Não são poucas as pessoas que escrevem para perguntar a respeito dos pronomes "eu" e "mim". Talvez o caso mais pedido seja o da preposição "entre": "Entre mim e você as coisas vão muito mal" ou "Entre eu e você as coisas vão muito mal"?
Vamos lá. De início, caro leitor, peço-lhe um pouco de paciência. É preciso entender o problema para saber por que as coisas são como são. O pronome "eu" faz parte dos chamados pronomes pessoais do caso reto. Sabe de cabeça a lista completa? Não são muitos: "eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas". Esses pronomes se prestam basicamente à função de sujeito, ou seja, "conjugam" o verbo: "eu sou, tu és, ele/ela é, nós somos, vós sois, eles/elas são".
É por isso que, na língua culta, esses pronomes não podem desempenhar papel de complemento direto de verbos, ou seja, não podem aparecer em frases como "Faz tempo que não vejo ela" ou "Procurei ele a noite toda". Na língua falada, no entanto, essas formas são muito comuns, independentemente da classe social e da escolaridade do falante.
O que se usaria nesses casos, então, em se tratando de linguagem formal? Em vez de "Faz tempo que não vejo ela", dir-se-ia "Faz tempo que não a vejo"; em vez de "Procurei ele a noite toda", dir-se-ia "Procurei-o a noite toda". Os pronomes "o" e "a" pertencem ao rol dos pronomes oblíquos, cujo papel básico é justamente complementar verbos ou nomes.
Na memorável "Neide Candolina", canção com que mestre Caetano Veloso homenageia uma semi-real professora de português, há o seguinte trecho: "E a cidade (...) tem que reverter o quadro atual pra lhe ser igual". O que significa "pra lhe ser igual"? O pronome "lhe" complementa o adjetivo "igual". Referindo-se à então imunda Salvador (hoje bem mais limpa, graças a Deus), Caetano quer dizer que a cidade deve reverter o quadro para ser igual à professora, citada na letra como exemplo de cidadã. O pronome oblíquo "lhe" foi usado em uma de suas funções possíveis (complemento de um adjetivo).
Alguém talvez esteja perguntando se nesse caso não se poderia substituir o pronome oblíquo "lhe" por "a ela": "...reverter o quadro atual para ser igual a ela". É claro que seria possível. Então, se é possível usar "ela" para complementar um adjetivo ("igual"), ou seja, se é possível usar o pronome reto "ela" sem ocupar a função de sujeito, a teoria está furada?
Era aí que eu queria chegar. Note que, para usar o pronome reto "ela" sem ocupar a função de sujeito, foi preciso lançar mão de uma preposição ("a", no caso). É possível, sim, que pronomes retos ocupem função de complemento, desde que precedidos de preposição. Quer exemplos? Vários: "A moça ainda sonha com ele"; "Estou apaixonado por ela"; "O rapaz nada faz sem nós"; "Faremos tudo por vós"; "Pensamos muito neles (neles = em+eles)" etc. Em nenhuma das frases, os pronomes retos presentes ("ele", "ela", "nós", "vós" e "eles", respectivamente) exercem a função de sujeito.
Agora tente construir frases em que os pronomes retos "eu" e "tu" não funcionem como sujeito, isto é, frases em que esses pronomes retos tenham papel de complemento e sejam, por isso mesmo, precedidos de preposição. Vamos lá! Tente! Que tal "Ela gosta de eu" ou "Eu gosto muito de tu"? E estas: "Ela pensa em tu" ou "Ela pensa em eu"? Talvez você goste de "Ela quer sair com eu" ou "Ele quer sair com tu". Não gostou? Então tente "Ela nunca se refere a eu" ou "Ele nunca se refere a tu". Que tal?
Apesar de muito comuns na fala de várias regiões brasileiras, nenhuma dessas frases é aceitável no padrão culto da língua, e por uma razão muito simples: os pronomes "eu" e "tu" são diferentes dos outros retos ("ele/ela", "nós", "vós", "eles/elas"). Diferentes em quê? Na possibilidade de serem regidos por preposição. Não se diz "de eu", "de tu", "em eu", "em tu", "com eu", "com tu", "a eu" e "a tu" justamente porque os pronomes retos "eu" e "tu" não podem ser regidos por preposição ("de", "em", "com" e "a", nos casos citados).
E o que é "entre"? Nada mais do que uma reles preposição, tão preposição quanto "de", "em", "com", "a" e outras. Então, se na língua padrão não é possível usar "de eu", "de tu", "em eu", "em tu", "com eu", "com tu", "a eu" e "a tu", ou seja, se não é possível empregar esses pronomes retos ("eu" e "tu") regidos de preposição, não é possível usá-los com a preposição "entre".
Na língua padrão, portanto, nada de "Entre eu e você as coisas vão muito mal". Para que as coisas não piorem, o que se diz mesmo é "Entre mim e você as coisas vão muito mal".
Antes que alguém pergunte, a ordem não faz a menor diferença: "Entre você e mim as coisas vão muito mal"; "As coisas vão muito mal entre mim e você"; "As coisas vão muito mal entre você e mim". Sei que tudo isso parece feio, esquisito e errado, afinal não é hábito dizer "entre mim". Paciência. Em termos de língua padrão, é assim. E, como você viu, há motivo para isso.
2006-10-17 23:14:36
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answer #2
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answered by Sandman 3
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"Eu", é pronome pessoal do caso reto, usado para substituir o sujeito de uma frase.
"Mim", é pronome pessoal do caso oblíquo, usado para substituir o objeto, direto ou indireto de uma frase.
Logo, "eu", é usado quando for sujeito e "mim", quando for objeto da frase.
Boa sorte!
Alberto.
2006-10-18 11:19:45
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answer #4
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answered by Alberto 5
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