0/01/2006 - Desova dasTartarugas Marinhas - Projeto TAMAR - Sergipe
Durante a noite as tartarugas vão a praia para a desova, o processo dura cerca de 50 minutos
© Eduardo Issa
As Bases do Projeto Tamar conscientizam os visitantes para a preservação da espécie
© Eduardo Issa
as grandes redes de arrasto colocadas por pesacadores tem causado a morte de vários indivíduos em Alagoas
© Eduardo Issa
de cada 1000 filhotes apenas um consegue chegar a idade adulta
© Eduardo Issa
O pequeno filhote caminha em busca da liberdade e da sobrevivência
© Eduardo Issa
Registrar a desova das tartarugas marinhas sempre esteve presente neste meu projeto, independente do registro estar ou não dentro de um parque nacional.
Considerando que a desova de várias espécies acontece normalmente entre os meses de dezembro a março, comecei a minha busca neste período para acompanhar o processo. As tartarugas que desovam nas ilhas oceânicas como
Fernando de Noronha (PE), Atol das Rocas(RN) e Trindade (ES) iniciam a desova alguns meses antes das tartarugas que desovam no continente. No Brasil são cinco as espécies encontradas, a tartaruga de Pente, a Verde, a
Cabeçuda, a Oliva e a de Couro, que é a maior delas.
Após registrar o Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, iniciei a descida pelo litoral nordestino passando por praias famosas e deslumbrantes como a Praia do Gunga, em Alagoas e as piscinas naturais de Maragogi também
no mesmo Estado. Na divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe, um fato muito triste, apesar da beleza da Foz do Rio São Francisco, num passeio pela praia no lado alagoano, encontramos mais de 10 tartarugas mortas, vítimas das
redes de arrasto colocadas por pescadores. O Ibama local deveria tomar providências e orientar os pescadores para a utilização de outros equipamentos neste locais onde as tartarugas procuram para desovar. Cruzei o Rio São Francisco e segui até chegar à pequena cidade de Pirambu, no Estado de Sergipe.
Chegando na cidade, fui visitar esta pouco conhecida base do Projeto TAMAR, mas de muita importância, localizada de frente para a praia, nas bordas da Reserva Biológica de Santa Isabel. Depois de me apresentar e contar um pouco
do trabalho que estava realizando fui autorizado pelo chefe da base a registrar imagens de algumas espécies desovando. Acompanhado de dois estagiários do projeto, Fábio e Ticiana, partimos às 2 da manhã da base, seguindo de buggy na escuridão pelas areias da praia tentando achar alguma tartaruga saindo da água ou já desovando.
Como era a minha primeira experiência acompanhando estes dóceis animais, estava ansioso para encontrar alguma espécie. Encontramos um rastro, mas foi alarme falso, algumas tartarugas saem do mar e deixam um rastro na areia, fazem uma espécie de meia lua, não gostam do local e voltam ao mar sem colocar os ovos. Segundo Fábio, o procedimento é normal, a tartaruga escolhe o melhor local e estes indivíduos que deixam o rastro com certeza voltam
mais tarde ou outro dia para desovar. Seguimos com o veículo pelas areias, acompanhados de um luar tímido, que funciona como farol de orientação para as tartarugas, depois de alguns quilômetros avistamos o primeiro indivíduo saindo do mar. Neste momento todo cuidado é pouco, apagamos os faróis, os estagiários acendem suas lanternas com luz vermelha, que não incomodam os animais.
Deixamos que a tartaruga, que era da espécie caretta caretta, conhecida popularmente como cabeçuda, iniciasse a escavação para nos aproximar, tentando causar menos distúrbio possível. Em alguns minutos as patas traseiras em movimentos sincronizados, abrem uma cavidade suficiente para abrigar dezenas de ovos. Os ovos são flexíveis e vão caindo suavemente, com seqüências e números diferentes, ás vezes caem 6 ovos seguidos, outras apenas um, aos poucos o buraco está cheio de ovos. Em seguida, as mesmas patas que cavaram começam a colocar areia em cima dos ovos. O movimento impressiona, parece uma pá puxando a areia e cobrindo delicadamente os ovos.
O processo todo dura cerca de 50 minutos e é difícil reconhecer o local onde ocorreu à desova, a cobertura é perfeita, parece que o lugar nem foi mexido. Os ovos ficam em média 50 centímetros de profundidade e permanecem ali cerca de 45 dias, até os filhotes começarem a eclodir. Os pequenos filhotes vão subindo, um trabalho em equipe, onde os filhotes ajudam uns aos outros até chegarem à superfície. Os pequenos filhotes se alimentam com uma espécie de cordão umbilical encontrado dentro do ovo e conseguem respirar com o ar encontrado por entre os grãos de areia.
Um dos problemas enfrentados pelos filhotes que chegam à superfície é a presença de postes de luz nas proximidades de locais de desova. As luzes de vias públicas confundem as pequenas tartarugas, pois a luz do poste se parece com a luz do sol, levando alguns filhotes a caminhar em direção à cidade e não para o mar e acabam morrendo. Felizmente são pouquíssimos os lugares onde ainda ocorre este fato, a maioria das bases do TAMAR ou locais de desova estão livres deste problema. Depois de acompanhar a desova da Tartaruga Cabeçuda, ainda pudemos ver a espécie Oliva fazendo o mesmo. Foi uma experiência inesquecível, fiquei impressionado com não só com o processo todo como também a competência, a dedicação e o cuidado dos estagiários.Durante o tempo da desova, eles fazem o registro, a marcação e a biometria (medição) destas espécies que atualmente já não correm tanto risco de extinção graças a este valioso trabalho dos funcionários do TAMAR. Naquela mesma noite, dormimos algumas horas e levantamos às 5 da manhã para acompanhar o nascimento dos pequenos filhotes de outras fêmeas que desovaram no mês anterior.
Apesar da estatística assustadora, onde a cada mil filhotes que nascem apenas um consegue chegar à fase adulta, foi gratificante ver centenas de tartaruguinhas caminharem em direção ao mar, com o sol nascendo no horizonte e darem o primeiro mergulho rumo ao maior desafio de suas vidas, sobreviver e depois retornar para a mesma praia onde elas nasceram para desovar e continuar o ciclo da vida. Que Deus, os homens e o Projeto TAMAR protejam estes filhotes para que estas espécies continuem sempre presentes nas águas brasileiras.
Seguindo para o PN Serra de Itabaiana - SE
2006-10-24 16:13:49
·
answer #4
·
answered by rocsoledade 6
·
0⤊
0⤋