VOMITANDO PATRANHAS - PARTE II
Por Bruno Costa em 2 de Outubro de 2006
Como vocês já devem ter pressentido, estamos vivendo um momento decisivo - não somente por causa das eleições, mas também pela onda de "globalização e achatamento econômico" que atinge o mundo atualmente. Essa teoria do "achatamento global" vem sendo defendida por vários analistas econômicos ao redor do mundo e foi inicialmente proposta pelo jornalista Thomaz Friedman em seu livro "O Mundo é Plano". Trabalho com negócios internacionais no Brasil há cerca 4 anos e posso garantir que quase posso sentir os efeitos dessa onda, nas avaliações de negócios que faço nos EUA. Uma parte para a Ãndia e outra para a América Latina. Atualmente venho percebendo mais claramente oportunidades sem prescendentes que estão se abrindo para o desenvolvimento do Brasil na área de Tecnologia da Informação. O resto do mundo está se nivelando e não podemos perder esta oportunidade. Se continuarmos com essa altÃssima carga tributária e falta de capacitação na lÃngua inglesa, atrasaremos ainda mais o desenvolvimento do paÃs no cenário internacional.
Não tenho dinheiro ou status. A única coisa que posso oferecer são idéias e conhecimentos de modelagem e interpretação aplicados à lógica do meu paÃs. Meu objetivo maior é o de "chacoalhar" os que estão confortáveis e "mobilizar" aqueles que percebem claramente os nossos problemas sociais e não ficam felizes com isso. Vou te confessar que eu não estou confortável neste momento. Até que poderia estar, pois tenho casa, me casei com uma pessoa maravilhosa e tenho um bom emprego. O que ocorre é que toda vez que saio na rua, ou sento no meu sofá para ver televisão, ou viajo de carro para outro estado, ou pago minhas contas, eu me decepciono com a predominância da FALTA, em relação ao MÃNIMO. E vocês sabem muito bem do que eu estou falando. Basta abrir a janela – pelo menos aqui no Rio de Janeiro – para ver que grande parte da sociedade brasileira vive bem abaixo da linha limÃtrofe que separa a pobreza da “classe média”. E não falo somente de favelas, isso é apenas parte de outro problema bem mais complexo que proponho mais tarde discutir com vocês.
Concordo plenamente quando se afirma que a corrupção não nasceu no governo Lula. Premissa incontestável! Isso é um outro assunto que estou tentando desvendar. Para isso proponho as duas questões principais, a seguir: Qual seria a origem e os mecanismos que sustentam a corrupção? Por quê o povo brasileiro, mesmo sabendo os nomes dos corruptos (noticiádos diariamente nos jornais, revistas e Internet), ainda votam neles? Hoje escutei no telejornal “Hoje” - da rede Globo, que seis deles foram reeleitos. O fato é que foram reeleitos unicamente pelo voto do povo. Ou seja, alguém se dirigiu à urna e apertou seus respectivos números. O fato destes corruptos estarem de volta à BrasÃlia revela uma fraqueza da nossa Democracia. De qualquer forma temos que coletar fatos pra montar argumentos e conclusões logicamente relacionadas. "Mensalão" e "Sanguessugas" são, para mim, premissas incontestáveis de um governo corrupto e mal fiscalizado. Mas, esse ainda é um assunto que não me sinto seguro em comentar.
De outra forma, acho que o governo Lula foi eficiente no seu aspecto gerencial. Como disse a excelente economista Eliana Cardoso em entrevista dada à Revista Veja, em 2 de Agosto de 2006: "(...) A redução da parcela da dÃvida atrelada ao dólar foi um grande passo. A ênfase nas exportações também foi louvável. Com exceção do crescimento abusivo dos gastos públicos, a verdade é que a economia sob Lula não foi assim tão mal gerida.". Convido vocês a lerem esta reportagem. Hoje pela manhã, ao conversar com a garçonete da padaria onde tomo café da manhã frequentemente, o assunto das eleições presidenciais veio à tona e ela deixou escapar: "(...) Antes [do Lula], o Kilo do arroz custava uns 15 reais, hoje custa pelo menos a metade disso." O foco nas exportações fez entrar no paÃs capital extrangeiro, gerando o superávite que precisávamos para reverter um desequilÃbrio herdado no final do governo FHC. Isso foi um ponto positivo.
O Lula talvez tenha sido a ovelha negra, ou a gota d'agua que fez transbordar a paciência de grande parte do Brasil. Tento não sustentar nenhum lado partidário ou ideológico. Sei que é difÃcil, mas honestamente não me considero nem de Esquerada, nem de Direita. Minhas idéias se sustentam apenas na tentativa de fazer surgir a verdade - nua e crua, sem lados nem ideologias. Proponho analisar cientificamente e metodologicamente as falhas do nosso mecanismo polÃtico e propor sugestões de melhoria e uma estratégia de crescimento soberano.
Por sermos tão efêmeros, à s vezes deixamos de viver grande parte da nossa história; Fato que limita a aquisição da informação "percebida" e força-nos a confiar nos aguçados olhos e canetas de outros jornalistas e analistas prolÃtico-sociais. Durante nossa breve passagem por este mundo, mutas vezes deixamos de nos preocupar com os outros e ver as consequências disso se voltando contra nós. A luta pela satisfação de prazeres circunstanciais à s vezes derruba uma cortina negra - aquela tipo "blackout" - sobre a janela de nossos olhos, impedindo que vejamos a falta de oportunidade dos outros. Mas a lei do equilÃbrio universal não falha. A verdade é que a população cresce desordenadamente pela falta de um CONTROLE de NATALIDADE mais efetivo - fruto de uma educação deficitária. Resultado: Falta espaço, falta trabalho, falta o MÃNIMO.
O que aconteceu é que tamanha foi a minha decepção ao ver um esquerdista de alto escalão tendo sido corrompido. Isso talvez tenha feito transbordar meu reservatório de tolerância - que digo de passagem é largo e profundo como o da maioria dos brasileiros. Se o Sr. Lula tem culpa? Acredito que ele seja somente mais uma marionete nesse fantástico palco de horrores. O espetáculo vai bem mais além disso.
Proponho uma verificação histórica. Voltemos rapidamente ao passado para citar uma máxima do ideólogo françês Benjamim Constant, em relação ao império brasileiro, em meados de 1824: "- O rei reina, mas não governa". Obviamente, a situação naquela época era outra. Mas existe certa semelhança com os dias atuais. Naquela época, o imperador D. Pedro I, era apenas um veÃculo do poder executivo - um representante, limitado pela sua unicidade e interesses pessoais. Isso soa familiar aos meus ouvidos. Até parece que estamos falando de nossos presidentes ou de nossos partidos. O que realmente move este paÃs são as estratégias (escolhas) que fazemos ao longo dos anos. E isso é responsabilidade maior de outrém. Deveria ser força conjunta de nossos renomados analistas [polÃticos], jornalistas, socialistas, antropologistas, e quaisquer outro “...ista”, independentes de partidos polÃticos, credo ou cor. A diversidade nesse ponto só gera riqueza, mas deve ser muito bem coordenada. Porém, não se sabe da participação maior do povo nas decisões polÃticas pela falta de um mecanismo democrático que incite pesquisas de opinião bem elaboradas e suporte cientÃfico-acadêmico e metodológico.
Entretanto, estou mais preocupado é com essa organização "invisÃvel" que faz envergar as mais rÃgidas pilastras do planaldo da alvorada. Essa organização cultural. De valor e origem históricas que não se muda do dia para a noite ou em um mandato de quarto anos. A verdade é que NÃO estou confortável com a situação que está. Esse desconforto gera em mim um estado de tensão que só consigo descarregar quando escrevo e tento falar para meus amigos que temos que analisar os fatos com cuidado, sermos justos e honestos. Falar e escutar, elucidar, chegar a um consenso. Exercer Democracia.
Estamos na era do conhecimento e temos internet. Precisamos protestar com elegância e com estilo, como se fazia no Rio de Janeiro em 1827 através de um periódico com o nome de Aurora Fluminense de Evaristo da Veiga (1799-1837). Ou em São Paulo inicialmente com o Farol Paulistano e depois com o Observador Constitucional liderado por LÃbero Badaró (1798-1830). Não digo que as idéias, motivações e radicalidades devam seguir rigorosamente à s daquela época: "(...) contra o poder autoritário, a censura e lutando pela igualdade racial e social" (Retirado do artigo: "Imprensa pela libertade" da Série Nossa História - Tema "A Construção do Brasil", lançado em 2006 pela editora Vera Cruz). Poder autoritário e censura? Acredito que isto já está resolvido, pois temos a Democracia e a liberdade de expressão a nosso favor. Mas a tão sonhada e utópica "Igualdade Social", tema discutido desde a época de Tomas Robes e seu "Contrato Social", já é outra história. Em suma, a forma elucidativa como as questões são postas à mesa e discutidas tem enorme valor para a sociedade.
Gostaria de propor então uma pequena reflexão sustentada na etérna antÃtese basilar que rege o mundo. Pense no lado negativo e no lado positivo, no bem e no mal, no dia e na noite, no branco e no preto (Lá venho eu de novo colocando aspectos literários nos meus textos) para analisar um assunto polêmico da estruturação industrial brasileira - aquele relacionado à privatização das telecomunicações acontecida durante o governo FHC.
A forma BRUSCA como as privatizações aconteceram: sem planejamento, sem visão de futuro [para as empresas nacionais] e caracterizado pela carência de aspectos reguladores mais eficientes, resultou na impossibilidade atual do Brasil em expandir este mercado. Entretanto, não podemos negar que a privatização da antiga Telebrás foi necessária e possibilitou um salto no desenvolvimento econômico do paÃs naquela época. TÃnhamos que acompanhar o que estava acontecendo no mercado mundial. Houve uma demanda prioritária por Interconexão Digital para sustentar os mercados exportadores. Não era mais possÃvel fazer negócios com outros paÃses se não tivéssemos conectividade e flexibilidade para interligar nossos sistemas [de comunicação] com os deles. Para acompanhar essa tendência mundial, precisávamos de gente capacitada e de uma empresa estatal forte - tecnologicamente atualizada para montar todo o aparato computacional. Ora, o funcionalismo público era ineficiente - resultado da falta de investimento prioritário em EDUCAÃÃO e TECNOLOGIA. Não se trabalhava, não se crescia. Com o corporativismo estatal, "fantasmas" apareciam para assombrar a máquina administrativa estadual e municipal. Gestores estatais empregavam seus parentes e concursos públicos eram burlados. Naquela época, a privatização foi necessária para remediar um problema que não tÃnhamos condição de resolver com recursos próprios. Havia a necessidade de se possuir uma infra-estrutura de comunicações mÃnima que pudesse nos manter no mercado econômico mundial. Se voltarmos uns 7 ou 8 anos atrás, naquela época, não tÃnhamos a menor idéia que o futuro seria conduzido por canais de tráfego remoto e fluxo digital exorbitantes tais como os de hoje. De outra forma, não havia ninguém disponÃvel no Brasil pra suportar o grande volume de desenvolvimento que era necessário para nos "conectar com o futuro” e não perder a chance de sustentar as já existentes linhas de exportação com outros paÃses da América do Norte e Europa. Era preciso crescer urgentemente para não perder penetração e maiores oportunidades econômicas. A urgência externa e a nossa incapacitação interna acabaram por nos rifar aos extrangeiros. A falta de planejamento deste perÃodo, condenou as empresas nacionais atuais. Resultado: Nos tornamos dependentes de investimento exterior! Isso não poderia acontecer. Mas aconteceu. E se não acontecesse, poderÃamos estar pior do que estamos hoje. Ademais, não podemos negar que houve um CRESCIMENTO, mesmo que tardio e desarraigado.
Por um lado foi bom, por outro ruim. Olha aà a antÃtese! Eu posso afirmar que vivi bem esse momento. Estava no meio do fogo cruzado. Trabalhei cinco anos como consultor em TELECOM, dois deles atuando na migração dos sistemas de faturamento estatais para o sistema corporativo da Telemar, chamado SISRAF. Viajei várias vezes para o Ceará, Pará, Pernanbuco, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Era chocante visitar esses estados - especialmente os nordestinos - e ver como as empresas Telebrás estavam sucateadas, sem tecnologia, sem processos, sem o gerenciamento e direção que o Brasil precisava, sem o MÃNIMO. Um verdadeiro lixo. Um e outro se salvavam. Ou privatizava-se naquele momento para acompanhar uma tendência global ou esperava-se para "desenvolver a nossa tecnologia e crescer com investimento próprio". Pura e doce ILUSÃO. Os desprovidos de conhecimento internacional por séculos somente viam seus próprios umbigos, concentrando-se no Brasil sem perceber o que estava acontecendo overseas. Não estou dizendo que FHC foi bom ou ruim. Apenas expresso a minha opinião pessoal que neste caso especÃfico ele talvez tenha acertado, pois não tinha escolha. Ou se tomava o caminho mais rápido ou então estávamos condenados pela nossa falta de capacidade tecnológica. Eu imagino que que se não tivéssemos privatizado, hoje não terÃamos o telefone celular e comunicação pessoal, ou a banda larga, ou o acesso à internet que faz com que eu envie esta mensagem para você. Infelizmente, sabemos por experiência que "O caminho mais rápido e mais fácil nem sempre é o melhor".
A verdade é que: Ou privatizávamos ou nos isolávamos do resto do mundo, ficando condenados a ser uma "Arábia Saudita" na America do Sul. As pessoas tem que parar de pensar que Petróleo é a solução de tudo. EDUCAÃÃO é a solução nesse momento. Nesse ponto eu fico com o Sr. Cristovam Buarque. Mas a educação a qual me refiro não é aquela que muitos relacionam com a habilidade de ler e escrever. Ler e escrever são apenas as ferramentas iniciais do PENSAMENTO CRÃTICO e da capacidade de GERAR CONHECIMENTO. à preciso saber transformar a informação em algo útil, e isso não se faz sabendo-se ler e escrever somente.
2006-10-02 17:55:02
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answer #8
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answered by falai 1
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