GEOLOGIA - A CIÊNCIA DA TERRA
1 - INTRODUÇÃO
Porque se estuda a Terra?
A curiosidade natural do homem em desvendar os mistérios da natureza levou-o ao estudo da Terra.
Perguntas tais como: de onde vêm as lavas dos vulcões; o que causa os terremotos; como se formaram os planetas e as estrelas, e muitas outras, sempre foram enigmas que o homem vem tentando decifrar.
O principal fator que impulsiona o homem a melhor conhecer a Terra é o fato de ter que usar materiais extraídos do subsolo para atender as suas necessidades básicas.
Na Idade Média, acreditava-se que a Terra era o centro do Universo e que todos os outros astros, como o Sol , a Lua, os planetas e as estrelas giravam em torno dela. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o homem pôde comprovar que a Terra pertence a um grupo de planetas e outros astros, que giram em torno do Sol, formando o Sistema Solar.
Descobriu-se também que a própria Terra se modifica através dos tempos. Por exemplo, áreas que hoje estão cobertas pelo mar, há 15 mil anos eram planícies costeiras, semelhantes à baixada de Jacarepaguá; regiões que estavam submersas há milhões de anos, formam agora montanhas elevadas como os Alpes e os Andes. Lugares onde existiam exuberantes florestas estão hoje recobertas pelos gelos da Antártica ou transformaram-se regiões desérticas. O material que atualmente constitui montanhas, como o Pão de Açúcar e o Corcovado, formou-se a centenas ou milhares de metros abaixo da superfície terrestre, há muitos milhões de anos.
Estas transformações são causadas por gigantescos movimentos que ocorrem continuamente no interior e na superfície da Terra. Por serem transformações muito lentas, o homem não pode acompanhá-las diretamente, pois ele só apareceu há cerca de dois milhões de anos. Isso quer dizer que, se toda a evolução da terra fosse feita em um ano, o homem só teria aparecido quando faltasse dois minutos para a meia-noite do último dia do ano. Além disso, o homem só tem acesso à camada superficial do nosso planeta. A distância da superfície até o centro da Terra mede 6.370 km - dois mil quilômetros a mais que a distância entre o Oiapoque e o Chuí, pontos localizados nos extremos norte e sul do Brasil - e a maior perfuração já feita só alcançou 10 km de profundidade
Então, como se pode saber o que existe dentro da Terra em tão grandes profundidades e como descobrir a idade de cada período da história da Terra? Isto é possível através do estudo das rochas, dos terremotos, dos vulcões, dos restos dos organismos preservados nas rochas e das propriedades físicas terrestres, tais como o magnetismo e a gravidade.
As rochas são formadas por minerais, que por sua vez são constituídos por substâncias químicas que se cristalizam em condições especiais. O estudo dos minerais contidos em uma determinada rocha pode determinar onde e como ela se formou.
Para medir o tempo geológico, utiliza-se elementos radioativos contidos em certos minerais. Esses elementos são os "relógios da Terra". Eles sofrem um tipo especial de transformação que se processa em ritmo uniforme, século após século, sem nunca se acelerar ou retardar. Por este processo - chamado RADIOATIVIDADE - algumas substâncias se desintegram, transformando-se em outras. Medindo-se a quantidade dessas substâncias em uma rocha, pode-se saber a sua idade.A Terra atrai os corpos pela força da gravidade e pela força magnética. Estas forças variam de local para local, devido a diferenças superficiais e profundas dos materiais que constituem a Terra. A análise dessas diferenças é outra forma de interpretar o que existe no subsolo terrestre.
Todos esses estudos fazem parte da GEOLOGIA - a ciência que busca o conhecimento da origem, composição e evolução da Terra. Outras ciências da Terra, como a GEOGRAFIA, a OCEANOGRAFIA e a METEOROLOGIA, ocupam-se de outros aspectos do nosso planeta.
2 - A TERRA
Origem, evolução e constituição interna
Pela teoria mais aceita estima-se que a formação do Sistema Solar teve início há seis bilhões de anos, quando uma enorme nuvem de gás que vagava pelo Universo começou a se contrair. A poeira e os gases dessa nuvem se aglutinaram pela força da gravidade e, há 4,5 bilhões de anos, formaram várias esferas de gás incandescente que giravam em torno de uma esfera maior, que deu origem ao Sol. As esferas menores formaram os planetas, dentre os quais a Terra. Devido à força da gravidade, os elementos químicos mais pesados como o ferro e o níquel, concentraram-se no seu centro, enquanto que os gases foram, em seguida, varridos da superfície do planeta por ventos solares.
Assim, foram separando-se camadas com propriedades químicas e físicas distintas no interior do Globo Terrestre. Há cerca de 4 bilhões de anos, formou-se o NÚCLEO - constituído por ferro e níquel no estado sólido, com um raio de 3.700 km. Em torno do núcleo, formou-se uma camada - o MANTO - que possui 2.900 km de espessura, constituída de material em estado pastoso, com composição predominante de silício e magnésio.
Em torno de 4 bilhões de anos atrás, gases de manto separaram-se, formando uma camada de ar ao redor da Terra - a ATMOSFERA - já naquela época muito semelhante à atual.
Finalmente, há aproximadamente 3,7 bilhões de anos, solidificou-se uma fina camada de rochas - a CROSTA. A crosta não é igual em todos os lugares. Debaixo dos oceanos, ela tem mais ou menos 7 km de espessura e é constituída por rochas de composição semelhante à do manto. Nos continentes, a espessura da crosta aumenta para 30-35 km, sendo composto por rochas formadas principalmente por silício e alumínio e, por isso, mais leves que as do fundo dos oceanos.
.
3 - DINÂMICA INTERNA
Movimentos do interior da Terra
Sabe-se hoje em dia que os continentes se movem. Acredita-se que há muitos milhões de anos, todos estavam unidos em um único e gigantesco continente chamado PANGEA. Este teria se dividido em fragmentos, que são os continentes atuais. Foi o curioso encaixe de quebra-cabeça entre a costa leste do Brasil e a costa oeste da África que deu origem a esta teoria, chamada de DERIVA CONTINENTAL.
Ao estudar o fundo do Oceano Atlântico , descobriu-se uma enorme cadeia de montanhas submarinas, formada pela saída de magma do manto. Este material entra em contato com a água, solidifica-se e dá origem a um novo fundo submarino, a medida que os continentes africano e sul americano se afastam. Este fenômeno é conhecido como EXPANSÃO DO FUNDO OCEÂNICO.
Com a continuidade dos estudos, as teorias da Deriva Continental e da Expansão do Fundo Oceânico foram agrupadas em uma nova teoria, chamada TECTÔNICA DE PLACAS: imagine os continentes sendo carregados sobre a crosta oceânica, como se fossem objetos em uma esteira rolante. É como se a superfície da Terra fosse dividida em placas que se movimentam em diversas direções, podendo chocar-se umas com as outras. Quando as placas se chocam, as rochas de suas bordas enrugam-se e rompem-se originando terremotos, dobramentos e falhamentos.
Embora a movimentação das placas seja muito lenta - da ordem de poucos centímetros por ano - essas dobras e falhas dão origem a grandes cadeias de montanhas como os Andes, os Alpes e os Himalaias.
Outro fenômeno causado pelo movimento de placas é o vulcanismo, que pode originar-se pela saída de rochas fundidas - MAGMA - em regiões onde as placas se chocam ou se afastam. Quando o magma que atinge a superfície se acumula em redor do ponto de saída, formam-se VULCÕES.
No Brasil também ocorrem terremotos e vulcões. Os terremotos felizmente são muito raros e de pequena intensidade e somente são encontrados restos de vulcões extintos. Isto ocorre devido ao fato do nosso país situar-se distante de zona de choque e de afastamento de placas.
4 - DINÂMICA EXTERNA
Modificações da Superfície da Terra
A ação da água, dos ventos, do calor e do frio sobre as rochas provoca o seu desgaste e decomposição, causando o que se denomina INTEMPERISMO. O intemperismo implica sempre na desintegração das rochas, que pode se dar de vários modos, pelos agentes químicos, físicos e biológicos. Esta desintegração gera areias, lamas e seixos, também denominados SEDIMENTOS.
O deslocamento desses sedimentos da rocha desintegrada é chamado EROSÃO. O transporte desse material para as depressões da crosta, (oceanos, mares e lagos) pode ser realizado pela água (enxurradas, rios e geleiras) ou pelo vento, formando depósitos como areias de praias e de rios, as dunas de desertos e as lamas de pântanos.
5 -TIPOS DE ROCHA
O ramo da Geologia que estuda as rochas chama-se PETROLOGIA. As rochas são de três tipos principais: ígneas, sedimentares e metamórficas.
Como visto anteriormente, a fusão do material do manto e da crosta, dá origem a um líquido denominado MAGMA. O resfriamento e a solidificação do magma formam as rochas ÍGNEAS. Estas rochas mantêm as marcas das condições em que se formaram. Se, por exemplo, elas têm todos os minerais bem cristalizados, do mesmo tamanho, isto indica que o magma se consolidou no interior da Terra, dando tempo para os minerais crescerem de modo uniforme. As rochas ígneas que se consolidam no interior da Terra chamam-se INTRUSIVAS ou PLUTÔNICAS. O granito é uma delas. Quando os minerais encontrados na rocha são muito pequenos - nem chegam a formar cristais – significa que o magma se resfriou subitamente. Isto acontece, por exemplo, quando o magma extravasa no fundo do mar. Ele resfria tão rapidamente que os cristais não tem tempo de crescer. As rochas ígneas que se formam na superfície da Terra são chamadas EXTRUSIVAS ou VULCÂNICAS. Um exemplo típico é o basalto.
A medida que os sedimentos erodidos vão se acumulando nas depressões, chamadas de BACIAS SEDIMENTARES, eles vão se compactando, transformando-se nas rochas SEDIMENTARES. Elas se formam, geralmente, na superfície, a temperaturas e pressões muito baixas. As rochas sedimentares podem indicar os ambientes nos quais elas foram depositadas. Assim, os arenitos podem ser indicativos, por exemplo, de desertos ou praias; os folhelhos– rochas argilosas folheadas – de pântanos ou mares calmos e, os conglomerados, de rios ou geleiras. Outros tipos de rochas sedimentares, principalmente os calcários, são formados pela precipitação de elementos químicos dissolvidos nas águas, ou por conchas e esqueletos de organismos que se depositam uns sobre os outros.
As rochas METAMÓRFICAS são formadas a partir de modificações de rochas ígneas, sedimentares ou de outras rochas metamórficas, pelo aumento da temperatura e da pressão, porém sem chegarem a se fundir. Isso ocorre, por exemplo, em regiões de choque de placas, onde as rochas são comprimidas ou em regiões em que massas de magma entram em contato com outras rochas, transformando-se por aquecimento.
As rochas metamórficas mais comuns são os gnaisses, os xistos e os quartzitos. Cada uma delas, por suas próprias características, pode indicar as condições de temperatura e pressão nas quais se formaram.
6 - OS FÓSSEIS
Restos de seres vivos petrificados.
Quando ocorre a deposição dos sedimentos em um determinado ambiente, restos de animais e vegetais que vivem nesses ambientes podem depositar-se junto com eles. Sendo soterrados rapidamente, esses restos orgânicos poderão ser conservados. A medida que a camada de sedimentos vai passando pelas transformações para se tornar uma rocha sedimentar, esses restos ficarão petrificados. Assim eles se transformam em FÓSSEIS.
A parte da Geologia que estuda os fósseis é chamada de PALEONTOLOGIA. Os fósseis são muito importantes para determinar o ambiente no qual os sedimentos se depositaram, para o estudo da evolução dos seres vivos, e para determinar a idade de formação das rochas.
A idade indicada pelos fósseis é, entretanto, uma idade relativa. Os geólogos dividiram a história da Terra em eras e períodos que são representados pela abundância dos fósseis encontrados nas rochas formadas em um dado período.
Através do estudo dos fósseis, combinado com a determinação da idade das rochas, descobriu-se que as primeiras formas de vida apareceram há 3,5 bilhões de anos. Porém, só há 600 milhões de anos, no início do Paleozóico, houve o desenvolvimento explosivo de seres vivos.
Durante a era Paleozóica, a vida evoluiu dos invertebrados primitivos e das plantas.
7 - APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOLÓGICO .
O conhecimento geológico é aplicado principalmente na procura de substâncias minerais úteis para o homem, os MINÉRIOS. Quando um minério existe em grande quantidade numa determinada localidade, ele constitui uma JAZIDA MINERAL. Essas concentrações só se formam em condições muito especiais, e muitas vezes é necessário um estudo muito aprofundado para localizar tais ocorrências. As jazidas podem ser constituídas, de rochas, como o calcário, de sedimentos, como a areia, de solo, como a bauxita (de onde é extraído o alumínio); e de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo.
Outros minérios, como o ouro, as pedras preciosas e a cassiterita (estanho) podem ser extraídos tanto das rochas nas quais se formaram, quanto sedimentos nos quais se depositaram depois de terem sido retirados das rochas pelo intemperismo e pela erosão.
O estudo do subsolo, com o objetivo de perfurar poços para obtenção de água subterrânea constitui a HIDROGEOLOGIA. Esta é outra importante aplicação da Geologia que pode solucionar graves problemas de escassez de água em regiões como os desertos e a Região Nordeste do Brasil.
A ocupação do solo é outro importante campo de atuação do geólogo. Nesta atividade, ele trabalha em conjunto com engenheiros e arquitetos, fornecendo-lhes as necessárias informações sobre os terrenos onde estes profissionais irão implantar seus projetos – sejam pequenos loteamentos ou grandes obras de engenharia, como edifícios, usinas hidrelétricas, represas, estradas, túneis ou aeroportos.
O conhecimento geológico é de grande importância para prevenir a ocorrência de problemas futuros, que poderão afetar as obras e causar acidentes, como deslizamentos de terra e rocha, afundamento de terrenos e enchentes.
A prevenção de catástrofes ocasionadas por fenômenos naturais, como terremotos e erupções vulcânicas, também poderá tornar-se realidade em futuro não muito distante. Isto será possível porque o conhecimento sobre suas causas vem se acumulando através do estudo do funcionamento dos processos internos do planeta.
Ultimamente, vem se desenvolvendo a Geologia Ambiental que se preocupa com efeitos da intervenção do homem no meio ambiente. Esses efeitos podem ser causados pelos desmatamentos em grande escala, pela extração irracional dos recursos minerais e pela poluição. Os grandes desmatamentos desprotegem a terra propiciando, então, a sua erosão, e mesmo a sua desertificação.
A exploração contínua e desenfreada de jazidas causa inúmeros problemas ecológicos às regiões minerais, como a destruição das matas, a poluição causada pelo beneficiamento dos minérios e, finalmente, quando a jazida se exaure, o resultado final da exploração: uma enorme cratera, onde antes havia uma montanha.
A Terra leva muito tempo para formar e concentrar os minerais. Portanto, os recursos minerais devem ser utilizados da maneira mais racional possível, para trazer um real benefício para a população atual e futura. As explorações minerais devem promover um desenvolvimento social e econômico progressivo e constante, pois "MINÉRIO NÃO DÁ DUAS SAFRAS", ou seja, é um bem não renovável.
Bibliografia:
Sociedade Brasileira de Geologia - SBG / Núcleo Rio de Janeiro- GEOLOGIA - A CIÊNCIA DA TERRA. 1984
Societé Géologique de France - HISTOIRE DE LA TERRE - NOTRE PLANÈTE. 1984 (utilização das fotografias com menção da fonte)
Obs.: Esta cartilha foi elaborada pela SBG - Sociedade Brasileira de Geologia / Núcleo Rio de Janeiro e lançada durante o XXXIII Congresso Brasileiro de Geologia, no Rio de Janeiro, em 1984.
2006-10-11 10:06:18
·
answer #10
·
answered by Anonymous
·
0⤊
2⤋