A Fenomenologia, nascida na segunda metade do século XX, a partir das análises de Franz Brentano sobre a intencionalidade da consciência humana, trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. Propõe a extinção da separação entre "sujeito" e "objeto", opondo-se ao pensamento positivista do século XIX.
O método fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional.
Seu objetivo é chegar à intuição das essências, isto é, ao conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos, captado de forma imediata.
Toda consciência é consciência de alguma coisa. Assim sendo, a consciência não é uma substância, mas uma atividade constituída por atos (percepção, imaginação, especulação, volição, paixão, etc), com os quais visa algo.
As essências ou significações (noema) são objetos visados de certa maneira pelos atos intencionais da consciência (noesis). Afim de que a investigação se ocupe apenas das operações realizadas pela consciência, é necessário que se faça uma redução fenomenológica ou Epoché, isto é, coloque-se entre parênteses toda a existência efetiva do mundo exterior.
Na prática da fenomenologia efetua-se o processo de redução fenomenológica o qual permite atingir a essência do fenômeno.
As coisas, segundo Husserl, caracterizam-se pelo seu inacabamento, pela possibilidade de sempre serem visadas por noesis novas que as enriquecem e as modificam.
Empirismo é a escola de Epistemologia (na filosofia ou psicologia) que avança que todo o conhecimento é o resultado das nossas experiências (ver teoria da "Tabula Rasa" de John Locke). O empirismo é um aliado próximo do materialismo (filosófico) e do positivismo, sendo oposto ao racionalismo europeu continental ou intuicionismo (intuitionism).
O empirismo é geralmente observado como sendo o fulcro do método científico moderno. Defende que as nossas teorias devem ser baseadas nas nossas observações do mundo, em vez da intuição ou fé. Defende a investigação empírica e o raciocínio dedutivo.
Immanuel Kant tentou obter um compromisso entre o empirismo e a corrente oposta, o racionalismo.
Nomes associados ao empirismo incluem Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume.
OBS: não tomar Aristóteles como um Empirista, mas podendo ser aceito como um "precedente" da idéia básica do empirismo, que é de observar o mundo e tirar conclusões (ou conhecimentos) acerca dessa observação.
Nesta mesma linha, mas mais recentemente, encontram-se filósofos como Karl Popper, Ernest Gellner, William James e John Dewey.
2006-10-24 17:10:23
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O empirismo
O empirismo, cujo início moderno podemos encontrar em Francis Bacon, desenvolve-se em sua argumentação de forma contrária ao racionalismo, contudo, persegue tacitamente o mesmo fim. Bacon, ao revoltar-se contra as "verdades impostas" de cima para baixo e ao sugerir o "método indutivo" como meio adequado de se livrar dos ídolos que ocupam a mente humana e impossibilitam o contato imparcial com a realidade, está em busca da mesma individuação que Descartes. Segundo Bacon, o ponto crucial do novo método do conhecimento consiste em chegar à mera experientia a partir da qual se construiria a nova compreensão da natureza.23 A experiência, porém, não é um dado imediato. O homem, ao contrário, deixou-se determinar ao longo da história por preconceitos que podem ser superados apenas por uma análise criteriosa. Os fatores que ofuscam a mente humana e impossibilitam o seu acesso à realidade Bacon chama de "ídolos". Em primeiro lugar existem os idola tribus. Estes ídolos estão relacionados à espécie humana de forma geral. Eles fazem com que conjecturemos de antemão ordem e finalidade nas coisas e que favoreçamos concepções que são afins à nossa constituição humana geral (tribus). O segundo tipo de ídolos são os idola specus. Este resume todas as tendências em ver as coisas conforme as nossas disposições individuais, seguindo as nossas características particulares. Em terceiro lugar, existem os idola fiori, que resultam do contato social dos homens e sobretudo do uso incorreto e superficial da língua, que prende conceitos às palavras. Uma quarta categoria encontra-se nos idola theatri, que são todas as opiniões tradicionais adotadas sem crítica da tradição e da história. Neste contexto, Bacon não poupa ataques e cáusticas críticas contra uma filosofia de meras palavras sem sentido, representada, para ele, pela escolástica e seu predomínio da autoridade e do dogma. Cabe ressaltar que o pensamento medieval não levava em consideração a "natureza" porque estava totalmente voltado às questões de ordem religiosa. A referência à natureza era apenas a citação das posições de Aristóteles, que eram comentadas e raras vezes criticadas. O apelo maciço de Bacon à experiência somente faz sentido tendo em vista esta peculiaridade do pensamento medieval como pano de fundo. Aliás, este movimento verifica-se também nas artes plásticas, que no Renascimento redescobrem a natureza, perdida na idade das trevas, através dos gregos e romanos. Bacon defende, em conseqüência dos argumentos assinalados, que a cognição tem que voltar, portanto, à sua fonte original: a experiência, se bem que está precise ser efetuada de forma sistemática, ou seja, através de experimentos que possam resgatar a realidade perdida em sofisticadas especulações. Neste sentido, o fato de Bacon ter morrido em decorrência de um resfriado que ele contraiu ao fazer experimentos com o congelamento de alimentos é mais que um fato curioso. Porém, o passo para o experimento no sentido moderno das ciências naturais só foi dado por Galileu. Bacon, em função de seu menosprezo pela matemática, não chegou a conceber o experimento como forma de medir processos isolados. Sua idéia de experimento ainda era muito genérica e visava desvendar as »formas« intrínsecas das coisas. Galileu24 , ao aplicar o método resolutivo e a matemática à investigação de movimentos, preparou o caminho que, em seguida, foi adotado por Newton. Assim desenvolveu-se finalmente a idéia que o objeto da cognição da natureza são os fenômenos passíveis de uma interpretação matemática e quantificadora. Em suma, a filosofia é agora o conhecimento do movimento dos corpos. O empirismo de Bacon sofreu, desta forma, uma correção matemática e o entusiasmo neo-pitagórico global dos humanistas renascentistas concretizara-se pela inclusão do empirismo. Para Bacon, é a indução que deve, passo por passo, chegar às leis universais ao invés de pressupô-los dogmaticamente. Para isto, ela tem que vencer sobretudo a tendência constitucional do homem de se precipitar em suas generalizações. A indução seria, segundo Bacon, o meio de se livrar das antecipações autoritárias e de se construir o conhecimento de forma genética a partir da experiência. A meta do conhecimento é chegar à »forma« ou à »natureza« intrínseca da coisa investigada. Esta se apresenta quando se reúne na pesquisa de, por exemplo o calor, numa tabula presentiae, o maior número possível de fenômenos em que este está presente. Em seguida focaliza-se numa tabula absentiae os fenômenos em que falta a propriedade investigada. A tabula graduum reúne os fatos onde a forma em questão se apresenta em gradações diferentes, e assim, por meio de um processo de exclusão (exclusio) chegar-se-ia ao resultado final: a forma universal como resultado e não como ponto de partida. Independentemente da validade dos argumentos aduzidos por Bacon percebe-se a tendência nítida de fundamentar o conhecimento em algo acessível ao indivíduo cognoscente e que, portanto, não se subtrai ao seu controle. Tal ciência, que abandona a mera retórica para apreender de fato a natureza, a partir da própria natureza (natura non nisi parendo vincitur), levaria a um novo tipo de conhecimento útil, que garante ao homem o domínio sobre a natureza25 e o avanço na manutenção de sua vida por meio de tecnologia decorrente deste conhecimento. Bacon ressalta neste contexto que "knowledge is power" ("saber é poder") o conhecimento é o meio para dominar a natureza.26 Tanto o empirismo quanto o racionalismo negam a validade da sustentação autoritária do conhecimento, praticada pela escolástica medieval. O ponto de partida deve ser encontrado em algo que se justifica de maneira livre de pressupostos. A experiência é o novo ponto de referência a partir do qual o conhecimento poderia ser construído no sentido de uma ars inveniendi ou seja como genuína produção de saber, que fugisse, assim, da monótona prática da mera interpretação das posições aristotélicas e das revelações bíblicas. Bacon não destrói o acesso ao mundo, como Descartes: porém, ele também não chega à intensificação da atenção em cima do sujeito pensante conseguida por Descartes. A filosofia de Bacon é um programa que torna o sujeito congnoscente independente de instâncias alheias mas não focaliza de maneira inovadora a autoconsciência
Fragmentos fenomenológicos
A fenomenologia é a tentativa de resgate do contato original com o objeto perdido em sofisticadas especulações abstratas ou em reduções matemáticas e quantificadoras do campo de vivência do ser humano, enquanto ser cognoscente. Ela tem uma história, porém, ela sempre tem que começar de novo porque não se contenta com os conhecimentos descobertos e guardados no passado visando em primeiro lugar à compreensão nova e atual. Brentano e Husserl podem ser identificados como precursores e fundadores da Fenomenologia e Heidegger e Merleau -Ponty, por exemplo, como continuadores. Seria, no entanto, um engano querer sugerir um seqüência contínua de crescimento do conhecimento e também achar que a fenomenologia seria um comentário dos escritos dos filósofos tidos como fenomenólogos. A fenomenologia perde o seu sentido quando reduzida à filodoxia, quando lida com Husserl assim como os pensadores da Idade Média lidavam inicialmente com Platão e depois com Aristóteles. Neste sentido ela não pode ter seguidores porque é preciso sempre de novo chegar à visualização e à análise do fenômeno. O fenômeno não pode ser conservado, ele tem que ser visto sempre de novo. Por isto a literatura fenomenológica somente pode ter um caráter de exemplificação e de ilustração do método fenomenológico. Falar de um acervo de conhecimento fenomenológicos é tão absurdo como dizer que o conhecimento das letras do alfabeto significa saber ler. A fenomenologia como procura pela autenticidade não pode ser adotada nem herdada. Historicamente ela foi e é o impulso de voltar ao genuíno processo filosofante ao invés da mera análise comparativa que confunde a filosofia com a interpretação de textos. Não obstante, para contextualizar melhor as reflexões que seguirão acerca da fundamentação do conhecimento, apresentaremos algumas noções básicas da fenomenologia tal qual se desenvolveu a partir de Franz Brentano e Edmund Husserl.
Filosofia como fenomenologia
A palavra »fenomenologia» (Phänomenologie) tornou-se conhecida como termo que assinala um postura filosófica específica preconizada por Edmund Husserl (1859-1938). O fato de Husserl ter apresentado a concepção fenomenológica em três versões (a primeira está na Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie (1913) [Idéias para uma fenomenologia pura e filosofia fenomenológica] a segunda na obra Cartesianische Meditationen (1931) [Meditações cartesianas] e a terçeira Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transcendentale Phänomenologie (1936) [A crise das ciência na Europa e a fenomenologia transcendental]) realça o traço característico, já acima descrito, da fenomenologia como uma concepção aberta e em evolução. Husserl mostrou-se incansável em suas análises, de modo que deixou mais de 45.000 páginas de manuscritos e anotações para o acervo salvo pelo padre belga Van Breda e levados para Loviana (Leuven)51 , visto que Husserl, como judeu, fora perseguido e sua obra tida como suspeita. Até o seu famoso aluno Martin Heidegger, simpatizante do regime fascista, chegou a recusar Husserl em determinado momento. A concepção fenomenológica de Husserl compreende-se como tentativa de resgatar o significado original da filosofia que na Grécia determinou a sua tarefa dentro da dicotomia opinião (doxa) e verdade (episteme). O ser humano, em sua vida pré-filosófica, possui conhecimentos. Ele sabe de uma ou outra forma das coisas, porém, determinado por uma perspectiva específica do contexto em que vive e guiado pelos fins úteis que persegue. Este conhecimento limitado pelas circunstâncias e pelos interesses momentâneos é »opinião (doxa)«. A filosofia, não como uma teoria mas como uma forma de vida, começa quando o pensamento atenta para as suas limitações pelas circunstâncias e se abre para uma investigação imparcial daquilo que aparece (fenômeno). O que interessa agora não é mais o objeto em relação a esta ou aquela circunstância e tampouco em relação a este ou aquele interesse particular, mas sim o fenômeno (das Erscheinende) enquanto fenômeno (als Erscheinendes). Portanto, trata-se de uma contemplação desinteressada- no sentido de não se deixar absorver por uma perspectiva particular e momentânea- cuja meta é a própria evidência do fenômeno, ou seja, o que segundo Platão é verdadeiro saber (episteme): a visão das coisas que não é limitada pelos parâmetros da subjetividade. A razão para transgredir a esfera da limitação dos interesses limitados para elevar-se a uma forma abrangente de ver as coisas é a decisão de assumir responsabilidade para a vida como um todo e não apenas para os interesses da vida ou da ciência em dado momento concreto, ou seja, o »logon didonai«. Assim o homem se põe a procurar as verdadeiras causas daquilo que é, assumindo definitivamente a responsabilidade (Letztverantwortung) para com a sua existência, como diz Husserl. Fenomenologia é, portanto, a intenção de transgredir constantemente a doxa para chegar a episteme. Na perspectiva da opinião, a manifestação do fenômeno aparece de forma tal que ele aponta para fora de si mesmo para algo que aparece como fenômeno efetivo. Posso ter a opinião de que a temperatura no Amazonas é muito alta. Somente ao me expor a esta vivência de temperatura o fenômeno, sobre o qual tinha antes uma determinada opinião, mostra-se de forma originária (originär). O fenômeno se concretiza, assim, de uma forma evidente e não exige algo mais além de si mesmo: Ele se mostra em sua concretude (Bestimmtheit), o que me leva a uma evidência que permanece como referência intencional para as minhas ações futuras. Neste sentido, a vida inteira repousa em tais evidências- e elas constituem o teor do conhecimento pré-filosófico, ou seja, o conhecimento obtido sem reflexão crítica e específica que carateriza a postura da consciência natural- e sem estas não teríamos refêrencias algumas.52 No entanto, operamos constantemente também com opiniões que são relativamente vazias por não terem lastro em fenômenos originários, ou seja, por serem meras opiniões. O método fenomenológico procura, num primeiro momento, reportar-se às vivências originárias pré-filosóficas e fundamentar-se em algo realmente vivenciado para, num segundo momento, transcendê-las rumo a uma visão abrangente. Assim, as evidências (vivências originárias do fenômeno) tornam-se as ocasiões para uma análise posterior que visa a transcender a mera existência relativa ao sujeito (subjekt-relatives Sein), como diz Husserl. A fenomenologia não se contenta, portanto, com a descrição das vivências originárias, ela se fundamenta nela, mas prossegue em direção à intelecção do que, na multiplicidade dos fenômenos manifestos, se mostra como a essência do fenômeno (redução eidética)53 . Ela procura a evidência do fenômeno "constante" dentro da diversidade dos fenômenos imediatos, e, neste sentido, não considera fenômeno apenas o que aparece no campo sensorial. Assim ela se torna análise da constituição do objeto, que, a partir da evidência ocasional da manifestação relativa ao sujeito, desvenda a essência eidética do mesmo.A análise da constituição do objeto como manifestação para a intencionalidade da consciência é reflexão. A reflexão volta a atenção para a consciência como palco onde o objeto se manifesta. Percebe-se aqui a inserção do enfoque transcendental na postura fenomenlógica, visto que este, como já foi explicitado, se ocupa, em primeiro lugar do nosso modo de conhecer as coisas e não das próprias coisas. A fenomenologia, como foi sugerida por Husserl, apesar de favorecer uma meta explicitamente teórica -visto que suspende a validade de todos os interesses particularizantes (epoché) para chegar à episteme numa postura de contemplação "desinteressada", a saber, serena e abrangente- persegue uma finalidade muito concreta: ela tenta superar a perda da referencialidade intencional (Verweisungszusammenhang) no âmbito das ciências objetivantes que, por serem ciências que favorecem fins utilitários no sentido da antiga techné, perdem o senso para o todo e, assim, fatalmente também a responsabilidade para com o todo.54 VI. Discussão do princípio metodológico de Franz Brentano e a tarefa da Fenomenologia55 Brentano foi um daqueles filósofos que, no final do século passado, sentiu intensamente a crise na qual a filosofia pós-hegeliana mergulhara com a morte dos mestres do idealismo de um lado e com a ascensão do materialismo positivista, por outro lado. O clima anti-metafísico que tratara com desdém os pensamentos da tradição metafísica do passado parecia querer acabar de uma vez por todas com as aspirações filosóficas. Nessa situação, Brentano -com uma força de pensar afiada na elaboração de Aristóteles e dos filósofos escolástico O PROBLEMA DA FUNDAMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO. UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA Marcelo da Veiga Greuel Prefácio A Filosofia Supérflua A dúvida sobre o valor da filosofia é hoje generalizada. É verdade que ainda existe um certo pudor em negar-lhe o direito de existência porque se trata de algo "antigo e respeitável". Mas sempre sobrevém um sentimento de estranheza ou surpresa quando se ouve que alguém é filósofo ou se ocupa de filosofia. A simples tentativa de se imaginar o que os chamados filósofos, ou melhor dizendo, os eruditos filosóficos fazem em seus gabinetes suscita, até no homem relativamente culto, a dúvida se é que estão realmente fazendo alguma coisa útil, algo que tenha algum significado para a vida individual e para a sociedade. Nas universidades estacionam na filosofia, muitas vezes, os alunos, salvo algumas poucas exceções, que não conseguiram entrar em outra disciplina aguardando um ensejo melhor para ingressar num curso mais "razoável". Por detrás de tais sentimentos e preconceitos encontram-se, via de regra, opiniões como a seguinte: A Ciência é a investigação de determinados aspectos do mundo natural. Ela é útil porque nos fornece conhecimentos para manipularmos e do A procura por uma base fenomênica na investigação filosófica e o intuito de resgatar a filosofia como ciência resultou nas diferentes correntes fenomenológicas do século XX. A fórmula criada mais tarde por Husserl: "Retorno às próprias coisas", (Zu den Sachen selbst) assinala o sentimento diante da filosofia precedente, que de uma ou outra forma se distanciou das coisas. Brentano, sentindo o esgotamento da filosofia idealista em sua época, se pôs a encetar o novo caminho, que prometia chegar ao dado originário como meio de resgatar as coisas. Quais são, no entanto, essas "coisas" às quais a fenomenologia se propõe voltar? Brentano referiu-se às percepções imediatas que, conforme sua interpretação, pertencem ao sentido interno. Queria evitar, assim, que permanecesse algo entre observador e objeto observado, e escolheu, portanto, um objeto que é idêntico ao observador. Em conseqüência deste enfoque, passou, porém, a desacreditar do mundo das percepções externas como campo original de dados, sendo este, nesta visão, apenas uma modificação do sujeito. Percebe-se aqui a procura de Brentano pela referência empírica original, pelo ver original, que mais tarde tornou-se um dos temas dominantes na fenomenologia. Porém, por mais que rejeitasse verbalmente Kant e o dualismo entre fenômeno e noumenon, não conseguiu livrar-se, todavia, da dicotomia fatal que dissolve o acesso as próprias coisas ou o restringe ao âmbito psíquico. A separação do fenômeno imediato da percepção interna e do dado mediato da percepção externa simplesmente renova com outras palavras o abismo criado por Kant. Husserl, dando continuidade ao caminho encetado por seu mestre, sistematizou e elaborou o que, em Brantano, era apenas gérmen. Reconheceu a redução resultante da visão de Brentano. Tentou superar, impulsionado pelas críticas levantadas por Frege, tal restrição, sugerindo um método capaz de se livrar de todas as contingências subjetivas para, enfim, se defrontar com o fenômeno ideal-objetivo puro. Essa objetalidade dada apenas por »abstração ideante« figura, então, como idéia essencial (eidos). Pergunta-se, porém, se o próprio Husserl não se afastou de novo das coisas ao assinalar a contemplação do eidos como o objetivo final da fenomenologia. O eidos que deve ser visualizado após a abstração de todas as contingências é, ainda que válido objetivamente, uma construção puramente ideal. O conceito de realidade que assim se insinua é, em princípio, platônico, por não dar valor ao lado sensorial das coisas. A Fenomenologia só pode evitar esse retrocesso a um platonismo extemporâneo se de fato conseguir resgatar a objetividade sem rejeitar a percepção como elemento constitutivo da realidade. Husserl apontou, no entanto, para um caminho promissor voltando a atenção aos atos intencionais da consciência que constróem os objetos. Abriu, assim, o caminho para uma investigação que proporciona à filosofia um campo próprio de pesquisa, e é capaz de, em princípio, evitar a dicotomia kantiana e o retrocesso a uma visão puramente platônica.
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