Emos – o Resgate da Moda Romântica através dos Blogs
Resumo
O presente artigo tem como objeto de estudo o fenômeno da moda EMO nos blogs da rede mundial de computadores. Fenômeno que nasceu na década de 80 e está presente no universo dos adolescentes brasileiros que apóiam, criticam e que tem coragem de assumir na rede mundial de computadores a não violência e o amor acima de tudo. A moda EMO tornou-se um estilo de vida e possui muitas comunidades no orkut e blogs que tratam do tema. Como a influência do estilo EMO se reflete na comunicação visual de blogs e sites; ícones, tendências e linguagem visual utilizada. Esses elementos visuais contribuem para uma caracterização do estilo do ponto de vista estético.
Introdução
A moda é cercada de ambigüidades a começar pela etimologia da palavra. A palavra moda é originária do Francês mode e é o uso, hábito ou estilo geralmente aceito, variável no tempo e resultante de determinado gosto, idéia, capricho e das interinfluências do meio em que o indivíduo está associado (Amaral, et al., 2006). Com o desenvolvimento urbano, a busca pelo status na estrutura social foi um dos fatores que fizeram da moda algo essencial para as sociedades, principalmente em relação à distinção social.
A partir dos anos 60 e 70 várias subculturas1 como os hippies e os punks começaram a contestar essa distinção social e a política da época. Esses dois estilos antimodas tornaram-se alvos da indústria cultural.
Verificou-se que os estilos de vestimentas antimodas (como os hippies e punks) nascidos respectivamente nos anos 60 e 70, tornaram-se alvo da indústria cultural, que os reproduziram como novos e simples “produtos culturais”, processo sintomático dos procedimentos do mercado da moda que, através de vitrines, publicidade etc., parecem oferecer uma gama de mercadorias correspondentes aos estilos e gostos de indivíduos singulares e particulares. Diante disso, todos os movimentos de caráter subversivo que emergiram em meados dos anos 60 –em particular o movimento
hippie-, foram apropriados pelos meios de produção, de comunicação e por seus agentes, e transformados em simples objetos de consumo (Trinca, 2005).
O movimento punk, se ainda estivesse vivo, estaria completando 30 anos de vida. Constituído em Londres por uma meia dúzia de pessoas undergrouds (que eram na época estudantes, desempregados, prostitutas, etc) o movimento ganhou destaque com a banda Sex Pistols – quarteto musical formado pelos desempregados Johnny Rotten (vocalista), Steve Jones (guitarrista), Paul Cook (guitarrista) e Glen Matlock (baixista) que posteriormente foi substituído por Sid Vinicius – que se tornou o maior ícone do movimento punk. Por meio dessa banda criada em uma Inglaterra em crise política e econômica a banda ganhou destaque na mídia e no mainstream (grande público), devido ao visual rebelde (eram vestidos pela estilista Vivienne Westwood) e rock distorcido e cru, indo totalmente ao contrário da música hippie da época.
A filosofia punk era a do “se você não gosta do que existe, faça você mesmo – ou, simplificando, o lema do it yourself” (Orozco, 2005). Baseados nessa filosofia os adeptos do movimento passaram a criar as próprias vestimentas, a moda e a própria música. O visual, como ainda é conhecido, são de cabelos coloridos e espetados, roupas rasgadas, jaquetas de couro, geralmente tacheadas, camisetas pretas, braceletes de aço ou core tacheados, alfinetes de segurança presos à roupa ou dependurados no nariz e nas orelhas. A filosofia punk atingiu todas as classes sociais “Jovens de diferentes grupos socioeconômicos, diferentes origens e diferentes países se identificaram imediatamente com o movimento, como forma de negação e de revolta” (Rocha, 2005).
Moutinho (2000) destaca que a estilista Vivienne Westwood2, nascida em 1941 é conhecida popularmente como a “estilista punk”, excêntrica, provocativa e irreverente. Ela levou das ruas de Londres para as butiques a estética do movimento, transformando o punk em moda. Com 34 anos de carreira, a estilista britânica foi homenageada com uma exposição apresentada pelo Victoria & Albert Museum (Londres). É a maior mostra dedicada a um designer de moda já realizada pelo centro.
Mas o movimento, apesar de não existir mais (pelo menos com a força que possuía) deixou resquícios em várias áreas, passando pela música, literatura, moda até atingir a cultura eletrônica.
Os novos punks “paz e amor”
No século XXI estilos de vida como patricinhas, mauricinhos, góticos, punks e neo-hippies convivem com uma nova tribo, os emos. O nome vem de emotional hardcore, vertente do punk que mescla som pesado com letras românticas. Esse gênero intitulado de emocore surgiu em Washington, nos Estados Unidos, na década de 80, para denominar bandas com batidas pesadas, mas com letras introspectivas que falavam de sentimentos.
A banda gaúcha Fresno, uma das prediletas dos emos, demonstra um pouco deste estilo nas letras das músicas. Uma delas, a música "Duas Lágrimas" possui trechos como “Uma lágrima rolou do meu olho ao perceber que era a única vez que eu ia ver você, outra lágrima rolou dentro do meu coração ao ver a velocidade com que as vidas vêm e vão”. Para Souza “uma música não pode ser emo se ela não conter sentimentos como o amor, a decepção e a dor” (Souza, 2005).
Esse estilo musical que fez sucesso nos Estados Unidos está sendo transformado em estilo de vida para adolescentes das grandes cidades do Brasil3, que adequam o seu comportamento e a sua atitude por causa dessa nova moda. O que está distinguindo os emos no Brasil não é somente a música, mas principalmente as vestimentas. “São capazes de misturar as botas do punk, o colar de Wilma, a mulher de Fred Flintstone, e uma camiseta com a gatinha Hello Kitty” (Antunes, 2006).
Os adolescentes emos tem entre 11 e 20 anos. Eles misturam roupas pretas com estampas de desenho animado, botas punk, tênis rosa, colar de bolas, camisas justas, possuem longas franjas e pintam os olhos. A linguagem é outro diferencial. Esses adolescentes falam sempre no diminutivo, trocam letras em conversas via Internet e chamam as amigas de “maridas”.
Palavras terminadas em “inho” como amorzinho, lindinho, fofinho são constantes nas conversas emos. Na Internet, maior veículo de disseminação desta cultura, frases como "Sabia que eu te amo?" se transformam em "Xabia q eu ti amu?".
Só no Brasil existem mais de mil comunidades no Orkut – site de relacionamento - que falam dos emos, a maioria é contrária a filosofia de vida destes adolescentes. Comunidades como “eu odeio emos” ou “morte aos emos” são as que mais existem no site de relacionamentos.
Para pertencer a “tribo” dos emos os adolescentes precisam gostar de música emocore. O estilo mescla a batida hardcore com letras românticas e poesias adolescentes; viver na internet e no Orkut. Todas as bandas emos brasileiras colocam suas composições em sites; ser emotivo. Os emos choram ouvindo músicas que falam de amores perdidos e rejeição dos pais; Dar demonstrações explícitas de carinho. Meninos e meninas se beijam, se abraçam em público, seja com pessoas do sexo oposto, seja com as do mesmo sexo; Aceitar a opção sexual do outro sem preconceitos; Criticar pessoas violentas. Bater é altamente reprovável entre os emos; Escrever diários, poesias e músicas. Isso vale para meninas e meninos; Usar roupas que mesclam a rebeldia punk com os ícones infantis. Meninas e meninos usam rosa; Usar cabelos lisos com enormes franjas no rosto. Usadas somente de um lado, denotam certa ambigüidade sexual; Não curtir drogas; Lutar por um mundo sem violência, em que um dia todos se abracem sem parar. (Cotes, 2006).
Apesar de terem se inspirado no punk por causa da música pesada e de não estarem contentes com a sociedade atual e criarem uma nova tribo, também baseados na filosofia punk do “se você não gosta do que existe, faça você mesmo”4 (Orozco, 2005) esses adolescentes também possuem as características dos hippies dos anos 60, que também praticavam a livre expressão dos sentimentos. Esses novos punks do “paz e amor” chegam a chorar de forma compulsiva nos shows e são contra a violência.
Mas o que são essas “tribos”? Segundo Lemos (2003), são formas socioculturais que emergem uma relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as tecnologias digitais voltados para a comunicação. Como podemos ver na pesquisa, as tribos são formadas dentro e fora da rede. Essas tribos se estruturam motivadas por sentimentos de afinidades e pelo prazer estético (Mafesoli, 2005).
A Internet é a principal ferramenta de disseminação desta “tribo”. As redes sociais, como o orkut, blogs e fotologs são muito utilizados por esses adolescentes. Mesmo assim, por causa do preconceito5, é difícil achar um blog de um adolescente assumindo que é um emo. A principal razão disso é a questão sexual, os emos aceitam qualquer opção sexual e beijam pessoas do mesmo ou do sexo oposto.
Blogs de Emos assumidos – a visualidade romântica
Pesquisamos na rede mais de 100 blogs de adolescentes que tinham como tema a palavra emo. Muitos tratam do tema (a favor ou contra), mas poucos adolescentes têm a coragem para assumir na rede mundial de computadores que são emos. Analisamos três blogs atualizados de adolescentes que assumiram. Uma do sexo feminino e dois do masculino.
O primerio blog pesquisado é de uma adolescente de 14 anos, chamada Thaís, que assumiu ser emo depois que leu uma reportagem publicada na rede sobre os emos. O blog “quando as estrelas caem”6 é caracterizado pela adolescente como a vida dela. “Esse não é mais um blog de poesias nem frases para se refletir... trata-se da minha vida (monótona ou não) cabe a vc escolher!!!!!”. No dia 01 de maio de 2006 ela assume ser emo em um post que não recebeu nenhum comentário.
Andei pensando. Eu seria mesmo emo? Andei lendo uns sites, fóruns sobre emos, o ódio que sentem por eles (ou por nós, não sei...). Bom , no post do dia 24 de abril eu me identifiquei como uma garota de 14 anos, que ama a vida e que está se sentindo EMO.
Bom, eu ainda me sinto emo. Ainda mais depois que li essa reportagem que retirei do site http://www.emo303.pop.com.br . ai sim eu achei que sou emo. AGORA É CERTEZA. (Quando as estrelas caem, 2006)
A definição de blog, de acordo com a Wikipédia: site usado como diário na web, para publicar informações pessoais ou pertinentes a um determinado assunto, atualizado diariamente. (Wikipédia, 2006)
O blog “quando as estrelas caem” se caracteriza visualmente por uma linguagem mais romântica. Mas o que seria esse romantismo? O romantismo foi, nos séculos XVII e XVIII, um movimento literário e filosófico, mas que até hoje deixou suas marcas e diseminou seus conceitos na cultura contemporânea.
A obra “Os sofrimentos do jovem Werther” de Goethe é considerado um marco dessa estética. Escrito em forma de diário, seu final é dramático, no qual Werther, o personagem principal, comete suicídio. Na época do lançamento do livro, que fez enorme sucesso entre os jovens europeus, houve inclusive uma onda de suicídios por causas amorosas (no livro, Werther se mata devido a um amor frustrado por Carlota).
O romantismo é um dos movimentos mais contraditórios da sociedade moderna, tendo características bastante opostas entre si, como o nacionalismo e o individualismo, por exemplo, em termos políticos. No entanto, em seu âmago encontramos alguns pontos que ainda parecem nortear os indivíduos na pós-modernidade como a subjetividade extrema. De acordo com os pesquisadores Löwy e Sayre:
Sua natureza de coincidentia oppositorum: simultânea (ou alternadamente) revolucionário e contra-revolucionário, individualista e comunitário, cosmopolita e nacionalista, realista e fantástico, retrógrado e utopista, revoltado e melancólico, democrático e aristocrático, ativista e comtemplativo, republicano e monarquista, vermelho e branco, místico e sensual. Tais contradições permeiam não só o fenômeno romântico no seu conjunto, mas a vida e obra de um único e mesmo autor, e por vezes um único e mesmo texto. (Löwy e Sayre, 1995).
Os elementos visuais que explicitam esse modo mais emocional de expressão visual podem ser observados na cor azul neutra aplicada ao fundo do blog, que remete à uma cor mais utilizada para ambientes onde o clima cromático estimula a calma e a tranqüilidade. A fonte utilizada para o título da página, a escrita feita à mão livre, tipo “escrita corrida”, que difere da letra de fôrma e é bem mais trabalhada, com mais detalhes e formas orgânicas, em contrapartida a fonte dos textos, que mantém o padrão utilizado na web – sem serifa7 como Arial e Verdana - o fato de não possuir serifa a faz mais legível, porque as letras precisam ajustar-se em pixels na tela, tornando mais limpas as formas das letras no monitor de um computador. Outro elemento utilizado é a transformação da seta que indica o funcionamento do mouse em forma de uma estrela que muda de cor, representando bem essa realidade infantilizada dessa tribo.
2006-10-25 05:42:36
·
answer #1
·
answered by -=|Å£ßÅ|=- 3
·
0⤊
0⤋