Manuel Bandeira
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
2006-10-25 01:11:32
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answer #1
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answered by Anonymous
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Saúde! É um pouco extenso, no entanto, você mesmo(a) poderá extrair dele o tamanho que quiser!. Um abraço virtual, Todavia...Sincero.
A JORNADA !
Perdido na noite impura
Sem itinerário definido,
Vagueia a rota criatura
Paria da vida... Desiludo!
Têm calçadas por passarela,
Latões de lixo como baliza.
Portais/camarotes, seqüela!
Pôr aplausos, apenas a brisa!
A cada esquina vencida
Arqueiam os seus ombros,
Os pés vacilam na subida
Ao fugir dos escombros.
Para ante o néon.... Absorto!
Igual uma mariposa vencida.
Nas casas, o máximo conforto,
Nele... Um arremedo de vida!
Encosta-se na parede quente,
Nádegas no piso úmido/gelado:
Sauna funesta e inclemente
A dizimar o âmago do coitado.
Somos de deus o retrato
Com reflexo... Positivo!
O homem, em voragem,
Faz do mísero... Negativo!
Sofre a carne do abandonado
Dilacerada na escada da vida,
Chegando ao patamar arrasado
Pêlos percalços da vã subida!
Porém, esgotada a natureza
Da vil matéria lhe doada,
O espírito reluz com realeza
Liberto da casca da jornada.
O afortunado da matéria
Terá dívida... Acumulada,
Por dizimar a miséria
Sobre irmão de jornada!
(S/A/BARACHO)
conanbaracho@uol.com.br
Fone: 0(xx)31 3846 6567
2006-10-25 02:49:40
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answer #2
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answered by conansoin 4
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Números da desigualdade e pobresa no Brasil
Há diferenças consideráveis nos padrões de bem-estar ao se levar em conta a quantidade de bens e serviços produzidos e a quantidade de bens e serviços consumidos. A acumulação de riqueza de um lado, contrasta com a inexistência de posses de outro. A conhecida história de muitos terem pouco e poucos terem muito retrata bem a distribuição dos benefícios propiciados pelo desenvolvimento científico e tecnológico na sociedade moderna. Daí serem ricos os que detém o poder de comandar e acumular bens e serviços e pobres os que não têm acesso a essa ordem e progresso estabelecidos.
Fonte: www.pt.org.br/assessor/pobres.htm
2006-10-25 01:15:20
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answer #3
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answered by Icom 2
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...
pois era aquele seu fado,
a pequena rosa do prado,
ela em defesa o feriu,
mas,de nada lhe valeu,
pois era aquele seu fado.
...
(goethe)
2006-10-25 02:10:27
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answer #4
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answered by ? 7
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Ganhei um livro de uma poeta bastante preocupada com o lado social. Envio este poema para você, do livro "MENINAS NA JANELA" -Editora Law Book, 2004
Curriculum Vitae
Menino de rua
Camiseta imensa,
Cabem dois ou três...
O tênis, observo,
É novo, de marca,
Parece francês!
Coisa mais estranha!
Menino de rua,
O que você fez?
Se volta pra casa,
O padrasto bate,
E a mãe nem sabe?
“ - Está sempre cansada,
Trabalha até tarde,
Sem tempo pra nada...”
Tão pequeno e magro,
Por que tenho medo?
Menino de rua,
Qual é teu segredo?
“ – Quero ser soldado,
ou advogado;
mas bombeiro serve...!”
E ele ainda encontra
Tempo pra sorrir:
“ – Moça, olhe aqui!
Me paga um big lanche?”
Me chamou de moça,
Menino danado,
Já conhece as manhas,
Sabe seduzir...
Rouba no metrô,
Dorme na calçada,
Vida abandonada,
Sem ter aonde ir.
Menino de rua,
Em todo esse mundo,
Ninguém quis gastar
Nem mesmo um segundo,
(Um breve momento),
Pra ouvir o lamento
Desse sofrimento,
Imenso e profundo...
Adulto mirim,
Te olhei e falei,
De mim para mim:
“Tão pesadas penas,
Penaste, eu sei;
E apenas te esperam,
As penas da lei!”
2006-10-25 01:58:37
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answer #5
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answered by cintura fina 2
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Aqui vai gatinha...
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
2006-10-25 01:14:02
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answer #6
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answered by Wil 3
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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Morte do Leiteiro
A Cyro Novaes
Há pouco leite no país
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas,
seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.
Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro.
morador na Rua Namur,
empregado no entreposto
Com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma pequena mercadoria.
E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.
Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.
Mas este entrou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.
Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.
Da garrafa estilhaçada.
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
2006-10-25 01:05:00
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answer #7
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answered by Sonhador 4
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