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2006-09-29 19:43:01 · 13 respostas · perguntado por anaphylaxxya 3 em Artes e Humanidades Livros e Autores

13 respostas

eu? Tenho 30 anos,
a cidade está quatro ou cinco vezes maior
mas tão acabada quanto
e as garotas ainda cospem quando
passo, outra guerra se cria por outra
razão, e não consigo emprego agora
pela mesma razão de outrora:
não sei fazer nada, não consigo fazer
nada.

Charles Bukowski (1920-1994)

2006-10-01 18:02:35 · answer #1 · answered by buk 2 · 1 0

danço
um outdoor luminoso no deserto
um surdo tocando blues na madrugada
um cigarro aceso na escuridão

2006-09-30 07:58:55 · answer #2 · answered by vitorinuno 2 · 1 0

Acho que é o poema da vida dos nordestinos, que nada fazem por eles, desde criança que os políticos dizem a mesma coisa, agora dão "cem mil reis", a eles e pronto
OBS: não sou a favor dos sem terra, asses querem terras para vender.

2006-10-03 19:03:17 · answer #3 · answered by Veterana. 7 · 0 0

"Se viver ... é estar sem você ... então porque viver"

2006-09-30 02:57:53 · answer #4 · answered by Deuteronômio 5 · 0 0

existe melhor poema triste do que o que estamos passando há alguns anos?

2006-09-30 02:50:20 · answer #5 · answered by Anonymous · 0 0

a minha terra tinha palmeiras
onde cantava o sabiá
as aves que aqui gorjeavam
não gorjeavam como lá,

um abraço

2006-10-02 18:05:13 · answer #6 · answered by Anonymous · 0 1

"O Podre Nosso de Cada Dia"

Tristemente reconheço
minha morbidez;
quando lúcido, entristeço
quando triste, esmoreço
já de vez.

Loucamente enfureço
com sensatez;
sensatamente enlouqueço
sem saber se mereço
tal lucidez.

Lucidamente permaneço
na embriaguez;
embriagadamente ao avesso
ao avesso me transpareço
com nitidez.

Nitidamente envileço
a honradez;
honradamente esclareço:
no tempo, sei que me apodreço
na sordidez.

Como vocês.

de Heleno Álvares
(do seu livro "Desordem Contemporânea" - caso resida em São Paulo, você encontra este livro na "Livraria Boa Vista")

2006-10-02 02:48:23 · answer #7 · answered by Noel Prosa 3 · 0 1

Fernando Pessoa

O Menino da Sua Mãe


No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

2006-09-30 18:42:41 · answer #8 · answered by Gibi 6 · 0 1

Cântico do Calvário

À Memória de Meu Filho
Morto a l l de Dezembro
de 1863.


Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!

Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
Correi! Um dia vos verei mais belas
Que os diamantes de Ofir e de Golgonda
Fulgurar na coroa de martírios
Que me circunda a fronte cismadora!
São mortos para mim da noite os fachos,
Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,
E à vossa luz caminharei nos ermos!
Estrelas do sofrer, — gotas de mágoa,
Brando orvalho do céu! — Sede benditas!
Oh! filho de minh'alma! Última rosa
Que neste solo ingrato vicejava!
Minha esperança amargamente doce!
Quando as garças vierem do ocidente
Buscando um novo clima onde pousarem,
Não mais te embalarei sobre os joelhos,
Nem de teus olhos no cerúleo brilho
Acharei um consolo a meus tormentos!
Não mais invocarei a musa errante
Nesses retiros onde cada folha
Era um polido espelho de esmeralda
Que refletia os fugitivos quadros
Dos suspirados tempos que se foram!
Não mais perdido em vaporosas cismas
Escutarei ao pôr do sol, nas serras,
Vibrar a trompa sonorosa e leda
Do caçador que aos lares se recolhe!

Não mais! A areia tem corrido, e o livro
De minha infanda história está completo!
Pouco tenho de anciar! Um passo ainda
E o fruto de meus dias, negro, podre,
Do galho eivado rolará por terra!
Ainda um treno, e o vendaval sem freio
Ao soprar quebrará a última fibra
Da lira infausta que nas mãos sustento!
Tornei-me o eco das tristezas todas
Que entre os homens achei! O lago escuro
Onde ao clarão dos fogos da tormenta
Miram-se as larvas fúnebres do estrago!
Por toda a parte em que arrastei meu manto
Deixei um traço fundo de agonias! ...

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n'água o lenho do barqueiro!
Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte!
Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel? ... E tudo embalde!
A vida parecia ardente e douda
Agarrar-se a meu ser! ... E tu tão jovem,
Tão puro ainda, ainda n'alvorada,
Ave banhada em mares de esperança,

Rosa em botão, crisálida entre luzes,
Foste o escolhido na tremenda ceifa!
Ah! quando a vez primeira em meus cabelos
Senti bater teu hálito suave;
Quando em meus braços te cerrei, ouvindo
Pulsar-te o coração divino ainda;
Quando fitei teus olhos sossegados,
Abismos de inocência e de candura,
E baixo e a medo murmurei: meu filho!
Meu filho! frase imensa, inexplicável,
Grata como o chorar de Madalena
Aos pés do Redentor ... ah! pelas fibras
Senti rugir o vento incendiado
Desse amor infinito que eterniza
O consórcio dos orbes que se enredam
Dos mistérios do ser na teia augusta!
Que prende o céu à terra e a terra aos anjos!
Que se expande em torrentes inefáveis
Do seio imaculado de Maria!
Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!
E de meu erro a punição cruenta
Na mesma glória que elevou-me aos astros,
Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!

O som da orquestra, o retumbar dos bronzes,
A voz mentida de rafeiros bardos,
Torpe alegria que circunda os berços
Quando a opulência doura-lhes as bordas,
Não te saudaram ao sorrir primeiro,
Clícía mimosa rebentada à sombra!
Mas ah! se pompas, esplendor faltaram-te,
Tiveste mais que os príncipes da terra!
Templos, altares de afeição sem termos!
Mundos de sentimento e de magia!
Cantos ditados pelo próprio Deus!
Oh! quantos reis que a humanidade aviltam,
E o gênio esmagam dos soberbos tronos,
Trocariam a púrpura romana
Por um verso, uma nota, um som apenas
Dos fecundos poemas que inspiraste!

Que belos sonhos! Que ilusões benditas!
Do cantor infeliz lançaste à vida,
Arco-íris de amor! Luz da aliança,
Calma e fulgente em meio da tormenta!
Do exílio escuro a cítara chorosa
Surgiu de novo e às virações errantes
Lançou dilúvios de harmonias! — O gozo
Ao pranto sucedeu. As férreas horas
Em desejos alados se mudaram.
Noites fugiam, madrugadas vinham,
Mas sepultado num prazer profundo
Não te deixava o berço descuidoso,
Nem de teu rosto meu olhar tirava,
Nem de outros sonhos que dos teus vivia!

Como eras lindo! Nas rosadas faces
Tinhas ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, — nos olhos langues
Brilhava o brando raio que acendera
A bênção do Senhor quando o deixaste!
Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,
Filhos do éter e da luz, voavam,
Riam-se alegres, das caçoilas níveas
Celeste aroma te vertendo ao corpo!
E eu dizia comigo: — teu destino
Será mais belo que o cantar das fadas
Que dançam no arrebol, — mais triunfante
Que o sol nascente derribando ao nada
Muralhas de negrume! ... Irás tão alto
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!

Ai! doudo sonho! ... Uma estação passou-se,
E tantas glórias, tão risonhos planos
Desfizeram-se em pó! O gênio escuro
Abrasou com seu facho ensangüentado
Meus soberbos castelos. A desgraça
Sentou-se em meu solar, e a soberana
Dos sinistros impérios de além-mundo
Com seu dedo real selou-te a fronte!
Inda te vejo pelas noites minhas,
Em meus dias sem luz vejo-te ainda,
Creio-te vivo, e morto te pranteio! ...

Ouço o tanger monótono dos sinos,
E cada vibração contar parece
As ilusões que murcham-se contigo!
Escuto em meio de confusas vozes,
Cheias de frases pueris, estultas,
O linho mortuário que retalham
Para envolver teu corpo! Vejo esparsas
Saudades e perpétuas, — sinto o aroma
Do incenso das igrejas, — ouço os cantos
Dos ministros de Deus que me repetem
Que não és mais da terra!... E choro embalde.

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh'alma.

FAGUNDES VARELA

2006-09-30 12:08:37 · answer #9 · answered by Princesa Mitiko 4 · 0 1

as poemias..

dos vazios bem cheios;
onde tudo é nada.
Onde asas buscam a casa das nossas ausências.
Onde a ausência é sempre desejo e habitat.

O melhor poema triste é a tristeza de todos os poetas,
para quem só sente que teve porque perde,
então, nunca, nada tem;
então, nunca, nada o obtém também.

O melhor poema triste é a incompletude dos poemas
perante a plenitude constante das almas poetas;
é o sentir que tudo é, no máximo, um 'quase'
e nada mais além do que este aquém.
Nesta busca que não cessa
- pois, a busca é por simplesmente buscar -
este paradoxo de ter não ob-tendo;
e mirar me é menos que admirar, pois é mais-além disso.
Ah, por que tão longe sempre me foi tão perto?
De quê adianta o atraso pra quem nunca chega a tempo?
Pra quem sempre é tudo agora?
Há quem no meu interno se eterniza em instantes infinitos.
Aquém, tenho tudo quando ainda não obtenho nada,
e tudo me tem também...
Quando o entendimento é suspendido,
o menor espaço é a distância entre intensos
e a eternidade, esse agora estendido por dentro.

......................................................

(da madrugada que hoje o sol empalideceu
e depois ruborizou menos que aquela aurora nascida do sangue junto ao leite, faço agora esta poemia. Raquel K.)

2006-09-30 10:21:46 · answer #10 · answered by blabla 2 · 0 1

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