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Agressão e revide
O Brasil foi o único paÃs da América Latina que participou diretamente da Segunda Guerra Mundial. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) permaneceu na Itália cerca de 11 meses, dos quais quase oito na frente de luta, em contato permanente com o inimigo.
Embora o Brasil, fiel às suas tradições antibelicistas, houvesse procurado manter-se à margem do conflito, já em agosto de 1942 nele se via envolvido, ao serem covardemente torpedeados seus indefesos navios mercantes. Esses afundamentos traumatizaram a opinião pública brasileira e levaram o Governo de Getúlio Vargas, no dia 22 desse mês, a reconhecer a existência de estado de guerra entre o Brasil e as potências do Eixo.
No ano seguinte - 1943 - a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial tornou-se ainda mais efetiva, com a decisão do Governo de enviar à Itália um corpo expedicionário constituÃdo de três divisões. Mas apenas em julho de 1944 é que forças brasileiras partiram para o teatro da luta. O final da guerra, em maio de 1945, impediu que a 2a e 3a divisões fossem juntar-se, na Itália, à 1a Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), o contingente brasileiro que lutara, como integrante do 5o Exército, ao lado dos soldados americanos, ingleses e sul-africanos.
Uma ordem de combate, datada de 13 de setembro de 1944, e uma mensagem sucinta, assinada pelo major chefe do Estado-Maior da 148a DI alemã, no dia 28 de abril de 1945, e que foi o primeiro passo para a rendição de toda essa divisão inimiga, além de outras forças, são os dois documentos históricos que balizam o começo e os últimos dias da campanha da FEB na frente italiana.
A ordem de combate, do comando do 4o Corpo de Exército americano dava à 1a DIE, a sua primeira missão: “Substituir elementos do 2o/730o RI americano, à s 19h de 15 de setembro”.
A mensagem do major Kuhn, em resposta ao ultimato que o coronel Nelson de Melo, comandante do 6o Regimento de Infantaria, enviara ao comando da 148a Divisão de Infantaria alemã, estava assim redigida: 28/4/45 - Cel. Nelson de Melo - Depois de receber instrução do Comando Superior, seguirá a resposta. Major Kuhn
Esta rendição só se efetuaria formalmente no dia 30, quando o General Otto Fretter Pico, comandante daquela unidade alemã, chegou às linhas brasileiras, acompanhado de seu Estado-Maior, sendo recebido pessoalmente pelo General Mascarenhas de Moraes.
A FEB lutou 7 meses e 19 dias
Exatamente sete meses e 19 dias foi quanto durou a guerra da FEB: de 16 de setembro de 1944, quando um batalhão do 6o Regimento de Infantaria iniciou a marcha na frente do rio Serchio (entre Pietrassanta e Luca), que redundaria na conquista de Camaiore, até 2 de maio de 1945, dia em que a ordem de cessar fogo, vinda do comando do 4o Corpo de Exército, deteve o 3o Batalhão do 11o Regimento de Infantaria na localidade de Vercelli, no vale do Pó, nas proximidades de Novara.
Nesses quase oito meses de guerra, a 1a DIE (FEB) lutou em duas frentes. A primeira, a do rio Serchio, durante o outono de 1944; a segunda, muito mais ingrata, a do rio Reno (não é o Reno alemão), ao norte de Pistóia, na Toscana, em plena cordilheira apepina. AÃ, por mais de dois meses, atravessaria a fase mais cruel do inverno da montanha, com temperatura que à s vezes chegava a 15 graus negativos, e sob constante hostilidade do fogo inimigo. E daà marcharia, tendo como ponto de partida o QG avançado de Porreta-Terme, para a conquista dos seus maiores feitos: a vitória de Monte Castelo, a 22 de fevereiro de 1945, a de Montese, a 14 de abril, até o aprisionamento de toda uma divisão alemã, a 148a e restos de uma DI italiana e de forças blindadas do Afrika Korps - sucesso que ocorreu a 28 de abril de 1945, o mesmo dia em que, quilômetros adiante, na região do lago de Como, Benito Mussolini caÃa nas mãos dos partigiani
Nessa guerra de menos de oito meses, a FEB perdeu 443 homens, entre soldados e oficiais, e mandou para os hospitais da retaguarda perto de 3.000 feridos. Por outro lado, fez 20.573 prisioneiros, inclusive dois generais - o general Otto Fretter Pico, comandante da 148a DI alemã, e o General Mario Carloni, comandante do que restava da desbaratada Divisão de Bersaglieri Itália. Da conquista de Camaiore, na frente do rio Serchio, à rendição da 148a DI alemã, em Collechio-Fornovo, a 1a DIE não deixou de cumprir uma só das missões que lhe foram atribuÃdas pelo General Willys Dale Crittenberg, comandante do 4o Corpo de Exército, ao qual a tropa brasileira estava incorporada. Mas nem sempre foi fácil ou teve êxito imediato à execução das missões recebidas do 4o Corpo, como é o caso da conquista do Monte Castelo, só consumada depois de quatro tentativas rechaçadas pelos alemães. Durante a maior parte do inverno apenino, os alemães dominaram dos cumes de Monte Castelo, do Monte della Torracia e do Soprassasso, obrigando a tropa brasileira, que hibernava no vale do Reno, a disfarçar seus movimentos sob a proteção do nevoeiro artificial produzido pela queima de óleo diesel.
Entre 2 de julho de 1944, data da partida do 1o Escalão, e 8 de fevereiro de 1945, quando seguiu o 5o e último, os navios-transporte americanos General W A Mann e o General Meigs desembarcaram na Itália, no porto de Nápoles, um total de 25.445 expedicionários brasileiros, oficiais e soldados. Era o efetivo de uma divisão, porque a guerra da FEB foi a guerra de uma divisão. Dos oficiais superiores da FEB, 98% pertenciam à ativa do Exército, como da ativa era 97% de seus capitães. Em compensação, 49% dos subalternos da tropa pertenciam à reserva - isto é, eram civis convocados nas mais diferentes partes do Brasil para completaram os quadros da FEB.
No seu conjunto, a 1a DIE se compunha do 1o Regimento de Infantaria (o “Sampaio”), do Rio de Janeiro, o 6o Regimento de Infantaria, de Caçapava, o 11o RI, de São João del Rei, de quatro grupos da Artilharia, do 9o Batalhão de Engenharia, de Aquidauana (Mato Grosso), de um esquadrão de reconhecimento (Cavalaria), do 1o Batalhão de Saúde, organizado em Valença, além das chamadas tropas especiais e de corpos auxiliares, inclusive 67 enfermeiras. Na relação dos soldados brasileiros tombados na Itália, o 1o RI vem em primeiro lugar, com 158 mortos. O 11o RI, perdeu 134 homens, e o 6O RI, 109.
Todos os Estados brasileiros estavam representados na FEB, e entre todos São Paulo foi que teve o maior número de mortos - 92. Minas Gerais perdeu 80 homens; o Estado do Rio, 63; o então Distrito Federal chorou a morte de 50 cariocas; 29 paranaenses e 28 catarinenses ficaram no cemitério de Pistóia, ao lado de 21 gaúchos, 17 goianos, 13 pernambucanos, 12 capixabas, 11 baianos, 6 cearenses, 6 paraibanos, 6 rio-grandenses-do-norte, 6 sergipanos, 5 alagoanos, 4 paraenses, 2 piauienses, 1 acreano e 1 amazonense. Apenas o Maranhão não teve um morto na campanha.
No conjunto do dispositivo militar da frente italiana, onde operavam o 5o Exército americano e o 8o britânico, a 1a DIE estava incorporada ao 4o Corpo de Exército americano, que, por sua vez, além da divisão brasileira, compunha-se de uma divisão blindada (americana), uma divisão sul-africana e outra inglesa, e ainda da 10a Divisão de Montanha (americana), que lutou ao lado dos brasileiros em fevereiro de 1945, quando da tomada de Monte Castelo. A ação do 4o Corpo cobria uma frente de 80 km, e nessa frente a 1a DIE ficou responsável, a partir de novembro de 1944, quando se deslocou para o front apepino, por uma área de 10 km de extensão. Algumas vezes, no entanto, como quando da ofensiva de abril de 1945, a frente da 1a DIE chegou a medir 20 km, por demais ampla para a guerra de uma divisão. Na frente apepina, a 1a DIE instalou o seu QG avançado em Porreta-Terme, 30 km ao norte de Pistóia. Porreta-Terme, onde viveu a longa e por vezes asfixiante noite que durou de dezembro de 1944 a 22 de fevereiro de 1945, fica no vale do Reno, emparedada entre as cristas da cordilheira e é, em tempos de paz, uma estação termal cujas fontes sulfurosas são famosas em toda a Itália.
Uma data amarga: 12 de dezembro de 1944
Como acontece com toda unidade combatente, a história da 1a DIE, na campanha da Itália, está repleta de datas não apenas gloriosas, mas também amargas. Se alguém perguntasse, hoje, ao Marechal Mascarenhas de Moraes, comandante da FEB, qual, no seu entender, fora o dia mais negro da campanha na Itália, a sua resposta certamente seria esta: “12 de dezembro de 1944”.
Data profundamente triste para os soldados brasileiros, que naquele dia, com o recuo do 2o e do 3o batalhões do 1o RI diante dos alemães, viam frustrada pela terceira vez a esperança de conquistar Monte Castelo antes do inverno. O General Mascarenhas, naquela noite mesmo, no QG do 4o Corpo de Exército americano, explicou ao General Crittenberger os motivos do insucesso dessa operação. E ainda naquela madrugada, no seu pequeno quarto do QG Avançado da FEP, em Porreta-Terme, escreveria longa carta ao comandante do 4o Corpo, detalhando, por escrito, os motivos, já dados na noite anterior, pelos quais a 1a DIE não vinha conseguindo desalojar do cume do Monte Castelo a poderosa guarnição alemã que lá se mantinha. Dizia ele, num trecho de sua carta, hoje arrolada entre os documentos capitais da história da FEB: “Antes de tudo, eu desejo assentar a minha resposta na seguinte compreensão: a capacidade ofensiva de uma tropa repousa no aparelhamento dos meios, na sua instrução, num poderoso esforço adequado à frente de combate e na experiência de guerra. Os meios materiais da Divisão estão hoje em situação normal. A sua instrução foi simplificada mediante a condição de que poderia completá-la em situações apropriadas de combate. Recebeu, no vale do Reno, um grande setor defensivo, onde cerrou ativamente o contato com o inimigo. Logo em seguida atacou por duas vezes, nas condições seguintes: posições organizadas; - terreno exclusivamente favorável ao inimigo (grandes alturas, em qualquer parte, na mão do inimigo); - em virtude da grande frente, não pôde, nas duas vezes, fazer uma concentração de esforços para uma ação ofensiva correspondente à missão recebida”. E rematava o comandante dos “pracinhas”: “Não posso, portanto, dizer a V.Exa que a minha Divisão não tem capacidade ofensiva”.
Mas era preciso que a 1a DIE mostrasse a sua capacidade ofensiva - e aquele 12 de dezembro arraigou ainda mais no General Mascarenhas a convicção de que a conquista de Monte Castelo era uma questão de honra para os soldados sob seu comando. Os alemães de Monte Castelo teriam de ser derrotados de qualquer maneira pelos “pracinhas” e somente por eles.
O setor mais difÃcil da frente apepina
Em princÃpios de novembro de 1944, a 1a DIE deslocou-se da frente do rio Serchio, no setor Luca-Pietrassanta, onde vinha combatendo desde setembro, para a frente do rio Reno, na cordilheira apepina. Na frente do Serchio, em menos de dois meses de combate, tivera 13 mortos, 87 feridos e 215 acidentados.
Na frente do Reno, o QG Avançado do General Mascarenhas, em Porreta-Terme, era como um pátio, no vale do rio, cercado de montanhas, num raio de 15 km, dominadas inteiramente pelos alemães. Entre o monte Belvedere, a oeste, e o monte della Vedetta, a leste, o inimigo detinha posições privilegiadas, erguendo diante dos expedicionários brasileiros, uma parede de montanhas, e submetendo-os a uma vigilância diuturna. E para tornar a situação ainda mais crÃtica, o inverno, que se antecipara, prometia ser dos mais rigorosos - como de fato o foi. O frio era intenso e as chuvas, contÃnuas, haviam transformado as estradas, severamente castigadas pelos aviões aliados, em rios de lama.
Do alto de suas grimpas, mais de uma divisão alemã tinha os olhos sobre os “pracinhas”, acuados lá embaixo. Entre os cumes dominados pelos alemães, um se destacava pela sua posição estratégica: Monte Castelo. Não fosse ele dominado, seria impossÃvel à s forças do 4o Corpo de Exército prosseguir a marcha em direção à Bolonha, objetivo que o General Mark Clark, comandante das forças aliadas da Itália, pretendia atingir antes que começassem a cair as primeiras neves do inverno próximo. Cabia, assim, aos brasileiros, naquele fim de outono e em todo o inverno que se seguiria, a responsabilidade de defender e dominar o setor talvez mais ingrato de toda a frente apepina. Para cumprir tal missão, a 1a DIE, tropa ainda bisonha e mal treinada, teria muito que aprender. Mas o tempo era escasso - e as ordens do comando do 5o Exército transmitidas ao General Mascarenhas pelo comando do 4o Corpo, foram taxativas: Bolonha teria que ser conquistada antes do Natal, e para que isso fosse possÃvel cabia à 1a DIE remover do caminho das forças aliadas o incômodo e importante obstáculo que era Monte Castelo.
2006-10-03 13:53:13
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answer #2
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answered by Paulo 7
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