A questão que você coloca é falsa. Não é possível entender os problemas do continente Brasil olhando as coisas desta manaeira simplista. Se você tem o desejo sincero de compreender um pouco mais o que acontece neste país, leia o texto abaixo:
O texto está publicado no site
www.vermelho.org.br.
Ivana Bentes: Play it again, Jango!
O texto que segue, da professora universitária e pesquisadora de
Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ivana Bentes, foi
encomendado pela
Folha de S. Paulo, para ser publicado no próximo domingo no Caderno Mais!,
especificando que o autor deveria escolher um antigo presidente da
República, já
morto, que, "ressucitado", comentaria os fatos políticos de agora. Ivana
escolheu João Goulart, o Jango. Produziu e enviou o texto para o jornal do
Otávinho Frias. Neste sábado, foi-lhe comunicado que não será publicado. O
motivo: o texto estava "fora do foco", Jango virou Lula!
Morri no exílio, na província argentina de Corrientes, em 6 de dezembro de
1976, sozinho, vítima de ataque cardíaco, numa fazenda da fronteira.
Tentava
voltar para o Brasil, de onde me expulsaram com o Golpe Militar depois que
anunciei, no dia 13 de março de 1964 num comício para 150 mil pessoas na
Central do Brasil que iria fazer a Reforma Agrária, Urbana, as reformas na
Educação, a Reforma Eleitoral, Tributária...
Não deixaram fazer nada e me derrubaram! As forças mais conservadoras da
sociedade Brasileira se uniram e foram convocadas a me depor, toda a
imprensa ficou contra mim, Esse já era o terceiro golpe midiático-militar,
botaram a classe média horrorizada na rua, as senhoras da TFP, editoriais
alarmistas e
moralistas, páginas e páginas de jornais, rádio, TV. Assustaram todos até
que cai no dia 1º de abril de 1964.
Não adiantou, estou de volta! Não sei como, só sei que eu João "Jango"
Goulart, ex-presidente deposto, retornei, é dia de eleição e estou
concorrendo de
novo para Presidente do Brasil. Mudei de partido. Estou grisalho, perdi um
dedo da mão (onde?) e me dou conta que as forças que me derrubaram em 1964
estão
quase todas aí. Continuo com apoio popular, estou com enorme vantagem nas
pesquisas, mas por que os jornais dos últimos meses são todos contra mim e
meu partido? Estou sendo de novo linchado? Em 64 diziam que eu ia
implantar o comunismo no Brasil e agora que estou implantando a corrupção
em Pindorama!
Meu assessor me informa que vamos assistir a fita com o meu debate na
televisão. Estou reconhecendo o pessoal da pesada de 64. Então tenho uma
visão exata
de quem eu sou e o que represento no Brasil de 2006, me vendo pelos olhos
dos meus inquisidores. Roda o VT. Não, dá um Play. Play it again, Jango!
Ouço, e então presente, passado e futuro se dobram na tela da TV.
Entrevistador e dono de uma empresa de TV:
Sr, Presidente, de todas as reformas que o senhor propôs, uma é a mais perigosa de todas, é um acinte aos empresários da comunicação, de rádio e TV. Sr. Presidente, o senhor tentou entrar na nossa caixa preta, regular nossas empresas com uma Agência. Nós somos contra, Sr. Presidente! Onde já se viu? Deu
está dado! Não queremos ninguém novo no negócio. Canal
de TV para Ong, para Universidade, para favela? Eles
não precisam de nada disso e ainda fazem uns vídeos
que são umas porcarias. Qualidade temos nós com essa
imagem plastificada, atrizes esticadas digitalmente,
programas incitando à delação. Eles a gente emprega
pra figuração, usa para vender celular e fazer
propaganda da nossa diversidade cultural. Os pobres
tem estilo, são vibe, hiper, mob, servem pra vender
quinquilharia e show. Mas dar canal de TV pra essa
gente, Presidente?
Jango: Eu tenho um ministro da cultura que é músico e negro e quer botar
ilha de edição, câmeras de vídeo e internet de graça por onde der. É o
início da Reforma
da Cultura, da Educação, da Comunicação, junto com o Fundeb, o Fundo para
a Educação, que eu criei lá em 62, e reeditamos agora. Por que ninguém
fala do
Fundeb?! Eu tenho orgulho de estar implantando o Fundeb!! As cotas no
Brasil! Estou botando os negros e os pobres dentro da Universidade. Temos
que acabar o
vestibular, tornar o acesso universal. Além disso eu criei o Bolsa
Família, tirando um contingente da miséria, é a maior transferência de
renda já feita nesse país. Eu apoio o MST, os Sem-Teto! Me deixem fazer as
Reformas! As novas e aquelas, que vocês abortaram em 64!
Professor-Doutor-Pesquisador:
Desculpe, sr. Presidente. Eu fiz mestrado com bolsa Capes, doutorado com
bolsa sandwich em Paris VIII, CNPQ, e tive bolsa de pós-doutorado em
Oxford. Meus
alunos têm bolsa de iniciação artística, científica, extensão... Mas eu
sou contra a Bolsa Família!!! É assistencialismo dar 50 reais (é muito,
acostuma mal)
para pobre. Populismo, sr. Presidente! Minhas bolsas eu ganhei todas por
mérito. Mérito! E olhe que sou bolsista há 10 anos! Deus me livre perder
minha bolsa!
Antropóloga, antes de entrar na roda de debate:
Ô diretor, chama um negro aí para aparecer no programa, mas tem que ser
contra as cotas. A gente é branco, professor-doutor, não vale. É pro povo
entender que é uma *****, que eles tem que entrar para a Universidade
sozinhos, por mérito, se não vai cair o nível da universidade. Botar um
antropólogo branco,
louro de olhos azuis falando mal das cotas não vale, vão cair de pau na
gente. Tem que ser negro falando mal das conquistas dos negros.
Diretor de TV:
Você sabe, a gente detona as cotas diariamente nos editoriais, colunas,
manchetes, mas nas novelas tem que ser a garota negra com o galã branco.
Botamos na
tela uns negros limpinhos, bonitos, cheios de dignidade. Provamos que eles
vão vencer sozinhos. Cota para que? Nunca fomos racistas! Querem criar o
racismo no Brasil, sr. Presidente, O senhor está muito mal assessorado
nessa área. Aliás, não vai ter cota para negros em empresas de TV, vai?
Deus me livre! Não
dá pra fazer Escrava Isaura no Leblon.
Entrevistador-cronista-consultor
Sr. candidato, o senhor está na frente das pesquisas, mas como esse povo
ignorante, desdentado, feio, pode decidir por mim? Eu que freqüentava o
Palácio do Planalto, que era amigo e confidente do sociólogo, seu
cronista-conselheiro. Eu que sou especialista em pornografia política.
Achei que poderia ser de direita
mas escrever genialmente como o Nelson, mas não tenho esse talento. Estou
aqui me olhando na TV e só vejo um publicitário mal sucedido, porque o meu
candidato a presidência vai perder as eleições e meus amigos vão ficar
fora do poder. Sou a encarnação das forças do ressentimento. Pelo menos
sou psicanalizado, me acho
um crápula, mas tudo bem. Os empresários me pagam 10, 20 mil por palestra
ou consultoria para eu anunciar o apocalipse. Não tenho o que perguntar só
queria
dizer olhando bem na sua cara. Eu te odeio, sr. Presidente e morrerei
escrevendo contra tudo o que o senhor significa (baba).
Apresentadora de TV:
Então Sr Jango, depois de ouvir isso tudo sobre o seu governo, o que
significará a sua reeleição?
Jango: "O triunfo da beleza e da justiça". E não me chamem mais de Jango,
o ex-presidente morreu, no golpe de 64, exilado na fronteira, em 1976. O
novo
presidente nasceu das crises que vocês criaram, tentando me derrubar , uma
duas, três, quantas vezes? Não estou mais só, em 2006, tenho 55% das
intenções
de votos, atingi o coração do Brasil, sou uma radicalização da democracia.
Meu nome é Muitos. Sou uma potência da multidão.
Ivana Bentes, pesquisadora de Comunicação da UFRJ
--
Stela Pastore
(51) 9913.2295
2006-10-12 03:42:28
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answer #4
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answered by weltermartins 2
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