de verdades ou incertezas?
Quando e como o trabalho em sala de aula é planejado? O planejamento é coletivo? Acontece com os alunos e alunas junto aos professores e professoras? Acontece diariamente, semanalmente, mensalmente, semestralmente ou anualmente? As séries planejam vertical e horizontalmente? E os ciclos?
De que maneira são acompanhadas as construções dos alunos e alunas? Em que medida o currículo é diferenciado para atender às diferentes formas de aprender e às diferentes sínteses que o sujeito constrói ao longo de sua vida?
Algumas propostas de trabalho curricular são desenvolvidas no Brasil e podem colaborar com a escola na atividade de ensinar de forma participativa e crítica a todos. Entre estas propostas podemos citar o tema gerador, o complexo temático e também a rede temática.
Estas propostas têm em comum a organização do ensino a partir de uma leitura da realidade vivida pelos alunos e alunas, com o objetivo de elencar conceitos, formas de linguagem e relações políticas, econômicas e sociais presentes no cotidiano destes estudantes.
A partir desta leitura, alguns conhecimentos são elencados para o trabalho através das diferentes disciplinas ou do conjunto de professores que trabalha com a turma. Definidos estes conceitos, a serem decodificados, o que se pretende é que o aluno ou aluna consiga avançar de uma determinada forma de ver a sua realidade (chamada realidade percebida) para uma outra forma (chamada concebida), mais elaborada e crítica.
Nesta transformação da forma como o sujeito vê o real é que diversos conteúdos vão sendo trabalhados, buscando instrumentalizar o estudante para a transformação social.
Um abraço
2006-10-25 07:37:04
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answer #2
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answered by Tin 7
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