Talvez a maior causa de desarmonia conjugal seja a desinformação sobre as desigualdades masculino-feminina em relação à maneira de vivenciar a realidade e, inclusive, em relação à sexualidade.
A crescente participação da mulher no mercado de trabalho e seu maior distanciamento daquilo que representava a mulher voltada à vida doméstica e à educação da prole, resultou em nova postura de desenvolvimento afetivo, social e educacional das novas gerações. Com isso a disponibilidade de tempo para que as pessoas se dedicassem a si mesmas e aos relacionamentos afetivos com os outros foi severamente prejudicado. O trabalho e a velocidade cotidiana afastaram as pessoas do convívio comum, isolando-as, cada vez mais a si mesmas.
A família, como instituição social, sempre esteve sujeita às influências da cultura e da história e a idéia da família como um grupo relativamente bem estruturado envolvendo o pai, a mãe e os filhos, em um grande número de vezes não corresponde mais à diversidade dos modelos de família atuais e da realidade que muitas famílias vivem. Tem sido cada vez mais comum encontrarmos famílias compostas apenas de um adulto e as crianças, tendo em vista o divórcio, a viuvez ou adoções de crianças por pessoas solteiras.
Conforme cita Almir Linhares de Faria, a família também parece ser uma instituição que freqüentemente atravessa crises. "Quando Adão, segundo a narrativa do Gênesis, diz ao Senhor: "Foi a mulher que tu me destes", eclode a primeira crise familiar. Aliás, a primeira família foi marcada por fortes crises, incluindo um fratricídio".
Hoje, talvez como sinal dos tempos, a pessoa está vulnerável à todo tipo de crises e, inegavelmente, existem estreitas relações entre as crises individuais e as crises familiares e a crise individual acaba por repercutir no conjunto familiar. De modo geral, quem está bem consigo mesmo não incomoda aos demais, e a recíproca é verdadeira. Tenho visto casamentos fugazes devido ao desemprego, às dificuldades econômicas do casal, às dificuldades econômicas dos parentes próximos (a sogra teve que morar com o casal), aos transtornos de comportamento dos filhos (conduta, hiperatividade, etc) e outras circunstâncias adversas. Da mesma forma que existem alguns rompimentos conjugais devido à dificuldades existenciais de um dos membros do casal, tais como depressão, drogadicção, jogo patológico, alcoolismo, cleptomania, exibicionismo e mais um sem número de alterações.
A sexualidade é também um dos fortes motivos para separação conjugal. O impulso sexual, tanto feminino quanto masculino, pode se manifestar através da sexualidade erótica ou da sensualidade sublime, embora hajam predominâncias. De modo geral, a mulher se satisfaz mais com a sensualidade sublime. O impulso sexual que atende à sensualidade sublime na mulher pode ter início no café da manhã, através de alguma demonstração de carinho por parte do parceiro, pode exacerbar-se se o parceiro abre a porta do carro, se demonstra qualidades desejáveis para um bom companheiro, como compreensão, participação, cumplicidade, etc. Finalmente, o impulso sexual feminino se completa com a intimidade na cama, considerando a penetração uma parte (nem sempre a mais importante) da importância sexual global do parceiro.
Para a sensualidade, notadamente a sensualidade sublime, é ativada uma parte do Sistema Nervoso Central chamada de Sistema Límbico. Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza são originadas no Sistema Límbico. A parte do Sistema Límbico relacionada mais especificamente às emoções e seus estereótipos comportamentais denomina-se circuito de Papez. Concluindo, do circuito de Papez faz parte uma região nobre chamada Hipotálamo e este, finalmente, é quem governa a expressão das emoções nos seres humanos. Portanto, o Hipotálamo regula a função de abastecimento do sistema endócrino e processa inúmeras informações necessárias à constância do meio-interno corporal (homeostasia). Coordena, por exemplo, a pressão arterial, a sensação de fome e, em nosso caso, o desejo sexual.
Psiconeurologicamente pode-se deduzir que a maioria das emoções negativas compromete o Sistema Límbico a ponto de prejudicar o desejo sexual. Isso ocorre, por exemplo, na raiva, ira, depressão, ansiedade aguda, etc. A influência límbica sobre o sistema genital feminino aparece claramente nas alterações menstruais ocasionadas por razões emocionais. Menos visível, mas mais incômodas, são as alterações da libido igualmente ocasionadas por emoções.
A sexualidade masculina, por sua vez, costuma ser mais relacionada aos lobos frontais e temporais. Verificou-se que lesões bilaterais dos lobos temporais, por exemplo, podem resultar na síndrome de Klüver-Bucy, caracterizada por comportamento hipersexual e outros desequilíbrios do comportamento social. O desejo sexual masculino se estimula mais pelos órgãos dos sentidos do que pelos sentimentos, como é o caso das mulheres. Para a sexualidade masculina é muito importante a visão, o tato, olfato.
Talvez por causa da necessidade desses estímulos, o homem sente mais cobiça sexual que as mulheres, buscam mais novidades sexuais que as mulheres. Estas, entretanto, experimentam mais a cobiça por objetos de grande valor simbólico, como bilhetinhos, cartas, datas, músicas, jóias, perfumes, flores, etc.
O CASAMENTO
COMPLICADO POR ALTERAÇÕES PSIQUIÁTRICAS
Nessa página vamos abordar as situações psiquiátricas capazes de interferir na estabilidade do casamento. Como vimos antes, partindo da idéia de que "quem não está bem consigo não incomoda aos demais", boa parte das desarmonias conjugais refletem muito mais uma dificuldade emocional, adaptativa ou psicopatológica de um dos membros do casal, do que alguma adversidade da vida objetiva, propriamente dita.
Quem tem experiência clínica sabe muito bem como é difícil, senão impossível, às vezes, conviver com uma pessoa que tenha algum distúrbio do controle dos impulsos, como é a cleptomania, por exemplo, ou o jogo patológico, quem tem um estado de euforia ou depressão, quem é portador de transtorno explosivo da personalidade, de parafilias e assim por diante.
Todas essas alterações psíquicas são acompanhadas de dificuldades adaptativas e, conseqüentemente, tornam a convivência familiar extremamente problemática.
2006-10-24 20:37:25
·
answer #7
·
answered by Anonymous
·
0⤊
0⤋