Caverna em Fernando de Noronha é uma das poucas em rocha vulcânica
BrasÃlia, 2 (Agência Brasil - ABr) - Mais que derrames de basaltos ou cones vulcânicos, a lava é capaz de formar outros atrativos turÃsticos – as cavernas. O interior normalmente pouco lembra as cavidades conhecidas, com estalagmites, estalactites, cortinas e outras estruturas de beleza cênica, e variam assim em dois desenhos distintos: o de uma pequena gruta ou de um tubo, de acordo com o processo de formação. A construção pode levar milhares de anos, no primeiro caso, ou dias, no segundo.
No Brasil, predominam as grutas, mas as cavernas originadas em terrenos vulcânicos são quase uma exceção no paÃs. Das 3.189 registradas, apenas duas têm essa caracterÃstica – a Gruta da Bela Vista, em Tupaciguara (MG), e a Gruta do Capim-Açu, no arquipélago de Fernando de Noronha (PE), segundo dados da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE).
Caverna abrigo do Moroaga (MG)
A grande maioria das cavidades, cerca de 80%, se encontra nas áreas cársticas, nome dado à s regiões com maior potencial para a ocorrência de cavernas. Nesses locais, predominam as rochas carbonáticas (das quais a mais conhecida é o calcário), atravessadas com facilidade pela água. Quanto mais solúvel for a rocha, mais facilmente o lÃquido circulará, dando inÃcio então à formação da cavidade. O lÃquido desce por canais, fraturas e fendas, e aos poucos, erode o terreno, formando assim pequenos buracos. Os “espaços vazios” começam a se interligar a partir do momento em que aumentam de tamanho, favorecendo a erosão.
Os processos de abrasão na lava ou o magma solidificados não ocorrem com a mesma facilidade do calcário. “Quanto mais suscetÃveis aos intemperismos, maiores cavernas serão formadas”, diz André Cadamuro, técnico do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas (Cecav) do Ibama. Enquanto o interior de uma caverna surgida em ambiente vulcânico fica na casa dos metros, as demais podem atingir alguns quilômetros. A maior caverna carbonática brasileira, a Toca da Boavista, localizada em Campo Formoso (BA), tem 92.100 metros de comprimento (número que soma todas as ramificações dos corredores).
Já o recorde de maior desnÃvel é de uma caverna constituÃda de quartzito (dentro faixa dos 20% de cavidades fora dos ambientes cársticos), material resistente à dissolução como as rochas Ãgneas, a Gruta do Centenário, em Mariana (MG). Para corroer o material é preciso uma substância com pH mais alto que o da água acÃdifica (da chuva), como o ácido fluorÃdrico (HF). Como o HF não é encontrado com a mesma facilidade que a água adicionada de gás carbônico, o processo de criação dos condutos é mais quÃmico do que fÃsico, por ação mecânica da circulação do lÃquido.
A água, em vez de separar os componentes minerais, fratura as rochas para abrir caminho. Sem a estabilidade do calcário, os quartzitos, arenitos e rochas Ãgneas formam pequenos salões e galerias estreitas, que desabam quando a estrutura ganha volume. O processo não favorece a criação de espeleotemas ou outras ornamentações, ao contrário das fendas, caracterÃsticas desse tipo de ambiente. A evolução de uma cavidade leva em consideração fatores quÃmicos e fÃsicos, que combinados dão a forma final da estrutura.
No litoral, a ação da água do mar nas pedras de origem vulcânica pode formar as cavidades, assim como a infiltração pela chuva. Quando o lÃquido desce pelas fraturas, leva os materiais dispersos, e os sedimentos resultantes da ação formam um tipo de lama, cujo fluxo (que depende da precipitação e inclinação, entre outros) abre espaços cada vez maiores à medida que arrasta mais materiais do solo.
Uma caverna pode nascer também de uma ação completamente diferente da diluição das rochas. à o que acontece quando os derrames de lava dão origem a tubos. As estruturas são freqüentes no HavaÃ, onde a atividade vulcânica propicia o surgimento até de rios subterrâneos, que correm pelos buracos que o magma abriu. No Brasil, há formações semelhante no Paraná e no Sul da Bahia, descobertos mais recentemente.
Os túneis se formam quando a lava resfria por fora, mas por dentro continua se deslocando, o que só acontece quando algum fator diminui a quantidade de material corrente. O diâmetro pode variar de poucos centÃmetros a alguns metros. Na praia de Pitinga (BA), há condutos em que a distância entre as paredes é de 70cm, com espessura variável entre 1cm e 5cm, mas as estruturas podem ser ainda maiores, permitindo a passagem de pessoas ou mesmo de carros, como no HavaÃ.
Caverna da Lago Azul
A incidência de cavernas no Brasil está concentrada em regiões chamadas provÃncias espeleológicas, entre as quais se destacam a do Vale do Ribeira (SP), Bambuà (MG), Serra da Bodoquena, Alto Paraguai e Chapada de Ibiapaba. Na provÃnicia espeleológica do BambuÃ, distinguem-se cinco distritos – o de São Domingos, BrasÃlia, Alto e Médio São Francisco, Irecê e Alto Paraguaçu. Embora pouco mais de 3 mil cavernas tenham sido catalogadas no Cecav, o número pode se bem maior. “Acredita-se que passe de dez mil”, diz o geólogo Bruno Diniz. De acordo com o Ibama, as áreas carbonáticas (onde surgem as grutas) cobrem 425.000km², cerca de 5% do território brasileiro.
A maior parte das cavidades descobertas está em Minas Gerais, onde também se formaram os primeiros grupos de espeleologistas. São entre 900 e 1000, entre elas a famosa Gruta de Maquiné, considerada a primeira caverna turÃstica do Brasil, com uma média anual de 47 mil visitantes. Embora a relação entre turismo e meio ambiente seja quase indissociável, a falta de controle do fluxo de visitantes diminuiu a formação de espeleotemas (formações internas da gruta), visto que para uma estagmite (estrutura que se forma do chão) se levantar, são necessários milhares de anos. Embora os especialistas tenham dúvidas, estimam que o cone cresça 0,7 milÃmetros por ano.
Em situação oposta a da Gruta de Maquiné está a da Lago Azul, em Bonito (MS). No máximo, 40 pessoas podem visitar, por hora, o local, com uma média diária de 225 turistas por dia. Muito da preservação vem da consciência dos moradores locais, que evitam a destruição de uma das maiores belezas do municÃpio, onde já foram encontradas 30 cavernas. A limitação da quantidade de visitantes visa a manter as caracterÃsticas do ecossistema da gruta, como a formação dos espeleotemas e da fauna. Para isso, o mergulho no lago que nomeia o lugar é proibido.
O desafio dos especialistas é controlar a exploração das cavernas de forma a evitar que as mesmas se tornem, por exemplo, vetores de doenças (pelo depósito de lixo). Uma dos mecanismos é o estudo de capacidade de carga (número de turistas), que calcula a capacidade de a gruta voltar à estabilidade e manter o equilÃbrio energético. Uma única pessoa dentro do sistema altera a temperatura (a média da temperatura interna no Brasil fica em torno dos 20°C), umidade e nÃveis de gás carbônico, um impacto que pode ser leve ou pesado de acordo com a quantidade de pessoas em um grupo de visitantes.
A degradação das cavernas se relaciona também a construção de hidrelétricas (que inundam as cavidades), a agricultura, a abertura de estradas, como também a ação das mineradoras ilegais, que para retirar o calcário, empregado na fabricação de cimento, usam detonadores de alto impacto, abrem vias de acesso, liberam dejeitos e realizam outras atividades danosas ao meio ambiente. Sem controle, a exploração do mineral destruiu a Gruta Lagoa Rica, em Paracatu (MG), e coloca em risco outras regiões como a área metropolitana de Curitiba e Goiás, onde, segundo Diniz, podem existir mais cavernas que em Minas Gerais.
A atividade pode contaminar lençóis freáticos e interferir no fluxo do manancial, secando os rios que atravessam as cavernas, além de interferir na fauna, e promover o desmatamento de forma geral. As vibrações causadas pelos equipamentos pode ainda quebrar espeleotemas e provocar desabamentos. Em Goiás, por exemplo, grande parte das empresas mineradoras são de pequeno porte e atuam na legalidade, segundo documento do Cecav. Sem o licenciamento para exploração da área, favorecem os impactos em ambientes cársticos.
Para proteger as cavernas, a legislação exige estudos e relatório de impacto ambiental (Eia/Rima), para a realização de qualquer atividade, “de qualquer natureza”, segundo o Decreto N° 99.556/90 em áreas de cavidades subterrâneas. O licenciamento ambiental só é concedido se o relatório for aprovado. Outras ações nesse sentido são os planos de manejo espeleológico, que estabelecem diretrizes para a exploração racional do local e servem de subsÃdios o ordenamento de visitações, por exemplo, de modo a causar o menor impacto possÃvel diante da fragilidade do ecossistema, e do valor paleontológico e arqueológico de várias cavernas. (Fabiana Vasconcelos)
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2006-10-13 04:56:45
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answer #4
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answered by neto 7
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