Esta História muitas pessoas dizem que aconteceu, a muito
tempo atrás no Estado do Rio Grande do Sul, na época da escravidão, pois
o Negrinho do Pastoreio era um escravo, vivia numa fazenda de um rico
fazendeiro , na lenda só há relatos de algumas pessoas que moravam na
fazenda e participam diretamente da vida do Negrinho Pastoreio , eram
além do fazendeiro , o filho do dono da fazenda um garoto muito perverso
que se divertia com malvadeza contra o Negrinho do Pastoreio, e um
escravo de confiança.
Segundo a lenda , o Negrinho do Pastoreio não era muito querido pelos
patrões , não tinha nome , razão pela qual foi sempre foi chamado assim,
e não foi batizado sendo assim ele próprio atribui-lhe como Madrinha
Nossa Senhora, que segundo afirmam costumava aparecer para ajudá-lo.
Segundo afirmam , o Negrinho do Pastoreio era um escravo de um rico
fazendeiro , e o que tinha de riqueza tinha de maldade no coração, este
fazendeiro não era de ter amigos, nem fazer amizades, um homem de poucos
diálogos , que gostava mesmo é de provocar o mal para outras pessoas.
Devido a sua maldade a ajuda que era comum nas tarefas de lido do Campo
não existia , e sobrava mais trabalho era para o Negrinho do Pastoreio,
que além de trabalhar muito era mau alimentado.
Todas as madrugadas o Negrinho galopava o Cavalo de corrida baio (cor
castanho), depois conduzia os avios do chimarrão.Um dia, depois de muita
discussão , o fazendeiro apostou uma corrida com um vizinho, que queria
que o prêmio fosse para os pobres, más o fazendeiro não queria assim,
ele queria que o prêmio deviria ficar com o dono do cavalo que ganhasse.
E resolveram correr uma distância de aproximadamente medida 60 braças
( 132 m), e o prêmio, mil onças de ouro (16 onças = 459 gramas.)
No dia marcado na cancha (lugar em que se realizam corridas de cavalos)
havia bastante gente. Entre os cavalos de corrida o povo não sabia se
decidir , tão perfeito cada um dos animais, o cavalo baio, tinha fama de
que quando corria , corria tanto, que o vento assobiava-lhe nas crinas;
tanto que só se ouvia o barulho, mas não se lhe viam as patas baterem no
chão. E do cavalo mouro (cavalo escuro mesclado de branco) era que era
bastante resistente. As apostas começara a ser feitas. Os corredores
fizeram suas demonstrações à vontade e depois as obrigadas; e quando foi
na última , fizeram ambos a sua senha e se convidaram. E preparando o
corpo, de rebenque (pequeno chicote) no ar, largaram, os cavalos como de
estivessem nomeando seus galopes .
- Empate ! Empate ! Gritavam os aficionados ao longo da cancha por onde
passava a corrida veloz..
- Valha-me a Virgem madrinha, Nossa Senhora ! gemia o Negrinho.
Se o sete-léguas perde , o meu senhor me mata .E baixava o rebenque,
cobrindo a marca do baio.
- Se o corta-vento ganhar é só par os pobres ! Retrucava o outro
corredor. E cerrava as esporas no mouro.
Mas os corredores corriam, emparelhados. Quando foi os últimos metros, o
mouro vinha correndo muito e o baio não ficava atrás mas sempre juntos,
sempre emparelhados. E perto da chegada o baio diminui o ritmo, de modo
que deu ao mouro tempo mais que preciso para passar , ganhando
facilmente. E o Negrinho ficou abismado.
- Foi uma corrida ruim! Gritava o fazendeiro.
- Mau jogo! Secundavam os outros de sua parceria.
O povo estava dividido no julgamento da corrida, mas o juiz que era um
velho do tempo da guerra de Sepé Tiaraju, era um juiz macanudo, que já
tinha visto muito mundo.
- Foi na lei! A carreira é de parada morta; perdeu o cavalo baio, ganhou
o cavalo mouro. Quem perdeu que pague. E u perdi sem gateadas; quem as
ganhou venha buscá-las. Foi na lei ! .Não havia o que alegar. Despeitado
e furioso , o fazendeiro pagou a parada , à vista de todos , atirando as
mil onças de ouro sobre o poncho do seu contrário, estendido no chão. E
foi uma alegria por aqueles pagamentos , porque logo o ganhador mandou
distribuir aos pobres.
O fazendeiro retirou-se para sua casa e veio pensando , pensando, calado,
em todo o caminho. A cara dele vinha lisa , mas o coração vinha
corcoveando como touro de banhado laçado a meia espalda... O trompaço
das mil onças tinha-lhe arrebentado a alma.
E conforme apeou-se , da mesma vereda mandou amarrar o Negrinho pelos
pulsos a um palanque e dar-lhe uma surra de relho. Na madrugada saiu com
ele e quando chegou no alto da coxilha falou assim:
- Trinta quadras tinha a cancha da carreira que perdeste: trinta dias
ficarás aqui pastoreando a minha tropelia de trinta tornilhos negros...
O baio fica de piquete na soga e tu ficarás de estaca! O Negrinho começou a chorar , enquanto os cavalos iam pastando. Veio o
sol , veio o vento , veio a chuva , veio a noite. O Negrinho , varado de
fome e já sem forças nas mãos , enleou a soga num pulso e deitou-se
encostado a um cupim. Vieram então as corujas e fizeram a roda, voando,
paradas no ar , e todas olhavam-no com os olhos reluzentes, amarelos na
escuridão. E uma piou e todas piaram , como rindo-se dele, paradas no ar,
sem barulho nas asas. O Negrinho tremia , de medo... porém de repente
pensou em sua madrinha Nossa Senhora e sossegou e dormiu.
E dormiu. Era já tarde da noite , iam passando as estrelas; o cruzeiro
apareceu , subiu e passou ; passaram as Três-Marias ; a estrela d'alva
subiu... Então vieram os graxains ladrões e farejaram o Negrinho e
cortaram a guasca da soga. O baio sentindo-se solto rufou a galope, e
toda a tropilha com ele , escaramuçando no escuro e desguaritando-se
nas canhadas.
O Escravo acordou o Negrinho; os guaraxains fugiram, dando berros de
escárnio. Os galos estavam cantando , mas nem o céu nem as barras do dia
se enxergava: era a cerração que tapava tudo.
E assim o Negrinho perdeu o pastoreio. E chorou. O menino maleva foi lá
e veio dizer ao pai que os cavalos não estavam. O estancieiro mandou
outra vez amarrar o Negrinho pelos pulsos a um palanque e dar-lhe,
dar-lhe uma surra de relho.
E quando era já noite fechada ordenou-lhe que fosse campear o perdido.
Rengueando , chorando e gemendo, o Negrinho pensou em sua madrinha Nossa
Senhora e foi ao oratório da casa , tomou o coto de vela aceso em frente
da imagem e saiu para o campo. Por coxilhas e canhadas, nas beira dos
lagoões , nos paradeiros e nas restingas , por onde o Negrinho ia
passando , a vela benta ia pingando cera no chão: e de cada pingo
nascia uma nova luz , e já eram tantas que clareava tudo. O gado ficou
deitado , os touros não escarvaram a terra e as manadas xucras não
dispararam... Quando os galos estavam cantando , como na véspera, os
cavalos relincharam todos juntos. O Negrinho montou no baio e seguiu
por diante a tropilha, até a coxilha que o senhor lhe marcara
E assim o Negrinho achou o pastoreio e se riu ... Gemendo , gemendo , o
Negrinho deitou-se encostado ao cupim e no mesmo instante a pagaram-se
as luzes todas; e sonhando com a Virgem, sua madrinha, o Negrinho dormiu.
E não apareceram nem as matitaspereira nem os guaraxains ladrões; porém
pior do que os bichos maus, ao clarear o dia veio o menino, filho do
estancieiro e enxotou os cavalos, que se dispersaram, disparando campo
afora , retouçando e desguaritando-se nas canhadas. O tropel acordou o
Negrinho e o menino maleva foi dizer ao seu pai que os cavalos não
estavam lá...
E assim o Negrinho perdeu o pastoreio. E chorou... O estancieiro mandou
outra vez amarrar o Negrinho pelos pulsos a um palanque e dar-lhe uma
surra de relho... dar-lhe então até ele não mais chorar nem bulir , com
as carnes recortadas , o sangue vivo escorrendo do corpo... O Negrinho
chamou pela Virgem sua madrinha e Senhora Nossa, deu um suspiro triste,
que chorou no ar como uma música, e pareceu que morreu...
E como já era de noite e para não gastar a enxada em fazer uma cova, o
fazendeiro mandou atiraro corpo do Negrinho na panela de um formigueiro,
que era para as formigas devorarem-lhe a carne e o sangue e os ossos...
E assanhou bem as formigas; e quando elas, raivosas, cobriram todo o
corpo do Negrinho e começaram a trincá-lo , é que então ele se foi
embora , sem olhar para trás. Nessa noite o estancieiro sonhou que ele
era ele mesmo mil vezes e que tinha mil filhos e mil negrinhos , mil
cavalos baios e mil vezes mil onças de ouro... e que tudo isto cabia
folgado dentro de um formigueiro pequeno. Caiu a serenada silenciosa e
molhou os pastos, as asas dos pássaros e casca das frutas.
Passou a noite de Deus e veio a manhã e o sol encoberto. E três dias
houve cerração forte , e três noite o estancieiro teve o mesmo sonho. A
peonada bateu o campo , porém, ninguém achou a tropilha e nem rastro.
Então o senhor foi ao formigueiro , para ver o que restava do corpo do
escravo. Qual não foi o seu grande espanto, quando chegado perto viu na
boca do formigueiro o Negrinho de pé , com a pele lisa , perfeita,
sacudindo de si e as formigas que o cobriam ainda!... O Negrinho de pé,
e ali ao lado , o cavalo baio e ali junto, a tropilha dos trinta
tordilhos... e fazendo-lhe frente, de guarda ao mesquinho, o estancieiro
viu a madrinha dos que não atêm, viu a Virgem, Nossa Senhora, tão serena,
pousada na terra, mas mostrando que estava no céu... Quando tal viu , o
senhor caiu de joelhos diante do escravo. E o Negrinho sarado e risonho,
pulando de em pêlo e sem rédeas, no baio, chupou o beiço e tocou a
tropilha a galope. E assim o Negrinho pela última vez achou o pastoreio.
E não chorou, e nem se riu. Correu no vizindário a nova do fadário e da
triste morte do Negrinho , devorado na panela do formigueiro. Porém logo,
de perto e de longe , de todos os rumos do vento, começaram a vir
notícias de um caso que parecia um milagre novo... E era, que os
posteiros e os andantes, e os que dormiam sobre as palhas dos ranchos e
os que dormiam na cama das macegas, os chasques que cortavam por atalhos
e os tropeiros que vinham pela estrada , mascates e carreteiros , todos
davam notícia - da mesma hora - de ter visto passar , como levada em
pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, gineteando
de me pêlo, em um cavalo baio!...
Então , muitos acenderam velas e rezaram um Padre-nosso pela alma do
judiado. Daí por diante , quando qualquer cristão perdia uma cousa , o
que fosse , pela noite velha o Negrinho campeava e achava , mas só
entregava a quem acendesse uma vela , cuja luz ele levava para pagar a
do altar da sua madrinha , a Virgem , Nossa Senhora , que o remiu e
salvou e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém
ver. Todos os anos , durante três dias , o Negrinho desaparece: está
metido em algum formigueiro grande , fazendo visita as formigas , suas
amigas; a sua tropilha esparrama-se ; e um aqui , outro por lá , os seus
cavalos retoucam nas manadas das estâncias. Mas ao nascer do sol do
terceiro dia , o baio relincha perto de seu ginete; o Negrinho monta-o
e vai fazer sua recolhida; é quando nas estâncias acontece a disparada
das cavalhadas e a gente olha , olha , e não vê ninguém , nem na ponta,
nem na culatra.
Desde então e ainda hoje, conduzindo o seu pastoreio, o Negrinho, sarado
e risonho , cruza os campos , corta os macegais , bandeia as restingas,
desponta os banhados , vara os arroios , sobe as coxilhas e desce às
canhadas. O Negrinho anda sempre à procura dos objetos perdidos,
podo-os de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem
um coto de vela , cuja luz ele leva ao altar da Virgem Senhora Nossa,
madrinha dos que não a têm. Quem perder suas prendas no campo, guarde
esperança: junto de algum moirão ou sob os ramos das árvores, acenda uma
vela para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo.
- Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que
eu perdi !
2006-10-14 14:05:06
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answer #1
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answered by ALFREDO D 5
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