AS FALCATRUAS DESENTERRADAS DE GERALDO ALKIMIN
Por Altamiro Borges*
Segundo as especulações da mÃdia hegemônica, o candidato da oposição liberal-conservadora, Geraldo Alckmin, ficou extremamente abatido com as últimas pesquisas de opinião, que confirmam sua queda nas sondagens eleitorais – inclusive nas regiões Sul e Sudeste e entre os mais escolarizados. No comando de sua campanha, que reúne os rentistas “modernos” do PSDB, os velhos oligarcas do PFL e os trânsfugas do PPS, o clima seria de velório.
Alckmin no traço de Maringoni
Os mais afoitos já estariam procurando os bodes expiatórios para justificar a possÃvel surra na eleição presidencial. Em recente entrevista, o próprio FHC, conspirador-mor da direita brasileira, reconheceu que Alckmin “não tem carisma” e que talvez tenha sido um erro a sua escolha.
Fique esperto, Geraldo Alckmin
Diante deste deprimente cenário, o bloco PSDB-PFL teria decidido “baixar o nÃvel” da batalha sucessória. A agência de notÃcias Reuters revela que “em reunião da coordenação polÃtica da campanha nesta quarta-feira (9), tucanos e pefelistas resolveram que precisam explorar com maior contundência o escândalo do mensalão e ligar Lula ao episódio. 'Queremos extirpar essa praga da corrupção', disse Alckmin, negando, porém, que seja uma nova estratégia da campanha após o resultado negativo das sondagens eleitorais. Nos bastidores, contudo, pessoas diretamente envolvidas na campanha dizem que "não engoliram’ as pesquisas, sobretudo os indicadores que revelam o crescimento da avaliação positiva do governo Lula”.
Confirmadas estas notÃcias de bastidores, a batalha sucessória de 2006 promete ser uma das mais sujas da história republicana do Brasil. Mas é bom Geraldo Alckmin ficar esperto. Há muito chumbo-grosso para ser disparado contra ele nesta campanha. Seu tempo de anonimato, em que a mÃdia garantia uma poderosa blindagem para salvar a imagem do “picolé de chuchu”, parece que acabou.
Supremo quebrou artifÃcio anti-CPI
No inÃcio de agosto, dez dos onze juÃzes do Supremo Tribunal Federal (STF) anularam uma norma do Poder Legislativo de São Paulo que condicionava a criação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) à aprovação em plenário dos seus requerimentos. Com isso, fica aberto o perÃodo de caça ao tucano. Muita sujeira pode vir à tona.
Apesar do discurso udenista, esse “paladino da ética” sempre tentou evitar qualquer investigação sobre as falcatruas do seu governo. Para isto, ele inclusive utilizou um artifÃcio legal do perÃodo da ditadura militar visando impedir a instalação das CPIs, o qual exigia que os respectivos requerimentos fossem aprovados pela maioria absoluta dos deputados. O STF destruiu esta trincheira ao julgar procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo PT contra a norma em vigor na Assembléia Legislativa de São Paulo. O Supremo considerou que este dispositivo fere o artigo 58, parágrafo 3º da Constituição Federal, segundo o qual basta a assinatura de um terço dos integrantes do parlamento para que uma CPI seja instalada.
Caixa-2, propinas e fraudes
A decisão do STF abre caminho para que sejam desenterrados os 69 pedidos de CPIs bloqueados pelo ex-governador Geraldo Alckmin desde 2003. Destas, 37 são para investigar irregularidades, fraudes e casos de corrupção praticados diretamente pela administração estadual.
Como observou Alessandro Rodrigues, do jornal Hora do Povo, “trata-se de uma gigantesca lista de crimes do governo tucano em São Paulo que deixou de ser apurada. Caso fossem instaladas, estas CPIs puxariam uma corda e possibilitariam que os crimes praticados nos últimos doze anos de governo do PSDB viessem à tona”. Para ele, o criminoso e suspeito processo de privatização das estatais paulistas é o que mais preocupa o candidato Alckmin.
“Investigar as privatizações pode desnudar o esquema da prática de caixa-2 e de propinas depositadas em paraÃsos fiscais, fruto dos acertos com empresas estrangeiras que açambarcaram estas estatais por preços subavaliados”, afirma. A oposição, que sempre teve o seu trabalho sabotado na Assembléia Legislativa, pretende instalar de imediato as CPIs da Nossa Caixa, CDHU, Febem, Rodoanel e Calha do Rio Tietê.
No caso dos contratos de publicidade entre a Nossa Caixa e as agências Colucci&Associados Propaganda e Full Jazz Comunicação, o próprio Tribunal de Contas do Estado já condenou o governo estadual. O TCE considerou que houve “afronta à legalidade e à moralidade” nos “ajustes verbais” que permitiram que estas agências movimentassem R$ 45,4 milhões sem contrato, entre setembro de 2003 e julho de 2005.
Em 278 pagamentos, 255 irregulares
Ainda segundo o TCE, houve “desvio de finalidade” por parte deste banco ao veicular anúncio em órgãos ligados aos deputados estaduais em troca de apoio na Assembléia Legislativa, uma espécie de compra de votos. Ao analisar 278 pagamentos à s duas agências, uma auditoria interna apontou irregularidade em 255 operações.
Já outra CPI deve investigar as inserções publicitárias da mesma Nossa Caixa e das empresas Sabesp, Prodesp, CDHU e Dersa, entre outras, para favorecer jornais, revistas, programas de rádio e TV em troca de apoio polÃtico nas eleições de 2004. Um dos agraciados foi Jou Jia, acupunturista de Alckmin, que obteve anúncios em sua revista da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, recém-privatizada. Ele também mantinha estranhos convênios com o governo para proferir cursos de meditação!
Outra CPI que promete dar dor de cabeça ao candidato tucano é a do Rodoanel, requerida pelo deputado EmÃdio de Souza (PT), em setembro de 2003. Ela busca apurar as denúncias de corrupção e superfaturamento de até 70% nas obras dos trechos norte e oeste do Rodoanel. O Ministério Público até já reabriu as investigações sobre o desvio de verbas na Dersa; a obra consumiu mais de R$ 1 bilhão desde 1998 e sobre aditamentos constantes.
No caso da CPI da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHR), Goro Hama, ex-tesoureiro de Mário Covas, já foi condenado em mais de 300 processos no TCE por superfaturamento, dispensa ilegal de licitações e fraudes. Já a CPI da Febem “tem a intenção de averiguar, além do desvio de verbas, a responsabilidade do governo estadual em ter transformado esta instituição num campo de concentração e numa escola avançada de criminalidade”, afirma Rodrigues.
Corrida contra o tempo
A decisão do STF deixou em polvorosa os deputados estaduais paulistas. “Assim que ela for publicada, queremos que seja cumprida e que a mesa da Assembléia Legislativa aja com isenção. Será uma corrida contra o tempo”, afirma o deputado Renato Simões. O inÃcio das CPIs poderá acabar de vez com a aura de paladino da ética do candidato Geraldo Alckmin. A “praga de corrupção”, que ele afirma hipocritamente querer extirpar, poderá significar a pá de cal definitiva na sua combalida candidatura.
A lista das 69 CPIs abortadas
Publicamos abaixo os 69 pedidos de investigação que o ex-governador tanto tentou enterrar.
1- CPI da compra de parlamentares. Investigará o uso de órgãos públicos e empresas estaduais, através de gastos de publicidade, em troca de apoio polÃtico nas eleições municipais de 2004;
2- CPI da Eletropaulo. Investigará irregularidades no empréstimo concedido à empresa de energia;
3- CPI das ferrovias. Apurará a atual situação do Sistema Ferroviário do Estado de São Paulo;
4- CPI da CDHU. Investigará denúncias de irregularidades nas obras da companhia de habitação;
5- CPI do Rodoanel (1). Apuração de irregularidades na execução do trecho oeste do Rodoanel Metropolitano, desde a elaboração do projeto até a conclusão das obras;
6- CPI da publicidade na Nossa Caixa. Apuração de irregularidades nos contratos de publicidade entre a Nossa Caixa e as agências Colucci&Associados e Full Jazz Comunicação;
7- CPI da Febem. Investigará a responsabilidade das autoridades pela inexistência de medidas para resolução dos problemas;
8- CPI da Sabesp. Investigará as reais causas da atual situação de precariedade no abastecimento de água na Região Metropolitana de São Paulo;
9- CPI do Detran e do Poupatempo. Investigará os ilÃcitos administrativos e criminais cometidos por agentes públicos e particulares nos serviços médicos, de lacração e de credenciamento de auto-escolas no Detran e no Poupatempo;
10- CPI do Viva-Leite. Apurar irregularidades nos programas Viva-Leite e Alimenta São Paulo de responsabilidade da empresa pública Codeagro;
11- CPI dos Boletins de Ocorrência. Investigará as irregularidades na elaboração de BOs com o objetivo de distorcer as estatÃsticas criminais do Estado;
12- CPI do Rodoanel (2). Apurará as irregularidades na execução do trecho norte do Rodoanel;
13- CPI das obras do Tietê. Investigará procedimentos administrativos, empréstimos, contratos aditivos, execução, planejamento e expectativa de gastos e a adequação ambiental das obras do rebaixamento da calha do Rio Tietê;
14- CPI do transporte. Investigará as práticas do abuso do poder econômico por parte das empresas prestadoras de serviços de transporte coletivo;
15- CPI da CDHU (2). Investigará as irregularidades na aquisição de apartamentos da CDHU;
16- CPI da guerra fiscal. Investigará as empresas favorecidas na guerra fiscal entre os Estados;
17- CPI dos bingos. Investigará o funcionamento das casas de bingo instaladas no Estado;
18- CPI da “indústria da multa”. Investigará irregularidades nas aplicações das multas de trânsito;
19- CPI do futebol. Investigará problemas pertinentes ao futebol no Estado, prática esportiva, clubes, Federação Paulista de Futebol e implicações comerciais e econômicas;
20- CPI dos cartórios. Apurar o procedimento dos Cartórios de Notas, de Registro de TÃtulos e Documentos, de Pessoas FÃsicas e JurÃdicas e de Registro de Imóveis existentes no Estado;
21- CPI dos medicamentos. Apurará as irregularidades praticadas por indústrias de medicamentos e laboratórios farmacêuticos nacionais ou estrangeiros;
22- CPI da energia elétrica. Investigará irregularidades nos procedimentos adotados pelo governo na compra de energia pela Sabesp, Companhia Paulista de Transporte Metropolitano e Metrô;
23- CPI do transporte (2). Investigará práticas do abuso do poder econômico por parte das empresas prestadoras de serviços de transporte coletivo;
24- CPI das operadoras de saúde. Apurará as irregularidades praticadas pelas operadoras de saúde que infringem a Lei dos Planos de Saúde e o Código de Defesa do Consumidor;
25- CPI da contaminação. Investigará as graves denúncias de contaminação do solo por metais pesados e pesticidas na região Recanto dos Pássaros, em PaulÃnia, e na Vila Carioca, na capital;
26- CPI dos grileiros. Apurar a suposta ocorrência de uma indústria de invasões em terrenos urbanos e rurais no Estado;
27- CPI do ensino superior. Apurar a real situação do ensino praticado por instituições particulares;
28- CPI do meio ambiente. Investigar graves denúncias de contaminações e degradações ambientais;
29- CPI da Cetesb. Apurar a contaminação do solo, inclusive em 255 áreas já identificadas pela Cetesb;
30- CPI da poluição. Investigar denúncias relacionadas à falta de fiscalização e danos ambientais;
31- CPI da TV Cultura. Apurar denúncias sobre possibilidade do encerramento das atividades da TV Cultura;
32- CPI da FPA. Investigar desvirtuamento de verbas e doações, bem como a má gestão dos recursos financeiros da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura;
33- CPI dos grupos de extermÃnio. Investigar o possÃvel envolvimento de policiais civis ou militares em grupos de extermÃnios;
34- CPI da água. Investigar denúncia de contaminação ambiental, especialmente em lençóis freáticos;
35- CPI da prostituição infantil. Investigar denúncias veiculadas pela mÃdia de exploração sexual, crimes de estupro, corrupção de menores, exploração de lenocÃnio, prostituição infantil, pedofilia e formação de quadrilha;
36- CPI das operadoras de seguro. Investigar e apurar práticas irregulares destas operadoras;
37- CPI da telefonia celular. Apurar a real situação da prestação dos serviços públicos de telefonia celular, fornecido pelas diversas concessionárias/operadoras que atuam na região;
38- CPI da saúde. Investigar a transferência de verbas do SUS para a Secretaria Estadual de Saúde;
39- CPI do transporte ferroviário. Investigar a situação atual do transporte ferroviário no Estado;
40- CPI da telefonia. Apurar as práticas irregulares das operadoras multinacionais de telefonia;
41- CPI do Ibope. Apurar os procedimentos dos institutos de aferição de audiência, especialmente do Ibope, na captação de informações em domicÃlios de telespectadores-consumidores, bem como na transmissão das informações colhidas aos interessados;
42- CPI da Coca-Cola. Investigar a empresa Spal/Coca-Cola por sonegação fiscal de ICMS e por dumping na comercialização de seus produtos;
43- CPI das multas em rodovias. Investigar irregularidades na aplicação de multas por meios eletrônicos nas rodovias estaduais;
44- CPI dos veÃculos. Investigar irregularidades na comercialização de veÃculos automotores pelas montadoras, frotistas e empresas locadoras, com posterior revenda para terceiros;
45- CPI do leite. Analisar a comercialização e as perspectivas futuras para a produção de leite;
46- CPI dos combustÃveis. Investigar irregularidades com relação à observância da Lei Federal nº 9.950/00, que proÃbe o funcionamento de bombas de auto-serviço;
47- CPI do PCC. Apurar as denúncias sobre a execução de 12 membros do PCC, ocorrida em março de 2002, na Rodovia José ErmÃnio de Morais, em Sorocaba;
48- CPI da violência. Apurar a violência policial no Estado;
49- CPI do Hospital das ClÃnicas “Luzia de Pinho Mello”. Verificar irregularidades nas obras de ampliação e reforma do hospital;
50- CPI da Telefonica. Apurar a ocorrência de fraude tributária contra a arrecadação do ICMS envolvendo a multinacional espanhola Telefonica;
51- CPI da educação. Investigar irregularidades no processo de mudanças dos cursos técnicos;
52- CPI da pirataria. Investigar a participação de agentes públicos em crime de “pirataria”;
53- CPI das multas de trânsito. Investigar irregularidades no sistema de multas, no processo de pontuação e suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e nos cursos de reciclagem;
54- CPI da reciclagem. Apurar irregularidades na chamada “indústria da reciclagem” – na tecnologia de tratamento e reciclagem de óleos comestÃveis de origem animal e vegetal;
55- CPI dos Shoppings Centers. Investigar irregularidades nas operações dos shoppings que estejam maculando o Código de Defesa do Consumidor;
56- CPI da sonegação. Investigar a corrupção, a sonegação e a renúncia fiscais no Estado;
57- CPI dos combustÃveis (2). Investigar a adulteração de combustÃveis;
58- CPI do crime organizado na área fiscal. Investigar a existência do crime organizado nesta área;
59- CPI do meio ambiente (2). Investigar e apurar danos ambientais no Estado;
60- CPI do Metrô. Investigar irregularidades na contratação e na manutenção das obras das Linhas 4-amarela e 2-verde;
61- CPI do tráfico de leilões. Apurar a prática de tráfico de influências na contratação de leiloeiros e de empresas para a realização de leilões da administração direta e indireta;
62- CPI das teles. Investigar irregularidades na prestação dos serviços de telefonia fixa e móvel e averiguar práticas lesivas ao Erário decorrente da má gestão fiscal;
63- CPI da guerra fiscal (2). Apurar na área tributária e fiscal do Estado a fuga de empresas e indústrias como conseqüência da chamada “guerra fiscal”;
64- CPI do sistema psiquiátrico. Investigar supostas irregularidades nas unidades públicas responsáveis pelas ações relativas à saúde mental;
65- CPI do Ipesp. Investigar a destinação de contribuições obtidas pelo instituto mediante desconto em folha de pagamento de funcionários que ocupam cargos na Assembléia Legislativa;
66- CPI dos juÃzes de futebol. Investigar a atuação do juiz EdÃlson Pereira de Carvalho e de outros árbitros e empresários acusados de integrarem um esquema de manipulação de resultados;
67- CPI da contaminação ambiental. Investigar as denúncias sobre contaminações ambientais;
68- CPI do trabalho rural. Investigar as condições atuais do trabalho rural no Estado;
69- CPI da Fazenda da “Canção Nova”. Investigar as irregularidades na cessão de fazenda de 87 hectares, localizada em Lorena, à rede católica “Canção Nova”, ligada ao secretário estadual de Educação, Gabriel Chalita.
* Jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi)
2006-10-23 21:08:02
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